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    Pear Nordeste do anel externo de Atlântis

    Como de costume, carroças com os mais diversos tipos de cargas vão e vêm. Puxadas pelos mais variados animais. Da frente dos galpões amadeirados, exibindo suas mercadorias em bancadas dos mais diversos tamanhos. Os comerciantes disputam a atenção de quem passa por perto. Seja com a voz mais elevada, ou pelos odores e aparências das mais atrativas. Apelam até mesmo para o mais antigo método de persuasão conhecido. Uma bela mulher como atendente.

    Uma mureta feita de pedras, dá fim ao calçadão do anel externo, e após ela, mergulhando por alguns metros, é possível ver as pequenas ondas escuras se quebrando na base feita rochas. Rochas tão grandes que mal se sabe como elas foram parar ali.

    Sentado à beira dessa mureta, um menino de cabelos cinzas e olho azul, segura uma vara de pescar feita de bambu-verde, duas vezes maior que ele mesmo. Ele balança os pés pendurados enquanto observa um grande Rinoceronte tão branco quanto a neve que ele ouviu da história de um viajante que passou por ali a quase duas primaveras.

    Tal rinoceronte ostenta o chifre mais dourado que já viu na vida. Até parece que a parte original foi substituída por uma artificial feita de puro ouro.

    Em sua desatenção, alguma criatura fisga a isca e puxa a vara com tal força que o desequilibra. Seu coração quase sai pela boca junto de um curto grito de desespero. Então ele se joga para trás, para não cair. E mesmo assim, ele não abandona a sua vara. Após conseguir cair no calçadão e se ralar. Se levanta sob o olhar de algumas pessoas que se assustaram com tal grito. O jovem aproveita tal público, e decidi puxar a vara e a linha para ver qual prêmio o espera desta vez. Alguns segundos depois, e com as pessoas ali se aglutinando cada vez mais perto para saciar a curiosidade que se instaurou no local. Ele consegue trazer para cima tal criatura.

    Tão azul quanto os tecidos das nobres montadas em seus búfalos. E com um olhar tão alaranjado que parece estar pegando fogo. Ele revela um Callidus Blue. Uma espécie de caranguejo comum de ser encontrado próximo ao anel externo. Mas ele é peludo em algumas regiões próximas às pinças. E falando nelas, ele tem uma terceira que pega muita gente desprevenida, e já causou vários ferimentos mais graves em pescadores e banhistas desaviados.

    As pessoas desapontadas, se viram enquanto murmuram desanimadas pelo tempo perdido. Alguns mais velhos, soltam palavras de motivação e incentivo para o jovem enquanto também começam a seguir seu caminho. Um homem que veste tecidos curtos de coloração acinzentada, e exibe sua musculatura avantajada junto de algumas cicatrizes pelos braços. Se aproxima. Ele se abaixa para ficar da mesma altura.

    — Tome cuidado com esse aí. Ele pode não parecer grande coisa. Mas eu já vi um desses derrubar um Atobá adulta do céu. Mesmo após ter sido capturado. — A voz firme e clara do homem até passa um pouco de confiança para o menino. Que por sua vez, esboça um sorriso no rosto enquanto pega um pedaço de madeira ali do lado para dar cabo ao Callidus.

    O homem observa tal cena com olhar saudosista. Ele se levanta para voltar a uma postura mais centrada. Seus longos cabelos dourados, se encontram atrás da cabeça e descem pelas costas amarrados por vários nós com espaços entre eles. Seu olhar vaga do menino para o calçadão ao seu redor, e logo encontra uma das belas atendentes que está por ali. Ela também olha para ele de relança, mas logo disfarça. Ele sorri confiante enquanto volta seu olhar novamente para o jovem e depois para a água escura.

    Lá no horizonte ele observa uma canoa vindo pouco a pouco. Curioso, se aproxima da mureta para tentar observar melhor. Seu olhar azulado e até se arregala ao perceber do que se trata. Inquieto ele acelera suas passadas para a direita e se aproxima do pear. Alguns outros curiosos começam a chegar após observar o mesmo.

    Helvetia, se esforça a cada remada para se aproximar do anel externo. Atrás da canoa, sua caça repousa sobre uma tábua de madeira improvisada que flutua sofridamente sobre a água.

