Capítulo 1928 - Amanhecer de uma nova era.
Combo 54/300
O velho possuía uma mente formidável — o que não era surpreendente, na verdade. Como membro da Primeira Geração, ele havia suportado a era mais sombria da humanidade, enfrentando inúmeras provações terríveis e superando-as com grande tenacidade e determinação. O fato de ele ter vivido até uma idade respeitável era prova suficiente de quanta força de vontade ele possuía.
Porém, hoje, o velho enfrentou uma provação que não seria capaz de superar… Era Cassie.
Ajoelhando-se perto do prisioneiro ensanguentado, ela tirou a venda e olhou-o nos olhos — é claro, os de Cassie já o haviam marcado, então o que ela realmente viu foi ela mesma. O velho deu um sorriso sombrio e finalmente falou.
“Canção dos Caídos. Ouvi falar de você.”
Ela respondeu calmamente:
“E eu a você, Mestre Orum.”
Ela sabia que ele poderia tentar cometer suicídio se tivesse tempo suficiente — na verdade, ele já teria feito isso se a natureza do Aspecto dela não fosse um segredo bem guardado. Portanto, havia pouco tempo a perder, especialmente considerando que havia vários outros espiões capturados que ela teria que interrogar mais tarde. Mas este… este era mais valioso para Cassie, porque ele tinha vivido uma vida longa e conhecia muitos segredos que não tinham nada a ver com o lado clandestino da Guerra do Domínio.
Olhando nos olhos do homem, Cassie ativou sua Habilidade Transcendente. As formidáveis defesas mentais do Mestre Orum ruíram facilmente sob seu ataque tirânico…
Depois disso, Sunny vivenciou algo muito estranho. Ele estava revivendo a memória de Cassie, que por sua vez estava revivendo as memórias do velho. No mínimo, era um alívio, já que o Mestre Orum era muito humano — seu ponto de vista era infinitamente menos devastador que o dela. As memórias recentes eram as mais fáceis de acessar. O medo, a dor, o desespero de ser pego… mas, por baixo de tudo, uma estranha sensação de calma e fria determinação, como se ele estivesse preparado para encontrar aquele fim o tempo todo.
Mais profundas do que essas novas experiências eram as memórias da guerra. O lapso de tempo era muito grande, e a memória do Mestre Orum não era muito diferente da de um humano comum, com muitos detalhes de seu passado recente já apagados pela passagem do tempo. Cassie, de alguma forma, vasculhou o vasto volume de lembranças aleatórias, concentrando-se apenas nas mais importantes.
Ela completou a ordem real com relativa facilidade, descobrindo os detalhes das atividades clandestinas de Orum. Há quanto tempo ele vinha repassando informações para Song, quais métodos utilizava, quais segredos havia compartilhado, quem eram seus contatos no Exército da Espada… e assim por diante. Era estranho e assustador o quão facilmente ela aprendeu seus segredos mais preciosos, e o quão indefeso o velho homem robusto estava na sua frente.
No entanto, mesmo depois de descobrir tudo o que o Rei das Espadas queria saber, Cassie não demonstrou nenhum sinal de ter alcançado seu objetivo. Em vez disso, continuou olhando nos olhos de Orum, mergulhando cada vez mais fundo em suas memórias… cada vez mais fundo, até que toda a sua vida se abriu diante dela como um livro. Havia páginas demais naquele livro para ler todas, mas algumas eram mais sólidas e importantes do que outras. Eram suas memórias principais, assim como aquelas que simplesmente ficaram presas em sua mente por um motivo ou outro, às vezes sem motivo algum.
Mesmo que fossem numerosas demais para ela compreender em um curto espaço de tempo, sem revelar seus atos secretos aos espectadores, Cassie se concentrou ainda mais, com a mente a mil para encontrar as informações preciosas que tanto desejava saber. E lá, finalmente… ela descobriu algo.
No momento seguinte, Sunny foi transportado para uma lembrança muito, muito antiga. Apesar da idade, porém, era incrivelmente nítida e vívida, sugerindo a importância daqueles eventos para o Mestre Orum. E apenas alguns segundos depois, Sunny entendeu o porquê.
—— —— ——
A cidade estava em chamas, e uma fumaça acre cobria as ruas. Veículos militares jaziam no asfalto derretido como cadáveres de feras metálicas, com suas armaduras dobradas e despedaçadas. Aqui e ali, cadáveres humanos também jaziam no chão, horrivelmente mutilados e cercados por poças de sangue e…
Gritos de terror ecoavam na fumaça, abafados pela cacofonia desumana de rugidos bestiais.
“Orie! Orie!”
Orum — um jovem esguio à beira da idade adulta — corria para salvar a vida, dominado pela dor e pelo desespero. Ao som de uma voz infantil chamando-o, porém, ele parou e se virou. Sua irmãzinha, que ele estava arrastando, estava esparramada no chão a uma dúzia de metros de distância, tendo caído alguns momentos antes.
Por um momento, um medo frio inundou sua mente. Ele… ele nem percebeu quando a mão dela escapou da dele. Mancando de volta com pressa, ele a levantou do chão e enxugou as lágrimas dos seus olhos.
“Está tudo bem. Está tudo bem. Vamos lá, você tem que…”
Naquele momento, uma figura hedionda avançou em direção a eles a partir da fumaça, com uma loucura frenética queimando em seus olhos aterrorizantes. Era um dos infectados… ou o que quer que fossem esses demônios.
Orum congelou.
… Felizmente, seu corpo se moveu mesmo com a mente paralisada. Empurrou sua irmã para trás e estendeu um braço para a frente — um gesto sem sentido, considerando o quão poderosos e imparáveis os infectados eram. No entanto, Orum havia sido um desses infectados não muito tempo atrás.
Mas ele não se transformou em um monstro. Em vez disso, sonhou com um lugar terrível, lutando por sua vida em uma terra terrível onde deuses e demônios eram reais e os humanos possuíam poderes inacreditáveis. Quando acordou, trouxe consigo partes daquele sonho. Quando o infectado estava prestes a rasgar sua carne, o asfalto abaixo dele se abriu de repente e então se fechou como mandíbulas de pedra, esmagando os ossos da criatura e prendendo-a.
Orum caiu para trás, tremendo, e sacou uma pistola militar — a mesma que ele havia pegado do cadáver de um soldado alguns minutos antes — do bolso de sua jaqueta rasgada. Apontando para o infectado, ele desativou a trava de segurança e puxou o gatilho repetidamente.
Sua mira era tão ruim que apenas sete dos doze disparos atingiram o monstro, apesar da curta distância. Destes, três ricochetearam no crânio adamantino da criatura… mas os quatro restantes foram misericordiosamente suficientes para matá-lo.
O infectado desabou, e Orum estremeceu quando uma voz fantasmagórica ressoou em sua cabeça:
[Você matou uma Besta Adormecida, Besta Carniceira.]
[Você recebeu uma Memória.]
Abaixando a arma vazia, Orum percebeu tardiamente que havia se esquecido de procurar carregadores extras no cadáver do soldado. Ele não tinha mais balas.
Como eles iriam sobreviver? Como… como alguém iria sobreviver? Ao redor do jovem Orum e sua irmã…
O mundo estava chegando ao fim.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.