Capítulo 515 - Situação
Argos, que estava ao lado, ficou confuso, já que era algo que havia acontecido muito antes deles se conhecerem.
“O que você quer dizer com isso?”
A Subtenente franziu a testa, mas mesmo que a contragosto, acabou contanto sobre a missão na Vila Lunar, onde eles haviam sido emboscados por Bob William´s e também sobre o ocorrido com o Campeão Élfico, mas, obviamente, sem revelar que ela era uma Medusa.
Ouvindo a explicação, o sujeito ficou boquiaberto.
“Vocês realmente sequestraram o filho do Senhor do Vale das Orquídeas? E, aliás, também mataram Bob William´s?!” O sujeito exclamou, perplexo, então, de repente, começou a rir, sem acreditar no que acabou de ouvir, cada informação era mais chocante que a outra.
Como alguém que serviu na Décima Terceira por um bom tempo, ele já havia ouvido muitas histórias sobre o Campeão Élfico Valeres, aquele que era tido como o maior guardião das montanhas MortHar. Ele também conhecia muito bem o Chefe da Guarda da Décima Terceira.
“De alguma forma, isso parece algo que nosso líder faria.” O homem comentou, recordando-se de algo, com um leve sorriso no rosto. “Aquele Bob William´s era um sujeito complicado, é impressionante terem conseguido matá-lo já naquela época. Ele costumava matar e saquear Esquadrões da própria cidade em segredo e eu mesmo já tive alguns problemas com esse desgraçado. Achei que ele tinha sido descoberto e acabou fugindo, mas foi isso que aconteceu. Gostaria de ter visto a cara dele no fim. Felizmente nosso incrível e louco líder fez isso por mim.”
Vendo Argos rindo de forma tão exagerada, somado a suas palavras despreocupadas, fez o jovem Tenente franzir a testa, perguntando-se o que ele queria dizer com aquilo.
“De qualquer forma, eu não acho que seja esse o caso. Mesmo que o Senhor do Vale das Orquídeas seja importante, ele não teria como mover todos os Elfos Negros apenas por um assunto tão pequeno. Eu acredito que apenas o momento acabou por ser adequado. Com a invasão dos Orcs, eles provavelmente colocaram em prática algum planejamento oculto.” Argos explicou suas conjecturas com uma voz calma. “O fato de usarem reféns e não terem se aproximado muito do Portão Norte, significa que não estão muito confiantes em manter esses territórios e estão prontos para abandoná-los se necessário. Do meu ponto de vista, os Elfos Negros apenas viram um convite tentador a uma festa e não puderam recusá-lo, mesmo que não possam comer o bolo no final, queriam ao menos garantir sua presença.”
Apesar da analogia estranha do sujeito, Fernando assentiu, vendo lógica em sua teoria. Quando ele estava prestes a dizer algo, seu Cubo Comunicador vibrou dentro de sua Pulseira, fazendo-o franzir a testa, perguntando-se quem estava o incomodando num momento como esse, mas ao ver a mensagem, sua expressão mudou.
“Especular sobre isso não vai nos levar a lugar algum e nem é um assunto que formigas como nós tenhamos como lidar.” disse, levantando-se “Um assunto surgiu, então preciso ir agora. De qualquer forma, continue investigando, se conseguir mais informações sobre Vento Amarelo, não esqueça de me avisar.”
Ouvindo isso, Argos assentiu.
“Tudo bem, líder, estarei em Garância pelos próximos dias até que nosso pessoal aqui esteja estabelecido, mas como muitas pessoas conhecem meu rosto, não acredito que possa ficar por muito tempo. No entanto, farei com que alguns dos meus homens mantenham contato constante.”
“Certo.” O jovem Tenente concordou.
Não só os membros do Batalhão Zero conheciam Argos, como Dimitri e outros de Vento Amarelo também, se ele topasse acidentalmente com uma dessas pessoas, sua identidade falsa poderia acabar sendo exposta. O “Argos” deveria continuar como um mero Sargento que estava em missão, enquanto sua atual identidade, conhecida como Solomon, fundador e Líder da recém montada Guilda de Informações, Sopro Noturno, fosse a única a existir. Sua intenção era retornar apenas quando conseguisse que a Rede de Inteligência continuasse a operar sem a necessidade de sua presença.
Com tudo acertado, Fernando foi até o dono do local para pagar sua conta, mas ficou surpreso ao descobrir que Rani já havia pago por todos os gastos, tendo alugado todo o lugar por um dia inteiro. Isso o fez perceber o quão meticulosa a garota era.
Após isso, deixou o estabelecimento, acompanhado de Theodora. Antes de partir, a mulher deu uma boa olhada no sujeito de longos cabelos negros, que ficou sentado, sozinho, apreciando alguma bebida. Inicialmente ela estava com alguma inveja dele, por seu líder confiar tanto nele a ponto de delegar uma missão tão importante, mas agora sentia-se aliviada, já que em sua atual posição, poderia permanecer ao seu lado.
