Capítulo 3?? (10) – Início da Caçada

Imerso em uma rotina que antecedia o próprio jogo, Juliel se arrumou, tomou o seu café e foi para o estágio como analista fitoquímico. Um estágio um tanto quanto maçante, por receber as piores partes, como era comum entre estagiários, mas que não apenas era da sua área de formação, como também era do campo em que queria se especializar: a fitoquímica

No auge de seus 21 anos e recém-formado em Química, mesmo um estágio como aquele seria difícil de conseguir sem os contatos certos e muito esforço por parte do pai dele. Daí o motivo de qualquer forma de não levar aquele estágio a sério ser um completo campo minado dentro da própria família.

Acostumado à própria rotina corriqueira, ele chegou ao seu estágio e começou a desempenhar suas funções no laboratório. Porém, absorto nos próprios afazeres, ele nem percebeu que, por todo o caminho até ali, e mesmo no estágio, as pessoas habituadas a interagir com ele pareciam olhá-lo com uma certa estranheza; como se ele estivesse diferente, mas de uma forma que não soubessem dizer como.

Obviamente, Alexander não desencadeou uma mudança quase milagrosa nele. No entanto, Juliel, subconscientemente, estava mais consciente da sua postura, o seu olhar estava mais nítido e suas ações estavam menos hesitantes.

Alheio à estranheza e aos pensamentos dos outros, ele seguiu o seu dia sob aquele murmurinho no laboratório, até que, já no turno da tarde, perto do horário de sair, uma das mulheres do laboratório, representante do próprio grupo ou aquela que perdeu na sorte, foi até ele para sondá-lo: — E aí, Juliel. Você parece mais calado do que o normal hoje… Por que não espera um pouco e sai com o pessoal do laboratório para um happy hour?

— Obrigado pelo convite, Jully. Mas hoje não vai dar — respondeu o jovem com a leveza da noção zero que tinha do que estava acontecendo. — Está quase na minha hora e ainda tenho que fazer alguns preparativos… Por falar nisso, que presentes você acha que uma mulher iria gostar de receber?

Atônita, como quem levou um balde de água fria na cara, a mulher piscou um pouco e o olhou bem, à procura de falsidade, mas acabou ainda mais sem jeito ao notar que a outra parte estava realmente pedindo ajuda, e não tentando fingir algo para enganá-la, e então respondeu: — Bolsas e sapatos são sempre boas opções, caso não queira errar ao se arriscar em algo muito pessoal.

Feliz pela ajuda que recebeu, Juliel a agradeceu e saiu assim que arrumou as suas coisas após dar seu horário. Como estagiário de um laboratório terceirizado, a sua remuneração era menor, mas a sua carga horária também era de apenas 6 horas…

Sem tempo a perder para conseguir voltar antes da hora do jantar, ele dirigiu-se ao shopping mais próximo para comprar os presentes. Porém, após olhar por todas as vitrines, nenhuma delas parecia ter algo mais no estilo da sua mãe.

Não desanimando com aquilo, o centro comercial foi seu próximo destino. O lugar não era inteiramente climatizado, no entanto, foi lá onde finalmente encontrou os itens que lhe agradaram.

Para sua mãe, que gostava de espaço e funcionalidade, ele comprou um sofisticado conjunto de bolsa e carteira de tamanho médio, na cor marrom; para sua irmã, um salto preto pelo qual ela vinha economizando há algum tempo; e para o seu pai, um novo relógio de pulso, mais esportivo e mais arrojado.

Animado por ter comprado todos os presentes e ainda lhe sobrado algum dinheiro, Juliel já estava indo embora quando acabou passando por um centro de artigos esportivos marciais e decidiu entrar. — Com licença, vocês teriam algum bastão para a prática e o treino marcial?

— Claro. Nós temos vários modelos disponíveis para venda e encomenda — sorriu o vendedor cordialmente ao ver um novo cliente… Porém, após olharem todos os bastões disponíveis, nenhum deles era como o [Bastão do Eremita].

— Que tipo de bastão você está procurando, meu caro? — perguntou um novo senhor, esse um pouco mais velho.

— Para falar a verdade, nem mesmo eu sei ao certo. Eu apenas queria algo mais próximo de um que cheguei a ver antes — respondeu Juliel, aceitando um bloco de papel do homem e desenhando da melhor forma que conseguia.

— Agora eu entendi qual é o “problema” e por que não temos nada parecido com o bastão que você descreveu por aqui — explicou o homem mais experiente. — Isso não é um equipamento esportivo ou algo recreativo, é uma arma… Veja bem, esses revestimentos de ferro ao longo dele são claramente para aumentar o dano e a durabilidade do bastão, ampliando sua letalidade e defesa contra outras armas.

— Entendo… — disse o jovem, visivelmente lamentando.

