Capítulo 18: Aqui tudo começa
18 de junho de 2009 – Periferia de EVA – Zona 47.
Sarah que acabou de acordar, ainda sonolenta decidi se levantar para fazer um pouco de café. Saindo de seu quarto e entrando no corredor a sua esquerda, observa algo incomum. O quarto de seu pai está com a porta um pouco aberta, caminhando descalça pelo corredor, passa pela escada que leva para o primeiro andar e chega ao quarto dele o chamando antes de entrar, porém não há resposta.
Com cuidado, bota a cabeça para dentro do quarto para ver se ele está ali, uma cama arrumada foi tudo que encontrou. Descendo a escada, a voz de seu pai conversando com outra pessoa ecoa suavemente pelo ambiente.
— Então, você virá esse final de semana para gente descer junto? — Depois de alguns segundos de silêncio ele volta a falar — Ah, você vai descer na casa do Lúcio, então tá, até mais, tchau! — Ele desliga o celular e o coloca sobre a mesa.
Sarah após ouvir a conversa, desce devagar pelas escadas, seus pés descalços deslisam pelos degraus. Sua calça preta de moletom contrasta com o cinza da escada e da parede, as duas linhas amarelas do lado da calça se destacam. Sua camisa se esconde na frente da parede.
— Pai… com quem você estava falando? acordou tão cedo. — Ela o indaga inesperadamente.
— … — Após um instante lançando seu olhar para trás com uma leve surpresa. — Eu acabei acordando cedo, porque fui dormir muito cedo…
— Verdade! — Com um leve sorriso no rosto, ela continua seus questionamentos — E com quem estava falando?
— Ah… era com o Marcos que sempre vem aqui. — Ele a responde com naturalidade.
— Ah sim, entendi. Bom… vou fazer o café ok?
— Ok, vê se não coloca muito açúcar está bem. — Ele dá uma leve risada quase imperceptível.
— Miserável. — Ela sussurra com sorriso no rosto.
Após os dois tomarem café, ele sai para o serviço e ela volta a dormir, nada melhor que despencar na cama e dormir até tarde. Quando se levanta novamente, já são onze horas. Toma um banho e começa a fazer o almoço com pouca coisa, estará só hoje.
Leituras de livros e jornais. Pedaladas pela cidade e uma corrida pelo parque. Vários obstáculos superados em um grupo de parkour que ousa escalar a muralha, para contemplar o longínquo litoral da nobreza.
Uma bela de uma balada sexta à noite bate à sua porta, o que ela sabe aproveitar uma como ninguém.
19 de junho de 2009.
Sarah está em seu quarto lendo uma história de aventura, em que o personagem principal ajuda pessoas estranhas a recuperarem seu lar, assim se torna amigo deles. mas o mais importante da história foi o que ele achou nessa jornada, um novo pedaço de si mesmo que ele ainda não conhecia. Sempre que lê essa história, se pergunta se um dia terá uma aventura igual a dele.
Se deita em sua cama com seus fones de ouvido, viajando na imaginação enquanto escuta música olhando para o teto. Após alguns minutos quando se vira para o lado o fone cai de seu ouvido, então ela ouve a campainha tocar, mais alguns segundos e toca novamente, e novamente. “Arrastando” o corpo ela se levanta. Enquanto desce a escada, se pergunta por onde seu pai está para não ter ouvido. Abrindo a porta, Gilberto, um homem branco encorpado, cabelo castanho e sem barba, com uma roupa estilo esporte fino, se apresenta a sua frente.
— Oi Sarah! Nossa! Como você cresceu. — Ele a cumprimenta fazendo um aceno de mão.
— Oi. — Ela responde com a voz um pouco baixa.
— O Júlio está? — Ele indaga.
— Então, era para ele estar em casa, mas não veio atender… Senta aí na sala que eu vou procurar ele. — Sarah sai pela casa gritando — Paaaaaaaai! — E enquanto deixa a sala Gilberto a observa.
Na cozinha as panelas e talheres reluzem solitariamente. No banheiro do andar de baixo a porta está aberta como se esperasse alguém. Passando pela porta que dá ao porão se lembra que ele costuma descer lá às vezes para mexer nas ferramentas. Quando abre a porta dá de cara com ele, levando um leve susto sem reação, somente estática, raciocinando.
Então suspira enquanto relaxa.
— O Gilberto está te procurando.
— Nossa! Verdade! me esqueci que ele vinha aqui hoje.
— Hummm! Vai cair na gandaia né! — Ela dá um leve sorriso enquanto dá uma leve dedada na lateral da barriga dele.
