Capítulo 202 – Dito isso, o senhor tem interesse em fazer negócios comigo?

No dia seguinte, tendo voltado à aprender com o especialista da família IronShield e a treinar avidamente para absorver, assimilar e expandir a sua compreensão do domínio da espada e do escudo, bem como do estilo defensivo, Alexander refletiu sobre como já havia obtido muito e que mais pessoas apareceram querendo atender ao seu chamado, embora fossem muito poucas.

— Se eu quiser aumentar a minha avaliação na tarefa secundária da missão e obter um bom ganho final do Império, este deve ser o melhor momento — considerou ele cuidadosamente, mesmo enquanto lutava/treinava. — Uma última viagem antes que a parte rigorosa do inverno comece não deve ser muito arriscada ou prejudicial agora que neutralizei a maioria dos antigos “poderes locais” e apaziguei os nobres e afins liberando quase todo o meu estoque…

Indeciso mesmo depois de pensar muito se valeria a pena ou não negociar um certo conhecimento, pois além de atrair atenção para si, havia as consequências que isso traria de forma direta, indireta, primária, secundária e talvez até terciária, Alexander decidiu lançar a bola para o lado do Império e ver o resultado. Se eles confiassem em suas palavras e escolhessem pagar o preço dele, bom para eles, se não, seguiriam suas vidas e cada um dependeria da sorte para conseguir o que precisava…

Não querendo fazer uma viagem em vão e ainda tendo que preparar algumas coisas, além de mapear e reunir os novos artesãos que mostraram interesse em se juntar à sua facção, ele arrastou os irmãos ferreiros consigo para a guilda dos aventureiros e começou a fazer “ligações”, sendo a última exclusivamente dele com Robert.

— Há quanto tempo, Diretor. Espero que esteja tendo uma noite agradável — disse Alexander assim que a conexão entre eles foi estabelecida.

— Agradável? Num inverno com as presas do fimbulwinter? — apontou Robert com alguma estranheza. — Pare com essa bobagem e me diga o que quer… Você não é o tipo de pessoa que me contacta em um momento como esse sem um motivo.

— Bobagem? Interesses? — enumerou Alexander em tom ofendido. — O senhor não só insinuar, como também dizer tão abertamente que tenho segundas intenções, fere não só minha dignidade, mas também meus sentimentos… Dito isso, o senhor tem interesse em fazer negócios comigo, rsrsrs?

— De que acordos comerciais você está falando? — perguntou o diretor Robert analiticamente. Ele sabia que a outra parte não entrava em negócios para perder.

— Troca de conhecimentos — respondeu Alexander, tentando transmitir um certo ar de incerteza em sua voz para a outra parte. — O senhor sabia que os dragões não são apenas ricos, mas sua coleção de conhecimento, tanto escrito quanto em suas mentes, também é incrível?

— Enumere seus termos — disse o diretor Robert, cortando qualquer humor que Alexander estivesse acrescentando à conversa. Ele soube que o custo não seria baixo assim que a outra parte falou nos recursos que obteve na Floresta Estelar. 

— Não se preocupe. Dessa vez, não pretendo mexer nos seus bolsos, mas nos do Imperador — disse Alexander, rindo. — No entanto, como eu não o conheço e não pretendo ir à capital, um intermediário que possa garantir os interesses de ambas as partes me parece necessário… E se achar viável seguir adiante com essa negociação, receba seu pagamento de comissão nos bolsos do outro lado também.

Ainda mais preocupado que fosse daquela forma, o diretor ponderou um pouco e perguntou: — O que exatamente você quer tão especificamente do Imperador para passar por mim e ir direto até ele.

— Acredite ou não, eu não quero nada específico — assegurou Alexander com um sorriso. — Quanto a lhe ignorar para ir direto ao Imperador, é porque nem o senhor conseguiria manter esse conhecimento para si e acabaria tendo que compartilhá-lo. Então por que não cobrar o valor total da pessoa que realmente vai obtê-lo no final?

Ao ouvir que a moeda de troca seria um conhecimento que nem ele poderia guardar para si mesmo, visto que as grandes famílias sempre tiveram certos conhecimentos que eram exclusivos ao menos em parte, um dos pilares do império não pôde deixar de se perguntar se aquilo era sério ou não e reiterou: — Liste seus termos.

— 1º: Não quero me envolver de forma alguma com esse conhecimento ou com o estudo dele, que deve consumir muito tempo de quem se envolver… 2º: Eu quero a palavra do Imperador, por escrito, de que será feita uma lei para que isso não seja usado para torturar nenhum indivíduo do próprio Império, independentemente do crime, sob penas graves… E por último: Eu quero uma cópia de literalmente todo o conhecimento que existe na Academia Imperial até o Tier III — listou Alexander.

