Índice de Capítulo

    Sem urgência real em sua viagem, Alexander pareceu deliberadamente conduzir a comitiva em um percurso zigue-zagueante por seu território, passando por 7 cidades antes de finalmente chegar à Cidade de Port.

    A viagem deles foi tranquila e dinâmica para os mais jovens, já que não lhes faltava entretenimento. No entanto, a maior reação partiu de Brie.

    Como esposa de um duque, ela não tinha o luxo de ser alheia às questões territoriais, e os domínios daquele jovem casal eram simplesmente… estranhos.

    Havia defeitos, injustiças, entraves e de tudo mais que se pudesse imaginar, mas não se via fome ou miséria em parte alguma.

    Era compreensível que suas metrópoles fossem assim, como a “face apresentável” do território, mas ela havia passado por pelo menos umas 9 cidades e incontáveis assentamentos, e simplesmente não encontrou essas mazelas, nem os problemas de amplo espectro que costumam acompanhá-las, como bandidos, saques a vilas, alta mortalidade e crimes violentos.

    — Como conseguiram esse resultado? — não pôde deixar de perguntar Brie, assim que chegaram ao destino ao anoitecer.

    — Simples. Temos tempo suficiente para que os habitantes sintam amor por Diana e medo de mim. Meu “título” de ||A Besta|| surgiu por um motivo, e não é nem um pouco imerecido — respondeu Alexander, como se não fosse nada demais. — Como esta região é suficientemente marginal, somos quase absolutos. Não há oposição que eu ainda não tenha arrancado, e o povo tem trabalho, comida e a certeza de que os caçarei incessantemente até o fim se fizerem algo grande demais.

    — A partir daí, torna-se lógico e mais lucrativo para os ladrões roubarem em outros lugares, já que não há muito a lucrar aqui… Quase todo o dinheiro bruto vem parar nas minhas mãos, e eles não viveriam o bastante para gastá-lo se chegasse aos meus ouvidos — acrescentou ele, com uma indiferença de brutalidade infalível. — Sem falar que já coletei informações de todos os residentes oficiais. Assim, fica fácil localizar quem é quem e quem fez o que, para punir rapidamente as pessoas certas, já que espalhei e enraizei a minha facção por toda a extensão do meu território e suas atividades econômicas produtivas.

    Novamente franzindo a testa ao olhar para o jovem, Brie percebeu que não conseguia discernir se ele operava com lucro ou prejuízo.

    Ao ouvir que eles distribuíam tantos recursos para pessoas não afiliadas, a palavra “insustentável” surgiu e gritou em sua mente. No entanto, pelo que parecia, ele também captava a esmagadora maioria do dinheiro produzido em seu território (o sonho de qualquer nobre), apenas para redistribuí-lo à população da forma e para os fins que bem entendesse.

    — Por quê? Só por quê? — perguntou a mulher, confusa. — O que você busca com isso? Deve haver maneiras muito mais fáceis de conseguir qualquer coisa que queira.

    — Por que nunca quis essa posição? Por que eu mesmo não tenho utilidade para tanto dinheiro? Por que precisava de uma estrutura para manter a minha família segura quando não eu estiver com eles?… Para fazer de Diana, que genuinamente se comove com o sofrimento alheio a ponto de parecer que se apieda do mundo, uma mulher feliz? — enumerou Alexander com uma tranquilidade que deixava claro que cada um de seus pontos era válido, quanto mais todos eles juntos. — Além do mais, fazendo tudo da forma que eu fiz, se nada muito sério ou do meu interesse acontecer, posso simplesmente pegar minha mulher e viajar rumo ao litoral, quem sabe até velejar… Onde está seu marido agora, minha senhora?

    O último comentário dele foi tão profundo e certeiro que pareceu um golpe duplo: um tapa na face e um soco no estômago ao mesmo tempo.

    O marido dela, Robert, como Duque da família Raiovas, detinha virtualmente todo o poder e autoridade sobre a família, se assim o desejasse (ainda mais porque ele talvez fosse o mais poderoso mesmo entre seus anciões predecessores), no entanto, todo esse poder também funcionava como grilhões que o mantinham acorrentado; sempre vigilante contra os de fora que ambicionavam derrubar sua família, ou mesmo contra os de dentro que cobiçavam seu lugar.

