Capítulo 900 – Não olhe para trás

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Um silêncio sombrio se instalou na sala de conferências do centro de segurança. Por fim, Verne foi o primeiro a quebrá-lo. Endireitando-se, ele olhou para Sunny e disse em um tom pesado:

“O… o melhor que posso fazer é pedir voluntários entre meus Despertos. Para arriscar cair no sono. Alguns deles podem morrer, mas alguns devem retornar com as notícias do Reino dos Sonhos. Então, podemos discutir a evacuação por terra.”

Sunny olhou para ele sem dizer nada. Sua raiva de repente se foi e, em vez disso, tudo o que restou foi fadiga, arrependimento e um vago sentimento de ressentimento sombrio.

‘Droga…’

Se Verne realmente enviasse voluntários para o Reino dos Sonhos, mesmo sabendo que seria uma viagem só de ida para alguns deles… eles retornariam em cerca de oito horas. Descobrir o que estava acontecendo no norte ajudaria Sunny tremendamente.

Mas oito horas era muito tempo.

Seu pânico crescente já estava quase sufocante. Ele não sabia se eles tinham oito minutos restantes, muito menos oito horas.

“Não há tempo. Você não pode.”

Verne se inclinou sobre a mesa e fechou os olhos por um momento. Era difícil saber o que se passava em sua mente, mas Sunny de alguma forma sabia que ele não seria capaz de convencer o oficial severo.

Seu coração estava frio.

‘Ah, esse sentimento… esse sentimento amargo. Eu não o sinto há um tempo, eu acho.’

Naquele momento, Verne disse de repente:

“… Um grande comboio não vai conseguir. Mas um único veículo robusto provavelmente consegue.”

Sunny franziu a testa, lutando para seguir a linha de pensamento, talvez devido à sua exaustão.

“O que exatamente você quer dizer?”

O Mestre mais velho olhou para ele e deu de ombros com estranha calma.

“Quero dizer que não precisamos colocar todos os ovos na mesma cesta. Sua missão não é proteger todas as pessoas nesta instalação, Sunless. Diferente da minha. Sua missão é resgatar um alvo específico e de alto valor. Nós dois temos que cumprir nosso dever da melhor maneira possível. Então… pegue o Professor Obel, carregue seu APC e saia imediatamente. Dessa forma, mesmo que sua teoria esteja certa, não será… uma perda total para a humanidade.”

Muita coisa foi dita e muita coisa não foi dita. Mas não havia necessidade de falar algumas palavras em voz alta. Os dois Mestres se entreolharam por alguns momentos, um entendimento silencioso entre eles. No final, o canto da boca de Sunny se contraiu.

“Ainda acho que você está errado. As pessoas não sabem o que é possível e o que é impossível até tentarem. Bem… esse era frequentemente o caso, pelo menos, na minha vida.”

Verne simplesmente assentiu.

“Então prove que estou errado, Sunless. Desejo-lhe sorte.”

Sunny fez uma careta, demorou-se por um ou dois segundos e então se virou. Um momento depois, ele saiu da sala.

Ele não tinha mais nada a dizer e não havia tempo a perder.

Não havia tempo algum.

Sentindo uma assustadora sensação de urgência, Sunny usou o Passo das Sombras para aparecer diretamente dentro do centro de pesquisa. Desta vez, Beth ficou ainda mais surpresa ao vê-lo.

“Você está… espera, de jeito nenhum… Mestre Sunless, por acaso você continua me assustando só por diversão?”

Ele balançou a cabeça, olhou ao redor e então acenou para a jovem se aproximar. O que ele tinha a dizer precisava ser mantido longe dos outros ouvidos.

Franzindo a testa, Beth deixou o lado do Professor Obel e caminhou até onde ele estava. Agarrando-a pelo ombro, Sunny arrastou a jovem sem cerimônia para uma sala adjacente.

“O que… o que diabos você pensa que está…”

Ele fechou a porta e se virou, seus olhos fundos e maníacos fazendo Beth estremecer.

“Fique quieta e escute. Houve uma mudança de planos.”

Sem tempo para explicar tudo em detalhes, Sunny apenas contou a ela as partes necessárias — que o Professor estava em perigo e que ele tinha que ser evacuado imediatamente. Essa revelação repentina foi difícil de digerir, e haveria um atraso potencialmente fatal se Beth se recusasse a ouvir imediatamente, então Sunny construiu suas palavras de uma forma que brincasse com seus valores profundamente arraigados — lealdade ao velho e o desejo de mantê-lo vivo.

