— Quem será que era? Que estranho. — Leila se questiona com a voz firme e baixa enquanto dirige seu Jipe verde por uma estrada de terra nos arredores da fronteira.

    Enquanto dirige, ela tenta olhar para o celular para ver se conhece o número que acabou de atender. De forma brusca o carro passa por um buraco na estrada que faz com que sua mão que está segurando o celular chacoalhe sem sua permissão, fazendo com que o celular caia do carro.

    Ela freia bruscamente. Após parar e dar uma profunda suspirada, ela lança um olhar para o retrovisor a procura do celular, e enxerga um ponto azul no meio da estrada, abre a porta do carro e vai até ele.

    Ao pegá-lo do chão, dá um forçado assopro para tirar um pouco da poeira que se prendeu nele. Após fazer uma rápida observação na parte de trás tirando uma tampa e analisando para ver se o N2 está em ordem, ela coloca no bolso de sua calça.

    Uma calça jeans marrom, que vem acompanhada por uma camisa regata preta por baixo de um colete também marrom. Em sua cabeça há um chapéu marrom claro para se esconder um pouco do sol no auge de seu resplendor.

    Sem demora, volta para o carro e retorna a dirigir seguindo seu rumo.

    Após mais de 2 horas de estrada ela chega até sua casa e estaciona na frente, pega sua bolsa de ombro feita de tecido cor bege e se direciona para o portão, depois para a porta de sua casa.

    — Cheegueei!

    Já tirando os coturnos e os deixando ao lado da porta, ela se dirige até a sala.

    — Oi filha! — Sem perder a passada segue em direção a cozinha.

    — Oi mãe! Como foi lá? Achou algo? — Sarah a questiona enquanto está deitada no sofá da sala, lendo um de seus livros.

    — Infelizmente não, só pedras e raízes.

    — Que pena, desanima não, logo você acha algo!

    — Tomara! Se não a Guilda vai revogar a restrição do local, daí já era…

    — Por que você não entra para a Guilda dos Caçadores? Eles pagam bem mais. — Sarah solta questionamentos no ar.

    — Você sabe oque eu acho daqueles sujos. Nós Arqueólogos, pelo menos temos escrúpulos, e damos muito mais valor pelos achados. Nem tudo se resume a dinheiro.  — Leila termina sua fala já como um desabafo.

    — Só não vai enfartar se achar algo! — Sarah não perde a deixa parar tirar sarro de sua mãe enquanto dá um leve sorriso sem perder o foco da leitura.

    — Engraçadinha você! E como foi a escola hoje?

    — Foi tudo normal, ainda estou invicta, mas os meninos não querem mais me deixar jogar bola.

    — Você não acha que seria legal deixar eles ganharem de vez enquanto? —Leila revira a cozinha a procura algo para comer na geladeira.

    — Eu não! Eles que se esforcem para me vencer! Haa… Tem comida no fogão dentro da panela.

    Sarah segura seu livro com uma das mãos e folheia uma página com a outra, ela está deitada com as pernas cruzadas em forma de quatro para poder apoiar seu livro.

    — É sério Sarah? Batata? De novo? — Leila olha inconformada para a panela cheia de batatas cozidas com um pouco de arroz por baixo e alguns pedaços de carne no canto. — É sério! Você deve sonhar com batatas, não é possível.

    — O pai não reclamou…

    — Ele não liga para nada, aquele poço sem fundo, até parece que você puxou para ele. — Leila já se aproxima do sofá com a panela em uma de suas mãos e o garfo em outra.

    — Eeeiii… — Sarah murmura, após Leila se jogar no sofá.

    — Dá um espaço aí.

    Sarah se levanta e se senta de pernas cruzadas enquanto coloca o travesseiro em cima das pernas para apoiar o livro, então dá uma leve esbarrada proposital em sua mãe.

    — Eeeiii… sossega criatura!

    — Pronto, daqui a pouco vai me chamar de fóssil também. — Sarah solta palavras em um tom baixo com um leve sorriso na boca.

    — Ummm, ótima ideia, você com certeza seria um fóssil de um Cus-Cus, pelo menos é encrenqueira como um! — Leila dá uma bela de uma risada enquanto procura por um canal na televisão com o controle remoto.

    — Não seria tão mal assim sabia, poderia correr por aí livremente sem se preocupar com deveres de casa

    — Eu que não queria ser sua professora. — Leila continua sua busca com o controle remoto.

    — Agora fica quieta que quero ver as notícias do meu time!

    — Nosso time! —  Após colocar seu livro do lado, se senta no canto do sofá.

    Alguns minutos depois e Sarah já está encostada com a cabeça nos ombros de sua mãe que ainda termina de comer o pouco de comida que sobrara na panela.

    “A realeza acha que pode tud… Uma nova remessa de escravos humanos capturados no deserto está chegando para trabalhar no porto comercial com… Novos casos de sequestros não solucionados se empilh… O muro que nos divide um dia caí… Sorvetes para mim, para você e para todos… Um novo tratamento com N2 que devolverá sua juventude num piscar de o… Eles são superiores, fazer oque? O mundo pertence aos fo… O torneio de Atlás terminou com mais um nobre ganhando direito a guarda de elite, eles…”

    Canais e mais canais e Leila começa até a buffar.

    “Ele está em grande fase e está confirmado para o jogo de hoje!!”

    Um homem dá a notícia na tv chamando a matéria esportiva.

    — Opa! Hoje a gente vence! Ele vai fazer um golaço como sempre! — Leila já comemora como se a vitória fosse certa.

    — Calma né mãe, aquele time é chato, sempre dificulta as coisas para gente. — Sarah dá um alerta enquanto seus olhos e pensamentos ainda estão perdidos em meios as várias falas que ouviu na tv.

    — Eles estão jogando mal, esse ano eles rebaixam — Leila sacramenta precocemente um triste desfecho para o rival.

    — Bom… se jogar igual jogou na rodada passada, é vitória certa! — Sarah aceita os sentimentos de sua mãe e se junta na empolgação.

    — Tem pipoca guardada? — Leila já planeja a noite.

    — Tem sim, sobrou meio pacote ainda, vê se não vai esquecer de colocar a manteiga dessa vez.

    — Folgada você viu! — Leila se levanta do sofá após terminar a parte do programa que fala sobre seu time, ela se direciona para a cozinha para lavar a panela e beber um pouco de água. O dia passa e a noite chega, o jogo começa e as duas torcem por cada lance enquanto comem pipoca e reclamam da arbitragem, o pai de Sarah não está em casa. Lances atrás de lances, o jogo termina com a vitória apertada do time para qual elas torcem, Sarah e Leila então vão para seus quartos e para suas camas felizes, Sarah porque vai poder caçoar dos meninos que torcem para os rivais e Leila animada para mais um dia de escavação.

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