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    Entre quatro paredes cor de rosa, uma mulher, sentada sobre uma cama, batia com um pé no chão enquanto cruzava os braços com uma cara que expressava inquietação.

    — Não adianta, Meredith, eu não consigo descansar sabendo que algo está errado!

    — Quer ouvir uma história divertida que o Jarves contou para mim quando eu estava triste? É sobre uma tal de chapeuzinho vermelho!

    — Não, e desculpa, mas eu vou ter que tirar satisfação com aquela mulher!

    Theresa levantou-se.

    — Não! O que combinamos? Você já a deixou bem triste quando falou aquilo dela.

    — Triste ou não, estou no meu direito. É direito do consumidor ter suas inquietações satisfeitas.

    Ah, mas Theresa, do jeito que você está, só vai acabar estragando tudo. Você deveria esfriar a cabeça e relaxar.

    — Minha cabeça está fria e eu já relaxei o bastante. Não é como se eu fosse xingar ela. Por favor, Meredith… — Theresa começou a andar. — Eu sou uma médica, então eu sei ser e estar.

    — Tá, mas eu vou contigo. Só para garantir que você não machuque o coração da pobre moça.

    Meredith também levantou, seus olhos se encontraram enquanto Theresa segurava a maçaneta.

    — Fique à vontade.

    Theresa abriu a porta e Meredith fechou por último.

    Passando pela porta do quarto dos rapazes, Theresa pôde ouvir altos roncos ressoando pelos seus ouvidos.

    — Fracamente, como eles conseguem dormir?

    — Talvez porque eles não estejam tentando achar resposta para tudo. Jarves tinha razão quando disse que você precisava deixar de arranjar uma reposta para tudo.

    Theresa apenas suspirou, pegando no corrimão da escada que a levaria para o réis do chão. Com passos bem lentos, precedidos dos da Meredith, Theresa alcançou o chão, enfrentando a gerente entrelaçando suas mãos naquele balcão enquanto sorria para si.

    Ao mesmo tempo, a porta da pousada se abriu, uma luz pairou sobre o chão. Vários passos ressoaram, misturados com um grande barulho estridente, que ressoava nos ouvidos de todos.

    Trajados com roupas infantis e com um sorriso atravessando seus rostos, crianças entravam naquela pousada. Elas estavam acompanhadas por dois adultos. Do lado direito, uma mulher que vestia um sobretudo castanho e sapatos negros. Seus pares de olhos marrons eram refletidos pelos seus óculos redondos.

    Do outro lado, estava um homem com cabelo branco e olhos negros, que trajava igualmente o sobretudo, só que negro.

    A recepcionista deu as suas boas-vindas com um sorriso carismático.

    Enquanto isso, no momento em que Meredith pisou no rés-do-chão, seus olhos se encheram de brilho ao contemplar dois dos rostos familiares. Ela não conseguia acreditar que aqueles dois estavam bem ali, ao seu alcance.

    Quando os olhos daquelas duas crianças se encontraram com os da mulher ruiva que os observava, um sorriso imediato preencheu seus lábios e com mãos levantadas para cima, elas correram até aquela mulher que lhes vinha de encontro.

    — Manaaaaa!

    Encostada no canto da parede, Theresa observava com um sorriso Meredith abraçar e carregar aquelas duas crianças até o colo.

    A professora, que tinha os olhos naquela cena, deixou as crianças agitadas, fascinadas com a pousada, aos cuidados do homem ali e foi ter com a gerente.

    Já Meredith desceu as crianças e as contemplou com um sorriso, ainda não crendo que elas realmente estavam aqui. Agachada, novamente as deu um abraço.

    — Gael e Fiena, sei que é a milésima vez que digo isso, mas eu senti tantas saudades!

    — Nós também, maninha!

    Ah, meus irmãos…

    Meredith despejou lágrimas.

    — Irmã…

    Gael, o que tinha cabelos ruivos e olhos verdes, olhou severamente para sua irmã.

    — O que foi?

    — É verdade aquilo que ouvimos… que você matou o seu noivo?

    — Gael — repreendeu Fiena, uma linda menininha de cabelos negros e olhos azuis. — É claro que não é verdade! Não é, maninha, Meredith?

    Seus olhos angelicais a encaram, aguardando ansiosamente por uma resposta positiva, mas o semblante de sua irmã apenas refletia sentimentos negativos. Meredith arregalou os olhos, não sabendo como responder aos seus irmãos.

    Mentiras não eram consigo, mas dizer a verdade destruiria o coração dos seus irmãos.

    Eh… É…

    Por sorte, mais crianças vieram ao encontro da princesa Meredith e a cumprimentaram com um sorriso, mas isso durou pequenos segundos, porque essas crianças começaram a lançar avalanches de perguntas a respeito de supostos boatos que ouviram sobre sua pessoa, de que ela havia assinado seu noivo.

    — É verdade?

    — Maninha, por que não responde? É verdade?

    Os olhos dos dois irmãos se encheram de lágrimas, temendo que o silêncio da sua irmã fosse uma resposta afirmativa para suas indagações.

    — Não é verdade — emitiu a professora, se aproximando e todas as crianças assumiram uma postura de pavor. — Já falamos disso, não falamos, crianças? São apenas boatos de pessoas maldosas que querem estragar a imagem da princesa Meredith!

