Capítulo 22: O cemitério das almas
O gatilho foi apertado e o primeiro guarda caiu morto no chão com uma bala em seu pescoço. O barulho do tiro ecoou por todo o ambiente do salão escuro. Não só dele, mas também por todo o prédio e por todo o lugar, chegando até os seguranças dos portais.
— O que aconteceu? — Três vozes diferentes perguntam a mesma coisa pelo rádio comunicador dos guardas e seguranças.
Na sala de monitoramento, o segurança com camisa branca pega um dos comunicadores.
— Não sei… um barulho de tiro, parece que veio aqui do prédio. — Todos os seguranças ali da sala se amontoam na tela do prédio para observar o que estava acontecendo. — Todos estão procurando algo, mas tudo está normal. — O segurança responde com sua voz assustada.
Os oito guardas dos portais começam a descer correndo em direção ao pilar central. No portal de número oito, um ser encapuzado aproveita o momento para invadir o local descendo os lances da escadaria com passadas rápidas. Então outro tiro ecoa pelo ambiente. Ele continua sua corrida, ao escutar mais um tiro, faz uma pausa. Depois de alguns segundos olhando para o pilar no centro ele entra à direita.
Então os seguranças chegam ao salão branco segundos depois de seis guardas do prédio, que vieram das escadas e andares acima. Eles percebem a fumaça saindo da abertura no chão que leva para o salão 5 A.
— Foi de lá que veio o barulho dos tiros! — Com a respiração ofegante, uma balconista alta de cabelo preto, pele branca e olhos castanhos, começa a narrar o que acabou de acontecer ali para os seguranças e guardas. As outras mulheres estão abaixadas e escondidas atrás do balcão. — Alguns instantes depois do terceiro tiro começou a sair fumaça! — Ela completa.
— É gás de sono, todos nós, guardas do prédio, temos uma cápsula dessa em nossos cintos — Um dos guardas tenta explicar a fumaça que sai da abertura. Curiosamente esse guarda está com uma marca de corte acima de seu nariz.
— Mas que merda está acontecendo? — O segurança chefe indaga em voz alta enquanto olha para a fumaça. — Saiam do salão antes que a fumaça espalhe!
Todos no salão começam a correr para fora do pilar e as portas de vidro se fecham. O segurança chefe pega seu rádio.
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— O que está acontecendo aí dentro? — Ele indaga para o segurança de monitoramento.
— Eu não sei… ninguém sabe! Os andares inferiores não têm câmeras de segurança. — O segurança no andar três responde enquanto ainda está cercado pelos demais, que observam a situação do andar quatro por uma das telas.
— BOSTA! — O segurança chefe grita enquanto está no rádio.
— O chefe Júlio está lá embaixo! Ele foi ver a invasora! — O segurança de monitoramento comunica pelo rádio com a voz trêmula.
— O QUE? E você só diz isso agora? MERDA! — Alguns segundos de pausa na fala e um pouco de raciocínio sobre tudo que está acontecendo. O chefe, os tiros, a invasora, o gás. Logo percebe o que está acontecendo. — Me mantenha informado sobre qualquer movimentação.
— Entendido! — O segurança de monitoramento responde e desliga o rádio.
— Escutem! Todos vocês fiquem prontos para invadir o salão branco e depois o cinco A — O segurança chefe os orienta.
Sarah se encontra sentada encostada nas grades brancas que estão abertas. Está com uma máscara de gás em sua mão direita. Também há dois extintores e dois fuzis caídos a sua frente, uma cápsula de sono, além de três corpos baleados. Um com tiro no pescoço e os outros dois com tiros na cabeça.
Sarah está olhando para o corpo de Júlio, o homem que um dia chamou de pai, duas pequenas lágrimas estão escorrendo de seus olhos. O sangue azul que sai do buraco do tiro na testa dele causa estranheza.
Ao olhar para seu braço e perceber que as braçadeiras junto as correntes ainda estão ali, ela se levanta deixando a máscara no chão e se aproxima do corpo caído perto de Júlio. Começa a procurar algo no bolso da calça dele, encontrando uma chave igual à que o guarda usou para abrir as grades.
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Olhando mais de perto a chave realmente se parece com um grande parafuso fino na ponta que vai ficando mais grosso conforme vai subindo até a cabeça. Com o formato de uma bola de gude toda feita com uma espécie de pedra vermelha, lisa e circular. Existe uma espécie de mecanismo que permite que o resto da chave gire sem que a cabeça gire também.
Ela pega a chave e coloca no buraco da fechadura da pulseira, que fica em uma parte saltada em sua lateral. Ao empurrar a chave, a pedra brilha, fazendo a fechadura afrouxar, a chave gira, forçando o buraco a se expandir, assim a parte superior começa a se dividir em duas. Pode se observar um leve brilho azul por dentro do buraco onde a chave foi inserida.
Quando termina de empurrar, a parte de cima está totalmente separada e sua pulseira aberta, então se livra delas enquanto encara a chave. Lançando um olhar para o lado, observa a fechadura da cela a direita que é igual a da pulseira. Se lembra que naquela cela havia uma mão segurando a grade.
A cela abre com facilidade. Um passo de cada vez ela entra. Não demora e se depara com uma silhueta que aparenta ser de uma mulher.
