Capítulo 307 – Fundações no Mar
Com um céu completamente limpo, o sol banhou o grupo e aqueceu ainda mais o clima da região. Enquanto Solas, Sophia e Steve avançaram para a beira d’água sob a supervisão de uma das empregadas, a outra ajudou Alexander e Diana a montar estruturas para que todo o grupo pudesse aproveitar a praia com mais conforto e amenidades: como bebidas e um espaço para preparar comida.
— Impressionante… Não só pelo que fizeram, mas também como fizeram — elogiou Brie com sinceridade, avaliando o casal antes de focar no dragonoid. — Magias assim requerem um entendimento mútuo muito forte… Como você conseguiu controlar tão bem um corpo que não era o seu?
— Parece que a senhora nos entendeu errado — respondeu Alexander, enquanto ajudava a montar o ambiente para o grupo. — Eu forneço e mantenho a forma; ela é o conteúdo, o fluxo e o movimento que guia o avatar e seu poder.
— De cima para baixo e de baixo para cima, não há ninguém que conheça melhor cada canto e recanto dela para lhe dar forma do que eu — acrescentou o dragonoid, fazendo as mulheres ouvindo-o corarem com a implicação de que ele conhecia o corpo de sua companheira mais do que ela própria. — E, por motivos óbvios, não há ninguém mais consciente de como controlar e moldar seu próprio corpo e poder do que a própria Diana.
— Mesmo assim, uma combinação tão avançada em uma idade tão jovem não é comum — retrucou a duquesa, recuperando a compostura rapidamente. — Esqueça o Império; isso deve ser raro até mesmo em Bariel e no Império Élfico, que são conhecidos por suas magias.
— Não é para tanto. Foi apenas algo sobre o qual eu li e resolvi testar sempre que tínhamos algum tempo livre — contestou Diana, querendo dar a entender que não passava de um experimento. — Por mais chamativo e interessante que seja, ainda estamos no começo. Da forma como está, a canalização em conjunto nos força a ficar praticamente imóveis, o que a torna inviável em qualquer cenário real que não esteja perfeitamente controlado.
Com a conversa chegando àquele impasse, a mulher não teve alternativa senão recorrer ao seu direito ao silêncio.
A verdade era brutal: ainda que ela e o marido tivessem um refinamento mágico superior e uma parceria muito mais longa, a integração mágica que conseguiam realizar não era muito mais avançada que a deles. Uma colaboração que, por si só, já era um feito e tanto; considerando que nem todo casal conseguia sequer criar um vínculo desse tipo, muito menos mantê-lo.
Sua vantagem sobre o jovem casal residia na conveniência: o elemento vento, comum a Brie e a Robert, concedia uma mobilidade que os jovens não possuíam. A primeira esposa do duque, no entanto, nem mesmo conseguia fazer uma integração mágica, dado o risco de o poderoso elemento raio pulsante dele eletrocutá-la até a morte através do próprio elemento água dela.
Assim que terminaram de montar tudo, Steve correu até eles e arrastou Alexander para a beira d’água; uma ocorrência comum, considerando que ele vivia pedindo ao dragonoid que lhe ensinasse ou explicasse algo. No entanto, quando Brie olhou para eles novamente, o maníaco do meio-aluno de seu marido já havia envolvido Steve em uma grande bola d’água e o lançara mar adentro; pior ainda: seu filho pulava e gesticulava, claramente ansioso para ser o próximo.
Disparando em direção a eles com seus poderes mágicos do vento, a mulher acabou desmontando parte do que haviam construído e lançando tudo ao ar para alcançar o filho; quase bufando de fúria, como se mal conseguisse conter o impulso de arrancar a cabeça do idiota imprudente à sua frente.
— Não se preocupe — disse Alexander, ainda se permitindo a ousadia de sorrir da reação da mãe superprotetora. — Não sou totalmente louco. A água absorve e mitiga a maior parte dos efeitos externos sobre quem é lançado, exceto a aceleração interna do próprio organismo.
