Capítulo 31: Nas profundezas de um velho novo mundo (Parte 3)
O androide sente algo quente penetrando suas costas do lado esquerdo. Sua outra mão solta a pistola enquanto dispara em uma ação desesperada para tentar pegar o que o está perfurando. Ao se virar para Sarah, a vislumbra por um momento. Observa suas pupilas contraídas e totalmente focadas em si, assim como um animal selvagem à espreita de sua caça.
Aquilo que ele tem dentro de si que chamamos de coração, acelera enquanto começa a entrar em colapso. Uma adaga reta de lâmina negra, toda talhada em linhas prateadas, emiti uma leve luz prata ao redor de sua lâmina. Luz que começa a queimá-lo.
Após conseguir arrancá-la, por alguns segundos, ele a segura firmemente enquanto encara seu brilho com um olhar distante. A adaga começa a queimar o tecido da luva, o forçando a largá-la no ar. Em sequência, arranca a chave em forma de parafuso fincada em seu olho. Se encostando na parede do lado da entrada do túnel, ele desliza até cair sentado. Então se põe a procurar algo de forma desesperada em seus bolsos.
— Como. Como é possível? Ninguém jamais conseguiu usar essa arma. Bosta, Bosta! — Ele solta suas palavras ao ar enquanto continua sua busca pelo bolso. Faíscas saltam de seu olho. De suas costas, um líquido fluorescente azul escorre da ferida.
Sarah aproveita o momento, e pega a pistola que o androide deixou cair no chão, e aponta para ele. Mas ele não percebe, então ela se vê obrigada a disparar, porém, não consegue apertar o gatilho. Então se lembra que ele estava segurando a pistola com as duas mãos.
Imitando-o, a arma responde e se carrega com rapidez. Com as duas mãos segurando o gatilho, ela dispara. Um feixe de luz roxa ilumina todo o salão, e após dois segundos, solta o gatilho, e a iluminação cai novamente. Quando olha para sua frente, ele está encostado na parede caído e sentado, sendo levemente iluminado pelo seu traje e pela adaga.
Seu olho que sobrou está arregalado. Ele não parece estar sentindo dor, só assustado. Sarah repara que o braço esquerdo dele se foi, junto de um pedaço de seu tórax e abdômen. Ali ela tem a certeza de que aquilo não é humano. Ao invés de veias e músculos, existem fios e tubos que despejam mais líquido azul, que cai escorrendo pela profunda cratera que se abriu com o disparo.
— Ei, você… eu já te vi antes! Agora eu me lembro. Você é aquele lixo. — Nesse momento após a fala, o androide começa a rir. Uma risada falha e curta. — Agora faz sentido você ter conseguido usar minha armar, mas isso não explica como você usou uma das assassinas celestiais. Ninguém consegue usá-las. Era para o nosso rei conseguir no futuro, com a evolução.
— Quem é você? — Sarah o questiona com a arma apontada.
— Eu? Eu sou a evolução! Mas a questão aqui não é quem eu sou, e sim quem é você? Eu sei quem você é! E por mais hilário que pareça. Era para você estar morta, mas veja! Quem está preste a morrer sou eu. — Então ele começa a rir novamente por alguns segundos. Sua cabeça começa a cair no mesmo ritmo que o volume de sua risada. Após alguns instantes, sua voz cessa, e as luzes roxas de seu traje se apagam junto com a luz da arma. O corpo do androide desliza para o lado, e cai no buraco sumindo da vista.
Por alguns instantes, ela sente uma tristeza dentro de si. Se aproxima do buraco e joga a pistola dele para repousar junto do corpo. Se vira e avista a adaga. A luz que ela emite agora é bem suave, quase não dá para perceber. A pega e logo se direciona para o túnel que leva ao salão oculto.
Ao chegar ao fim, percebe que o sangue já subiu a ponto de entrar pelo buraco na porta. O cheiro também volta a ficar forte.
Ela olha através do buraco avistando a escada. Entrando no salão, seu corpo mergulha no sangue até a cintura. Caminhando com dificuldade, se direciona até onde fica o altar. Logo sente um dos degraus.
Subindo, chega ao topo que ainda não foi coberto. Ali congele ver que metade dos destroços estão cobertos pelo sangue. Enquanto olha, se lembra que o androide falou algo sobre oficiais mandando um pessoal. Sente que precisa sair dali o quanto antes.
Uma puxada de fôlego seguida de um mergulho, e o altar fica para trás. Ela volta a surgir perto dos destroços, e começa a escalá-los até chegar à escada. Chegando no topo, dá uma última olhada para trás e entra pelo túnel.
Mais um túnel com luzes compridas e roxas o iluminando se apresenta. Após alguns segundos caminhando em linha reta, chega a uma bifurcação. Ela decide pegar o caminho da esquerda. Seguindo reto, chega a uma escada que leva para cima, então começa a escalá-la.
Alguns minutos depois, ela chega ao topo e encontra outro túnel que segue a esquerda. Mais alguns segundos e ela chega ao fim desse curto túnel. Ambas as paredes laterais ali no fim, são cobertas com uma grossa camada de vidro. Um pequeno painel preto e quadrado, se destaca a sua direita sobre o vidro, com um núcleo arredondado e amarelo bem no centro.
Ela toca no núcleo, que se ilumina ao mesmo tempo em que o vidro ganha uma leve tonalidade amarelada. O chão em que está, começa a descer junto com as duas paredes laterais de vidro e o teto. Conforme a plataforma desce, vê que retornou ao andar zero. Enquanto desce, observa os dois que matou.
Depois de chegar no chão, se aproxima da janela onde prendeu a corda. Olhando para baixo, percebe que o fogo já está se apagando. Agora há pessoas com roupas amarelas e outras com roupas pretas lá embaixo. As amarelas estão apagando o fogo com grandes mangueiras. Já os de preto parecem carregar pequenos sacos da mesma cor de suas roupas.
De volta a plataforma, um toque e novamente se move, agora subindo como se estivesse levitando. Olhando para cima, é possível ver uma barra de metal que sustenta o vidro.
Ao voltar até a bifurcação que havia passado anteriormente, agora segue reto. O túnel a leva até uma porta roxa que está entreaberta. Atravessando a porta, se depara com um quarto escuro. Cheio de prateleiras nas paredes, e várias caixas no chão. Uma escada inclinada na diagonal que dá até uma porta no alto se revela em um canto. Depois de fechar a porta a suas costas, repara que desse lado é preta ao ponto de mal dar para perceber que existe algo ali.
Sarah caminha até a escada e a sobe por ela. A porta também está entreaberta. Agora se vê em uma cozinha toda branca, com aparência luxuosa, mais luxuosa que a de sua casa. Enquanto caminha por ali, deixa marcas de pés descalços no chão. Sua calça ainda pinga um pouco de sangue.
Chegando até uma janela, vê que ainda está claro. A casa fica na frente de uma rua que corre na lateral de um rio. Ela o reconhece. Não é muito longe de sua casa. Olhando um pouco para si mesma, conclui que não pode sair na rua nessa situação, vai chamar muita atenção. E pelo que ela percebeu, deve haver muitos envolvidos nessas atrocidades. Então decide esperar anoitecer para sair.
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