    — Então por que ela não responde?

    Uma das crianças perguntou.

    — Vocês, por acaso, se sentiriam bem se muitas pessoas viessem fazer perguntas como se fossem criminosos? Com todos vocês a sufocando, é claro que não, né?

    — Desculpa. — Cada um começou a se desculpar.

    — Não é verdade! Eu juro! — Após tanto morder os lábios, Meredith enfim declarou. — Eu jamais faria algo assim…

    Ah, que alívio!

    Seus irmãos, junto das outras crianças, suspiraram enquanto colocavam a mão contra o peito.

    — Muito bem, crianças, agora que tiveram suas respostas, podem retornar para o lado do Ur.

    As crianças assentiram e voltaram para o homem perto da porta, menos duas delas.

    — Crianças, vocês também.

    — Mas nós queremos ficar com a nossa maninha — acrescentou Gael, seguido de Fiena: — Sim! Sim!

    — Crianças…

    — Obedeçam à vossa professora. — Meredith olhou para os irmãos. — Teremos muito tempo para matar as nossas saudades.

    — E também queremos os presentes!

    Os dois disseram em uníssono.

    — Tá, tudo que vocês quiserem!

    — Ebaaaa!

    Os dois saíram dali enquanto sorriam.

    — Essas crianças, sinceramente.

    — São uma benção, não é?

    Meredith admirava seus irmãos, se juntando às demais crianças, que formavam um semicírculo ao redor do homem de sobretudo.

    — É, de fato, mas mudando de assunto, princesa. Por que a senhorita cometeu aquela atrocidade? Desculpa se fui direta demais, não quis ofendê-la, mas é que não vejo a senhorita fazendo isso. Na verdade, até acho mesmo que armaram para cima de si.

    — Queria eu que fosse armação, mas é a mais pura verdade. Eu assassinei o Faisal.

    — Por que?

    — Bem…

    Meredith contou à professora o episódio da tradição, de como tudo ocorreu, e de como descobriu e, no meio disso, ela quase vomitou ali mesmo, o que a impossibilitou de contar certas partes.

    — Nossa… — A mulher colocou a mão contra a boca, com lágrimas já vertendo no seu rosto.

    — Desculpa, é que esse assunto ainda me traumatiza.

    Inesperadamente, Meredith recebeu um abraço bem forte.

    Ela arregalou os olhos e começou a chorar.

    Theresa observava aquilo tudo com um leve sorriso. Pelo menos, dessa vez, Meredith conseguiu contar algo sem se baralhar e acabar estragando tudo.

    — Sabe, eu te entendo muito bem, princesa…

    Elas se deixaram.

    — Me entende?

    — A verdade é que eu também fui traída e estive quase a cometer o mesmo ato que a senhora. A sorte dele é que, ao invés de uma espada na mão, eu tinha uma panela de água quente no fogo. Ele ficou com o rosto queimado, mas nada que uma magia de cura pudesse curar. Então, sim, eu entendo a sua dor.

    — Quando a gente dedica tudo para a pessoa que amamos e depois ela nos retribui com algo ruim, é realmente frustrante. Sempre estive com ele nos momentos tristes e felizes, não havia motivo para isso. Não precisava ser assim.

    — De fato, mas a gente nunca vai entender o que se passa na cabeça da outra para fazer isso. A mente e o coração são um mistério que somente estão nus aos olhos do Criador.

    — Eu só sei que eu já não quero mais me envolver com ninguém.

    — Eu te entendo e, mesmo estando casada novamente, não posso te encorajar a acreditar no amor novamente. Contraditório, não é? Mas eu creio que só o tempo te dará a resposta perfeita.

    — Obrigada.

    De repente, no meio daquele clima de tristeza, a gerente da pousada apareceu, acenando a mão.

    — Vim avisar que a comida já está pronta. Sentem-se a mesa que em breve irei começar a servir.

    Ah, tão já? Obrigada. Vamos, princesa, vamos nos sentar! Nada que uma boa comida para espantar a tristeza para longe!

    — É, sim, talvez. — Meredith deu um sorriso meio desanimado enquanto acompanhava a professora até uma das mesas onde aguardariam pela comida.

    A gerente deu um leve sorriso, observando aquelas duas e seguiu caminhando até as escadas onde se encontrava uma mulher de jaleco bem próxima ao primeiro degrau.

    — Com licença…

    Gerente balançou o braço.

    — Quem é?

    Ah, vim informar que a comida está pronta.

    — Tão já? Para toda essa gente?

    Theresa estreitou os olhos.

    — É talento de família. Cozinhar está no sangue.

    Ah, tá.

    — Se me der licença, agora eu vou… — A mulher avançou, mas Theresa se colocou no meio do primeiro degrau, olhando a gerente com um olhar desconfiado.

    — Deixa que eu chamo eles.

    — Você faria esse favor? Que incrível!

    A gerente sorriu, batendo as palmas.

    — Bem, então assim que chegarem começarei a servir!

    A gerente deu costas a Theresa enquanto cantarolava uma pequena melodia.

    — Talento de família, é? Conta outra… Eu sei que você está escondido algo por detrás desse seu sorriso falso e eu vou descobrir o que é!

    Dito isso, Theresa começou a subir a escada com passos determinados e olhos frios enquanto pensava na gerente.

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