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    Apenas considerando os Cristais dessa segunda lista, que incluía criaturas diversas, era possível obter mais de 300.000 moedas de prata. Se somasse ambos os valores, totalizaria mais de 400.000! Essas não eram somas com as quais se poderia lidar facilmente!

    Deve-se saber que a menos que se fosse uma das grandes empresas comerciais, qualquer outro teria dificuldade em escoar esse volume de negociações. Mais do que isso, para comprarem tantos de uma única vez, seria necessário investir muito dinheiro!

    Quem é esse homem afinal?! Rani perguntou-se, assustada, enquanto olhava para o jovem pálido a sua frente. De repente, lembrou-se de algo que seu pai, Aldric, havia comentado.

    Quando ele era apenas um Representante em Aquilones e encontrou essa pessoa pela primeira vez, Fernando havia citado ser ‘CEO’ de uma empresa chamada Linha Negra. Devido à negociação extremamente chamativa e lucrativa da época, Aldric buscou de forma incessante por informações sobre ela, mas não obteve nenhum resultado.

    Pode ser que ele faça parte de alguma organização do submundo? Talvez uma Guilda das Trevas? A garota loira, com mechas de cabelo azul, perguntou-se, assustada. Se esse fosse o caso, explicaria como o rapaz havia conseguido financiar a compra de tantos Cristais e porque não conseguiram encontrar nada sobre essa tal Linha Negra. Entretanto, não explicava porque estavam procurando as Lojas Etéreas de Belai para cuidar da venda. Pode ser que eles estejam planejando nos usar como fachada?

    Era comum que Guildas das Trevas, que não conseguiam fazer grandes negociações abertamente, usassem grupos comerciais para lavar o dinheiro obtido. Assim conseguindo grandes somas ou recursos bem embaixo do nariz do Conselho Superior.

    Apesar de assustada ao chegar a essa conclusão, Rani manteve a compostura. Se o Batalhão Zero fossem infiltrados de uma Guilda das Trevas nos Leões Dourados, esse era o tipo de problema que eles definitivamente não deveriam se envolver! Qualquer grupo comercial pego trabalhando com esse tipo de organização sofreria pesadas consequências.

    “E-essa quantidade, é simplesmente demais para lidarmos… Receio que não possamos aceitar.” respondeu, enquanto observava o rosto do rapaz pálido, que se manteve inexpressivo a todo momento. Essa falta de reação apenas a assustou cada vez mais.

    “Não conseguem? Você tem realmente certeza disso?” perguntou de forma calma, mas sua forma de falar causou arrepios na garota, assemelhando-se a uma ameaça velada. Em relação a antes, quando ela o via apenas como um jovem Tenente um pouco talentoso e maluco, agora suas palavras e ações pareciam carregar muito mais peso.

    Pai, que tipo de gente você se envolveu?! exclamou mentalmente, tremendo.

    Fernando, que estava completamente inconsciente das deduções sem sentido da garota, ficou pensativo, então levantou três dedos.

    “Trinta porcento.” disse, de forma pausada, fazendo-a se perguntar no que ele estava falando. “Se conseguirem lidar com isso, receberão trinta por cento de todo o lucro, não só isso, como estou disposto a entregar-lhes de forma permanente os direitos de propriedade da antiga Residência de Guilda em Belai pertencente ao Batalhão Zero.”

    Ao ouvir isso, não só Rani, mas até mesmo Argos e Theodora ficaram chocados.

    Se deduzissem do faturamento da venda total, os gastos de compra e de investimento e qualquer custo operacional que se teria na distribuição e venda desses Cristais, ainda sim estavam falando em um lucro estimado de mais de 300 moedas de ouro, 30% desse valor seria o equivalente a 90.000 moedas de prata! Se somasse ao valor comercial do edifício alugado pelo seu pai, que era de algumas dezenas de moedas de ouro, a Loja Etéreas obteriam uma soma astronômica de dinheiro!!

    “I-isso… Eu…” Rani falou, gaguejando, sem saber como responder a uma oferta tão bizarramente assustadora e tentadora. Mesmo sem ter certeza dos números exatos, sabia que era uma negociação extremamente vantajosa para a Loja Etérea de Belai.

