Capítulo 67: Mãe
— Aaaahhh…. — Vai começar a bagunça de novo… — Shymphony coloca a mão na cara enquanto dá uma profunda inspirada de ar. Então levanta seu escudo na altura de sua face e se vira retomando seu caminho. — Dessa vez sou eu que vou ganhar!!! — Ela exclama ao vento enquanto aponta seu punho direito para frente. Sarah somente a observa distante enquanto volta a acompanhar.
— Por que não tem mais como ele aqui? _ Sarah a indaga enquanto lança um olhar rápido pelo ambiente.
— Na verdade, os filhos de segunda geração, tem uma conexão muito forte com a natureza. — Ela diminui a passada para que Sarah chegue mais perto, quase lado a lado. — Eles não nasceram aqui. Mas por um tempo, todos vieram para cá de uma vez…
Seu olhar se torna distante por um tempo enquanto seguem por um corredor largo e iluminado por alguns feixes de luz do salão que acabaram de passar.
— Foi uma bagunça. Pena e pelo para todo lado. Grunhidos, uivos e pios ecoavam incessantemente por essas paredes. — Shymphony inspira funda e logo solta o ar com seu olhar distante novamente. — Com o tempo eles aprenderam a se transformar e a se comunicar. Nós os ensinamos o que deu, e então um por um quase todos se foram para os mais diversos cantos desse mundo. Somente alguns permaneceram aqui. E aos poucos, esses corredores foram ficando quietos novamente. — Seu olhar vago emana uma suave tristeza, que logo vai se transformando em indignação. — Mas logo ele voltou? Aaaahhhh. — Então ela estica seu escudo novamente para frente com olhar de convicção. — Foi até bom, temos contas a acertar!
Nesse momento, em algum lugar de Atlântis, um felino dá um forte espirro para o lado e começa a temer que tenha pegado um resfriado. Sylphie por sua vez se indaga sobre ter exagerado com eles. Os três estão andando pelo anel externo enquanto colocam o papo em dia e observam algumas mercadorias.
Shymphony então abre uma grande porta de madeira no fundo deste corredor. Nesse instante, uma brisa toma conta dali, e traz consigo um aroma suave que faz Sarah relaxar os ombros e fechar os olhos enquanto inspira um punhado. Shymphony com um belo sorriso de boca fechada só aprecia a reação dela.
— Venha! — Então Shymphony desaparece pela porta, Sarah não demora a segui-la.
Um gramado verde coberto de margaridas que aparenta não ter fim, se apresenta a sua frente. Todas sacolejam ao vento que sopra para a esquerda. Sarah então observa Shymphony lá a diante caminhando entre elas em direção a uma grande arvore com folhas escarlates.
Um passo de cada vez enquanto passa as mãos entre algumas pétalas que despontam, ela caminha em direção aquela mulher que conheceu a tão pouco tempo, mas já confia como se a conhecesse a eras. Após alguns minutos de uma caminhada tranquila, ela chega até a sombra da arvore.
— Mãe, essa é a Sarah! — Shymphony volta sua face para Sarah. — Sarah, essa é a Mãe que Adão te falou. — Sarah observa a arvore sem dizer nada, somente o vento ressoante se faz ser escutado.
— Prazer em te conhecer Sarah. — Então uma voz feminina, grossa e ao mesmo tempo suave, ecoa pelo ambiente atingindo Sarah que fica brevemente sem entender.
— O prazer é meu! — Sarah se inclina para a frente jogando seu olhar para as margaridas aos seus pés enquanto junta as mãos ao lado do corpo.
Novamente, só o vento se faz ouvir pelo ambiente.
— Então me diga minha criança. Por que vieste até mim?
Sarah se senta de pernas cruzadas em meio as flores e logo vai puxando um punhado de ar. Shymphony a acompanha se sentando sob a sombra também de pernas cruzadas e se virando para sua mãe.
— Você tem conhecimento além do tempo em que estamos? — Sarah joga sua indagação em direção as folhas escarlates.
— Felizmente, não!
