Índice de Capítulo

    Faisal e Graziela se apavoraram ao ver quem menos esperavam em sua frente.

    — V-você não deveria estar morta? — Graziela arregalava os seus olhos-violetas de espanto, segurando uma parte da coberta branca; com bordas florais num tom dourado.

    — M-M-Meredith, o que você faz aqui?

    “Como assim o que ela faz aqui, Faisal?”

    Fui me aproximando, enquanto Meredith permanecia com a cabeça voltada para o chão.

    — V-v-você!!! — Faisal apontou o seu dedo trêmulo para mim, boquiaberto.

    — Eu mesmo. — sorri, balançando a mão de um lado para outro, o que deixava aqueles dois com um semblante num misto de raiva e espanto.

    — Faisal… Graziela… — Meredith colocou a mão direita na alça de sua espada presa a sua cintura. — Me digam, o que eu fiz para merecer isso?

    — N-Não é bem assim, querida! — Faisal negou e apontou o dedo para a mulher ao seu lado. — Na verdade, essa mulher… Ela me seduziu!

    — O que? — Graziela franziu de leve as suas finas sobrancelhas púrpuras. — Você é quem me conquistou!

    — Você é quem veio com a proposta.

    — Tá, mas e daí, para quê negar o nosso amor? — Apontou para Meredith enquanto segurava a coberta que cobria o seu corpo. — Termina logo com ela e fique comigo!

    — Eu não te amo, mulher!

    Aqueles dois começaram a brigar enquanto a Meredith removia a espada da sua bainha.

    — Me digam, o que eu fiz para merecer isso?

    — C-c-calma, querida! — Faisal esticou suas duas mãos para frente, com o rosto tenso. — Vamos conversar, sim?!

    Logo depois, levantou-se e começou a andar em direção a Meredith com a sua roupa íntima. Um short preto que cobria a parte de baixo, enquanto a parte de cima expunha seu peitoral e abdômen, revelando seu corpo minimamente definido.

    — Eu creio que—

    — Morra. — Meredith espetou a sua espada no abdômen do Faisal, seus olhos arregalados desceram a espada. Sangue começou a fluir em grandes quantidades.

    — M-Meredith…

    — Morra! Morra! Morra! — Meredith cravou ainda mais fundo, o fazendo gemer de dor. Lágrimas saíam dos seus olhos, pingando sobre aquele piso de madeira.

    Ao passo que Faisal deitava sangue pela boca.

    — Sua mal-di-ta… — Faisal pegou na espada, tentando removê-la, mas a força da Meredith foi tão superior que ela entrou mais fundo nas suas entranhas. Sem forças, pesado pelas pálpebras que fechavam seus olhos negros; agora perdendo o pouco brilho que tinham, Faisal caia de joelhos enquanto Meredith removia sua espada.

    — O-o que você está fazendo?! — questionou Graziela, tremilicando a boca. — Faisal… — Os olhos arregalados da Graziela desceram ao seu amante agora no chão. Seu corpo vertia uma grande quantidade de sangue, formando um pequeno lago ao redor. Aquele líquido acabou se apegando às sandálias de couro de Meredith.

    Mas ela pouco se importou. Baixou sua cabeça, seus longos cabelos carmesim cobrindo todo seu rosto.

    Graziela rangiu os dentes e gritou, com algumas lágrimas se formando ao redor dos seus olhos.

    — Malditaaaa!

    Graziela, revoltada, esticou um dos seus braços para frente. Uma espécie de correntes brancas saiu da sua palma direita, indo em direção a Meredith. Elas a enrolaram, seus dois braços se juntaram contra a sua cintura.

    Ela estava presa, e sequer reagia.

    — Você pagará bem caro por isso, Meredith! Eu juro!

    Por outro lado, eu tentava ao máximo desviar o olhar daquela cena. Eu já sabia de tudo mesmo, só que agora, ao vivo e a cores, era tudo diferente.

    Se eu pudesse pular isso, eu faria.

    “Ah, sinto que vou chorar.”

    Meredith rangiu os dentes. Veias extrapolaram seus braços, provocando instabilidade naquelas correntes que a prendiam. Rachaduras começavam a surgir e, em um tintilar, as correntes se despedaçaram.

    Estilhaços caíram no chão. Depois de um tempo, os fragmentos de metal desapareceram em purpurinas prateadas.

    Graziela arregalou os olhos. Meredith começou a avançar.

    — C-Como? — Graziela esticou seus longos cabelos violetas em direção à Meredith, mas ela cortou todos eles. Milhares de fios caíram sobre o chão enquanto Meredith continuava a avançar.

    Próximas, Meredith ergueu a espada.

    — Não! Poupa a minha vida, por favor! Eu imploro!

    Graziela começou a fazer a clássica súplica como no original, mas Meredith seguiu mantendo a sua expressão fria. Seus ouvidos estavam surdos ao clamor daquela mulher e suas últimas palavras para ela foram: sejam felizes para sempre lá no Hades!

    Dito isso, Meredith desferiu um corte vertical que atravessou desde a lateral do ombro até o peito daquela mulher. Sangue jorrou daquela grande ferida aberta.

