Capítulo 2249 - Profundezas do Desespero
Combo 75/100
Não muito antes disso…
Sid caiu no chão, com sangue escorrendo pelo metal rasgado e torto de sua couraça. Sangue também escorria de sua boca, mas ela estava mais preocupada com a armadura… a Memória estava em seu último suspiro, pronta para desabar em uma chuva de faíscas.
Era uma pena também, porque o encantador Mestre Sunless a havia melhorado pessoalmente para ela. Mais importante, ela estava usando pouquíssima roupa por baixo da armadura. Tornar-se uma das marionetes mortas da Rainha já seria ruim o suficiente, mas cambalear pelo campo de batalha morta e vestindo apenas a roupa íntima parecia simplesmente mortificante.
‘Ah… isso seria constrangedor…’
Ela pegou sua espada e olhou para cima, sabendo muito bem que não escaparia da Criatura do Pesadelo que a havia jogado no chão.
A fera imponente pairava sobre ela, com saliva espumosa escorrendo entre as presas apodrecidas. Antes que pudesse morder, no entanto, uma figura esguia em um vestido vermelho esfarrapado surgiu entre Sid e a abominação, mantendo-se teimosamente firme. A adaga ondulada em sua mão parecia um brinquedo comparada ao imenso tamanho da criatura apavorante.
‘Felise, sua idiota…’
Ela estava decidida a morrer junto? Sid finalmente agarrou o cabo da espada, imaginando se conseguiria se levantar. As duas provavelmente estavam acabadas…
Mas formariam dois cadáveres adoráveis. Então… havia um lado bom em tudo. Usando a espada como bengala, Sid gemeu e se levantou.
***
A alguma distância, Ray e Fleur tentavam desesperadamente sobreviver no mar de abominações. Eles haviam perdido Rani e Tamar no caos da batalha um tempo antes, e as Criaturas do Pesadelo ao redor deles não eram algo que um casal de Despertos pudesse combater.
Ray pensou em tentar escapar se escondendo, mas não podia levar Fleur com ele… e também não a abandonaria, então os dois mal conseguiam sobreviver.
… Permanecendo vivos por enquanto.
Em algum momento, eles se viram protegendo as costas de dois Mestres desconhecidos — a julgar pela idade e armadura, os Mestres pareciam ser Herdeiros do Exército da Espada. Nenhum dos jovens cavaleiros estava em boa forma, mas um deles parecia estar quase morto, sangrando profusamente de um corte profundo na cabeça, murmurando bobagens e implorando por misericórdia.
“Ei, Mercy… você… você viu, certo?”
O outro Mestre agarrou seu amigo e o puxou de volta, salvando o jovem das garras de uma abominação hedionda.
“Viu o quê?!”
O cavaleiro sangrando de alguma forma conseguiu decapitar a Criatura do Pesadelo e cambaleou para ficar em pé.
“Aquele… aquele canalha vulgar! Aquele libertino devasso, Mestre Sunless! Ele é… ele é o Senhor das Sombras! Eu sabia. Eu te disse! Ele estava enganando Lady Nephis esse tempo todo, o libertino sinistro!”
O outro cavaleiro — Mercy — olhou para ele com preocupação.
“Você levou uma pancada na cabeça, Tristan? Espera, não responda… levou. Enfim, não tem como…”
Tristan balançou a cabeça, sem prestar atenção ao sangue escorrendo pelo seu rosto.
“Não… não, eu vi claramente! Ele é!”
Naquele momento, Fleur soltou um grito e caiu. Ray também cambaleou, sentindo dificuldade para respirar. Uma presença aterrorizante e enlouquecedora envolveu suas mentes, e uma nova do Criatura Pesadelo surgiu diante deles — esta mais terrível do que todas as outras.
Uma Colossal.
Mercy empalideceu, e Tristan ergueu a espada fracamente. Nenhum dos dois tinha chance na batalha contra uma Abominação Colossal, especialmente feridos e exaustos como estavam. Mas o que mais poderiam fazer? Simplesmente se mover sob o olhar daquele ser aterrorizante era uma tarefa difícil, enquanto o ser conseguia destruir os quatro com um só movimento.
