Capítulo 56: Além do horizonte
Quase um ano se passou desde então
Enquanto aprecia o céu azul desta manhã. Sarah aproveita a brisa que vem do oceano e toca seu corpo. As ondas que morrem sobre seu pé parecem levar mais do que areia consigo.
— Ei! Você não vai preparar as coisas? Já faz cinco dias que a ave voou. Daqui uns dois amanheceres, eles estarão aqui. — Adão se encontra a alguns metros da mata, enquanto observa Sarah a beira-mar.
Ela acena com a cabeça, concordando, porém, sem se virar. Enquanto continua vislumbrando o horizonte. Seu cabelo esvoaçado e suas mãos com punhos fechados, fazem seus músculos marcarem a pele.
“Ouço seu coração desde a primavera passada, e ele nunca esteve tão acelerado. Oque poderia ser capaz de abalá-la dessa forma?” — Adão já está terminando de se transformar novamente em fera.
Só agora, quase disputando com o astro rei, um pedaço do palco. A lua vai se despedindo imponente. Até parece querer tocar o oceano. Sarah estica seu braço e abre sua mão lá na frente, e a fecha em uma tentativa imaginária de pegá-la. Ela respira fundo e traz a mão fechada a colocando em seu peito enquanto fecha os olhos.
— Seguir em frente! — Muito mais que um sussurra. Quase um sentimento, escapa de sua boca e se esvai pelo ar. Em seguida, ela se vira adentrando a floresta.
A água que vem do oceano e toca a areia da praia. Traz consigo, estrelas do mar, e alguns peixes mortos. E bem de vez em quando, também traz algumas embarcações. A âncora inicia sua descida, desesperada para mais uma vez se juntar com o fundo rochoso. Ali mesmo, quatro botes despencam a toda velocidade, e logo reclamam uma porção do oceano para ele. Várias remadas depois, ganham uma folga sobre a areia.
O astro rei, brilha majestosamente no ápice de seu resplendor. Um par de calceus marrom escuro, se afundam na areia molhada. A toga branca resplandece como mármore. Um cinto de couro escuro divide a toga ao meio. Fios de cabelo castanho claro, brilham enquanto sacolejam com a brisa marítima. A pele clara, resmunga dos poucos cuidados sob um tom leve de vermelhidão.
O capitão, homem de tal descrição, é o primeiro a descer a ilha. Logo em seguida, oito homens de porte mais atlético, pele clara, e cabelos castanho escuro. Descem, e se juntam a ele no início da praia. Suas togas bejes contrastam com o do primeiro. E seus calceus de um tom claro de marrom também experimentam a areia molhada.
Após fincarem estacas na areia para prender os botes. Eles começam a se dirigir em direção a entrada da mata. Porém, param. O capitão que está à frente, acena para os demais esperarem. O silêncio que toma conta da paisagem a sua frente, o faz ter cautela.
De repente, eles começam a ouvir o barulho de uma fera selvagem rugindo no meio da mata. E a cada segundo que passa, fica mais alto e mais alto. Depois que o primeiro sucumbe ao medo e sai em disparada para os botes, os demais o seguem. O capitão, mantendo a calma e a cautela, decide retornar com eles.
Quando já estão próximos da água. Uma fera negra, pula da mata e cai na areia, rola rapidamente e se vira confrontando a selva a sua frente. Os homens na beira da praia assistem aquela cena estarrecidos. Seus corações acelerados e pernas tremulas. Mal conseguem se mover ou mesmo respirar. A fera em silêncio, da alguns passos para traz. Rapidamente eles também direcionam seus olhos para a mata se perguntando o que teria feito uma fera daquele tamanho ficar tão estática desse jeito. O homem de toga branca, com a face serena, só observa a cena em silêncio.
Alguns segundos de uma aflição silenciosa são quebrados por um salto que vem da mata. Um ser humano de pele clara levemente bronzeada e cabelos negros, cai na areia e faz um rolamento indo em direção a fera que faz um salto lateral para se esquivar. Ambos ficam em pé e encaram um ao outro. Na boca da fera, pode se observar um peixe com mais da metade de baixo para fora.
Os homens engolem seco enquanto permanecem imóveis e em silêncio. Porém, já é tarde demais. Os dois seres ali na praia, se viram e começam a ir na direção deles. Um dos homens desmaia no ato. Os outros começam a correr e tropeçar nas próprias pernas, alguns até conseguem chegar em um bote. Não o capitão. Ele fica estático somente vislumbrando a fera negra se aproximando enquanto se transformar em um humano. O peixe solitário, é esquecido pelo caminho.
— Me desculpa Marcos… Seja bem-vindo! Eu não queria aparecer desse jeito na frente de seus homens. — Ele termina sua caminhada ficando frente a frente ao homem que tem a mesma altura que ele — Será que esse daqui ainda está vivo??