Sentindo o olhar da mulher em sua direção, Argos virou o rosto para ela, então sorriu, acenando de forma provocadora. Em resposta a Medusa apenas o encarou com um olhar fulminante, levantando a mão direita e mostrando o dedo do meio. Há muito tempo ela havia aprendido que esse era um gesto de insulto comum entre os Humanos Errantes e isso ficou ainda mais nítido ao vê-lo com alguma frequência entre pessoas do Batalhão Zero que estavam discutindo ou brigando.
Fernando, que estava logo ao lado, balançou a cabeça, fingindo não ver nada.
Contanto que eles não tentem se matar, não é problema meu… pensou, ignorando a relação ambígua de sua Subtenente e seu Sargento.
Do lado de fora, a Capitã Lerona estava esperando, encostada em uma parede próxima ao local, com os braços cruzados.
“Já terminou todos os seus assuntos aqui?” A mulher perguntou, com um olhar sério.
Ela não tinha ideia do que o rapaz teria ido fazer ali e nem quem eram aquelas pessoas, mas sentiu-se apreensiva e com um sentimento intenso de suspeita, já que a ameça que sentiu naquele momento havia sido muito real.
Não fazia nem duas horas que ela recebeu a missão de protegê-lo, mas já tinha passado por duas situações absurdas. Primeiro a provocação ao General Herin e agora aqueles Magos Avançados. Não importa como ela visse isso, Fernando parecia uma bomba relógio, prestes a explodir em suas mãos.
“Sim, mas preciso ir a mais um lugar.” O jovem Tenente respondeu.
“Líder… Quem seria essa pessoa?” Theodora perguntou, com uma leve carranca.
A verdade é que ela já havia visto Lerona antes, apesar de nunca ter falado com ela, mas não entendia porque alguém que servia a Wayne estaria junto ao seu líder.
“Bem, quanto a isso…” Fernando tentou explicar, com uma expressão complicada, contando a ela que Lerona agora servia como uma Capitã Combatente sob Dimitri e que seria sua guarda pessoal a partir daquele momento. E que ainda que isso não o agradasse, era uma exigência do General que ele simplesmente não poderia descumprir.
“Você deve ser a Subtenente Theodora, será um prazer trabalhar ao seu lado.” Lerona falou, cumprimentando-a de forma educada e modesta, mesmo tendo duas patentes acima da mulher.
“Claro, será um prazer…” A Subtenente respondeu, com um sorriso no rosto.
Fernando que viu isso, suspirou, ele conhecia bem aquele sorriso e sabia que a Medusa não estava nada satisfeita. Apesar disso, não era algo que nenhum dos dois poderia fazer a respeito.
“Vamos indo.”
Enquanto caminhavam, o jovem Tenente não pôde deixar de pensar sobre como estava sua professora e todos os outros, rezando silenciosamente para que estivessem bem.
…
Em outro local distante, um homem branco e com um olhar quase sem vida, estava sentado em uma cama, com a metade inferior de seu corpo coberta por um lençol. Olhando para sua mão, observou em silêncio uma algema de metal vermelho que estava em volta de seus pulsos, então desviou seu olhar.
O sujeito apenas ficou ali, parado, encarando a parede vazia a sua frente, como se estivesse pensando profundamente em algo. De repente, puxou o lençol e assim que o fez, foi revelado o que estava abaixo dele.
Do joelho para baixo, onde deveriam estar suas pernas, não havia nada. Tudo estava enfaixado por bandagens.
Toc! Toc!
De repente um som de batidas soou e mesmo sem nenhuma resposta, a porta do quarto foi subitamente aberta e uma mulher com longos cabelos brancos entrou no local.
O homem não se deu o trabalho de virar o rosto, a olhando brevemente de canto de olho, então tornou a olhar para frente, ignorando-a.
Vendo isso, a mulher também não disse nada, aproximando-se, inclinou-se levemente para frente, dando uma boa olhada em suas pernas. Ao ter certeza que não havia nada de errado, levantou-se, então se aproximou da janela fechada, abrindo apenas uma pequena fresta, suficiente somente para que pudesse espiar o lado de fora.
Nas ruas, grupos de Soldados andavam de um lado ao outro, o que normalmente não seria tão incomum, porém, a diferença é que não eram Humanos, mas Elfos Negros.
Ao verificar a situação por um instante, fechou rapidamente a janela novamente.
“Parece que as coisas estão agitadas de novo.” declarou, ao ouvir sons de gritos e brigas vindos de não muito longe.
O homem não respondeu as suas palavras, permanecendo em silêncio. Vendo isso, a expressão dela mudou, ficando gelada.
“Até quando vai continuar assim? Eu não lembro de ser subordinada a um espantalho sem vida. Para alguém que era chamado de Cão Louco, você parece mais um Cão Vadio. Estou certa, Capitão Viktor Yudin?” indagou, com uma voz fria, essa não era outra senão Gallia, a Tenente da outrora Décima Terceira Guarnição de Vento Amarelo.
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