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    Quando os registros foram finalizados, duas coisas ficaram óbvias: o responsável pela pousada não se importava muito com o que aconteceria com o aventureiro, e a segunda era que Diana não era apenas rancorosa, mas também vingativa. Ariel e ela não deixaram o aventureiro em paz até o registro ser finalizado.

    Para evitar maiores problemas, Alexander acabou pedindo a Diana que curasse um pouco o aventureiro, o que ela não pareceu gostar. — Mas ele te chamou de lixo.

    — Não me importa o que essa escória falou sobre mim. Sem falar que vocês também já deram uma boa lição nele… Agora é aconselhável deixar alguma margem e não matá-lo — disse Alexander. — Considere-o um sortudo, afinal ele apenas está vivo porque fiquei um pouco confuso na hora de sacar o machado1.

    — Mas eu me importo, e muito, que falem mal de você — disse Diana, “exalando” agressividade. — Posso não matá-lo, mas vou… vou… quebrar as pernas dele.

    — Eu faria ainda pior se a situação fosse o contrário. Mas você ainda se sentirá bem com isso depois que a sua raiva passar? — perguntou Alexander. — É você quem deve controlar sua energia, linhagem e poder, não o contrário, lembra? Mas se você ainda acha que ele merece, vá em frente.

    Ao ser puxada de volta à realidade, Diana começou a acalmar-se, recuperando a serenidade. E quando se recuperou o suficiente, ela até atendeu ao pedido dele de curar o aventureiro até que este estivesse quase bem. Mas quando a maioria das pessoas que estavam assistindo a cena não esperavam, os olhos dela brilharam de raiva e ela bateu com seu broquel na boca do aventureiro.

    — Vamos — disse Diana. — Essa escória não vai mais falar besteiras por algum tempo.

    Sob a forte presença dela, o recepcionista rapidamente aproveitou a sua deixa e começou a conduzi-los, sem sequer se virar para o aventureiro desacordado no chão. — Hmm? É claro, senhora. Por aqui…

    — Você é uma má influência para ela — disse Ariel para Alexander.

    — Culpado — respondeu ele, dando de ombros sem se importar muito.

    Ainda um pouco assustado, o recepcionista manteve a liderança para informá-los sobre os serviços. Mas o pobre infeliz não teve sorte, a primeira coisa que viu ao sair para mostrar os alojamentos de familiares foi um Pequeno Preto irritado.

    Todo familiar tem uma ligação bidirecional com o mestre, e quanto mais próximos estiverem, mais forte será a ligação. Então é claro que ele sentiu a raiva de Diana. 

    Se por acaso ele tivesse sentido o menor cheiro do sangue dela, as coisas ficariam ainda mais complicadas.

    — Calma, garoto. Já passou — acalmou-o Diana. — Não precisa mais ficar assim.

    Após Diana acalmar seu familiar, e o recepcionista se acalmar, eles continuaram o “tour” por algum tempo até obterem todas as informações básicas sobre o local, quando finalmente foram conduzidos aos quartos.

    — Agora que estamos sozinhos, preciso te perguntar — disse Alexander. — Você realmente sabe o que significa escória ou só o chamou assim repetindo por impulso o que eu disse, Diana?

    Não era preciso ser um grande gênio para descobrir a verdade antes mesmo dela responder. Só foi preciso ver como o rosto dela ficou vermelho.

    — Não precisa ficar assim. Às vezes eu uso palavras estranhas mesmo… Não se culpe por não entendê-las — apontou ele, pacientemente — Escória é a parte mais descartável/desprezível de algo. Algo que não tem ou perdeu o valor.

    — Não precisa ter vergonha. Pode me perguntar qualquer coisa sempre que tiver alguma dúvida — encorajou Alexander.

    — Já que é assim, tenho que perguntar… Você viu? — perguntou Diana.

    — Hmm? — Alexander.

    — No dia em que saímos da cidade Martelo de Ferro, você viu? — ela indagou novamente. Dessa vez com mais contexto.

    — … — Alexander.

    Mesmo que a pergunta dela ainda fosse um pouco vaga, ele sabia exatamente a que ela estava se referindo. — Não vou mentir para você, eu vi.

    — … — Diana.

    — Não se preocupe com isso. Assim como você disse, eu também não me importo se você tiver outras mulheres — disse Alexander, sorrindo. — Só tome cuidado para não acabar complicando acidentalmente o relacionamento delas.

    — Nã-não. Não é assim. E-e-eu. Nós. Nós estávamos só — tentou formular Diana.

    — Eu já disse que você não precisa se preocupar assim — reiterou Alexander, claramente encontrando um pouco de humor na confusão dela. — Descanse um pouco. Irei até a Guilda ver se tem alguma missão boa disponível.

    — Então eu vou com você — rapidamente colocou Diana.

    — Não precisa. Pode descansar — disse Alexander. — Meu corpo é resistente. Eu vou ficar bem, então não se preocupe.

    — … — Diana.

    — Estou indo até a Guilda só para procurar missões, não porque quero evitar ou ficar longe de vocês — explicou ele, já tentando conter o sorriso diante de toda essa situação. — Agora descanse um pouco.

    Quando finalmente conseguiu fazer Diana descansar e começou a caminhar em direção à guilda dos aventureiros, Alexander chegou à conclusão de que, desde que chegou naquele mundo, ele havia se tornado basicamente amoral. Ele tinha conhecimento sobre os princípios, regras e etc. da Terra, ele simplesmente só não estava mais vinculado ou restringido por eles.

    Assim que chegou a Guilda, Alexander deixou de lado todos seus devaneios éticos e filosóficos e se concentrou na grande movimentação daquele ambiente.

