Capitulo 6: Primeiro Contato
POV. Meredith
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Despertei abruptamente, após ter tido um sonho que mal me lembrei. Não, creio que estava mais para um pesadelo. Suspirei, observando a lateral da parede onde ficava a janela, suas cortinas transparentes reflitam o azul noturno.
Ainda era noite.
Passei a mão sobre a minha testa encharcada de suor e retirei um pouco do lençol que cobria o meu corpo.
Ainda não conseguia tirar da minha cabeça o que aquele mendigo disse na noite de ontem.
” Faisal me traiu mesmo? Parece uma ilusão.”
Refletia sobre isso enquanto sentava sobre a minha cama, contemplando alguns móveis do meu quarto num profundo breu.
Ontem a noite acabei passando mal e sem me dar conta acabei desmaiando por tanto pensar naquilo, sequer tive oportunidade para interrogar o Faisal sobre qualquer coisa.
“Acho que ainda bem, não é?”
Afinal, aquele homem garantiu que eu conseguiria pegá-los se eu seguisse com o meu plano de viajar ao castelo real para visitar as minhas primas.
Caminhei ao pé da porta e liguei o lustre. Uma luz vinda do teto tomou conta do quarto. Peguei um colar com duas chaves na gaveta ao lado da minha cama e abri um baú que ficava escondido debaixo da minha cama. Era um baú que o meu pai havia me oferecido quando ainda em vida.
Lá eu guardava muitos objetos que ele havia me oferecido, mas o mais especial e o último presente que ele havia me oferecido eram um conjunto de bonecos. Dois príncipes e duas princesas e, para completar a coleção; um lindo castelo.
Levei a Ana, minha boneca de cabelos ruivos como os meus e Ted, meu boneco de madeixas brancas e olhos castanhos-claro. Coloquei-os na cama, movendo-os de um lado para outro enquanto tecia com a minha boca as suas falas. Eu não sei porque, mas eu adorava isso. E, ao mesmo tempo tinha vergonha, já que não tinha mais idade para isso.
Cerrei os lábios ao lembrar das palavras daquele mendigo. O único que sabia desse meu segredo era o meu pai.
“Então como ele soube?”, eu me perguntava, mas não encontrava nenhuma resposta convincente em meio aos meus turbilhões de pensamentos.
Naquele momento, acabei tomando em relevância as suas palavras por ele ter exposto esse segredo, mas ainda tinha as minhas dúvidas. Aquele homem ainda era um mistério a ser desvendado, eu sentia algo de errado vindo dele. A maneira como ele subiu na vida, tão repentinamente, me assustou.
Contudo, suas palavras me levaram mais a fundo a lembranças em que eu via o Faisal e Graziela demostrando sinais de muita intimidade.
Pensar e lembrar disso me fazia mal, por isso voltei as minhas fantasias. Quando perdi meu pai, eu passava mal e ficava inúmeras noites sem dormir; triste, desolada e vazia. Mas, tudo isso se aliviava quando eu começava a brincar com os meus bonecos, era como se fosse um remédio natural para o meu corpo.
E então, eu me lembrava das sábias palavras do meu pai:
“Seja quem você é. Não há vergonha em fazer aquilo que nos traz paz.”
De fato, meu pai era o único que me entendia.
Foi um golpe quando eu perdi ele, mas suas palavras jamais se apagaram da minha mente.
No entanto, ainda não me sentia realizada. Ainda não conseguia ser eu mesma. Eu ainda não estava preparada para me casar. Contudo, como filha mais velha dessa família, carregava a responsabilidade de fazê-lo.
A razão era que o rei decidiu que eu deveria me casar para que a minha família tivesse um novo patriarca.
Assim, não tive escolha se não acatar as ordens reais.
Mas pelo menos, ele permitiu que eu me casasse com um nobre a minha escolha. Para ele tanto fazia, já que eu não era da família real principal.
Meu pai nasceu do ventre de uma concubina e não do da rainha, sendo assim, ele não possuía uma linhagem real direta. Por isso, não morávamos no palácio como a família principal, mas ainda assim, possuíamos regalias semelhantes as da família real direta.
Mas voltando ao assunto do casamento. Eu escolhi o Faisal porque simplesmente o amava. Fui eu quem propôs noivado a ele, antes que desse algo na cabeça do rei e ele escolhesse qualquer um para mim.
Mas agora, diante disso tudo, não sei mais sobre os meus sentimentos. Estou bastante confusa. Não sei mais o que pensar depois de haver recebido aquela triste notícia de que ele estava me traindo. E, eu me perguntava o porquê.
