Índice de Capítulo

    Após suas últimas marteladas, a tormenta enfim se acalma. Os trovões, agora não passam de memórias quebradas para aqueles que sobreviveram. As nuvens, com rapidez inigualável, deslizam sobre águas para longe. O oceano, satisfeito com o banquete da noite que se passou, agora repousa em calmaria. E lá no horizonte ele se faz notar, o ceu azul escuro de um lado se contrasta sem se dividir com o ceu azul claro que pinta o amanhecer.

    Os primeiros raios tocam o convés molhado. Adão está lá fora contemplando o amanhecer, e admirado com o que um único ser vivo foi capaz de fazer.

    Destroços de navios tomam conta das águas por todo o lado. Em meio a eles, corpos espalhados soam como um convite para os primeiros tubarões saborearem o café da manhã. Ele até consegue escutar alguns gemidos e sussurros clamando por socorro e misericórdia em meio a tudo aquilo. Porém, se vira a vai em direção aos aposentos de Marcos.

    Marcos está dormindo em sua cama todo enfaixado, e com febre. Geovanni e Giuseppe estão cochilando e escorados na parede próximo a porta que leva para o quarto de seu capitão. Os piratas que não conseguiram pregar os olhos, estão olhando atentamente para a direção de Sarah, como se vigiassem um predador os rodeando.

    Ela que por sua vez, está deitada de barriga para cima, com o braço direito dobrado para cima da cabeça e o outro esticado para baixo rente ao corpo. Seu cabelo está jogado sobre sua face. que está virada para o lado dos piratas.

    Adão, ao observar ela nessa posição, dá um leve sorriso enquanto se aproxima. Então ele move uma mecha de cabelo dela que revela parte de sua face.

    — Olha essas batatas deliciosas. — Ele fala bem perto do ouvido dela.

    O estomago de Sarah, automaticamente começa a resmungar, implorando por um pedaço. Com agilidade, ela abre os olhos e lança um olhar no fundo da alma de Adão o encarando por alguns segundos.

    — Não tem batatas né??

    Ele acena negativamente com a cabeça enquanto dá um sorriso idiota.

    Ela se move e se senta escorada na parede e olha para ele de baixo para cima.

    — Temos que resolver o resto da situação aqui, venha! — Adão termina sua fala esticando a mão para ela.

    Depois de acordarem os dois homens de Marcos. Giuseppe segue para a cozinha para preparar algo para saciar a fome.

    Geovanni os acompanha até o convés. Ao saírem pela porta, Sarah e os homens amarrados vislumbram o destino daqueles que se colocam no caminho da fúria da natureza. Os piratas se ajoelham e alguns até lagrimas derramam.

    — Então esse é o nosso fim? — Murmura um deles enquanto olha para um dos corpos boiando ali.

    Sarah observa tudo com seu olhar distante e levemente tristes.

    — Onde fica a ilha mais próxima? — Ela indaga para um dos homens de Marcos.

    — Vou olhar no mapa, já volto! — Geovanni que é o maquinista, sabe de cor onde fica os mapas que tanto adora ver nas horas vagas. Ele se dirige às pressas para dentro.

    — Vocês e aqueles amarrados no mastro, serão largados na próxima ilha junto de seu Capitão e um pequeno bote. Façam o que quiser depois! — Ela termina sua fala se dirigindo para dentro novamente.

    Após o mapa consultar, e o rumo traçar, todos ali são obrigados a ajudar a fazer o navio se mover. Seja colocando carvão no forno, ou estendendo as velas. Um dos piratas assume o leme com a supervisão de Adão. O cozinheiro serve a comida no convés até para aqueles que eram seus inimigos até agora pouco. Sarah está sentada do lado da cama de Marcos. Ela gira a adaga em sua mão enquanto a observa com olhar atento nos detalhes.

    “Eu sei quem você é…” — Ela se lembra daquele androide. — “Uma das assassinas celestiais” — Foi o que ele disse se referindo a adaga. E que era para ela estar morta.

    — Eu já vi esse olhar antes — Marcos que a pouco acordou. A observa ainda deitado. — Sim, eu já vi. Aqueles homens que voltavam do exterior, das expedições. — Ele vira sua cabeça, passando a olhar o teto. — Eles se questionam sobre o que eles são. Seres humanos ou feras capazes de tudo. — Fazendo uma pausa na fala, ele puxa um profundo suspiro e retoma. — A questão não está em o que você é. E sim em como você se sente fazendo o que precisa ser feito.

    — Não me importo. — Ela fala um pouco baixo enquanto ainda olha a adaga — Vou seguir em frente sempre. Enquanto eu viver, eles também continuaram vivos… Aqui! — Ela aproxima a adaga e a aperta contra seu peito enquanto fecha os olhos. Uma lágrima respinga na madeira.

    Marcos se espanta com a fala dela, porém, fica feliz de perceber que ela tem um bom coração. Desde que a viu pela primeira vez, e logo depois de saber como ela veio até ali, já começou a sentir que aquela mulher é diferente de tudo que já viu. Só não conhecia ainda sua essência.

    — Tome cuidado, existe escuridão em todos nós. E quanto maior for a luz que nos guia, maior será a sombra que nos segue. — Ele faz uma reflexão ao mesmo tempo que aconselha enquanto dá uma rápida olhada de canto para ela e o volta para o teto.

    — Estava esperando você acordar para dizer que estamos seguindo para Atlântis. E vamos deixar aqueles piratas que sobreviveram na ilha mais próxima.

    — Como assim sobreviveram??? — Ele a questiona com uma expressão de incerteza.

    — Quando você se sentir melhor, olhe por si mesmo! — Ela fala se levantando e indo em direção a porta. — Mas não demore, pois logo tudo ficará para trás.

    Ele com o olhar de quem está perdido sem saber de nada, se esforça a levantar e mancando se direciona para o convés. Seus olhos se arregalam com o que vê.

    — Como?? Quando?? — Ele indaga ao vento enquanto observa os corpos boiando. — Eu vi com meus próprios olhos uma frota inteira.

    — A tempestade foi muito forte. Por sorte, a fúria das águas nos poupou dessa. — Adão joga essas palavras ao ar enquanto também observa o cenário ao redor.

    O navio se move com sua própria força naquele mar calmo, e rapidamente o que é presente se torna passado. Dolorido e cheio de mistérios.

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