— Você está bem? — Sarah a indaga meio insegura.
Aquela silhueta começa a se mover para o lado e então uma porção do se seu rosto começa a aparecer graças a pequena luz que vem da cela ao lado. O que se revela a deixa paralisada por um instante. No rosto do que se revela uma senhora, os olhos estão costurados.
— Quem é você? — Uma voz trêmula e fraca sai da boca da senhora.
— Eu… sou alguém que quer te ajudar. — Sarah responde calmamente.
— Então foi você que fez essa confusão toda, eu estava dormindo. — A senhora solta palavras ao ar com naturalidade.
— Eu vou te tirar da… — Sarah é interrompida enquanto fala.
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— Não… minha jovem, eu suponho. — A velha senhora dá um leve sorriso — Eu quero só dormir e morrer, essa é a minha liberdade.
Quando de repente outras vozes surgem ao mesmo tempo nas celas ao lado.
— Eu também…
— Eu também…
— Eu também…
— Eu também…
De inúmeras celas começam a ecoar vozes, todas pedindo a mesma coisa, liberdade, mas a liberdade delas é diferente do que Sarah imaginava.
— Por quê? — Sarah ao sair da cela indaga com a voz alta e o olhar triste enquanto observa as celas ao seu redor.
— Moça… — A voz de um homem adulto vindo da cela acima da cela branca destoa. — Eu estou preso aqui há 10 anos, já fui torturado, obrigado a ver e fazer coisas que aos poucos quebraram minha alma. Eu já trabalhei aqui por muito tempo, mas chegou em certo ponto que meu coração não aguentava mais ver tanta maldade.
Com a voz vazia de entonações, ele continua.
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— Entenda moça… eu tinha família para sustentar, morava no fundo de um barracão na zona comercial portuária, meus filhos choravam de fome. Até que um dia cometi um crime, assaltei uma loja, e fui preso. Um dos agentes da prisão me perguntou se eu estava realmente disposto a fazer de tudo para ganhar dinheiro, em minha ignorância, eu disse sim…
Após uma breve pausa para suspirar ele retoma
— Ahhhh como eu queria ter dito não. Me trouxeram para este lugar, conheci seu Júlio, salário bom, vida boa para mim e minha família. Depois de um tempo observando pelas telas aqueles homens e mulheres entrando nos quartos, eu comecei a sentir nojo de mim mesmo.
O olhar de Sarah oscila um pouco até o chão, e aos poucos vai retornando.
— Quando fui denunciar, o agente que me atendeu era um contato deles lá dentro, então me entregou. Desde então nunca mais voltei a ver a luz do dia. Eu mereço o que estou passando! Até penso em ver minha família de novo, mas não quero voltar para eles desse jeito.
Ele pausa a fala novamente, é possível ver os olhos dele se aproximando um pouco mais da grade.
— Os outros aqui também são como eu, todos quebrados, sem volta. A senhora ali com quem você falava, era secretaria dos chefes há 30 anos. Mas os traiu e tentou chantageá-los com as coisas que tinha visto aqui embaixo. Não demorou para ter esse fim. — Ele abaixa a cabeça por um momento.
A senhora até retorna para as sombras após essa fala.
— Se fossemos soltos na luz de novo, nunca mais conseguiríamos enxergar o mundo como ele era antes. A escuridão vai nos perturbar, e provavelmente nos tornaríamos demônios, ou nos mataríamos. A morte aqui, agora! seria um alívio para nossas almas ou o que restou dela. — Ele termina em um tom melancólico.
Sem palavras, e com olhar triste, ela observa o entorno e as outras celas. Quando vê mãos pequenas nas grades do lado esquerdo das grades brancas, até engole seco por um momento. Então se aproxima para ver quem é.
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Uma figura que parece a de uma criança toma forma em meio a sombra. Ela está com a cabeça baixa. Sarah coloca a mão no queixo dela e começa a levantá-la devagar. Ao vislumbrar sua face Sarah se agarra as barras.
— POR QUÊ? Por que até uma criança está aqui? O que ela fez para merecer esse destino? — Com a voz emanando fúria, com uma rouquidão como se fosse chorar, indaga a quem puder responder, enquanto encara o menino. Ele está com algemas, cicatrizes de cortes em seus braços, já em seu rosto, sua boca está costurada. Na mão direita, faltam os dois dedos menores, e na esquerda não há unhas.
Em uma sequência, Sarah desfere quatro socos com sua mão direita nas barras. Seus dentes serrados seguram seu grito, assustada, a criança se afasta.
— Essa criança foi trazida recentemente, parece que ela mordeu e arranhou um cliente importante. — Uma voz de uma das celas profere essas palavras.
— CALA. A. BOCA! — Sarah desfere um grito pausado. — A existência desse lugar…. embaixo de onde eu morei minha vida toda. — Sua voz está baixa e rouca. Ajoelhada e segurando nas barras com as duas mãos. Seu rosto virado para baixo está marcado por um semblante que mistura tristeza e raiva. Lágrimas desmoronam no chão abaixo. — Moça… — A mesma voz de antes, do homem que contou sua história, ecoa novamente — Eu posso te ajudar a tentar fugir desse lugar.
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