— Só isso, garoto? — disse Robert, ironicamente, quase zombeteiramente. — Tem certeza de que não quer mais nada?

— Só estou fazendo uma oferta. Aceitar ou não é uma escolha do Império — disse Alexander, ficando extremamente sério. — Mas lhe asseguro que o meu preço ainda é baixo no momento, e não vai cair… Com o passar do tempo, terei mais meios para desenvolver e financiar pesquisas e estudos por conta própria, e o custo aumentará exponencialmente, especialmente porque esse conhecimento abre uma nova área de estudo em muitos, se não em todos, os campos.

Surpreso por não estar mais tão surpreso com aquela declaração, Robert começou a pensar na situação. Se por um lado as exigências pareciam quase ridículas aos seus olhos, por outro, segundo as palavras da outra parte, pareciam conter um potencial que nem mesmo ele poderia manter. Afinal, a outra parte poderia tentar negociar com ele para obter o conhecimento de sua academia, o que, embora improvável, seria mais fácil dado o relacionamento deles, porém ele visou diretamente uma negociação com o Imperador.

— … — Pilar do Império, Robert. — Você está mesmo confiante em suas palavras?

— Sim — respondeu Alexander sem qualquer hesitação. — Se chegar o dia em que acharem que a linha de conhecimento que forneci não vale nem o dobro do que pedi, isso só significará que o potencial acadêmico e inovador do seu Império é limitado, e não que tal conhecimento não tem valor… Por falar nele, foi com base nesse mesmo conhecimento que consegui desenvolver minha contramedida contra as presas do Fimbulwinter e lucrar tanto. E esse não é o único uso desse conhecimento.

Ao começar a entender a base da confiança de Alexander em um único pedaço de conhecimento, Robert sentiu que talvez o Império realmente tivesse algo a ganhar com esse acordo a longo prazo. — Tudo bem, eu apresentarei a sua proposta ao Imperador. Mas não posso garantir nada, porque, no final das contas, se ele aceita ou não é uma escolha somente dele.

— Não ouso pedir mais do que isso ao senhor, Diretor — disse Alexander antes de mudar seu tom para algo estranho. — Mas, por favor, lembre ao Imperador em meu nome que minha estima por ele é tão grande quanto a dele por mim. Logo ele não deve esperar cruzar a ponte uma segunda vez se ele atear fogo nela logo depois de cruzá-la a primeira vez.

Ao lembrar ali, naquelas palavras, a dor de cabeça que isso poderia se tornar, Robert pensou em desistir de apresentar e mediar tal negociação, pois fazer ambos os lados convergirem, quando nenhum deles era conhecido por ceder facilmente, não seria fácil. Mas lembrando do que tal interação poderia trazer, até mesmo aumentando a integração e a coesão entre eles, ele sentiu que talvez valesse a pena o esforço.

PDV Robert ||Céu Trovejante||

Após encerrar a comunicação com Alexander e pensar muito cuidadosamente sobre como transmitir aquilo ao Imperador de uma maneira palatável, Robert ordenou que se contatasse o palácio naquela mesma noite.

— Boa noite, meu caro Duque — disse uma voz amigável do outro lado assim que a conexão foi estabelecida. — A que o palácio deve seu contato esta noite.

— Por favor, diga ao Imperador que desejo conversar com ele, e somente com ele, e veja se isso é possível no momento — respondeu Robert.

Sem nem mesmo demorar, esperar ou perguntar o motivo, a pessoa do outro lado pediu licença e foi buscar a resposta do Imperador.

Após algum tempo de espera, o som de uma porta abrindo e fechando foi ouvido, com apenas uma pessoa entrando na sala. — Boa noite, caro Duque. Sinta-se livre para falar aberta e livremente o que está em seu coração.

— Muito boa noite, Imperador. Agradeço sua boa vontade e disposição em atender meu pedido mesmo sem um aviso prévio — cumprimentou e agradeceu Robert.

— Sinta-se à vontade para falar sem formalidades, Robert — disse o Imperador, demonstrando claramente uma apreciação por ele, embora este último estivesse na facção neutra.

— Mesmo com sua permissão, eu não ousaria deixar todas as formalidades de lado, Imperador — respondeu Robert, não apenas demonstrando que conhecia seu lugar, mas principalmente que não poderia ser tão íntimo. — No entanto, já que o senhor me permitiu tomar alguma liberdade, informo que o jovem parece disposto a tirar algo mais dos bolsos… E já que se as coisas forem como ele diz eu não conseguiria guardar esse conhecimento para mim, decidi lhe passar a proposta e ver se o senhor se interessaria por ela depois de ouvi-la.