Mas não encontrava respostas para tal. Dei tudo para ele; amor, atenção e carinho. Definitivamente, não sei aonde falhei.
Minha cabeça começou a doer enquanto eu pensava nisso. Quando dei por mim, estava em choros. Chorei tanto que peguei no sono.
Depois de uma longa noite de sono, acordei com dores nas costas e descobri que a razão era que eu havia dormido por cima de um dos bonecos. Estava doendo tanto, que me alonguei e me estiquei um pouco para amenizar a dor. Era um remédio natural que o meu pai havia me ensinado; o exercício.
Enquanto esticava o meu corpo, ouvi algumas batidas na porta.
— Senhorita! — Era a voz da Chiar, uma das minhas servas. Ressoava pelos meus ouvidos, misturada com as leves batidas na porta.
— Entre. — Me sentei na cama.
Chiar abriu a porta, realizando sua reverência matinal.
Retribuí, encurvando a minha cabeça ligeiramente.
— O seu banho já está pronto, Srta. Meredith.
— Tá bom, já vou — respondi, levantando da cama, ainda vestida do meu pijama cor de rosa. Bocejei enquanto Chiar retirava-se dos meus aposentos, voltando a fechar a porta.
Olhei o meu rosto naquele espelho redondo cravado na parede ao pé da minha cama.
” Será que eu sou tão feia assim ao ponto de ser traída? “
“O que Graziela tem que eu não tenho?”
Ainda não conseguia acreditar nisso. Lágrimas escorregaram dos meus olhos, percorrendo as minhas bochechas. Soltei um suspiro pesado e pressionei o peito, sentindo aquelas batidas angustiantes.
Se aquele homem, na verdade, estiver certo e eu presenciar ele no flagra, ” como eu reajo?”
” O que eu faço?”
” O quão partido o meu coração ficará?”
“Eu não sei se estou preparada para isso.”
“É demais para mim.”
Com esses pensamentos afligindo a minha mente, fui tomar banho, vestir e almoçar com o rosto todo abatido. Os meus irmãozinhos, ainda pequenos, me perguntaram se o gato havia comido a minha língua e eu balancei a cabeça negativamente.
Mamãe tentou retirar informações de mim, mas eu não revelei nada para ela. Não quero que ela saiba disso antes que eu possa provar com os meus próprios olhos, ainda há chances disso tudo ser uma mentira.
Não foi o que ele disse, que em um minuto tudo pode acontecer?
Então, só tenho que torcer para que ele tenha inventado isso em benefício próprio e, então, planejarei uma punição bem severa para ele por me ter mentido.
“Isso mesmo!”
Mas, aqueles olhos… Aquela expressão, não vi nenhum traço de mentira nela.
Enfim, vou me focar na viagem e esvaziar a minha cabeça desses pensamentos negativos.
“Faça isso, Meredith, que tudo dará certo!”
— Adeus, mamãe! Adeus, Fiena e Gael!
Balancei o meu braço negativamente para eles enquanto entrava na minha carruagem puxada por dois lindos cavalos-brancos. O cocheiro enfim tomou as rédeas e a carruagem começou a movimentar-se enquanto eu contemplava aqueles sorrisos, aqueles braços balançantes se afastando cada vez mais.
Suspirei, focando os meus olhos para frente.
“A frente é o caminho.”
Era o que o meu falecido pai costumava dizer. Se ele estivesse aqui, eu nem precisaria me casar com o Faisal. Talvez eu pudesse viver mais a vida como ela é.
Como uma aventureira Rank F que era, seguindo os passos antigos do meu pai antes dele se aposentar para passar mais tempo com a família.
O que não era o meu caso. Nesse reino, as mulheres que se casavam deveriam deixar tudo e se dedicar exclusivamente a cuidar dos seus maridos e lares.
Injusto, não?
Eu estava condenada a isso. Me senti como um passarinho tendo as suas asas cortadas. Não queria que fosse assim, tão rápido.
Talvez eu tente falar com a minha prima para que ela possa persuadir o rei por mim, porque na última vez em que toquei no assunto, ele ameaçou retirar todas as regalias que a minha família possuía.
O rei era alguém que não gostava de ser contrariado. Quando tomasse uma decisão, era essa mesma.
Apesar de, o único que conseguia lhe confrontar era o meu pai. Ele não temia nenhuma de suas ameaças. Suas palavras eram verdadeiras e tão assertivas quanto uma flecha.
“Que saudades dele.”
“O que ele faria numa situação dessas?”, pensei nisso, enquanto observava pela janela; algumas pessoas caminhando felizes pelo passeio. Já estávamos no distrito de Hellen, com isso faltavam mais algumas poucas horas de viagem para que chegássemos ao castelo real.