    Como eles estariam fazendo apenas um trabalho de revenda e repasse de produtos, o normal era receber apenas cerca de 5-10% de comissão, o que já era um alto valor, mas o jovem pálido estava oferecendo várias vezes mais! Ao calcular o lucro potencial, a garota loira começou a suar frio.

    Sua mente começou a vacilar, seu medo em trabalhar com uma possível Guilda das Trevas estava lentamente diminuindo, quando de repente decidiu-se.

    Seja quem ou o que eles forem, isso não me diz respeito. Contanto que nos paguem bem, não importa de onde venha o dinheiro! pensou, lembrando-se da essência que todo comerciante deveria ter, onde os lucros deveriam estar acima de tudo!

    “V-vai ser bem difícil, mas se for assim, acho que podemos concordar.” declarou, respirando pesadamente. “Mas para uma operação desse tamanho, vamos precisar fazer algumas preparações e contactar alguns parceiros comerciais. Afinal, nossa Loja Etérea não costuma lidar frequentemente com esse volume de transações e itens.”

    Apesar de venderem todo tipo de coisas e serem famosas em toda Avalon, as Lojas Etéreas eram conhecidas principalmente como uma grande distribuidora de Poções, raramente se envolvendo em outros ramos. Como uma distribuidora, apenas uma pequena porcentagem do que vendiam era produzido diretamente por eles, geralmente contratavam Guildas e grupos de Alquimistas para abastecer suas lojas. Sendo assim, por meio desses parceiros com quem tinham relações comerciais, era possível escoar grande parte desses Cristais, que seriam vendidos para fazerem mais Poções e itens similares.

    O único problema, é que para fazer isso, eles talvez precisassem contactar a sede das Lojas Etéreas, pois era algo muito além do que a filial de Belai poderia lidar sozinha. 

    Além disso, havia outra questão que requeria atenção. Todo esse negócio deveria ser realizado no mais absoluto sigilo. Se vazasse que a filial de Belai estava fazendo operações de larga escala na área de compra e venda de Cristais da Zona Divergente, que geralmente era uma área onde apenas os grandes ‘tubarões’ se envolviam, eles muito provavelmente estariam com problemas.

    Mas mesmo com todas essas dificuldades, Rani havia se decidido, ela definitivamente faria isso dar certo!

    “Muito bem, então acho que temos um acordo.” Fernando declarou, com um leve sorriso, estendendo a mão sobre a mesa.

    “Ah, s-sim, é claro, senh-, digo, Tenente.” A mulher falou, tentando manter sua antiga elegância, apertando suavemente a mão do rapaz.

    No fim, ambos definiram um contrato pelo Banco Branco, regido pela Grande Legião Torre Branca. Como uma das Dez Grandes Legiões, ela possuía um grande prestígio, possuindo uma das maiores instituições financeiras de toda Avalon. Qualquer contrato firmado sob sua supervisão seria absolutamente cumprido, caso contrário, a parte que quebrasse o acordo sofreria pesadas consequências. Isso era algo que a Torre Branca prezava muito, então sempre fazia valer.

    Obviamente, para se firmar um acordo pelo Banco Branco era necessário pagar uma taxa de operação de 3% em relação ao valor do contrato. Mesmo que parecesse irrisório, num contrato de 300.000 moedas de prata, isso seria equivalente a 9 moedas de ouro. Ainda que fosse um valor alto apenas para uma simples supervisão, era a melhor forma de ambos os lados se sentirem seguros.

    Após algumas discussões, Fernando e Rani chegaram a um consenso sobre várias das cláusulas de venda, incluindo possíveis variações de mercado e da venda dos Cristais. E, por fim, assinaram o contrato.

    Inicialmente o jovem Tenente ficou em dúvida sobre a validade, enviando algumas mensagens ao seu Sargento, mas o próprio Argos confirmou a segurança de contratos firmados pelo Banco Branco.

    “Muito bem! Atualmente a Torre Branca não estabeleceu nada na Garância recém retomada, então vou precisar mandar o contrato para ser validado em Belai, isso deve levar alguns dias.” A garota loira explicou e Fernando e os demais concordaram. “Bom, acho que já resolvemos tudo, então…”

    Antes que pudesse terminar e se levantar, o jovem Tenente a interrompeu.

    “Ainda não terminamos. Não a chamei aqui apenas por isso.”

    Rani olhou em volta, sem entender. Eles haviam acabado de fechar um tremendo negócio, o que mais havia para tratar?