— Aiii! Dá para se dizer que a gente vai curtir um pouco esta noite. — Ele responde meio sem jeito enquanto procura se recompor após tentar de forma inútil se esquivar do ataque.
Os dois se encaminham para a sala. Ele se encontra com Gilberto, os dois se cumprimentam e se sentam para conversar. Chegando em seu quarto, ela se joga na cama voltando a escutar música.
O pouco que restava de luz logo se esvai. Sara acaba pegando no sono com os fones no ouvido. A madrugada inevitável se apresenta, e junto dela uma música da lista com graves fortes interrompem o sono. Meio desengonçada ela se vira na cama para pegar o celular e desliga-lo. O silêncio que ecoa pelo ambiente não perdura muito.
O som de pequenas e agudas batidas surgem. Ela se vira para olhar para a janela, e o que vê tira um leve sorriso de seu rosto. Uma coruja está bicando o canto de sua janela enquanto é iluminada pela luz do luar. Curiosa, Sarah se levanta e se aproxima da janela, a coruja nem percebe enquanto se aproxima mais e mais. Até conseguir ver que a coruja está comendo um gafanhoto.
Sem querer ela dá uma leve esbarrada na janela, isso assusta a ave que sai voando com o inseto em seu bico rumo ao muro. Ali ela repousa para terminar de desfrutar de sua refeição.
Sarah volta a se deitar na cama. Pega um livro que sua mãe costumava ler para ela. Um livro com uma capa velha, marrom e enrugada, feita de couro com uma escrita dourada “Alvorecer Dourado”. Sua mãe achou esse livro em um bazar de livros antigos em uma de suas viagens, o livro em questão, conta uma história de uma guerreira lendária de Atlás, que usava somente um escudo para todos derrotar. Com seus cabelos dourados e face escondida sob um elmo, ela luta contra a invasão dos androides.
Sarah é apaixonada por essa história, além de querer ser forte como a Alvorecer. Mas o real motivo dela ter um carinho especial por esse livro, é pela lembrança de sua mãe, as únicas coisas que ela deixou foram esse livro e um cartão de banco que seu pai diz ser um dinheiro que sua mãe guardava para dar de presente para ela quando fosse para faculdade.
São três da madrugada, Sarah está toda fissurada nas linhas do livro. Seus olhos correm por cada linha enquanto sua mente viaja na imaginação. Então um barulho de porta batendo interrompe sua leitura. Aparenta ser seu pai voltando gandaia. Então ela desliga a luz de seu celular que ilumina seu livro e se vira para o lado fingindo que está dormindo. Alguns minutos depois ela escuta uma voz.
— Espera aqui, vou ver se ela está dormindo.
Júlio abre a porta com sutileza e entra no quarto de sua filha. Ao ligar a luz, ele repara que a coberta está cobrindo só metade do corpo. Se se aproxima e coloca a mão no pescoço dela de forma carinhosa, em seguida desliza leve o toque até o ombro enquanto aproxima o rosto e dá um leve beijo no ombro. Sarah logo percebe o cheiro de álcool enquanto puxa um punhado de ar. Ele pega a coberta e coloca sobre ela a cobrindo até o pescoço.
— Ela está dormindo, vamos.
Sarah em sua curiosidade, se levanta e começa a andar descalça para não ser ouvida, abre a gaveta do guarda-roupa e pega uma camisa cinza de manga comprida para colocar por cima do top. De passo em passo percorre o corredor e desce a escada. Jogando olhares sorrateiros pela sala, nada encontra. Andando mais um pouco, vai até o corredor para ver se estão na cozinha, quando então vê a porta do porão entreaberta com a luz acesa lá dentro. Com os olhos serrados ela se aproxima lentamente e começa a abrir mais um pouco a porta.
Desce a escada bem devagar, quanto mais ela desce, mais sua respiração fica lenta com seu coração pulsando mais forte a cada batida. Um degrau de cada vez ela termina a descida, porém se surpreende ao não avistar ninguém. Olha para os cantos do porão e observa as prateleiras nas paredes cheias de caixas e ferramentas.
Ela Vê algo incomum que até então não sabia de sua existência. O armário está puxado para o lado e há uma abertura retangular onde o armário costuma ficar. A passos lentos, se aproxima do local e observa que existe um buraco onde era para ser chão.
Ali se encontra uma escada que aparentemente levar até seu fundo. Quando chega na beira do buraco, um ar abafado sai dele em direção ao seu rosto. Um leve enjoo vem junto.
Tudo dentro de si diz para ela que ali é o limite, que é melhor voltar para sua cama e sua história, mas sua curiosidade é insaciável.
Mesmo contra seus instintos, ela começa a descer a escada.
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