Capítulo 258 – Alguém ainda mais louco e irrestrito

Quando Alexander voltou, no oitavo dia, após passar uma semana fora, a situação já estava longe de ser a mesma que ele havia deixado: 

• Rumores sobre a criança de maior potencial do Império ter nascido lá já começavam a se espalhar por todo o Império e além.
• Várias famílias, fossem nobres, comerciantes ou mesmo de alguns outros ramos que ele não havia chamado, estavam migrando para lá.
• Ainda mais guardas do que ele esperava foram designados pelo Duque Marvin para a proteção não apenas da área da casa, mas de toda a área e seus entornos.
• Dimitri finalmente tinha deixado um pouco o lado da mulher para verificar o início do plantio e voltar a treinar, mas passando a utilizar partes do seu novo conjunto para ir se habituando com o peso extra.
• E, seguindo a liderança de Laite LittleLight, sob o “aval” de Diana, grande parte da família LittleLight se juntou à família Greedin em um expurgo a algumas pessoas e famílias duvidosas na cidade da última, batizando a cidade com um banho de sangue, fogo e chamas.

— … — Alexander.

— … — Diana.

Não sabendo bem o que dizer um ao outro sobre a situação quando se viram, uma vez que ela chegou até aquele ponto, eles se leram no estranhamento um do outro e, tacitamente, decidiram se focar no que fazer a seguir, em vez de ficar remexendo e remoendo o passado.

Após pensar um pouco e elencar o que tinha que fazer, Alexander recolheu suas asas, tão usadas naquele meio tempo que chegavam a incomodá-lo um pouco, e desfilou de mãos dadas com Diana pela cidade até a mansão do Lorde.

— Há algo que vocês devem, ou querem, me relatar? — perguntou ele a Terry e Sansy, para se pôr mais a par do que tinha acontecido, ou estava acontecendo, devido à sua ausência na região.

— Na verdade, não… Ao menos da minha parte — reportou Terry calmamente. — Sua reputação é forte, e ninguém tentou nada abertamente. Mas há alguém que está esperando para falar com você… Porém, não sei ao certo se você vai querer vê-lo, dado o histórico da família dele com a família LittleLight.

— Se for Stefan, fui eu quem o procurou primeiro… Pode avisá-lo e marcar algo formal, se necessário — respondeu Alexander, satisfeito, voltando o olhar para Sansy.

— Do meu lado também não há nada muito preocupante… Mas algumas peças, aparentemente à revelia de suas famílias, estão sondando como se fossem tentar espalhar as suas raízes e influência pela área — relatou ela, meio que dando de ombros. Afinal, pessoas são criaturas que tendem a esse tipo de ganância.

— Muito bem… Mantenham tudo minimamente sob os seus olhos, mas não façam nada… Ao menos por agora — assentiu Alexander para eles, também satisfeito com o relatório dela. — Doravante essas pequenas questões, eu tenho uma boa notícia para vocês: muito provavelmente, em um futuro próximo, vou colocar mais pessoas de topo para reduzir o trabalho e as funções de vocês, então suportem apenas mais um pouco… No entanto, estamos começando hoje um recrutamento para a nossa próxima raid, que culminará em um confronto final difícil com uma criatura de 4ª evolução. Os recrutados devem ser, no mínimo, Rank Ouro, similares ou acima desse nível.

Quase exibindo uma incomum radiação ao ouvirem que estariam recebendo apoio nas atividades de topo, mas sentindo os próprios rostos se fecharem sob a menção de uma nova Raid, Terry e Sansy se entreolharam meio frustrados com o trabalho que teriam, mas logo tiveram que se resignar… Àquela altura, mais pessoas não eram vistas como algo que minaria a autoridade e afins deles, até porque o chefe deles concentrava a maior parte disso na sua própria pessoa. Era um alento muito mais do que bem-vindo, mesmo que fosse apenas para sofrer com eles…

Separando-se momentaneamente de Diana, que seguiu em direção ao centro de ensino, Alexander visitou os irmãos ferreiros para fazer o próximo pedido, os quais já tinham acabado de celebrar o fim do último trabalho e estavam organizando a estrutura administrativa, e os funcionários, da Associação de Artesãos.

— O que você quer dessa vez, garoto? — perguntou John, sem exasperação, mas impassível. — Já faz algum tempo que estou fora e tenho que voltar para garantir que tudo do meu lado esteja funcionando como deve na Associação dos Ferreiros.

— Meus pedidos dessa vez são um tanto complicados, mas eu garanto que são os últimos… Por enquanto — disse Alexander ao jogar uma garrafa de “vodka” bem pura para cada irmão ferreiro, claramente os subornando com bebidas. — Serei direto: dessa vez preciso de vários conjuntos completos, e nenhum deles deve ser lá muito fácil de produzir sem o conhecimento e a genialidade de vocês.

— Corte a conversa e diga logo o que quer — respondeu Jayce, meio impaciente, já abrindo a garrafa e cheirando a bebida. — Nós ainda temos que escolher o pessoal administrativo e as diretrizes para essa SUA bendita Associação de Artesãos.