    “Nosso antigo acordo citava que eu deveria vender tudo a vocês, incluindo materiais, certo?”

    “I-isso, é verdade…” A garota respondeu, hesitante.

    “Então vocês irão comprar isso de nós.” Ao dizer isso, pediu que Theodora entregasse uma terceira lista, dessa vez com os materiais que eles tinham em estoque, que incluíam corpos de Orcs, Ogros, restos de Besouros Buba, uma Mandazia sem cabeça, alguns restos de Surais, já que apenas sua carne era útil para eles, bem como corpos de Ciclopes e até mesmo seus olhos!

    Vendo tudo aquilo após tantos altos e baixos, Rani já não conseguia mais ficar surpresa, apenas aceitando. Em relação ao negócio anterior, esse pelo menos era mais fácil de lidar, já que envolvia materiais diversos. Mesmo que tivessem coisas extremamente raras dentre elas, como olhos de Ciclopes, essa era uma área que as Lojas Etéreas estavam mais habituadas. 

    No entanto, apesar de não saber o valor exato de tudo aquilo, ela conseguiu supor que seriam pelo menos umas 50-70 moedas de ouro. Mesmo que fosse uma soma que empalidecia em relação ao contrato dos Cristais, ainda era uma quantia enorme de dinheiro!

    “Eu vou precisar de tempo até que alguns dos meus associados analisem em que condições estão todos os materiais para pudermos estipular o valor a ser pago, mas…”

    Antes que ela pudesse complementar sua resposta, Fernando mais uma vez interviu.

    “Deixa eu adivinhar, vocês não conseguem pagar por tudo isso em dinheiro?” perguntou, com um meio sorriso.

    A garota ficou levemente envergonhada, acenando com a cabeça.

    “Nós ainda estamos nos firmando em Belai, então investimos muito dinheiro em rotas comerciais, guardas e produtos. Portanto, nosso dinheiro em caixa é insuficiente para cobrir uma transação como essa.”

    O jovem Tenente, obviamente, não acreditava nessa afirmação. Se fosse antes, quando a filial de Belai havia acabado de ser aberta, ele poderia ter aceitado essa afirmação como uma verdade. Mas agora, cerca de um mês depois, ele duvidava que esse fosse o caso. Muito provavelmente a garota apenas queria negociar de outras formas e diminuir seus custos, o que o rapaz também não desgostou, pois também era do seu interesse.

    “Vou te enviar uma quarta lista, dessa vez com itens e Poções que preciso, podemos seguir como da última vez em que negociei com o senhor Aldric, com parte do pagamento em produtos a preço de custo e a outra em dinheiro.” declarou. “Tem algum problema com isso?”

    Ao ouvir isso, os olhos azuis da garota brilharam, mostrando que seu lado comerciante ainda estava faminto por lucros, mesmo após fechar aquele contrato monstruoso.

    “Absolutamente não, senhor!” respondeu, mal conseguindo conter sua empolgação. Apesar de parecer que eles teriam algumas perdas na parte de produtos a preço de custo, ainda era muito mais econômico que trabalhar diretamente com dinheiro e eles poderiam compensar isso na revenda desses materiais.

    No fim, Fernando entregou algumas Pulseiras de Armazenamento com os itens para serem avaliados por ela e sua equipe que estava presente em Garância e o pagamento seria feito quando a próxima caravana, com o contrato firmado, retornasse.

    O rapaz não estava preocupado em ser enganado, já que no momento, ele e as Lojas Etéreas estavam no mesmo barco. Se eles tentassem traí-lo, ele estava confiante em levá-los para baixo consigo.

    Depois de tudo acertado, Rani deixou apressadamente o restaurante acompanhada dos dois homens de antes. Assim que ela saiu, vários dos ‘clientes’ no local começaram, um a um, de forma discreta, a partir, provando que eram todos seu pessoal. Logo restaram apenas Fernando, Theodora, Argos e Lerona, que estava em outra mesa distante, parecendo estar entediada. 

    Vendo o estabelecimento esvaziar-se por completo em poucos minutos, a Capitã levantou-se e foi até o lado de fora, para dar mais espaço ao rapaz. Com um local tão vazio, ela poderia acabar ouvindo algo mesmo que não quisesse.

