Capítulo 571: Não faça barulho

Combo 49/50

Sunny ficou imóvel, reunindo qualquer força que lhe restava… que era muito pouca. Cassie também estava em silêncio, uma expressão tensa em seu rosto pálido.

Com sua visão comprometida e seu sentido das sombras limitado ao círculo de runas brilhando ao redor da cela, tudo o que Sunny conseguia ver era uma silhueta borrada. Ele tinha quase certeza de que era um humano… no entanto, algo sobre a figura escura estava errado.

Completamente, terrivelmente errado.

…Um forte cheiro de sangue assaltou suas narinas.

A silhueta balançou e então deu um passo à frente. O som de raspagem ressoou mais uma vez, vindo dela. Sunny forçou os olhos e pensou ter notado uma espada fina sendo arrastada atrás da pessoa. Uma sugestão de reconhecimento apareceu em sua mente nublada, mas no momento seguinte, uma explosão repentina de risadas rangentes e borbulhantes jogou seus pensamentos em um turbilhão.

Sunny estremeceu.

‘Aquela… voz…’

A silhueta deu mais um passo à frente, chegando ao ponto onde a superfície plana do chão dava lugar à inclinação descendente da cúpula. Coincidentemente, foi nesse momento que o brilho fraco das runas finalmente a alcançou.

Sunny estremeceu.

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‘Maldições…’

Um rosto familiar estava surgindo na escuridão acima dele. Mesmo através da névoa nublando sua visão, Sunny conseguiu reconhecer o sentinela arrogante que os havia trancado naquela gaiola há muito, muito tempo.

Só que agora, aquele homem frio e bonito não estava em lugar nenhum.

Em vez disso, ele parecia quebrado e magro, seu rosto contorcido em um sorriso demente.

Mas muito pior do que isso…

No lugar onde os olhos do sentinela costumavam estar, dois poços sangrentos estavam abertos, riachos carmesim escorrendo por suas bochechas como lágrimas. Seus dedos também estavam manchados de sangue.

Enquanto Sunny recuava, o Perdido riu novamente, e então de repente arranhou seu rosto, sua risada se transformando em um gemido abafado, e então em um sussurro:

“… não pode mais me pegar… não pode, não pode… me pegar… eu o enganei…”

Então, o lunático congelou abruptamente. Lentamente, sua cabeça virou, e as cavidades sangrentas de seus olhos encararam diretamente a cela. Um momento depois, uma careta de ódio apareceu em seu rosto.

“Você! Você! É tudo culpa sua, sua! Você o deixou livre!”

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Sunny se sentia fraco e mal conseguia ficar de pé, e ele estava sofrendo demais para ter energia para o medo. Então, embora fosse óbvio que o sentinela havia retornado para se vingar e matá-los, ele não se importou.

Em vez disso, ele desejou.

‘Bom… bom! Venha… venha aqui então. Apenas venha aqui e abra a porta. Você não pode tentar me matar o quanto quiser. Apenas abra a maldita porta, seu miserável!’

Enquanto a porta estivesse aberta, eles poderiam escapar.

O Perdido cambaleou novamente, então fez um movimento para dar um passo à frente… e parou. Sua espada caiu no chão com um estrondo.

‘Maldito seja!’

… Em vez disso, um redemoinho de faíscas girou em torno de suas mãos, e um arco curvo apareceu nelas.

O coração de Sunny gelou.

‘Não, não, não…’

O sentinela sussurrou:

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“Morra, verme…”

Com isso, ele puxou a corda do arco. Assim que o fez, uma flecha fantasmagórica apareceu nele, sua ponta longa e afiada como uma navalha.

Sunny prendeu a respiração e olhou para a ponta da flecha, então lentamente virou a cabeça e olhou para Cassie, que estava imóvel ao lado dele. Seu rosto ficou solene.

‘Não faça barulho… por favor, não faça barulho…’

Um momento depois, ele ouviu o som da corda e viu a flecha passar por cima do ombro da garota cega, o vento jogando alguns fios de seu cabelo no ar e se estilhaçando contra as pedras.

Cassie estremeceu, mas permaneceu em silêncio absoluto.

O sentinela franziu a testa.

“Vivo? Eu sei que você ainda está vivo… mas não por muito tempo, agora…”

Ele puxou o arco novamente e lançou outra flecha fantasmagórica.

