Capítulo 60: Capitão John!
Após alguns segundos dela ter sumido na água, Adão ainda incrédulo com o que acaba de ver. Sem saber o que pensar, somente contempla a fúria do oceano batendo nos cascos e chacoalhando o navio do lado. Então ele percebe. O navio em questão parece estar afundando, alguns homens começam a sair desesperadamente pelo convés com as mãos na cabeça ou subindo nas cordas. Em um ritmo que a cada momento de acelera, o navio vai sendo engolido pelo mar e pelas ondas. Um após o outro, todos os navios daquele lado vão afundando.
“Como??” Adão tenta focar sua visão noturna em busca de respostas.
Giuseppe, um dos homens ali no alto do mastro principal. Enquanto se segura para não ser jogado para fora novamente, observa a face estarrecida de Adão. De forma desajeitada, busca a beirada da cesta para observar o mesmo que ele. Jogando um olhar sobre a madeira, e mesmo enxergando somente sombras que raramente se revelam com os raios. Ele mal acredita no que acha que vê.
Ele olha para Geovanni, e o chama com um gesto rápido de cabeça. Quando ele também chega na beirada. Seus olhos se arregalam com a possível cena que presencia. Então ele olha para cima e observa um raio cortar o ceu e seu som se misturar com toda a turbulência do ambiente. Nesse momento parece que tudo fica em câmera lenta enquanto o raio ainda está se dissipando. Geovanni fecha os olhos e começa a sentir algumas gotas geladas se chocarem com sua testa e escorrem pelo seu, elas se misturam com as gotas quentes que escorrem pelas bochechas dele.
Após o último navio afundar lá no fundo, Adão observa um ponto brilhante se movendo pela água em direção ao navio em que estão. Ele abre um leve sorriso quando essa luz chega mais perto. Focando sua visão, e lá está ela, com a adaga na boca e dando braçadas que cortam as ondas. Sarah some um pouco e volta, e assim se repete até ela mergulhar por baixo deles e sair do outro lado. É como se fosse um replay do que aconteceu, um navio após o outro, todos afundam com os homens desesperados à deriva, todos sendo engolidos pelas ondas, até que tudo some e sobra só a solidão de um único navio.
Quando Sarah chega perto do navio, a escada de cordas e madeira logo despenca do alto. Em um movimento rápido, alcança a escada com um dos braços, o segurando de forma bruta. Após alguns segundo recuperando o fôlego, começa a escalá-la. Quando chega no convés, os três já estão ali a sua espera.
Em silêncio, ela se vira para a porta, retira a adaga de sua boca, que ao ser segurada com força na altura da cintura, tem seu brilho aumentada intensamente. Alguns fios bem pequenos de luz parecem emanar da lâmina, eles dançam lentamente como se tivessem vida própria.
A porta se abre, as gargalhadas cessam, o silêncio toma conta do ambiente, até a respiração de todos ali parece cessar. Silêncio interrompido somente pelo barulho dos trovões ao fundo. Todos se viram para a porta o observam aquela silhueta que ganha forma ao ser revelada pelo brilho de algo em uma das mãos que se eleva a frente.
Ao entrar, Sarah observa que Marcos está caído e desmaiado em um canto. Ela estica o braço e aponta a adaga para John. Percebendo suas intenções, ele a encara enquanto trocam olhares. Ao reparar bem ele observa que é uma mulher. Em pensamentos, se indaga, como poderia perder para uma?
Ele arranca sua Garrucha e a joga sobre a mesa. Termina de entornar um caneco de rum e o joga para longe. Puxa uma Cimitarra da cintura e aponta para ela aceitando o desafio. Os homens que já estão para os cantos, se lembram de respirar, quebram o silêncio e começam a gritar.
— Capitão John!!!! Capitão John!!!! Capitão John!!!!
— Eu naveguei entre tritões e sereias!!! Enfrentei Orman O Espelho do Mar pessoalmente. E sobrevivi!! — Com um sorriso no rosto ele termina de se empolgar. — Há muito ninguém me desafia!! — Ele termina sua fala enquanto olha para aquela pobre coitada ali a sua frente. Todo inflado pelo rum, por Atlântis, os gritos agora se cessam. Ele dá o primeiro passo para iniciar uma investida.
Quando se dá conta, aquilo que brilhava na mão dela se aproxima a toda velocidade de sua face enquanto corta o ar e as sombras. O obrigando a fazer um movimento brusco de desviar, girando seu tronco para trás pela esquerda e jogando seu corpo para a direita, quase se desestabilizando. Ele e todos ali lançam um rápido olhar para trás e observam que uma espécie de faca está fincada na parede de madeira. Então o Capitão se lembra que tem algo mais importante para olhar.
Ao procurar, tudo que ele encontra perante seus olhos é um punho tão grande que tampa toda sua visão.
“Quando foi que ela chegou tão?!…” Ele se indaga internamente instantes antes de perder a consciência com o impacto em seu olho esquerdo. A força é tanta que ele é jogado para o chão e para trás.
Novamente o silêncio toma conta do ambiente. Eles começam a empunhar suas armas, mesmo de pernas trêmulas e olhares frágeis perante a figura no centro da do local, que recebe alguns clarões de luz vindos da porta por causa dos raios que apagam e acendem o ambiente. E ali no centro ela os encara.
“Pobre do ser que ignora seus instintos!!” Adão pensa consigo mesmo ao ficar só ouvindo tudo do lado de fora.
A vela se apaga com o vento que entra pela porta, outra coisa também entra pela porta. Primeiro o rugido, depois a fera. Olhos alaranjados brilham na escuridão refletindo o brilho meio distante da adaga ao fundo do aposento.
Essa foi a gota que fez transbordar o medo dentro deles. Todos largam suas armas e se ajoelham de cabeça baixa implorando para não serem mortos ou devorados. O que acabara de acontecer, parecia um pesadelo na mente deles, que ainda não teve seu fim.
Todos ali são amarrados juntos com a corda envolta deles, menos o capitão que morreu com o impacto da parte de trás da cabeça com a madeira. Ele é colocado do lado dos homens amarrados. A porta está fechada e todos ali aguardam a tempestade passar para terminar de resolver toda a situação.
Sarah está sentada com os joelhos dobrados para cima e braços esticados por cima deles. Sua cabeça baixa, e seu cabelo molhado tampa sua face. Seu olhar distante encara o chão.
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