    Após perguntar um pouco aos outros por ali, ele descobriu que quase sempre era assim, porque, aparentemente, todo o Reino dos Estados Livres é assim: a maior parte das tarefas são feitas por aventureiros. O exército serve quase exclusivamente para proteger cidades, estados e o próprio reino.

    Achando aquela forma organizacional confusa, mas interessante, Alexander foi até o quadro de missões e passou algum tempo procurando até encontrar uma que o interessasse. Mas enquanto procurava uma missão, ele constatou que realmente havia quase todo tipo de solicitação naquele quadro.

    A missão escolhida por ele era algo que a maioria dos aventureiros estava evitando, mas que parecia ideal para alguém com as especificações dele: uma missão de extermínio emitida pelo lorde da cidade contra uma criatura de 3ª evolução.

    Quando Alexander finalmente conseguiu registrar a missão em meio a toda aquela movimentação, o dia já estava terminando e a noite caía enquanto ele voltava.

    Parando a poucos passos da entrada de onde estavam hospedados, movido por uma fugaz sensação de estranheza ao relembrar sua fuga do Império e tudo o que havia vivido até ali, Alexander decidiu mudar um pouco seus planos e voou até o telhado para beber enquanto observava as estrelas.

    Algum tempo depois dele começar a beber, 3 pessoas apareceram e sentaram-se ao seu lado, com Diana iniciando a conversa: — O que você está fazendo?

    — Nada demais — disse Alexander ao tomar outro gole. — Só vendo as estrelas, bebendo um pouco e lembrando do lugar onde cheguei a esse mundo.

    — Saudades? — perguntou Ariel.

    — Na verdade não — disse Alexander. — Só pensando em como foram aqueles dias.

    — E como eles foram? — perguntou Helena, curiosa. — Era um lugar bonito?

    — … — Alexander. — O lugar era bonito, mas os dias que eu passei lá não.

    — Aquele lugar não seria nenhum pouco perigoso para mim agora, mas naquela época eu não era nem perto do que sou hoje. Eu era tão fraco e estava com tanto medo que por várias noites fiquei acordado, com medo até do vento, até desmaiar de exaustão, ou eu mesmo me forçar a desmaiar — explicou ele. — Quando eu finalmente fiquei forte o suficiente para não ter mais medo naquele lugar, tive que encarar o fato de que estava sozinho e precisava ir para um lugar bem mais perigoso que aquele para me desenvolver e não ficar à mercê da sorte e do acaso.

    — … — Ariel.

    — … — Diana.

    — … — Helena.

    — Mas chega da minha história por hoje — disse Alexander. — Vamos entrar antes que vocês passem mal por causa do frio da noite.

    — Ainda não. Está cedo — disse Ariel. — Pegue mais algumas bebidas e nos deixe beber também… Ou você vai dizer que não tem mais bebida?

    — … — Alexander. — Aqui está, fiquem à vontade. Mas eu já bebi demais.

    Abastecidas com bebidas de boa qualidade, elas começaram a beber e conversar enquanto ele continuava olhando sonhadoramente para as estrelas que brilhavam sobre a cidade até que em determinado momento Ariel “explodiu”: — Por quanto tempo você vai ficar aí sem dizer nada?

    — Hmm? Não sou um bardo. Não vim declamar sobre as estrelas — sorriu Alexander.

    — Você sabe que não é disso que estou falando. Nós não lembramos de nada, mas isso não muda o fato de que dormimos com sua mulher — apontou Ariel, exasperada com a falta de reação dele. — Por que você não diz nada? Não era você quem estava pronto para matar alguém apenas por palavras?

    — Você realmente não deveria beber muito, rs… Posso ser brutal, mas na maioria das vezes só ataco para retaliar ataques físicos ou verbais, e não considero que vocês tenham nos atacado — explicou ele, sorrindo. — Além disso, não sei o que vocês acham que aconteceu, mas posso afirmar com certeza que não foram longe, ou, mesmo que eu não me importasse, o cheiro teria me acordado e vocês duas iriam acordar bem doloridas na manhã seguinte2.

    Ao entenderem rapidamente o que as palavras dele estavam implicando, todas elas não puderam deixar de corar. Ariel e Helena até recuaram um pouco.

    — Não me olhem com esses olhos. Eu estava sob o efeito de várias bebidas naquele dia — disse Alexander, com um olhar insultado — Bebidas que vocês empurram para mim, como se eu fosse algum tipo de atração para vocês.

    — Mas caso estejam arrependidas de não terem feito nada, têm 2 quartos amplos e muita bebida à disposição de vocês. Exatamente como da última vez — acrescentou ele, sorrindo com vontade. — Vocês podem-.

    Aparentemente a provocação dele foi longe demais, pois ele foi silenciado por um beijo com o gosto e cheiro de bebida. Um vinho suave, talvez?

    — (Sinto muito por te provocar tanto. É que essa situação me fez perceber, mais do que nunca, o quão delicada é a minha situação) — disse Alexander a Diana, assim que ela o soltou. — (Tudo o que fiz quando saí do Império foi aumentar o tamanho da minha jaula. No final do dia, ainda estou preso…)

    — (Você pode e deve ter novas amizades e experiências, mas eu não posso correr o risco de me abrir com mais ninguém, pois o menor erro pode me levar a ser caçado) — completou ele. — (Por muito tempo ainda terei que viver me escondendo e mentindo até ficar forte o suficiente.)

    Obs 1: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (00,00 R$ / 20,00 R$).

    Obs 2: Chave PIX para quem quiser, e puder, apoiar a novel: 0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b. Caso não consiga copiar a chave pix, é só clicar nela que vai ser gerada uma aba/guia que tem como URL/Link a própria chave pix com algumas barras nas pontas: http://0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b/, e é só retirar a parte excedente.

    Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguiram normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, por ventura, haja a publicação de capítulos adicionais.

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