Os olhos de Beth se arregalaram.

“Mas… mas por que veio até mim? Por que você simplesmente não se aproximou do Professor?”

Sunny simplesmente balançou a cabeça.

“O Professor Obel é um homem nobre. Ele relutaria em deixar seu povo para se salvar… então, preciso que você o convença. Rápido. Você o conhece melhor, afinal.”

A jovem ainda não entendia.

“Mas… mas não podemos simplesmente levar todo mundo?”

Sua voz era baixa.

Sunny olhou para ela sombriamente, sabendo que isso era algo que ele não podia fazer.

“Meu veículo só pode transportar um número limitado de pessoas. Agora, vá e faça o que eu disse. Cada minuto que desperdiçamos pode significar a diferença entre a vida e a morte.”

Beth assentiu atordoada, então se virou lentamente, arrumou seu jaleco e saiu da sala.

Sunny olhou pela fresta da porta aberta para os cientistas que cercavam o professor e então se virou envergonhado. No entanto, essa autoindulgência durou apenas um segundo.

Ele também não tinha tempo para arrependimentos.

Sem se importar com o gasto de essência, Sunny viajou pelas sombras e logo apareceu perto do Rhino. Ele podia sentir três sombras lá dentro, enquanto Luster, Kim e Quentin estavam parados na frente do APC.

Ao notá-lo, eles endireitaram suas posturas.

“Capitão, senhor! Uh… Eu fiz como você disse.”

Sunny olhou para Luster e assentiu.

“Vá e execute a sequência de inicialização. Quero que o Rhino esteja pronto para partir a qualquer momento.”

Os olhos do jovem se transformaram em círculos, mas ele rapidamente mergulhou na escotilha sem fazer perguntas. Sunny, Kim e Quentin foram deixados sozinhos no frio cortante.

Sentindo seu coração batendo descontroladamente, Sunny olhou para o céu.

O céu estava coberto por uma névoa branca.

‘… A nevasca está começando de novo.’

Naquele momento, Quentin perguntou cautelosamente:

“Capitão… Sinto muito, mas o que exatamente está acontecendo?”

Ele deu uma olhada rápida para o curandeiro galante.

“Estamos indo.”

Seus dois subordinados pareciam assustados.

“Indo? Agora mesmo? Mas… por quê?”

Sunny demorou-se com a resposta.

“Porque temos ordens para manter o VIP vivo.”

Isso pareceu fazê-los parar de fazer perguntas.

Um minuto se passou, depois outro. Sua corrente sanguínea estava cheia de adrenalina, como se ele estivesse no meio de uma batalha. O tempo se arrastava a passo de caracol e, por algum motivo, Sunny sentiu como se estivesse trancado dentro de um pelourinho, esperando a lâmina da guilhotina descer.

‘Ande mais rápido, droga!’

Seus instintos gritavam que eles tinham que deixar LO49, agora.

Finalmente, duas figuras surgiram da névoa branca leitosa. O professor Obel caminhava rigidamente, com um rosto preocupado. Beth o apoiava e carregava uma pequena bolsa.

O velho parou perto de Sunny e olhou para ele com uma expressão solene. Ele hesitou em falar.

“Jovem… Ouvi dizer que você vai nos levar embora agora.”

Sunny assentiu.

“Sim, professor. Entre, por favor. Depressa. Explico depois.”

Eles entraram no Rhino e fecharam a escotilha. Enquanto Beth olhava ao redor com curiosidade contida, Luster fez o veículo pesado se mover.

Os sentinelas já haviam sido informados por Verne, então abriram o portão e permitiram que os Irregulares passassem por eles.

… Até o último segundo, Sunny tinha certeza de que algo daria terrivelmente errado. Mas, de alguma forma, não deu.

O Rhino se afastou da fortaleza, passou pela frota de transportes estacionada do lado de fora e desapareceu na parede branca da nevasca. Somente quando as luzes da instalação desapareceram de vista Sunny sentiu uma sensação quase avassaladora de alívio.

Ele se inclinou… não, quase caiu… na antepara atrás dele e soltou um suspiro trêmulo.

‘Conseguimos. Conseguimos a tempo…’

Embora houvesse muitos olhares confusos e preocupados voltados para ele, Sunny permaneceu em silêncio. Lentamente, a distância entre o Rhino e o Observatório Lunar 49 foi ficando cada vez maior. Um quilômetro, depois outro… depois uma dúzia.

