Capítulo 308 – Mar, Magia e Concreto
Assim que recuperou o fôlego e recapitulou mentalmente os próximos passos, o dragonoid, ciente de que era observado de cima pelo grupo, voltou-se para o topo e disse: — Diana, desça aqui. Vou precisar da sua ajuda… Aos demais, afastem-se para um local seguro e protejam as crianças. Este próximo passo pode fazer a estrutura toda colapsar e desmoronar sobre nós, tragando tudo que estiver por perto.
Sem espaço para argumentação (ainda que ela nutrisse grande curiosidade sobre o que ele faria), Brie, lembrando-se de que estava com seu filho, assentiu e conduziu o resto do grupo para longe, enquanto a Demi descia para se juntar ao companheiro.
Depois de confirmar que os demais haviam se afastado e que não havia mais olhos curiosos à espreita, Alexander sorriu e voltou-se para sua noiva. — Agradeço se você ficar de prontidão para uma emergência, mas não precisa se preocupar muito. A chance da estrutura ceder é bem baixa.
— No entanto, preciso mesmo da sua ajuda para algo além de espantar aqueles olhos curiosos — apontou ele ao mostrar que o nível da água estava lentamente subindo. — Como pode ver, a água está se infiltrando através da terra, e isso vai piorar quando eu remover todo o solo até alcançar o estrato rochoso com o [Anel do Deus Ladrão]. Quero que você reduza a infiltração o máximo possível assim que eu posicionar o último sistema de apoio e fixação.
Assentindo com um sorriso animado e cúmplice, Diana prontamente se preparou ao vê-lo ajoelhar-se, colocar a mão no leito marinho e espalhar sua energia por toda a extensão do solo até as profundezas. Ele literalmente marcou e destacou a área que queria remover antes de extrai-la com o poder do seu anel, criando um grande vão.
A Demi não podia deixar de se sentir útil e realizada sempre que ele a chamava para ajudar. Porém, se ele se dava ao trabalho de recorrer a ela, era porque a tarefa era realmente hercúlea, como aquela.
Assim que a massa de terra foi armazenada no anel de uma só vez, o vácuo resultante aumentou a pressão externa devido à falta da resistência interna que ela oferecia.
A água começou a se infiltrar tão rapidamente que o casal precisou se mover com agilidade para posicionar o último suporte de contraventamento com escora e cravar os tubos ocos no próprio leito rochoso 1 para a fixação definitiva da estrutura.
Com a estrutura finalmente posicionada, o casal pôde trabalhar em conjunto (não apenas bombeando a água para fora, mas também criando uma vedação mágica contra a infiltração). Habilidades mágicas da água e da terra atuando em perfeita sintonia, enquanto o dragonoid aproveitava para esvaziar os tubos ocos no leito rochoso e colocar ferragem neles, preparando-os para a etapa final: a concretagem.
Puxando itens obviamente preparados com antecedência de seu armazenamento, o casal começou a despejar concreto nos tubos até transbordarem, preenchendo desde a parte rochosa até o nível do leito marinho para formar uma vedação de concreto.
Assim que toda a área desejada foi preenchida, Alexander criou uma “tampa” com pequenos furos usando sua habilidade |Constructo de Combate| e prensou todo o concreto levemente enquanto ainda emitia vibrações para estourar as bolhas de ar maiores. O excesso era expelido pelos pequenos furos, aliviando a pressão sem causar uma compactação excessiva.
Por último, estendeu uma camada de metal armado sobre a concretagem (para que aderisse desde o início e servisse como base para os trabalhos futuros junto com os tubos) e usou sua afinidade mágica com água e luz para gerar vapor de alta umidade, promovendo uma cura térmica externa, e, internamente, usou sua mana da água para manter a estabilidade estrutural sem comprometer a integridade da construção, já que a mana não possuía massa bruta naquela forma, comportando-se quase como uma propriedade etérea.
Suando profusamente com o esforço, Alexander pegou Diana e voou para fora da ensecadeira finalmente concluída. A camada de vedação já estava firme o suficiente para conter a água, embora ainda necessitasse de alguns dias de cura adequada antes de poder ser trabalhada em uma construção definitiva.
— O que é exatamente isso? — perguntou Brie, que retornou até eles assim que os viu sair da estrutura e se sentar para descansar sobre os sedimentos de vedação entre as camadas de placas pranchas.
— Uma ensecadeira — respondeu o dragonoid, encerrando o mistério. — Como o próprio nome indica, ela em si não é o objetivo final. É um meio para deixar uma área marítima seca e adequada para construções robustas e firmes.
Ao compreender a função da construção, a mulher imediatamente olhou ao redor, já projetando mentalmente o que estava por vir, e declarou: — Você quer construir uma ponte… Uma que cruze o mar e ligue a cidade de Port ao seu arquipélago.
Ao receber a confirmação, Brie sentiu uma estranheza.
Não importava o quão louca fosse uma ideia ou ambição, se a pessoa tivesse de fato a capacidade de cumpri-la. E parecia que aquele jovem tinha.
— Se você realmente conseguir construir algo eficaz e duradouro, seu nome entrará para a história e será requisitado para diversos outros trabalhos — apontou Brie, não apenas como pessoa física, um indivíduo, mas como a esposa de um dos duques do império.
