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    Numa noite escura e fria, ao longo de uma campina, um pequeno acampamento estava iluminado. Algumas pessoas estavam acomodadas em suas tendas quentes, outras se aglomeravam nos entornos das cabanas, se aquecendo ao redor de fogueiras enquanto conversavam e riam.

    “A construção não parece estar indo como planejado, os construtores pediram mais um dia de escolta, ao que parece a obra só será finalizada amanhã. O que devemos fazer?” Ronald perguntou.

    Ao ouvir isso, Noah semicerrou os olhos.

    “Esses caras… De novo isso!” exclamou, descontente.

    Há dois dias eles haviam aceitado uma das missões expedidas pelo Salão de Garância. O objetivo dela era escoltar membros de uma das Guildas Construtoras para montar um posto avançado nas imediações da cidade.

    Mesmo que houvesse um armistício em vigor e os Humanos não estivessem autorizados a avançarem em direção ao Sul, território que os Orcs haviam tomado, nada dizia que as legiões não poderiam expandir suas defesas dentro do domínio que já possuíam.

    Com isso, os Leões Dourados estavam financiando a construção de vários pequenos postos avançados nas imediações de Garância. Caso houvesse indícios de ataque inimigo, os Soldados que ficariam de guarda nas instalações poderiam acionar mensagens de aviso que rapidamente chegariam ao Alto Comando, alertando toda a cidade e proporcionando um maior tempo de reação.

    Parecia ser uma missão simples, já que só precisavam afastar animais e monstros que saiam das florestas nas imediações, devido a isso, eles haviam vindo com apenas dois Esquadrões do Primeiro Pelotão. Porém, o que deveria ser uma missão de um dia e meio, havia se arrastado para três dias e noites.

    “Esses caras estão achando que vamos trabalhar de graça? Foda-se, onde está o supervisor deles?” Noah questionou, irritado, enquanto ia em direção à barraca dos membros dos construtores.

    “E lá vamos nós de novo.” Ronald falou com uma leve risada, seguindo logo atrás.

    Na área dos membros da Guilda, vários homens estavam conversando e rindo.

    “Tô te falando, ela era linda. Olhos claros, uma boca delicada, uma cintura tão fina como uma árvore Dermóta e tava claramente a fim de mim! Seria a minha mulher dos sonhos se não fosse pelo fato de que ela tinha uns dois metros de altura!” Um homem baixinho e com bigode contou entusiasmado.

    “Acho que o velho John está sonhando acordado de novo.” Um dos homens comentou, zombeteiramente.

    “Verdade, você tem que parar com essas histórias, ‘vê se cresce’, velho John.” Outro declarou, fazendo uma insinuação com a pequena estatura do sujeito.

    “Seus fodidos! Tão querendo brigar?”

    “Hahahaha!”

    O grupo de trabalhadores riu com vontade. Ao centro, um homem com uma enorme barba e um manto marrom parecia ser o único que não se deixou levar pelo bom humor dos outros. Logo seu olhar calmo voltou-se na direção do grupo de escolta, quando duas pessoas caminhavam em direção a eles.

    “Aquele Oficial loirinho de novo…” Um dos homens murmurou, ao ver Noah.

    Tsk!

    Todo o ambiente barulhento e animado diminuiu, quando os homens olharam para os militares.

    O sujeito com manto marrom logo levantou-se para cumprimentá-los, sendo um dos únicos Magos de Terra ali e o supervisor de seu pessoal.

    “Oficial Noah, a que devo a honra.” O homem cumprimentou, respeitosamente. Mesmo que ele fosse um Mago de Terra, era apenas alguém que usava sua magia para a construção, de certa forma, sendo considerado apenas um civil.

    “Supervisor Keiren. Fui informado que a construção vai atrasar em mais um dia. Essa já é a terceira vez que estão pedindo por mais tempo.” disse, com uma voz de autoridade. Como alguém que representava o Batalhão Zero, ele não poderia se deixar enganar, caso contrário a reputação deles iria cair. “Se querem mais tempo, voltem à cidade e abram outro pedido de escolta.”

    O sujeito de manto marrom não parecia surpreso com a sua demanda.

    “Gastar tempo indo e voltando da cidade apenas por uma pequena burocracia, isso é ineficiente, Oficial Noah. Não se preocupe, quando voltarmos, irei relatar os atrasos e pagaremos do nosso bolso um adicional pelo tempo estendido.” O sujeito garantiu. “Além disso, não é como se vocês estivessem tendo tanto trabalho…” acrescentou, de forma irônica.

    Vários dos trabalhadores ao redor começaram a cochichar ao redor.

    “Esses militares, um bando de sangues-sugas.”

    “Eles não cansam de nos explorar?”

    Noah os observou de soslaio, insatisfeito. Essa Guilda havia pegado um trabalho dos Leões Dourados e estavam ganhando muito dinheiro às custas deles, tudo isso enquanto recebiam escolta. Por outro lado, eles tinham que lidar com todos os animais e monstros, defendendo-os de qualquer ameaça, mas ainda assim essas pessoas agiam tão arrogantemente e de maneira ingrata, tentando se esquivar de pagá-los.

    Ahhhh!

    Quando ele estava prestes a responder o homem, um grito agudo foi ouvido, alertando todo o acampamento.

    Tanto Noah quanto Ronald, que estava ao lado, se moveram ao mesmo tempo, correndo em direção à origem. Outros Soldados dos dois Esquadrões próximos também correram para o local.

    Ao chegarem lá, todos viram uma das tendas totalmente rasgada, com traços de sangue por todo o lado. Próximo, um homem estava caído no chão, um olhar aterrorizado.