A frase anterior como um todo demonstrou por que o Imperador tinha Robert em tão alta conta. Além de conhecer seus limites e ser extremamente poderoso e capaz, ele era o que poderia ser considerado um estadista sincero.

Dada a sua posição e influência, mesmo que ele fosse incapaz de realizar algo que o Imperador pudesse, não era impossível arrastar a facção neutra para ajudá-lo. No entanto, sempre que via algo que considerava importante, ele pensava primeiro no panorama geral do Império.

— Para você estar me contatando da forma como fez, deve significar que você quer me dar o máximo de tempo possível para pensar na proposta, e já que você não viria até mim se não achasse-a ao menos um pouco interessante, deve significar que o preço que a outra parte está pedindo é alto — analisou rapidamente o Imperador, conhecendo a personalidade do seu antigo companheiro. — A questão é, quão alto é o preço que ele ousa pedir, e quão vital é o que ele tem a oferecer para você achar que a proposta dele pode me comover apesar do preço?

— O que ele trouxe à tona dessa vez foi conhecimento… Ele oferece o conhecimento que lhe permitiu elaborar a medida contra as presas do fimbulwinter, que, segundo ele, ainda tem muito mais a oferecer, sendo possível iniciar um campo totalmente novo de estudo — disse Robert, não negando a suposição do Imperador. — Mas as suas exigências são realmente altas, sendo as seguintes…

— Você conseguiu um jovem com um apetite realmente alto dessa vez, Robert — comentou o Imperador em um tom bem flutuante, indistinguível de surpresa, raiva, interesse e diversão. — Ele basicamente comprou uma boa parte da baronia que lhe concedemos, lançou um recrutamento em larga escala de oficiais competentes em seus ofícios, conseguiu uma soma considerável de riqueza às custas de vários nobres e agora ele ainda está atrás dessa quantidade de conhecimento, tudo em um curto espaço de tempo.

— O senhor sabe que se eu realmente o controlasse, não estaríamos tendo essa conversa — disse Robert, sem nem tentar dissuadir o Imperador do contrário. Ele próprio sabia que estava fechando os olhos para o desrespeito de Alexander pelas “convenções sociais”, já que o mesmo ainda não estava quebrando a lei. — Quanto à última parte, não posso negar que ele parece estar se aproveitando da situação para estruturar toda a base de sua família incrivelmente rápido.

— Ele está sendo tão feroz e implacável que “incrivelmente rápido” ainda parece muito pouco — “sorriu” o Imperador. Ele sabia que no final do dia Alexander ainda estava, ao menos um pouco, no “time” de Robert. — Mas, por favor, compartilhe seus pensamentos comigo. Se dependesse de você, o que escolheria?

— SE dependesse de mim, eu aceitaria — respondeu Robert, sem hesitar.

— Elabore — pediu o Imperador.

— Embora eu saiba que o número e as condições que ele solicitou são onerosos, verdade seja dita, de que servem livros desse nível para pessoas do nosso nível, além de serem deixados acumulando poeira nas academias do Império? — argumentou Robert, sendo bem sincero. Essa opinião não era apenas porque o outro lado podia ser considerado um dos seus. — No entanto, o novo sempre traz consigo várias novas possibilidades, até mesmo para nós.

— Diga-me, Robert, quanto esse garoto lhe pagou para defender tão bem a ideia dele? Agora até eu quero contratá-lo para defender minhas ideias assim — brincou o Imperador antes de voltar a um tom sério e analítico. — Não é que seu argumento não seja válido ou não faça sentido, mas tenho que considerar o prestígio imperial antes de fazer um acordo como esse sem garantias de um retorno satisfatório.

— Entendo, Imperador — assentiu Robert, considerando se essa recusa tácita era uma benção ou desvantagem para o Império. — Vou notificar o garoto de que não tem interesse em começar um estudo tão extenso e oneroso neste momento.

— Eu não disse que não tenho interesse no que ele está tentando negociar. Eu disse que não pretendo negociar com ele — “corrigiu” o Imperador, impassível.

Não gostando do rumo que a conversa estava tomando, especialmente porque sabia que com a personalidade de Alexander ele iria preferir selar tal conhecimento para sempre e entregar coisas maliciosas do que dar algo de graça à força, Robert franziu a testa e começou a tentar entender a linha de pensamento do Imperador, pois sabia que o outro lado entendia que forçá-lo era uma aposta muito arriscada.

— Embora eu “não possa” fazer tal acordo com um garoto, especialmente esse, em nome do prestígio imperial, diga-me, Robert, a sua família nunca desejou formar estudiosos e eruditos? — “sorriu” o Imperador do outro lado da conexão.

Obs ¹: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (00,00 R$ / 20,00 R$).

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Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, por ventura, haja a publicação de capítulos adicionais.