— Tudo bem — assentiu Alexander, “sorrindo”. — Prioritariamente, eu quero que façam um conjunto de “vestimentas de combate” para as principais criaturas-familiares da minha família. Elas devem ser algo que não seja tão restritivo ou sufocante, pois eles, especialmente o familiar de Diana, iriam destruí-las…

— Depois de concluírem esse pedido, também gostaria que fizessem um conjunto de placas leves para um lutador de manoplas-garras, além de um conjunto completo para mago — adicionou ele com um sorriso torto. — Ambos devem ser para um humano com cerca de ⅘ das minhas especificações e cobrir o corpo todo; e ambos devem ser não-elementais, mas com encantamentos de camuflagem, ocultação, dissociação de presença, aura e aparência.

Entreolhando-se ante tal pedido tão específico, os irmãos ferreiros não tiveram como deixar de franzir as testas. Os primeiros eram trabalhosos e específicos, mas práticos de se fazer. No entanto, conjuntos virtualmente neutros e não-elementais, quase irrastreáveis, que ainda deviam ter encantamentos e efeitos de camuflagem, ocultação, dissociação de presença, aura e aparência eram, no mínimo, suspeitos de serem para algo escuso que não suportaria o escrutínio da luz do dia.

— … — Jayce.

— … — John.

— Não se preocupem muito. Eu apenas quero que alguns dos meus possam agir com mais liberdade, já que estou sob constante vigilância — explicou Alexander, sem se preocupar muito com a confiabilidade dos irmãos. — Apenas tentem manter esses projetos o mais discretos e ocultos possível em sua aparência, para que só algumas poucas pessoas saibam, ou possam de fato identificar, a aparência deles.

Assentindo sem pensar muito sobre aquilo, ou sem querer pensar muito sobre aquilo, visto que sabiam e podiam sentir que o último, e todos ao seu redor, inclusive eles, eram de fato observados e vigiados, os irmãos aceitaram o trabalho, discutiram algumas das diretrizes mais específicas do projeto com ele e, então, se despediram…

Ao conseguir encaminhar com relativa facilidade as prioridades que tinha em mente, visto que havia alguns materiais que auxiliavam nisso em seu estoque, como as peles de cobras que tinham propriedades justamente para fazer aquilo que ele queria obter, Alexander seguiu até o centro de ensino deles para se encontrar com Diana e poder dar seguimento a outras das suas prioridades.

Chegando justamente na hora da refeição do meio do dia, ele, que não dispensava comida, para a consternação de alunos e funcionários, pegou uma bandeja e foi para a fila do refeitório, sendo servido e comendo como um aluno.

— Carece um pouco de gosto comparada à minha, mas é com certeza uma alimentação balanceada, completa e rica — avaliou ele ao finalizar o copo de leite, não deixando uma migalha para trás do cardápio do dia: pão, batata cozida, leguminosas, proteína de 2ª evolução, caldo feito a partir de uma criatura de 3ª evolução, leite como fonte de gordura e cálcio, e um docinho de sobremesa.

Não respeitando o tempo dos outros, especificamente o de Steve, que parecia estar fazendo caso com a comida regrada, Alexander gesticulou, o levitando e levando consigo, assim como a “assistente” de Diana e a comida deles.

Esperneando e fazendo birra por todo o caminho até finalmente ser colocado no chão na sala dos professores, o garoto sentiu uma pressão pressioná-lo, fazendo-o se calar para que seu “chefe” falasse: — Não sei quem aqui é o seu professor, mas se desculpe com ele pelos problemas que eu sei que você criou… E, antes que você diga qualquer coisa, deixe-me lhe avisar que você se meteu em uma situação da qual, mesmo que chore sangue, seu avô não vai livrá-lo de mim tão cedo. Então, se você for me fazer perder o meu tempo, eu vou arrastá-lo pra cá e fazê-lo perder o seu, sem mencionar que não vou te ensinar mais nada do que você quer por fora.

Ao lembrar sombriamente ali que Alexander era ainda mais louco do que ele, visto o primeiro encontro deles na Cidade do Mar Imperial, e que sua mãe havia lhe dito especificamente que o seu avô tinha o instruído a se dar bem e obedecer ao último na medida do possível, Steve baixou a cabeça e pediu desculpas quase inaudíveis ao professor da sua primeira aula. Ele finalmente estava sentindo a irracionalidade de um comportamento caótico e irrestrito, pois encontrara alguém ainda mais louco e irrestrito do que ele.

Assentindo com um pouco de satisfação, Alexander acenou para os professores, um tanto quanto consternados, e guiou as crianças consigo até uma mesa grande ao ar livre, onde Diana estava sentada, de frente para um dos campos de treinamento. Ele então colocou a comida deles na mesa: — Terminem. Mesmo que não estejam mais com fome ou não queiram comer, comam tudo… Ou vocês vão cair, porque eu mesmo liderarei as atividades da tarde nesses primeiros dias.

Engolindo quase que forçadamente a comida, as crianças realmente terminaram as suas refeições e ainda encontraram mais espaço em si quando ele serviu uma salada de frutas com creme de leite fresco de gado imperial e mel-cristal para todos.

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Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, por ventura, haja a publicação de capítulos adicionais.