    Com a partida dessas pessoas, o homem de longos cabelos negros tomou a frente na conversa.

    “Líder, quanto a sua pergunta de antes, acho que já está claro, mas nós fomos bem sucedidos.” O homem disse, com confiança.

    Ouvindo isso, Fernando assentiu, com alguma empolgação.

    Quando partiram de Belai, ele havia enviado Argos e alguns de seus homens para estabelecerem uma Rede de Inteligência própria. Tendo investido uma quantia considerável de fundos, no valor de 50 moedas de ouro.

    O jovem Tenente não conseguia mais confiar nas informações que chegavam pelos Leões Dourados, que sempre vinham com notícias manipuladas ou omitindo aspectos cruciais. Devido à batalha oculta entre a facção de Dimas Ortega e Wayne, as pessoas que vieram de Vento Amarelo haviam claramente sido jogadas nesse turbilhão sem direito a escolha.

    Uma prova disso, é que eles só souberam sobre o ataque dos Elfos Negros no Norte muito após dele ter acontecido. Não só isso, como havia chegado até Belai noticias que diziam que parte do território humano além de Aquilones havia sido tomado e suas cidades destruídas, mas Fernando eventualmente soube pelo próprio Dimitri e também por investigações de Argos, que isso não era exatamente verdade.

    “Atualmente eu usei uma identidade falsa e criei uma pequena Guilda de Notícias em Garras do Sul chamada Sopro Noturno. Oficialmente, no papel, nós buscamos e vendemos noticias como qualquer outra guilda, mas, obviamente, é apenas uma fachada para nossa real finalidade que é agir como uma Rede de Inteligência. Assim podemos coletar informações por meios legítimos, conforme as formalidades legais, sem atrair qualquer atenção indesejada.” O sujeito explicou.

    Ouvindo tudo isso, Fernando assentiu. Theodora, por outro lado, não parecia satisfeita, principalmente porque ela não foi incluída nesse planejamento desde o início.

    “É melhor ter usado nossos fundos corretamente, se você desviar mesmo que uma única moeda…” disse, fazendo um sinal de degolar com a mão direita. “E nem pense em pedir por mais.”

    Argos sorriu de forma brincalhona com a ameaça.

    “Não tenha dúvidas de que usei cada moeda dada pelo líder com extrema cautela. Primeiro contratei algumas pessoas para compor a Sopro Noturno, principalmente mercenários bons em rastreamento, ocultação e coleta de informações. Após nos estabelecermos em Garras do Sul, espalhei pessoas em várias cidades próximas, incluindo Belai, Estrona e agora Garância. Com isso temos o esqueleto de um sistema de informações funcional que será pouco a pouco expandido no futuro. Tudo que eu preciso agora é de mais tempo para filtrar e treinar aqueles mais destacados, que são confiáveis e discretos, dos que não são, afinal seria bem ruim uma organização de inteligência ter informações vazadas.” O sujeito falou, como se estivesse preparado para tudo. “E claro, como estamos atuando como uma Guilda de Notícias, também estamos conseguindo alguma renda com isso. Por hora ainda estamos operando no vermelho, mas o lucro exponencial está cobrindo uma grande porcentagem dos gastos operacionais, em breve será uma organização autossustentável, porém, mesmo quando for rentável, levará bastante tempo até que o rendimento cubra tudo que foi investido.”

    A Medusa ouviu tudo aquilo franzindo a testa, ela estava em busca de formas de criticá-lo, mas não sabia por onde começar. Mesmo que odiasse o homem, tinha que admitir que ele parecia muito competente no que estava fazendo. Ela própria sabia que se tal missão fosse deixada em suas mãos, não saberia sequer por onde começar.

    Fernando também ficou surpreso ao ouvir tudo aquilo. A verdade é que a missão que ele havia dado a Argos parecia algo bem irreal de se conseguir num curto espaço de tempo e tinha certeza de que provavelmente levaria muito esforço, mas o sujeito tinha conseguido resultados muito melhores do que havia imaginado.

    Vendo que tudo estava indo tão bem, a expressão do jovem Tenente mudou, quando resolveu ir direto a um tópico específico.

    “Em relação ao que pedi… O que conseguiu?” Vendo a entonação ansiosa de seu líder, ambos Theodora e Argos sabiam do que ele estava falando. “O que você descobriu sobre Vento Amarelo?”

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