O olhar de contemplação de Sarah, logo se torna um olhar vazio largado ainda entre as folhas.
— Em algum momento, no futuro. Uma raça parecida com seres humanos, porém, mais forte e avançada, vai chegar aqui e vão tomar o controle dessa cidade. E eles vão escravizar seres humanos, que por sua vez se esconderão além do deserto em um reino chamado.
— EVA!… — Shymphony a interrompe — Esse reino já existe!
Sarah repentinamente vira seu olhar para ela, com um momentâneo espanto. Mas logo se lembra dos livros que leu.
— Verdade. Eles são tão antigos quanto essa cidade.
— Se não me engano, eles vivem em quatro ilhas além continente — Shymphony com seu olhar perdido em meio as flores, tenta recordar de conversas e livros.
— Não existe nenhum muro ou muralha?? — Sarah a questiona com seu olhar fixo na face de Shymphony.
— Não que eu saiba.
Sarah novamente joga seu olhar de volta para as folhas escarlates.
— Se o que você diz é verdade, o futuro que sonhamos para Atlântis, não será como planejamos… — A Mãe se silencia novamente por alguns instantes. — Por favor, não conte nada para ninguém sobre isso.
— Você não pretende se preparar ou algo do tipo? — Sarah lança seu olhar ao chão novamente.
— Não cabe a mim mudar o fluxo do tempo. Mesmo que eu faça algo, nada mudará, na verdade, eu só estaria contribuindo para que as coisas acontecessem. — Suas folhas escarlates sacolejam com o vento que aumentou um pouco de intensidade. — O universo exige equilíbrio, não importe qual lado esteja no comando. Harmonia ou destruição, o caos sempre virá para fazer tudo se mover até que o equilíbrio volte, e mesmo no equilíbrio…
— O caos ainda assim se fará presente. Pois a evolução só é possível quando tudo está fora do lugar, e assim as forças que regem a existência atuam em busca do equilíbrio novamente. Usando o próprio caos como ferramenta. — Shymphony termina a fala de sua mãe enquanto também tem seu olhar distante voltado as margaridas. — Você sempre diz isso quando alguma catástrofe assola nosso mundo. Pietro sempre fica triste quando ouve.
O silêncio novamente toma conta do ambiente.
Sarah lança seu olhar para cima enquanto apoia suas mãos para trás do corpo e inclina sua cabeça para trás. Nesse momento ela observa um ninho em um dos galhos, e junto um ovo todo preto nele do tamanho de uma melancia.
— O que é aquilo? — Ela indaga ao ar para quem possa responder.
— Shymphony observa a face curiosa de Sarah com seu olhar jogado no alto e seu cabelo negro caído entre as margaridas. ela repara sutilmente em seus braços com os músculos demarcados sob a pele, então lança seu olhar para onde Sarah está olhando.
— Dragões! Sobreviventes de uma era a muito esquecida! Um ovo que nunca se chocou. Foi trazido aqui por um viajante a muito tempo. — Um sorriso surge na face de Shymphony enquanto ela termina a fala. — Pietro que fez o ninho. Sylphie então o colocou ali com seu vento.
— Quer tocar nele? — Essa fala ecoa fortemente vinda da arvore em direção as duas.
— Sério?? — Shymphony incrédula indaga para o tronco branco.
— Faz tanto tempo que ele está ali. E tanto tempo que ninguém novo me toca… — As folhas sacolejam um pouco.
— Então é isso! — Shymphony se levanta e se direciona até a arvore, ao encostar a mão esquerda na madeira, uma vibração começa a ecoar por todo a arvore a sacudindo bem de leve.
— Huhu… Huhu… — A Mãe não resiste ao ataque de sua filha. — TAAAAAA, você pode subir também!
— Vitória! Ha! — Ela se gaba de seu feito enquanto aponta o escudo para frente com olhar de convicção.
— Realmente eu posso subir em você? — Sarah a indaga enquanto já está se aproximando com um sorriso no rosto derivado da última cena.
— Va em frente, só tome cuidado com os galhos finos… — A Mãe a responde.
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