    A mulher caiu como morta, seus olhos violeta perdiam aos poucos a claridade que tinham. A coberta branca manchou-se do mais vermelho e profundo carmesim.

    Meredith retrocedeu vagarosamente. Sua espada e seus joelhos caíram rente a cama. Seu rosto havia sido tomado por incontáveis lágrimas. Seus soluços ressoaram como uma melodia melancólica aos meus ouvidos.

    Os meus traços também se contorceram em uma expressão de tristeza. Lágrimas começaram a fluir dos meus olhos ao ver a minha Meredith em sofrimento.

    Ela não merecia isso, esse sofrimento.

    Corri em sua direção e agachei, entrelaçando os meus braços ao seu pescoço. Ela tocou em um deles, chorando ainda mais.

    Essa e a parte em que a família da Meredith morrem eram as partes mais pesadas dessa história e, mesmo assim, em seu ápice de crueldade, o autor não deu um final digno a Meredith no fim da história.

    Mordi os meus lábios.

    “Mas não importa mais… Eu, Jarves, estou aqui para mudar o final horrendo que a minha heroína terá.”

    “Essa é a minha missão nesse mundo.”

    Depois daquele momento melancólico, Meredith conseguiu se acalmar e me olhou seriamente, segurando os meus ombros.

    — Escuta… Jarves.

    “Eu já sei o que vem.”

    — Como deve saber, as leis desse reino proíbem qualquer assassinato cometido por alguém que não esteja a serviço da lei.

    — E você pretende fugir?

    — Sim. — Balançou a cabeça positivamente. — Eu vou fugir para bem longe daqui e recomeçar do zero. — Seus olhos azuis refletiam tristeza enquanto dizia isso. — Por isso, quero que você passe uma mensagem para os meus irmãos e a minha mãe.

    — Você não pode fugir, Meredith.

    — É algo que eu decidi. — Ela removeu suas mãos dos meus ombros. — Eu quero esquecer de tudo e refazer a minha vida. Já não há mais nada que resta para mim nesse reino!

    — A sua família está aqui.

    — Ela ficará bem. Sem contar que não gostaria de vê-los sofrer por eu estar numa prisão.

    — Você não está entendendo aonde eu quero chegar.

    — Você é quem não está entendendo como eu me sinto, Jarves!

    — A sua família, Meredith…

    — Eu já disse que ela vai ficar bem!

    — Ela será aniquilada. Seus irmãos, sua mãe, seus amigos, serão todos mortos dentro de aproximadamente três meses e algumas semanas.

    — O quê? — Ela arregalou os olhos, descrente.

    — É isso mesmo, esse reino também será todo destruído.

    — Não fale besteiras. De onde tirou isso?

    — Esqueceu do meu poder? Tudo o que eu tenho dito tem acontecido.

    — Você viu o futuro novamente?

    Balancei a cabeça positivamente.

    — O que você viu exatamente? Me explica. Quero entender!

    Expliquei a Meredith que há bastante tempo o reino das trevas, formado por anjos caídos ou vulgarmente conhecido por demônios, haviam sido derrubados do seu lar celestial para a terra. Uma revolta deles contra o Criador, não aceitando as suas leis e muito menos o seu amor. Então, eles faziam guerras ao mundo desde os tempos primordiais, destruindo os seres deste mundo desde tempos em tempos até o dia em que os herois do passado conseguiram selar esses seres das trevas.

    Mas o que aconteceu era que, após milhões de anos, o selo havia perdido toda sua força e então, todos teriam sido libertos novamente para atormentar todo mundo com os seus males.

    — De onde tirou isso tudo? Parece coisa de conto de fadas.

    — Então se prepare, pois esses contos de fadas estão para se tornar reais — afirmei com o olhar severo.

    — Então, é mesmo verdade?

    — Confia. — Levantei o polegar.

    — Sendo assim, tem alguma ideia de como impedir essas visões de acontecerem? Eu não quero perder a minha família. Tudo menos isso!

    — Eu sinto muito. Mas a força do reino das trevas é bem superior ao nível S. Sendo assim, não sei.

    Meredith colocou a mão sobre a testa, suspirando, e eu continuei:

    — A única maneira de sobrevivência é fugir mesmo.

    — Tem que ter um jeito de travar esse reino das trevas. Se os heróis do passado conseguiram, os aventureiros de Hengracia conseguiram. — Meredith cerrou os punhos. — Mas antes, preciso informar isso ao rei. — Ela segurou o meu braço. — E você vem comigo! Temos três meses e algumas semanas, não é? Dá tempo para nos prepararmos para a invasão!

    — Tem certeza?

    — Tenho. Agora vamos! — Ela me arrastou. Nossos passos ressoavam por aquela madeira enquanto atravessávamos a porta do quarto.

    — Espera… Vamos ao menos esperar até amanhã!

    — Quanto mais cedo medidas forem tomadas, melhor!

    Enquanto era arrastado, eu me perguntava se havia feito a escolha certa em contar sobre a invasão para ela, já que a destruição desse reino era inevitável.

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