Eles estavam deixando para trás.

***.

Algum tempo depois, quando o veículo pesado atravessou aproximadamente metade do comprimento da planície costeira que separa a costa do oceano das montanhas, Sunny ordenou que Luster parasse e escondesse o Rhino nos destroços de uma enorme máquina de guerra deixada para trás dos Tempos Sombrios.

Ele fechou os olhos e se concentrou por alguns minutos. Suas sombras garantiram que não houvesse nenhuma Criatura do Pesadelo à espreita.

Depois disso, Sunny respirou fundo.

“O Chamado não é muito forte aqui. Deve ser condição verde, então… parabéns, rapazes. Vocês podem finalmente descansar.”

Apesar do desconforto e das dúvidas, seus soldados reagiram a essa declaração com excitação visível. Eles também estavam à beira do colapso de fadiga e exaustão.

“Luster, Kim e Dorn. Vocês dormem primeiro. Os outros três, fiquem de guarda e cuidem dos nossos convidados.”

Eles assentiram, já sabendo seus papéis.

“Sim, senhor! Mas… uh… Capitão, e você?”

Sunny olhou para Belle com uma expressão sombria.

“… Tenho algo para fazer.”

Ele foi em direção à escotilha de saída. Beth tentou atrapalhar com uma pergunta, mas ele simplesmente olhou para ela, e a jovem de repente recuou.

Saindo do Rhino, Sunny entrou na nevasca e então invocou o Pesadelo. Seu leal corcel surgiu das sombras, seus olhos queimando com terríveis chamas carmesim. Saltando para a sela, Sunny o fez galopar pela neve.

Ele deixou uma sombra para ficar de guarda perto do Rhino, é claro.

A essa altura, o alcance em que ele podia controlá-la já passava de treze quilômetros. Isso era mais ou menos metade da distância atual entre o Rhino e LO49.

Ele galopou de volta para o sul, invocando o capacete fechado e sem características da Corrente Imortal para se proteger do vento cortante. Seu sentido das sombras se espalhou para fora, substituindo a visão que era inútil na furiosa tempestade de neve.

Parando bem na borda do alcance do Controle de Sombras, Sunny permaneceu na sela e enviou outra sombra para a frente. Ele foi para o sul com uma velocidade tremenda e, eventualmente, alcançou as paredes da instalação.

Havia torres formidáveis nelas, holofotes poderosos inundando as imediações da fortaleza com luz, flocos de neve dançando nas vigas largas. Os portões que o Rhino havia deixado há menos de uma hora estavam bem fechados. Uma frota de veículos de transporte estava estacionada na frente dele, coberta de neve, seu propósito inicial há muito esquecido.

A nevasca obscureceu o mundo e, por um momento — assim como quando ele chegou — Sunny sentiu uma pontada de medo. Era como se toda a instalação estivesse vazia, com apenas fantasmas povoando suas ruas.

… Só que, dessa vez, seu medo se tornou realidade.

Não havia ninguém de guarda nas paredes. Nenhum soldado patrulhava as ruas desertas. Os prédios estavam vazios, com telas ainda mostrando gravações de programas de entretenimento, comida nos pratos e café esfriando nas canecas.

Mas não havia pessoas.

Não havia cientistas no laboratório de pesquisa e nenhum oficial no centro de segurança. O feed das câmeras de segurança em funcionamento não mostrou nenhum movimento em todo o assentamento.

As portas dos alojamentos onde os civis estavam confinados ainda estavam trancadas, mas não havia ninguém lá dentro. Não havia sinais de luta e nenhuma pegada fresca na neve cobrindo o chão do lado de fora.

Tudo estava apenas… parado.

Mil e quatrocentas pessoas desapareceram no ar. Pareciam ter simplesmente sumido, como se nunca tivessem existido.

… A muitos quilômetros de distância, Sunny olhou para a parede sul da fortaleza através dos olhos de suas sombras. Ele se sentiu compelido a enviar a sombra para frente e olhar para o oceano escuro mais uma vez.

Mas no final, com um arrepio, ele decidiu contra isso.

Logo, a sombra retornou. Envolvendo-a em volta de seu corpo, Sunny ordenou que Pesadelo se virasse e cavalgou para a nevasca sem olhar para trás.

Talvez ele não quisesse…

E talvez simplesmente não ousasse.

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