    A exaustão mental finalmente sobrepujou Brie, desgastando o último fio de sua disposição para prolongar aquele debate. Estava claro que o jovem, intencional ou estrategicamente, desconsiderava a maior parte das vantagens, fixando-se mais nas desvantagens; um foco compreensível, uma vez que ele próprio não estava preso aos incontáveis fios que teciam a rede de uma linhagem como os Raiovas.

    Sem o fardo de sustentar uma estrutura tão vasta, que abrangia desde membros do núcleo familiar até aliados e protegidos sob a bandeira deles, os ônus do poder soavam para ele como mera teoria.

    Reconhecendo a inutilidade do esforço naquele momento, Brie despediu-se dele perante o cansaço e resignou-se a retirar-se para dormir. Uma noite de sono lhe traria o vigor necessário para, no dia seguinte, enfrentar com disposição renovada aquele novo dia com seu filho.

    Ao amanhecer do 4º dia do 12º mês, Sophia, a protegida de Diana, despertou como havia feito nas manhãs anteriores: com a sensação de flutuar entre sonhos, mesmo estando plenamente acordada. Sua realidade ainda parecia um devaneio.

    Há menos de 1 ano, ela era uma jovem de origem humilde, tão comum que passaria despercebida por qualquer um. Naquele momento porém, vivia uma ascensão estelar após ter conquistado a simpatia de Alexander e, sobretudo, os cuidados de Diana.

    A Demi-canídea não apenas a acolhera com um carinho tão genuíno quanto fraterno (tratando-a como a uma irmã mais nova), como frequentemente dedicava parte de seu próprio tempo a auxiliá-la nas dificuldades. Um paradoxo gentil, uma vez que, como assistente pessoal, era Sophia quem deveria estar sempre a postos para servi-la.

    Os últimos dias, no entanto, haviam superado qualquer surrealismo anterior: ela já conhecia a nora de um duque, a mãe de Steve, fato; mas naqueles dias não só chegou a encontrar-se com uma duquesa colateral (a esposa de um verdadeiro duque), como dormira em um quarto exclusivo para si, em um belíssimo solar com vista para o mar.

    O solar, íntimo, porém imponente, que o casal disponibilizara para os hóspedes, era um mundo à parte: 3 andares além do térreo, 10 quartos amplos, 1 cozinha equipada para demandas grandes, 2 banheiros por andar, 1 salão de festas para recepções privadas e até havia espaço externo dedicado a um pouco de plantio e às árvores frutíferas.

    Não podendo deixar de notar a incongruência do casal possuir um solar daqueles enquanto viviam em pátios simples em um “pequeno forte-vila” em sua cidade principal, Brie não resistiu e indagou quando o grupo se reuniu para comer: — Este lugar parece mais adequado à posição de vocês… Por que manter uma propriedade dessas onde não ficam com frequência, enquanto vivem em aposentos mais simples na sua “casa habitual”?

    Compreendendo a confusão dela, o casal trocou um olhar cúmplice, sorrindo em sintonia, antes de Diana se voltar para responder: — Nós não ligamos exatamente para onde ou como ficamos, pois podemos moldar qualquer lugar ao nosso gosto, seja em um lugar melhor que este, seja ao ar livre… Por isso temos um solar semelhante a este na Cidade do Mar Imperial, mas eles servem apenas para receber convidados como a senhora, ou possivelmente sediar festas e eventos.

    Cada vez mais perplexa com a lógica aparentemente aleatória que regia as decisões do casal, a mulher simplesmente desistiu de tentar compreendê-los em sua essência e concentrou-se em sua refeição. Eles tinham combinado de ir até o mar, mesmo que a estação do ano não fosse das mais propícias para tal passeio.

    Assim que terminaram de comer, o grupo seguiu a pé até a praia da cidade, que ficava a poucos metros do solar onde estavam hospedados.

    O tempo não estava nada convidativo para entrar na água ou mesmo para atividades à beira-mar, mas Alexander não pareceu importar-se muito com o clima, como se desdenhasse tal impedimento perante a sua vontade.