— Não me entenda mal, garoto, eu não disse que era impossível conseguir um… Eu estou apenas o alertando para ter cuidado, e o deixando ciente de que o preço vai sair acima do valor de mercado — esclareceu o vendedor. — Ademais, para mim não importa tanto. Sendo honesto, no fim das contas, todos os nossos bastões são, de certa forma, armas também.

Grato pelo lado compreensivo do vendedor mais velho, Juliel usou quase todo o dinheiro que ainda tinha para encomendar o seu bastão, e então pediu um carro para casa com o resto, a fim de não arranhar e/ou danificar os presentes.

Ao chegar em casa quase ao mesmo tempo que seu pai por conta do horário, ele reuniu toda a família na sala e começou a lhes entregar seus presentes. Mas, para além do ânimo já esperado, também vieram as dúvidas.

— De onde você tirou dinheiro para comprar tantos presentes assim? — indagou seu pai com certa estranheza. — Eles não são os melhores modelos do mercado, porém, a soma de todos deve ter custado uma quantia substancial.

— Não se preocupe, pai. Eu já paguei por todos integralmente com o dinheiro que consegui com o jogo — respondeu Juliel sorrindo. — Eu acabei dando a sorte de encontrar uma mina abandonada com algumas moedas de ouro no jogo, e, como agora as moedas de lá podem ser convertidas em dinheiro real, achei que deveria compartilhar esse meu primeiro ganho com toda a família…

Assentindo com um olhar cheio de satisfação pela atitude dele, seu pai não fez mais perguntas enquanto, diretamente, provava seu relógio novo e gesticulava para que sua mulher também pegasse o presente dela. A irmã dele era a mais animada de todos, pois não iria mais precisar gastar suas economias no salto e poderia guardar seu dinheiro para outras coisas.

Genuinamente feliz ao ver a felicidade de todos, o jovem não pôde deixar de pensar em Alexander e agradecê-lo silenciosamente pela dica. Apesar de todos os recursos que ele poderia comprar no jogo com o dinheiro gasto nos presentes, ele realmente passou a acreditar que nenhum item o faria tão feliz assim.

Pleno com o dia que teve, Juliel tomou um bom banho, jantou com a sua família, esperou dar 9 horas da noite para aproveitar o restante de suas 3 horas diárias no jogo e, então, voltou a mergulhar na imersão digital de Yggdrasil.

— Fico feliz que tenha voltado tão cedo, se comparado às outras vezes, uma vez que temos algumas questões para resolver. No entanto, antes de qualquer coisa, verifique o seu nível, pois os tipos de criaturas que eu estava pensando vão começar a se tornar mais ativas daqui a pouco; e aí vai ser um inferno capturá-las, uma vez que estamos restritos ao nosso território — informou seu campeão, com certa urgência na voz, assim que o viu. — Eu mapeei as úteis enquanto estava fora…

Sem pensar duas vezes, Kyle rapidamente olhou seu status, e, assim que confirmou que o mesmo havia alcançado o nível 10 com o XP da última construção, Alexander o segurou e disparou com ele para os limites do território deles.

Confuso sobre o motivo de eles terem parado na borda do território, de frente para as cavernas no começo da cadeia de montanhas do mapa, o jovem olhou de um lado para o outro à procura do que estavam procurando, até ver o seu campeão condensar uma massa de luz com um sorriso caótico, quase piromaníaco, e jogá-la dentro de uma caverna, causando uma grande explosão luminosa. — Buuuuum.

Antes que Kyle pudesse se recuperar ou processar o que estava acontecendo, os olhos de Alexander pareceram se afiar no exato momento em que uma nuvem de morcegos voou para fora da caverna, e ele lançou uma espécie de corda de seda que, nitidamente, já havia preparado de antemão, capturando um deles.

Ao puxar a criatura até eles com facilidade, o campeão rapidamente amarrou suas asas e vendou os seus olhos, respondendo com deboche ao olhar julgador do seu lorde: — Se acha que isso é exagero ou um manuseio desnecessário, então você é burro. Mesmo toda amarrada, essa coisa ainda é mais forte e letal do que você…

— Uma vez que você está me julgando por isso, vamos ver quanto tempo ela leva para corresponder sua consideração e te devorar inteiro — acrescentou, sorrindo.

Assustado ao ver a outra parte realmente abandoná-lo à mercê da criatura, ao pular para o galho de uma árvore, o jovem rapidamente puxou o seu bastão e deu alguns passos para trás, hesitante. Uma atitude bem sensata, pois assim que sentiu o afastamento do dragonoid, a criatura se lançou sobre ele com tudo o que tinha.

Instintivamente colocando seu bastão entre eles, Kyle foi derrubado com força no chão enquanto o impulso do morcego ainda manteve o seu ímpeto por um pouco mais de tempo, até que finalmente caísse no chão como podia. Se as asas dele não estivessem retidas e sua mobilidade no solo fosse tão ruim, a luta já teria acabado de uma forma completamente unilateral para a fera.

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Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, porventura, haja a publicação de capítulos adicionais.