Toda a esperança parecia perdida…
Até que algo enorme caiu do céu de repente, achatando a Criatura do Pesadelo Colossal.
Era…
Ray piscou, duvidando de seus olhos.
… Era uma pitoresca casa de tijolos com janelas de vidro e uma varanda de madeira.
‘Huh?’
A criatura ensanguentada e assustadora se agitou sob a cabana, com pedaços afiados de osso saindo de sua pele. Antes que pudesse escapar, porém, uma mandíbula aterrorizante se abriu no meio da parede de tijolos, e a cabana mordeu a criatura, arrancando-lhe a cabeça com inúmeras presas afiadas.
‘… O que?’
Ray, Fleur, Mercy e Tristan congelaram, olhando para a casa aterrorizante com expressões atordoadas. Por um momento, até se esqueceram do mar de abominações que os cercava. Foi então que a porta da casa se abriu e uma jovem e pequena mulher apareceu na varanda, flutuando alguns centímetros acima das tábuas de madeira.
Ela olhou para eles com o rosto pálido e então gritou:
“O que vocês estão esperando?! Entrem se quiserem viver, seus idiotas!”
Ray encarou a pequena beleza flutuante por um momento, depois olhou para trás e estremeceu diante da cena mórbida. O quarto espaçoso do outro lado da porta estava coberto de corpos, com sangue espalhado pelo chão. Era como a barriga de um monstro insaciável e devorador de homens.
Ele estava apavorado.
‘Q-que abominação bizarra…’
O mais assustador de tudo é que alguns corpos ainda estavam se movendo, sugerindo que haviam sido engolidos inteiros. Não, espere. Não eram corpos… eram dezenas de soldados feridos, caídos no chão, exaustos, tratando seus ferimentos!
Ray demorou-se por um momento. Então, ele pegou Fleur no colo como uma princesa e pulou para a varanda.
‘Ah, tanto faz! Não me importa!’
Os dois Mestres atordoados hesitaram um pouco e então os seguiram, murmurando maldições com vozes trêmulas.
***
Em outro lugar, Rain lutava lado a lado com Tamar e a Cavaleira Emplumada — cujo nome era Telle, aparentemente. As coisas não iam bem para os dois grandes exércitos, e também não iam bem para as três. Especialmente para Rain, que se sentia sufocada por sua incapacidade de matar.
E ainda assim, e ainda assim… Ela conseguia sentir. A sensação inominável crescendo em seu peito, tornando-se cada vez mais clara. Era o seu Aspecto despertando. Era como se um selo colocado em sua alma estivesse se desintegrando lentamente, prestes a ruir por completo. O terror da batalha calamitosa, a dor e a indignação que ela sentiu ao testemunhar toda essa destruição sem sentido, o desejo desesperado de impedir que todas aquelas vidas fossem desperdiçadas…
Talvez tudo o que ela tivesse para revelar seu Aspecto fosse encontrar o nome para a emoção que sentia. Mas as palavras corretas não apareciam, como se elas não existissem na linguagem humana. E as três estavam à beira da destruição…
Uma monstruosidade enorme tinha acabado de despedaçar um cavaleiro Ascendente e agora estava avançando em direção a elas, com o frenesi queimando em seus olhos injetados de sangue. Rain empalideceu e levantou seu tachi, sabendo que sua lâmina não seria capaz nem de cortar a pele do monstro.
No instante seguinte, porém, uma figura assustadora de aço negro prateado surgiu da escuridão, com os olhos ardendo com chamas vermelhas infernais. Quatro mãos com garras se estenderam em direção à abominação que avançava, perfurando seu corpo e erguendo a enorme criatura no ar. Então, com um som de esmagamento repugnante, a Criatura do Pesadelo foi dilacerada em quatro pedaços sangrentos.
Enquanto o sangue fluía para a carapaça escura do demônio de quatro braços e evaporava, ele virou seu olhar feroz para baixo e encarou Rain diretamente. A boca infernal do demônio se abriu… e uma voz áspera ressoou de dentro.
… dirigindo-se a ela.
“Protejer… tia…”
Rain piscou.
Huh?
‘Uma… tia? Eu?’
Ela olhou para o demônio imponente, atordoada. Mas… mas ela tinha apenas vinte e um anos…
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