— Esqueça — cortou Alexander rapidamente, com seriedade. — Construir essas coisas dá um trabalho infernal e um prejuízo maior ainda. Só vou fazer esta ponte porque seria uma encheção de saco ainda maior ter que ficar cuidando de gente se afogando ou sendo atacada por criaturas ao tentar a travessia por conta própria.
Surpresa com aquela resposta, a duquesa consorte não pôde deixar de franzir a testa com força. Um feito daqueles, com toda certeza, tornaria a família deles uma família condal se colocada a serviço do Império; e até mesmo uma unificação dos viscondados sob o título de marqueses não seria impossível com o passar dos anos, se jogassem bem suas cartas com a alta nobreza.
Alheio aos pensamentos da mulher, o dragonoid descansou mais um pouco e ainda posicionou novas bases no mar em ambos os lados do que seria o pilar central naquele mesmo dia. Dessa vez, as estruturas escolhidas foram caixões circulares e cilíndricos: estruturas pesadas de concreto armado com muita ferragem, previamente fabricadas e tecnicamente mais fáceis de fixar depois de corretamente posicionadas, precisando apenas que ele cravasse tubos e estacas no leito rochoso e preenchesse os vãos com concreto enquanto expulsava a água.
Sabendo que frio e cura de concreto não eram a melhor combinação, Alexander decidiu passar algumas noites descansando a céu aberto próximo à construção, aquecendo-a e auxiliando no processo de secagem com vapor úmido. Durante o dia, ele e Diana mantinham o clima limpo na região para as crianças brincarem, e à noite, deitavam-se ali mesmo, otimizando a cura que levou bem menos tempo do que levaria na Terra para ficar pronta.
Na manhã do 12º dia do 12º mês, após o concreto ter exigido quase uma semana de cuidados contínuos para curar adequadamente, os trabalhadores da 2ª, 3ª, 4ª e 9ª divisões da facção DragonSeal surgiram para assumir a construção do pilar central da ponte (a partir da ensecadeira) e da ponte em si. Eles representavam, respectivamente, a logística, a forja e produção tecnológica, a alquimia e produção de insumos, e o suporte logístico de sua facção.
Este era o último grande trabalho antes da abertura oficial de seu arquipélago, marcada para a virada do ano, que coincidia com seu aniversário.
Cansada de se surpreender com a escala monumental que um simples mergulho havia tomado, Brie ignorou o espanto e focou no que lhe dava prazer: observar a paisagem e cuidar do filho, para tornar a viagem valiosa. Ela não sabia que, desde o momento em que pensou em conquistar o arquipélago, a ideia de uma ponte já habitava a mente do dragonoid; e que, desde sua conquista efetiva (mais de meio ano atrás), ele havia ordenado o início da produção de todos os preparativos necessários para erguer a estrutura como parte da reestruturação do território obtido.
O último grande feito da obra (além da construção em si) ocorreu quando os pilares da ponte ficaram prontos: 3 dentro d’água; e 2 em terra, um em cada cabeceira.
Com um grande esforço mágico, o casal revestiu cada pilar com granito como proteção adicional contra a água, cobrindo desde a base submersa até as partes expostas.
O cimento do concreto utilizado já era hidráulico, ao estilo romano, lidando bem com a umidade. No entanto, a intervenção deles trouxe um novo nível de excelência.
Usando a habilidade |Liquefazer Solo| de Diana para tornar o granito maleável e o |Constructo de Combate| de Alexander para moldá-lo, eles não só embelezaram a estrutura basal da ponte, como também aumentaram significativamente a sua resistência contra o desgaste e a erosão marinha.
Quase cedendo à exaustão, o casal (e, por extensão, toda a sua facção) mostraram ao mundo, pela primeira vez de muitas, do que eram capazes quando interessados.
Ao ser informado sobre a obra concluída, o próprio duque Marvin foi até o local e surpreendeu-se com sua magnitude. A estrutura era claramente vulnerável e poderia colapsar diante de força suficiente, mas possuía, sem dúvida, uma base muito mais sólida do que as fundações precárias que existiam anteriormente no mar.
Não era preciso ser um gênio para prever o pedido que viria do duque que era protetor do mar imperial. Por isso, Alexander havia desaparecido com Diana antes mesmo de sua chegada, e dos inevitáveis pedidos dele.
Os demais membros do grupo também já haviam retornado, pois, com o fim do mês se aproximando e as construções concluídas (incluindo o tempo necessário para a cura do concreto), era hora de retomar suas rotinas.
Alguns dias depois, ao retornar para casa, Brie reuniu-se com Robert para relatar sua experiência. Sua avaliação final cristalizou-se num pensamento inquietante: para a estabilidade do império, teria sido melhor que aquele jovem casal jamais tivesse se unido. Era poder e potencial demais em mãos que se recusavam a jogar o jogo.
Obs 1: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (00,00 R$ / 20,00 R$).
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Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, porventura, haja a publicação de capítulos adicionais.
- Camada rochosa e estável abaixo das camadas mais leves do leito marinho, como a própria areia, sedimentos e cascalhos.[↩]

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