    — Aquilo é o que eu estou pensando? — Um homem de porte físico arredondado e barba maior do que devia. Se aproxima do homem enquanto fala em alto tom.

    — Com certeza é!!! — Ele responde e sorri animado.

    — E não é que ela realmente conseguiu?! — Outro homem, agora um mais esbelto, de cara limpa, e com um chapéu de bambu bem parecido com o dela, mas de um tom mais azulado. Também se aproxima do pear junto dos curiosos.

    “De tantos, justo ela!!!” — Um senhor de cabelos grisalhos, que usa tecidos largos e marrons, se afasta dali na contramão de todos enquanto resmunga para si.

    Até o jovem, se aproxima de forma sorrateira. Ao observar tal cena, seu olhar brilha como se ele mesmo tivesse sido o responsável de tal feito.

    — Ei!! Alguém pode me jogar uma corda?? — Helvetia grita a alguns metros de distância para quem puder ouvir.

    O homem de cabelos loiros se voluntaria. E com um arremesso certeiro, uma corda emendada com vários nós cai sobre a cabeça dela. O que tira um sorriso do menino. De longe é possível ouvir ela resmungar alguma coisa sobre “esperar chegar até ali para ver não sei o que”. Então o homem arredondado começa a puxar a corda com seus braços avantajados. O menino até se voluntaria para ajudar, que recebe uma recusa de prontidão.

    — Se afaste jovem! Você ainda é muito fraco para isso. — É possível ver um cachimbo na boca do homem. A fumaça que sai dele, disputaria fácil com a do barco de Marcos.

    — Ahhh, uffa!! Obrigada Leonard!!! — Helvetia começa a sair da canoa com a ajuda da mão estendida pelo homem arredondado.

    Leonard que por sua vez, mal presta atenção nela. Seus olhos não conseguem desgrudar do Carvão de Sangue. Não só o dele. E a cada segundo mais curiosos se aproximam.

    — Vitor! Vejo que pegou uma fera dessa vez!! — Helvetia se aproxima do jovem enquanto observa a pequena bolsa marrom dele pendurada na cintura.

    Ele fica sem graça por um momento, principalmente depois dela passar a mão em sua cabeça. Que não recusa tal carinho. Mas prefere fingir que nada aconteceu.

    — Ei, que trapaças você usou para conseguir pegá-lo Hel? — O homem de chapéu de bambu azulado se aproxima sorridente.

    — Isac!!! Há quanto tempo?? — Helvetia se surpreende com tal presença. E logo se aproxima para o abraçar.

    — Não tanto quanto eu gostaria. — O olhar de Isac até busca o chão por um momento.

    — Depois você me conta como foi sua viajem. Agora me ajude a tirar esse monstro da água?

    — Desculpe a intromissão. Mas eu posso ajudar também? Faz muito tempo que não vejo de perto tal criatura. — O homem loiro se aproxima.

    — Toda ajuda é bem-vinda! Ei Vitor, tenho uma tarefa para você. — Ela se aproxima do ouvido do jovem e sussurra algo. O que tira um sorriso espontâneo dele. E logo em seguida, ele sai em disparada sumindo pela multidão.

    Aos poucos a tábua vai sendo puxada e o Carvão de Sangue, após muita luta. Agora repousa sobre o pear para quem quiser se aproximar e tocar nele.

    — Humm. Entendo!! Então foi assim! — O homem loiro com a mão no queixo, observa a ausência de olhos do monstro. — Deve ter sido um veneno bem forte. Qual você usou? — Agora ele fala mais direcionado para ela, que rapidamente se aproxima.

    — Ei!! Isso é segredo. Mas como eu vejo que você entendeu. Posso te dizer em particular depois. — Helvetia tenta calá-lo a todo custo.

    — Estou em busca de algumas informações, caso você as tenha. Isso será o suficiente.

    — Ei?? O que se acha que eu te ofereci? Se não me conhece? A maior artesã de Atlântis!! — Meio envergonhada, ela tira de ombro enquanto volta a observar sua caça. Nesse momento, no subsolo, Pollos e Nova sentem suas orelhas ficarem quentes ao mesmo tempo.  

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