— Claro que ele não vai fazer isso — vetou terminantemente Brie, para a tristeza de Solas. — Além de todos os contras, ele nem sabe nadar ainda.
— Mas parece que ele realmente quer tentar — apontou Diana, aproximando-se depois de recolocar as coisas que a mulher havia feito voar. — Se a senhora permitir, posso levá-lo e garantir que ele ficará bem.
Ainda mais grato à sua madrinha, Solas ficou circulando a mãe como um filhote pidão, até que ela concordou com um suspiro ao se virar para Diana: — Garanta que ele fique bem… Estou confiando que você tem mais juízo que seu companheiro.
Ao receber o aval e ver Diana abraçando o garoto para encapsulá-los em proteções extras, o dragonoid permitiu-se uma pegada muito mais íntima ao envolvê-los numa bola d’água. Então, segurou a canídea diretamente pela bunda e a lançou com tanta força que um estrondo sônico soou e o chão sob seus pés rachou.
— Seu idiota! — reclamou a mãe superprotetora, acertando-o com uma massa de mana ao ver como ele os havia lançado. — Se algo acontecer com ele, você vai me pagar com juros. Eu juro!
Recuperando-se rapidamente do golpe e limpando-se da areia, Alexander observou a grande bola d’água voar por cerca de 30 segundos antes de cair. Um feito e tanto, considerando a combinação de seu poder físico e mágico.
Como esperado, não demorou muito para Diana aparecer e retornar segurando Solas, literalmente deslizando sobre a água com ele.
A demi obviamente estava bem, mas o garoto estava com os olhos tão esbugalhados que pareciam faróis reluzentes protegidos por uma camada do poder dela. Ao que tudo indicava, a adrenalina daquele arremesso fora muito mais intensa do que qualquer coisa que ele já havia sentido, mesmo com a proteção de sua madrinha.
Assim que chegou à costa, Diana colocou o afilhado no chão gentilmente e desferiu um forte tapa no peito do noivo; não para machucar, pois não usara força para feri-lo, mas para deixar clara sua indignação. Dessa vez, ele havia ultrapassado todos os limites na brincadeira, e até ela reconhecia isso.
— Tudo bem, talvez tenha sido um pouco demais… Meu erro — disse o dragonoid, levantando as mãos em rendição. — Mas não se preocupem muito. Quando ele se acalmar, a recuperação será rápida, pois ele sabia que estava seguro com você ao lado dele. 1
Conforme Alexander havia previsto, com o passar do tempo e vendo Steve e Sophia se divertindo na orla, Solas foi aos poucos se reanimando assim que seu período refratário pela queda de adrenalina passou e seu ânimo voltou a subir.
Quando o grupo parou para comer, todos os mais novos já estavam suados de tanto correr de um lado para o outro; e isso que ficavam tomando vários banhos de mar sempre que sentiam muito calor.
Assim que todos terminaram de comer e estavam descansando sobre a estrutura montada, Alexander olhou para o céu, que voltou a mostrar sinais de se fechar, mediu o frio que começava a voltar ao ambiente, e levantou-se.
— Parece que a diversão vai ter que ficar por aqui — anunciou, confirmando que não era só um palpite ou sensação. — O clima invernal está se restabelecendo.
Não querendo ir embora tão cedo, Solas foi o primeiro a se manifestar: — Mas o senhor e a madrinha não podem fazer aquilo e limpar o céu de novo?
— Nós de fato poderíamos fazer isso — respondeu calmamente o dragonoid ao afilhado. — Mas isso pode gerar efeitos imprevisíveis, até mesmo para nós. A neve e a chuva não caem sem motivos; fazem parte de um ciclo.
— Algumas intervenções não teriam o menor problema, considerando o quadro geral de toda a região. Porém, se insistirmos nisso, efeitos colaterais verdadeiramente adversos podem surgir — explicou da forma que pôde, sem se alongar muito sobre o ciclo da água e das correntes de ar, e tudo mais que poderia estar interligado…
— Mas não se preocupe. Não podermos mais brincar não significa que temos que ir embora, nem que não haverá outros tipos de entretenimento — completou Alexander, começando a tirar as peças de roupa até ficar só de calção de banho.