Contudo, algo inesperado aconteceu.
A carruagem curvou por uma esquina, que releva um caminho com muita pouca luminosidade.
“Era um atalho?”
Abandonei esse pensamento logo em seguida. Reziel havia me levado muitas vezes ao castelo e nunca havia pegado nenhum atalho, se não o caminho de habitual.
— Ei, Reziel… Por onde estamos indo?
Reziel não disse nada, apenas continuou manejando as rédeas. Agora a carruagem fez outro desvio, revelando outro caminho estreito e com pouca luz.
— Reziel? Está me ouvindo?
A carruagem enfim parou.
— Já chegamos ao seu destino final, Srta. Meredith.
— O que você está dizendo, Reziel?
— Que esse é o seu destino final. — Uma bolinha foi lançada contra o sofá da carruagem em que eu me encontrava. Ela começou a soltar uma fumaça preta que adentrou ao meu nariz e à minha boca. Comecei a tossir.
” Eu não entendo o que pode estar acontecendo aqui.”
“Reziel por acaso está tentando me matar? “
Eu não estava conseguindo respirar. Abri de imediato a porta da carruagem, descendo aqueles dois degraus que me levaram ao chão.
Segurei o meu pescoço, tossindo ainda com mais intensidade, enquanto o som de passos se aproximando adentravam aos meus ouvidos.
Após recuperar um pouquinho de ar, ainda com a visão turva, fitei aquele homem de terno.
— Por que, Reziel?
— Não me leve a mal, Srta. Meredith. — Ele tirou uma espada da bainha presa ao cinto largo na cintura. — Mas fazia tanto tempo que eu não ganhava um aumento!
— Que história é essa, Reziel?
— É isso que a senhorita já deve ter percebido. Eu fui pago para te eliminar!
— Rizel… Por quê? — Reuni um pouco de forças que ainda me sobravam para sacar a minha espada, mas a fumaça que havia entrado pela minha boca e narinas, não era nada normal. Os meus olhos turvos estavam se fechando lentamente.
“Droga… desse jeito, mal vou conseguir me defender”
Deixei cair a espada.
— É um gás venenoso. Não é fatal, mas me dará tempo suficiente para eliminá-la.
— Não faça isso, Reziel! Você vai se arrepender!
— De ser rico? — questionou, puxando de leve o seu bigode cinzento. — Com o dinheiro que me deram poderei viver por pelo menos um ano na fartura.
— Eu pensei que… Cof… Cof… — Coloquei o punho contra os lábios. — Você fosse leal a família real. Meu pai confiava em você!
Ele se aproximou ainda mais de mim, erguendo sua espada para cima.
— O seu pai não está mais aqui. As coisas mudaram, e esse reino não tem mais fundos para ninguém. As guildas estão falindo, não estão dando nem conta de pagar os aventureiros. Desse jeito, não dá.
— E você escolheu o caminho mais fácil?
— Tenho uma estima por você, mas pelo meu bem e dos meus filhos não posso hesitar.
— Não faça isso, eu te imploro! Não se torne um assassino!
— Adeus, Srta. Meredith. — Ele desceu sua espada e, quando eu fechei os olhos, preparada para o meu fim, ouvi um tintilar de espadas.
Quando abri os meus olhos, um homem de cabelos brancos e um manto carmesim cobrindo suas costas estava rente a mim, impedindo com a sua espada, a do Reziel de prosseguir.
— M-maldito! Quem é você?! — Reziel retrocedeu, franzindo as sobrancelhas.
— Covardes como você não merecem viver. Como ousa atentar à vida de uma dama?
— Isso não te interessa! Fora daqui! — Com a espada posicionada verticalmente, ele partiu para o ataque.
— Hum, morra. — A espada do Reziel quebrou-se. Estilhaços caíram por terra. Ele arregalou os olhos, vendo a espada atravessar os seus ombros enquanto caia de joelhos.
Agora, aquele homem preparava-se para executar o golpe final.
— Não o mate, por favor…
— Mas, milady — Seus olhos se encontraram com os meus —, ele atentou a sua vida.
— Eu sei, mas eu ainda tenho perguntas a fazer para ele.
— Eu preciso… Te matar! — Um grito saiu da boca do Reziel, mas aquele homem foi rápido em golpeá-lo na cabeça, fazendo-o perder a sua consciência. Ele caiu no chão como morto.
— E você, você está bem?
Seus olhos me encararam profundamente.
— Eu inalei um pouco de gás venenoso, mas não se preocupe, eu estou… — Os meus olhos se fechavam enquanto eu caia em seus braços. Contemplei, por último, o brilho dos seus olhos castanhos.
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