Desta vez, ela voou meros centímetros acima da cabeça de Sunny. Pela primeira vez na vida, ele se sentiu realmente grato por sua baixa estatura…

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Mas o enlouquecido Perdido não havia terminado.

Sunny virou a cabeça e olhou diretamente para ele. Um sorriso medonho apareceu de repente no rosto do sentinela.

“… peguei você agora.”

Ele puxou o arco novamente e o abaixou, mirando diretamente no coração de Sunny.

Sunny não moveu um músculo.

Um momento antes de o Perdido soltar a corda, algo pequeno e rápido de repente correu em sua direção por trás e mordeu sua perna ferozmente.

… Era o Cofre Cobiçoso.

Quando tudo começou, Sunny o deixou na sala de interrogatório de propósito. Ele não conseguia controlar uma Memória como controlaria um Eco, mas o Cofre ainda era capaz de seguir comandos simples. O comando que recebeu de Sunny naqueles momentos foi para se esconder e então encontrá-lo.

E então esperar.

O pobre coitado ficou perambulando perto da porta trancada da cela por várias semanas, escondendo-se sempre que alguém se aproximava. E agora, finalmente conseguiu receber um novo comando.

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‘Ataque!’

A caixa saiu correndo de seu esconderijo, alcançou a cela e correu pela porta com suas oito pernas curtas de ferro, bem a tempo de cravar seus dentes triangulares afiados no calcanhar do sentinela. Eles perfuraram facilmente o aço de sua bota blindada. O sangue jorrou no ar e, com um grito de surpresa, o homem tropeçou para a frente, caiu e rolou pela encosta da cúpula, batendo nas barras da gaiola.

A flecha passou por Sunny, errando-o por um fio de cabelo.

Mas ele não se importou, já estava se movendo.

Assim que o dano foi feito, Sunny dispensou o Cofre Cobiçoso e, antes que as runas pudessem devorar a pequena quantidade de Essência das Sombras devolvida a ele por aquele ato, enviou tudo para seus músculos doloridos.

E agora, ele estava correndo ladeira acima em direção a onde o Perdido tentava se levantar.

Antes que pudesse, no entanto, Sunny já estava sobre ele.

Ele enfiou as mãos nas barras, envolveu um braço em volta do pescoço do homem, pressionou-o contra a gaiola e usou a outra mão para prendê-lo em um estrangulamento.

Sunny estava enfraquecido pelas runas, pela fome e pela sede… mas ele ainda tinha três núcleos e três sombras enroladas em seu corpo. Sua força era alimentada pela fúria, desespero e vontade fria e assassina.

Tudo isso mal era o suficiente para manter o sentinela lutando no lugar.

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Os dois homens lutaram furiosamente, um tentando se libertar, o outro tentando espremer a própria vida de seu inimigo. Sunny usou tudo o que tinha, e então um pouco mais, estrangulando o Perdido com toda a força que lhe restava em seu corpo magro e faminto. Ele sabia que não haveria outra chance. Ele tinha que matar este homem para sobreviver.

… E ainda mais importante do que isso, ele simplesmente queria.

Então, ele mordeu o lábio, sentindo gotas de sangue escorrendo para sua boca seca, e puxou, puxou, puxou.

Depois do que pareceu uma eternidade, quando sua visão ficou quase totalmente preta e seus músculos estavam à beira de entrar em colapso, ele sentiu algo estalar sob seu aperto, e então o corpo de seu inimigo de repente ficou mole.

O sentinela estava morto..

.

Provavelmente…

Sunny soltou um suspiro trêmulo, soltou o cadáver do homem e caiu para trás, deslizando para o centro do domo.

Ele não conseguia mais ficar de pé.

Na verdade, ele não conseguia nem abrir os olhos. Não que ele fosse capaz de ver alguma coisa. A luta havia tirado o que restava de sua força.

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Seu peito subia e descia, cada respiração enviando uma onda de agonia por seu corpo. Ele não achava que conseguiria se mover.

‘… Eu terminei.’

Através da névoa, Sunny ouviu alguém passar cambaleante por ele, e algum tempo depois, um clique alto. Então, duas mãos pequenas e fracas o agarraram pelos ombros, e Sunny sentiu-se sendo arrastado pelas pedras frias.

Ele não entendeu bem o que estava acontecendo.

No entanto… logo, todo o seu corpo estremeceu, e um sorriso sombrio lentamente apareceu em seu rosto.

Uma torrente furiosa e revitalizante de Essência estava fluindo para seus três núcleos.

… Ele estava livre!