— Não se preocupe. Fico admirado de nenhum deles ter saído nadando em mar aberto! — Marcos abre um sorriso de ponta a ponta enquanto encara Adão. Após alguns segundos ele se vira para Sarah. — E quem seria essa Mulher inesperada??
— O nome dela é Sarah. É uma história muito louca, até para mim. De como veio parar aqui. Enfim, eu e ela queremos viajar com vocês até Atlântis. Podemos? — Adão termina fala alternando seu olhar entre Sarah e Marcos.
— Como negar tal pedido diante de tal beleza? — Ele fala enquanto estende sua mão e cumprimenta Sarah, que está com um rosto sereno olhando para ele e para os homens que ao fundo estão aos poucos voltando para a praia. — E de um bom amigo? — Agora ele estende a mão para Adão.
Sarah sorri.
Marcos dá uma rápida reparada nas roupas que ela usa e estranha por nunca ter visto ninguém usar nada parecido. Ele também repara que boa parte da pele dela está exposta, e como seus músculos aparentam saudáveis. Seu aperto de mão foi o mais firme que já apertou até então.
— De onde você é? Digo. Eu nunca tinha visto tais vestimentas antes. — Marcos a indaga meio sem jeito.
— Na verdade, nem eu sei explicar direito no momento. Mas isso daqui em cima se chama top, e isso aqui embaixo se chama saia aberta. E pelas suas vestimentas você deve vir de Úra certo? — Sarah retorna com outro questionamento enquanto observa a vestimenta dele.
— Você já foi lá? — Marcos levanta as sobrancelhas por um momento.
— Eu já ouvi muito sobre uma das quatro capitais reais. — Ela para um segundo a fala, para reparar no homem jogado na areia que está recobrando a consciência. — Eu sei que as mulheres da nobreza não costumam se vestir assim. Mas é só o que eu tenho no momento. Se você achar melhor, eu poderia vestir uma dessas togas por cima, durante a viajem.
— Tenho um navio cheio de homens a nossa espera. Creio que seria por bem, vestir algo mais familiar aos olhos deles.
Sarah acena com a cabeça em concordância.
Adão observa a cena com estranheza.
— Bom. Agora que já nos conhecemos, chame seus homens para irmos coletar os suplementos. — Adão da a deixa enquanto lança olhares para traz de Marcos até os homens receosos.
Ele concorda, e se vira para seus homens que já estão ali perto.
— Eu quero que um bote volte rapidamente até o navio, e traga duas togas brancas e dois cintos de meus aposentos. Enquanto aos demais, vamos adentrar a mata para coletar nossos suplementos.
Rapidamente, dois homens ainda meio perdidos, sobem em um bote e começam a remar em direção ao navio. Os demais incluso o que acabou de se levantar, começam a caminhar com cautela até Marcos.
— Como você sabe sobre a terra natal dele? — Adão questiona Sarah com sua voz sorrateira, enquanto Marcos comanda seus homens.
— Depois eu te conto. Mas agora eu estou entendendo melhor o que está acontecendo. — Ela sussurra tais palavras enquanto observa as vestimentas de Marcos.
Sarah então se separa de Adão e Marcos e vai em direção a casa na arvore. Eles por sua vez, adentram a mata em direção ao rio.
Quatro dias depois de muita caça, coleta e boas conversas jogadas fora. Em volta de uma fogueira na praia, sob o crepúsculo. Agora que todos já se conhecem melhor. Muitas risadas e olhares espantados, surgem e somem com as histórias contadas.
— Caaara!!… Eu já tinha ouvido histórias sobre vocês que se transformam em animais. — Cezar, um dos homens a beira da fogueira, joga essas palavras ao ar enquanto bebe um pouco de cerveja em uma caneca de madeira. — Mas presenciar a ação de perto, você é incrível cara! — Ele solta essas palavras enquanto dá um abraço com o braço esquerdo em Adão.
Todos os homens em volta da fogueira concordam com ele com acenos de cabeça enquanto bebem. Adão por sua vez fica levemente sem jeito, Sarah que está ali saboreando um pouco dessa cevada, observa com um leve sorriso no rosto. No amanhecer do quinto dia, todos os botes já estão cheios. Um até já partiu para poder voltar e pegar os convidados. Sarah está com a sua mochila cheia em sua costa. Está vestindo a toga branca que vai até um pouco abaixo do joelho. Adão também está vestindo uma que vai até a altura exata do joelho. Os dois dão uma última boa olhada para a mata antes de entrarem no bote que já está voltando. Após alguns minutos de silêncio, ambos se viram para o mar e começam a trilhar uma nova aventura rumo a Atlântis.
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