Capítulo 43: Uma companhia inesperada
Enquanto Sarah vai se virando na direção da voz, suas pupilas vão se dilatando um pouco, e um grande sorriso vai se abrindo. Então se põe a andar de forma acelerada. Depois de abrir os braços e em um movimento bem rápido, os fecha em volta de um corpo robusto, e mais alto que ela. Ele está envolto com um tecido largo de cor vermelho. Outro tecido que repousa sobre o anterior, esse na cor cinza, desce pelos ombros e se entrelaça na altura da cintura.
— Forte como sempre! — Enfatizou aquela mesma voz.
Ela dá uma leve afastada, ainda com o sorriso no rosto.
— Fiquei tão preocupada. Achei que poderia ter acontecido algo com você.
— Está se referindo ao tremor de terra há alguns dias? — Por um instante, ele para a fala, olha para ela e depois continua. — Foi meio assustador para dizer a verdade, mas estamos bem. Temo que a natureza não esteja contente conosco. Venha! Caminhe comigo Sarah — Ele gentilmente a convida estendendo seu cotovelo.
— Você estava me esperando? — Caminhando lado a alado, ela o indaga enquanto segura no braço dele.
— Eu estava esperando os ventos das montanhas me trazerem um pouco de paz e reflexão. — Ele fala enquanto olha para frente. — Mas veja só! Hoje ele me trouxe felicidade também! — Dando uma pausa na fala, e uma rápida olhada em Sarah. Seus olhos parecem distante como se lembrasse do passado.
— Zhau, você realmente está bem?
— Se acalme. Vou preparar um chá de ervas para você. Enquanto isso, descanse de sua longa viagem.
Com um aceno positivo de cabeça, ela aceita em silêncio.
Com o passar do dia, Sarah e Zhau colocam em dia toda a conversa de pois de tanto tempo sem se verem. Histórias e mais histórias surgem, eles dão risada juntos, e se surpreendem um com o outro. Assim toda preocupação do mundo se esvai. O ambiente, o lugar, as montanhas. Está tudo em perfeita harmonia, enquanto o vento sopra sereno.
“Escorrendo dos picos brancos até as profundezas dos vales. Formando finas corredeiras que se juntam e despencam como cachoeiras. Transformam-se em pequenos lagos, e logo se põem a correr novamente. Tanto por cima como por baixo. Depois de cair nesse mundo. buscam de forma incessante, seu lar!” Sarah termina de ler essas palavras em um pequeno pergaminho que Zhau a emprestou. Então fecha os olhos enquanto encosta em um pilar a frente do templo.
O sol começa a se despedir por de traz das montanhas. Dando um tom alaranjado aos picos até então brancos. Sobre eles, dois bandos de Soçada Anser voam em direção ao sul. As penas douradas de suas cabeças, reluzem como ouro refletindo a luz do sol.
Abrindo os olhos após sentir um leve e fresco vento batendo contra seu rosto e braço. Sarah logo avista as primeiras estrelas que se destacam. O céu está saindo de um azul celeste pleno, para um tão escuro que parece mergulhar no vazio. No centro sobre a escadaria, uma imensa lua cheia se impõe iluminando os campos verdes. Quase tanto quanto o sol, porém, com um toque de suavidade. Depois de apreciar a vista por um tempo, Sarah se levanta e vai para um quarto descansar. Algo que ela não fez muito bem nos últimos dias.
No meio da noite, os ventos param, e o silêncio se instaura por todo lado. Seja os monges meditando ao luar, ou a natureza. Nada emana nenhum tipo de barulho. E para ela, o sono não parece querer sua companhia. Deitada em uma cama, escutando compilados de uma hora de música eletrônica. Os pequenos fones pretos e sem fios. Relaxam sua mente, e criam um fluxo perfeito de descanso. A tal ponto que ela finalmente pega no sono.
As horas passam e a lua se move. Enquanto isso, o silêncio e o frio reinam soberanos. São quatro horas da madrugada quando Sarah acorda, e se põe a procurar seu celular. Quando o encontra debaixo dela mesma, repara que agora está coberta por um edredom grosso que antes não estava ali. O que a deixa com uma expressão de estranhamento.
Ao tentar olhar as horas, o celular não reponde. Então ela abre a parte traseira e observa que os pequenos núcleos azuis estão apagados. Com um profundo suspiro, despenca na cama. Ao segundo seguinte dela desabar, um rugido ecoa de leve pelo quarto. Sarah arregala os olhos, e mais uma vez o rugido chega a seus ouvidos. Se virando na cama com calma para o lado de onde vem o som, sua boca se abre um pouco.
Ela quase não acredita no que seus olhos presenciam. Um Pardo Uncias deitado na janela, dormindo e rugindo. Sua calda é tão longa que consegue alcançar o chão. Sua pelagem espeça e branca com manchar negras, se movimenta com a brisa que passa pela janela, e muda do branco para cinza escuro com tanta naturalidade que mal dá para perceber. Sarah fica alguns segundos estática com a cena, então se levanta, e com um paço de cada vez, começa a se aproximar dele.
Consegue chegar tão perto, que dá para ouvir sua respiração. Ousando ir além, ela passa sua mão, fazendo carinho da cabeça até o meio das costas de forma repetida. O animal parece gostar, até se vira com a barriga para o lado de cá para receber um cafuné, que não é negado. O leopardo reagi dando mais uma virada colocando sua barriga para cima. Como a janela não é tão larga, ele acaba caindo para o lado de fora. Ao acordar, dá um pulo enquanto lança olhares buscando algo ao seu redor.
Quando seus olhos azuis safira se encontram com o olhar fixo de Sarah. Por alguns instantes, eles ficam vidrados um no outro. Por algum motivo, o leopardo começa a se aproximar dela, que estica a mão para passar em sua cabeça. Antes que isso aconteça, o chão treme bruscamente e o animal assustado, corre para longe pela planície verde. O chão volta a estremecer, de novo e de novo, e uma última vez. Sarah já se encontra embaixo da cama esperando tudo se acalmar.
— Sarah! Sarah!
Zhau chega na porta a sua procura, porém, tudo que encontra é uma cama com um edredom. Mas ao olhar mais pra baixo, vê algo que lhe tira um leve riso. Pés brancos jogados para fora de debaixo da cama. Não resistindo, parte para um ataque sorrateiro de cocegas.
— AAAAA, PAAAARA! — Em meio a risos, ela sai despontando para o outro lado da cama.
— Você está bem? —Zhau a indaga se contendo para não cair em gargalhadas.
— Miseravel… — O sorriso no rosto já está esvaindo. — Um pouco assustada, mas estou bem! — Ela responde enquanto suspira fundo e volta seu olhar para a janela. — Foi isso que vocês passaram então?! — Ela joga palavras ao vento.
— Para dizer a verdade, foi mais forte, longo e sem intervalos. — Ele a responde com olhar distante como se viajasse em lembranças. ― Que bom que está bem. Vou fazer uma ronda para ver como os outros estão. Qualquer coisa, me chama!!
— Espera. Foi você que colocou esse edredom em min enquanto eu dormia? — Sarah o indaga enquanto se aproxima da janela.
— Não. Por quê? — Zhau a responde enquanto já se prepara para sair.
— Por nada! Obrigada! — Ela volta a jogar seu olhar longínquo para fora da janela.
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