    “O que aconteceu?” Noah perguntou, apressadamente.

    “E-eu… eu…” O homem murmurou, parecendo estar em choque.

    Nesse momento, o supervisor da Guilda, Keiren, chegou, assim como vários trabalhadores.

    “Fale de uma vez!” Apesar da insistência de Noah, o sujeito não respondia. Então o Mago de Terra se aproximou, acalmando-o.

    “Diga, o que aconteceu? Quem ou o que fez isso?” Keiren perguntou, de forma calma.

    “Algo rasgou a tenda vizinha e arrastou duas pessoas, aquela coisa… foi por ali!” informou, apontando para a floresta não muito longe.

    Ouvindo isso, Noah franziu a testa. A floresta era o limite cujo qual eles não poderiam ir, já que era território dos Orcs.

    “Você viu o que era?” O Oficial loiro perguntou.

    “Eu não sei… estava escuro. Tudo que sei é que era grande, forte e rápido, arrastou os outros como se fossem crianças!”

    Ahhhh!

    Nesse momento, sons de grito foram ouvidos novamente, vindos da floresta.

    “Merda!” Noah esbravejou, movendo o pulso e tirando sua espada, mas Ronald o deteve, balançando a cabeça.

    “Sabe que não podemos entrar lá.”

    Cruzar aquele ponto seria uma violação das ordens dos superiores. Além disso, patrulhas de Orcs rondavam pela área, encontrá-los acarretaria num confronto.

    Mesmo ouvindo os gritos de agonia, Noah aceitou o conselho guardando sua lâmina. Ele não sabia oque havia atacado, se era um Orc ou alguma outra coisa, mas estava claramente tentando atraí-los para entrar na mata.

    “Acorde todos os homens, vamos manter vigília total até o amanhecer. Façam uma linha defensiva.” Ouvindo as ordens, Ronald assentiu, correndo em direção às cabanas.

    “O que estão esperando? Vocês precisam salvá-los!” Um trabalhador exigiu, furioso, ao ver que não estavam indo buscar aqueles sequestrados.

    O Oficial loiro apontou para os rastros no chão.

    “Com todo esse sangue perdido, eles provavelmente já estão mortos ou estarão em breve. Também não podemos entrar no território dos Orcs, ou algum de vocês vai se responsabilizar por quebrar um tratado aceito pelo Conselho Superior?”

    Muitos dos construtores se entreolharam, sem se atrever a fazer uma exigência como essa. Nenhum deles seria ousado o suficiente para quebrar um tratado e fazer os Orcs atacarem de novo.

    “Vocês vão só ficar olhando? Para que servem afinal?” O sujeito baixinho com bigode murmurou, frustrado.

    Noah riu ao ouvir isso, principalmente ao ver que era a pessoa que os havia insultado momentos antes.

    “O que você esperava? Nós somos apenas sangues-sugas, certo?”

    O homem engoliu em seco ao ver que o Oficial havia o ouvido antes.

    O supervisor da Guilda construtora tinha um rosto assustado, ao olhar em direção à floresta, dois dos seus homens apenas haviam morrido assim.

    Droga, por isso eu não queria vir para esse maldito lugar! 

    Mesmo que o povo de Avalon estivesse acostumado com mortes, a Zona Divergente era um território ainda mais brutal. Pois havia inimigos e monstros poderosos por todos os lados e o clima em certas épocas era severo e mudava repentinamente.

    “Oficial Noah, não vou exigir que façam buscas na floresta, mas ao menos garanta que não teremos mais vítimas.” Keiren pediu.

    O homem loiro então o encarou por alguns instantes.

    “Não se preocupe, faremos nosso trabalho.” respondeu, com calma, o que acalmou o coração de Keiren. No entanto, suas próximas palavras o fizeram ficar nervoso. “Mas esqueça sobre ficarmos aqui mais um dia, como as coisas estavam calmas, eu concordei, mas caso queira estender o tempo de escolta…”

    “Isso… Tudo bem.”

    Pouco tempo depois, o supervisor saiu, parecendo frustrado, enquanto Noah tinha um saco de moedas de prata em suas mãos.

    Apesar de satisfeito em conseguir receber o que era devido, o rapaz loiro não estava exatamente feliz, já que pessoas haviam morrido sob sua proteção, o que era uma falha de sua parte. Logo olhou em direção à mata, tudo era um breu completo.

    Ativando a magia de Visão Escura, tentou enxergar algo e, para sua surpresa, viu alguma coisa espreitando por entre as árvores. Não sabia exatamente o que era devido à distância, mas conseguia ver uma estranha sombra e um par de olhos reluzentes por entre as árvores. Mesmo que não pudesse identificar os detalhes, pôde notar que era algo humanoide.

    Retirando sua espada, apontou na direção da coisa, como um sinal de aviso. Mas aquilo apenas continuou o observando por alguns momentos, sem medo aparente. Isso fez Noah gelar por um momento.

    O que é essa maldita coisa? Inicialmente pensou que era um Orc que estava os atacando em busca de alimento, mas aquilo parecia esguio demais para ser um.

    “Líder? O que foi?” Um dos Soldados indagou ao vê-lo com sua espada em mãos.

    Noah virou seu rosto por um instante na direção do homem e quando retornou seu olhar, aquilo já havia desaparecido.

    A expressão do rapaz loiro era de inquietação, não sabia o que era aquilo, mas o fato de não ter se assustado com ele, significava que não estava nem um pouco intimidado.

    “Não é nada, reforcem as defesas, o que nos atacou continua por aqui, e enviem um relatório a Garância.”

    “Sim senhor!”

    Espero que mais nada aconteça essa noite. pensou, preocupado.

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