Capítulo 63: Atlântis
Conforme se aproximam, o portal de entrada vai ficando mais nítido. Mais a frente, uma fila com 4 navios se aglomera do lado esquerdo do portal. Suas âncoras largadas para o fundo, são a única coisa que impede de serem arrastados pelo fluxo quase imperceptível da água. Logo Adão e Giuseppe também se dão ao trabalho de soltar a deles para na fila esperar.
Sarah observa o arco comprido que se forma sobre o portal de entrada. Lá no alto, sobre ele, é possível ver pequenas sombras em movimento, de um lado para o outro. Voltando seu olhar para baixo, e para o lado. Lá do outro lado, é possível ver um navio quase como uma miniatura de tão longe que está. Ele vem de dentro da cidade, e passa beirando a base do portal de lá.
Pouco depois dele ter já deixado a cidade e rumado para longe. O primeiro navio do lado de cada, se põe em movimento e adentra Atlântis. Esse esquema se repete até que eles se tornem os primeiros da fila.
Conforme vão se aproximando, Sarah repara com mais atenção lá no alto do anel externo, que vários animais trafegam de um lado para o outro, puxando carroças e cargas. Grandes galpões também se fazem presente. Adão mesmo de longe, consegue ouvir o barulho de homens e mulheres gritando lá do alto.
— Algumas coisas nunca mudam… — Ele solta palavras em um tom sereno enquanto Sarah se aproxima dele.
— O que você está resmungando? — Ela dá um cutucão do lado da barriga dele que o faz se contrair inutilmente na tentativa de evitar o ataque.
— HRUMMM!…!! — Olhando para ela com uma leve expressão de dor. — Olhe para o alto. — Apontando o dedo para o alto do anel externo. Sarah volta a observar o que já tinha visto. — É ali que fica a zona de carga comercial, mercadores de diversos lugares desse mundo vem até aqui para vender seus produtos, principalmente nessa época.
— Eu sei. — Ela olha para ele com as uma das sobrancelhas levantadas e depois da um leve sorriso e retorna a olhar para o alto. — Os animais ali, são usados para transportar as cargas por toda essa parte de fora do anel a procura de compradores. — Sarah termina sua fala reparando em como os touros são grandes em contrastes com o que parecem ser pequenos burros.
Adão após recuperar sua autoestima e se recompor. Fica em silêncio por alguns segundos enquanto observa o alto dos galpões com um olhar distante de como se relembrasse de algo.
Então a chaminé canta e a roda gira. Após vários minutos, eles começam a se mover passando pelo primeiro anel. Tanto os grandes navios como os pequenos barcos, trafegam todos no sentido horário. Mas eles não seguem essa lógica, após Adão falar com o guarda que fica em uma janela na base do portal, eles ganham acesso direto a ilha onde fica o castelo.
O próximo anel vem se aproximando, e é possível se observar cavalos, lagartos gigantes dos pântanos do leste, que vão desde um cinza claro até um verde escuro. Carneiros tão grandes quanto bois. Onças e javalis tão grandes quanto um homem adulto. Também se vê touros e até alguns burros novamente, mas suas aparências diferem e muito dos anteriores. Majestosos e imponentes, primeiro um touro todo branco reluzente com chifres em um tom negro como carvão, depois um burro todo negro com uma pelugem grande e brilhante, cascos reluzentes que podem até refletir o brilho do sol. Em cima desses animais, os mais diferentes tipos de pessoas.
Sarah observa tudo atentamente enquanto Adão sorrateiramente se aproxima dela.
— Sabia que quanto mais alto na cadeia alimentar um animal desses estiver, mais alto será os status sociais que o dono montado neles terá!? — Adão termina seu informativo com a expressão de um velho sábio se gabando de sua sabedoria enquanto seus braços cruzados e olhos fechados dão um ar de superioridade.
— … — Ela dá um leve sorriso ao observá-lo — Então quer dizer que se eu aparecer montado em cima de você, eu serei meio que a rainha desse local? — Ela segura para não rir.
— !!! — Adão lentamente vira sua face para Sarah com uma leve expressão de medo. — Aonde você quer chegar?
— Você não é um dos filhos primordiais? Aposto que você é o mais forte deles!! — Os olhos dela brilham — Se eu aparecer em cima de você como fera, com certeza vou ser reverenciada!!
— Me desculpa decepcioná-la… — Adão coloca a mão na cabeça e coça levemente atrás da orelha com as pontas do dedo enquanto observa o terceiro anel passando. — Na verdade eu sou só o 4º mais forte dos filhos de segunda geração, isso há 600 primaveras. — Seu olhar distante fantasia. — Já os filhos de primeira geração. Não dá nem para se comparar a eles.
— Eles devem ser muito fortes mesmo!! — Sarah joga suavemente essa afirmação que se esvai com a leve brisa que circunda o navio.
Ao chegarem no porto, eles reparam na imponência do local. Um único cais, todo feito com mármore cinza. O calçadão que vem depois dele, também é todo coberto por um cinza quase infinito. Somente cortado por linhas brancas que ninguém consegue achar onde começa ou termina. O mármore vai até uma escadaria que é composta de três lances de degraus feitos de pedras na cor marrom. A escadaria leva a uma rua larga que circunda todo o castelo.
Nas laterais da escadaria, existem três degraus largos, um abaixo do outro como se formassem uma escada. No topo deles, existem vários buracos circulares. Um do lado do outro que percorrem por toda a extensão do muro juntos dos degraus, e somem por onde a vista não alcança.
Ao desembarcar, Sarah se põe a dar uma última olhada no caminho que percorrera até ali. A água, as construções, os navios, o portal, o rio, o mar e tudo o que passou. Nesse momento ela vê o que seu coração anseia, porém seus olhos ainda assim não acreditam. Um ser translucido flutuando sobre eles bem no alto, vindo do castelo e trazendo consigo um vento suave como a brisa boa de uma manhã de verão.
E para longe ele vai sumindo, por trás das casas e anéis. O vento que o segue, toca Sarah pelas costas, jogando seus cabelos para frente. Sua roupa sacoleja, e logo seu olhar sai do incrédulo vislumbre para um sereno e infinito momento de contemplação. E com o vento ela e somente ela, sente uma empolgação que atravessa seu peito. Então Sarah se vira para o castelo a contemplá-lo, e logo fecha os olhos para sentir melhor a brisa em seu rosto.
Em algum lugar da ilha central, uma voz rouca ecoa entre prateleiras cheias de livro, recitando um poema.
— Assim como o mundo a girar
A vida corre e escorre pelos vales a pingar
E tudo que aquilo um dia foi dito
Pelo mar o marujo carrega consigo
Cortando as ondas e a tormenta
Para na praia repousar
O vento a soar pelos campos sem fim Carregam consigo a flor mais bela de todo Jardim.
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