    Ao ver as crianças do grupo hesitarem ante o frio, o dragonoid lançou um olhar a Diana, que lhe retribuiu com um assentimento, antes de ele bagunçar o cabelo do afilhado e dizer: — Não se preocupe. Eu não o traria para ver o mar se não estivéssemos preparados para lidar com adversidades como esta.

    Nem um pouco surpresa com aquela afirmação (vide as informações que circularam no ano anterior sobre ele manipulando o clima com poderosas explosões), Brie só trouxe o filho mais para perto, protegendo-o.

    No entanto, ao ver que Alexander não levantou voo e, em vez disso, começou a tecer uma grande massa de mana em conjunto com Diana, seu coração pareceu afundar; aquilo não deveria ser possível para pessoas tão jovens e em tão pouco tempo.

    Alheios aos pensamentos e à incredulidade da mulher do duque, o casal avançou em uníssono à frente do grupo e deu as mãos, entrelaçando o braço e os dedos num gesto de perfeita sintonia.

    — Que os céus respondam ao meu chamado… Que as nuvens tragam abundância sobre a terra… E, por mais efêmero que este momento seja, nele eu nego a tirania perene do sol sobre a terra!… |Chuva Elemental| — bradou Alexander, sua voz ecoando em um contraponto harmonioso à invocação de Diana: — Que a natureza seja meu poder… Que o ambiente seja meu corpo… Que o, vento, se torne a extensão da minha vontade… |Pseudo-Elemental|.

    — Integração Mágica! — evocaram ambos em uníssono, assim que suas energias primárias se estabilizaram. — |Avatar Climático|.

    Sob o poder pulsante que vertiam, uma forma majestosa começou a se materializar a partir da fusão entre a água e o domínio climático do dragonoid com a forma física e o controle eólico do Pseudo-Elemental canídeo.

    Das energias entrelaçadas de ambos, ergueu-se um avatar imponente (maior, mais radiante e etéreo), que se assemelhava a uma versão deificada e alada de Diana em forma humana, quase como um anjo dos ventos e das chuvas.

    Uma vez completamente formada, como se soubesse perfeitamente sua finalidade, a Diana etérea ascendeu aos céus, flutuando e batendo as asas.

    Sob seu comando, as massas de nuvens pesadas começaram a se dissipar em versões cada vez menores, sendo empurradas para longe até sumirem de vista por ventos fortíssimos; como um todo, o ambiente parecia se tornar mais quente a cada instante, enquanto os olhos da Diana original e de sua criação passavam a reluzir com uma luz intensa.

    Alguns minutos depois, com o céu completamente limpo e o clima da região até mais quente devido ao sol que passou a incidir abertamente sobre todos, a Diana etérea desfez-se em partículas de luz. O olhar atento de Brie então voltou-se para o casal, que claramente sentia o desgaste da magia, mas não demonstrava qualquer sinal de fraqueza verdadeira.

    Era surreal, completamente surreal. O que presenciou foi uma rara Integração Mágica.

    Enquanto magos aliados podem coordenar ataques (combinando manualmente seus poderes com relativa facilidade graças à sintonia de vontades e sentidos mágicos), a Integração Mágica é um fenômeno de ordem superior.

    Trata-se de uma capacidade que permite a magos fundir tipos diferentes de feitiços, criando um poder terciário, singular e drasticamente mais potente, elevando o seu resultado final a um patamar inalcançável por feitiços lançados em separado.

    Se as magias compostas permitem que um único usuário combine vários feitiços em um mais poderoso, a Integração Mágica só pode ser realizada entre indivíduos cuja conexão é tão profunda que beira a telepatia. Mesmo para eles, contudo, não deixa de ser um feito desgastante e extraordinário.

    Obs 1: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (00,00 R$ / 20,00 R$).

    Obs 2: Chave PIX para quem quiser, e puder, apoiar a novel: 0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b. Caso não consiga copiar a chave pix, é só clicar nela que vai ser gerada uma aba/guia que tem como URL/Link a própria chave pix com algumas barras nas pontas: https://0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b/, e é só retirar a parte excedente.

    Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, porventura, haja a publicação de capítulos adicionais.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (7 votos)

    Nota