Surpresos ao vê-lo despir a maior parte das roupas, revelando um físico esguio e musculoso, porém extremamente elástico, todos o observaram pular no mar e nadar para algum lugar. Ele emergiu em um ponto mais afastado em um salto, já com uma longa estaca de metal, descendo para fincá-la nas profundezas do leito marítimo.
Uma vez afixada a primeira estaca, o dragonoid seguiu mergulhando e emergindo da água em pontos estratégicos, sempre com novas estacas metálicas, que descia para fincar nas profundezas do leito marítimo até formar o perímetro desejado.
Após delimitar a área, para surpresa do grupo que observava de longe, ele puxou um novo tipo de estaca chapeada do seu item de armazenamento. Era consideravelmente mais longa e larga que as anteriores: uma estaca-prancha.
Com tudo posicionado, Alexander usou as estacas de metal como apoio e guia para criar elevações momentâneas de gelo nas posições exatas. Isso lhe permitiu fixar as estacas-pranchas com precisão ainda maior, cravar direto no leito rochoso sob a camada mais instável do fundo do mar.
Ele sabia que, embora possuísse uma força monstruosa, se dependesse apenas dele forçar as peças de forma bruta as chapas entortariam diante da pressão exercida sobre elas. E para evitar isso e conseguir interligá-las adequadamente por meio dos encaixes nas extremidades, o dragonoid precisou se elevar a uma altura sobre as estacas-guias para aplicar força vertical enquanto usava sua energia para perfurar o solo.
Simultaneamente, Alexander ainda gerou vibrações que auxiliavam na perfuração e distribuíam as forças por toda a peça, impedindo que ela começasse a entortar.
Assim que a primeira camada ficou pronta, o dragonoid voltou-se para o lado interno e iniciou uma segunda camada. Quando o grupo finalmente chegou até ele, já havia preenchido o espaço entre ambas as camadas com material granular, expulsando a água e formando um alicerce firme para se caminhar entre ambas as camadas.
— O que é isso que você está construindo no meio do mar? — indagou Brie, assim que observou melhor a estrutura sem compreendê-la.
— Por mais irônico que pareça, isto ainda não é nada, minha senhora. Ao menos, ainda não — informou Alexander, sorrindo para o grupo no barco. — Esperem um pouco, pois o que estou moldando é muito mais sensível, e isto aqui é apenas uma espécie de barreira, por assim dizer.
Sem esperar por uma resposta, o dragonoid pulou para a camada interna e usou sua força física e poder mágico para posicionar uma estrutura de suporte previamente fabricada, contraventando com escoras, no nível da água, aproveitando a flutuabilidade a seu favor.
No instante em que a grande peça saiu de seu anel de armazenamento e entrou em contato com a água, um chiado preciso ecoou: o metal havia sido resfriado para sofrer contração térmica e se encaixou perfeitamente no lugar designado.
Nos segundos seguintes, a peça começou a se expandir novamente, tornando-se cada vez mais firme à medida que a pressão externa aumentava e ele prosseguia com a secagem do interior.
Após usar seu |Domínio Aquático| e outras habilidades e técnicas mágicas da água, para drenar a área e encaixar mais estruturas de suporte (totalizando 3, antes de chegar ao leito marítimo), Alexander fez uma pausa. Dali em diante, as coisas se complicariam em um nível estrutural no qual não poderia haver erros.
Obs 1: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (00,00 R$ / 20,00 R$).
Obs 2: Chave PIX para quem quiser, e puder, apoiar a novel: 0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b. Caso não consiga copiar a chave pix, é só clicar nela que vai ser gerada uma aba/guia que tem como URL/Link a própria chave pix com algumas barras nas pontas: https://0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b/, e é só retirar a parte excedente.
Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, porventura, haja a publicação de capítulos adicionais.
- Similar à sensação do primeiro salto de bungee jump ou paraquedas.[↩]

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