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    Num gigantesco palácio que se assemelhava a uma catedral, um velho homem em um manto branco com uma enorme espada recostada em seu ombro estava parado. Ao seu entorno, corpos estavam espalhados por todos os lados, enquanto vários homens e mulheres empunhavam armas, olhando-o com terror nos olhos.

    “Você está louco, Sir Ferman?! Está matando seu próprio povo! Sir Kalarov não irá perdoá-lo!” Uma mulher gritou, numa mistura de medo e raiva, apontando sua lança para ele.

    “Hoho, é assim mesmo?” O velho homem indagou, com um sorriso caloroso. Porém, ao terminar sua fala, desapareceu, surgindo logo atrás dela.

    N-não!

    Mesmo sendo uma Paladina de 1 Estrela, a mulher mal conseguiu entender o que havia acontecido, tudo que pôde ver era a enorme lâmina vindo em direção ao seu rosto.

    Swish!

    Seu corpo foi brutalmente dividido em dois, caindo ao chão, enquanto o velho com mais de dois metros de altura balançou sua imensa espada com maestria, sem sequer sujá-la de sangue.

    Todos os outros ao redor tinham expressões de desespero após testemunharem sua líder ser morta de forma tão impotente.

    Ao ver aquele que era nomeado como Cavaleiro Branco, alguém que deveria ser bondoso e honrado, matando tão selvagemente as pessoas com um sorriso acolhedor no rosto, todos não puderam deixar de pensar na palavra ‘Monstro de duas faces’.

    “O que fizemos para você, Sir? Qual erro cometemos para receber a ira de um Cavaleiro?!” Um dos homens perguntou, com lágrimas nos olhos.

    Ouvindo isso, Ferman parou seus passos, com um rosto pensativo.

    “Hm… Vocês não fizeram nada realmente.”

    Todos no local ficaram perplexos ao ouvirem isso.

    “Então por quê? Por que está nos matando?!” indagou, tremendo.

    Vendo seu desespero, o velho homem deu um suspiro.

    “Não me entendam mal, não é como se eu quisesse fazer isso. Vocês apenas estão servindo a um traidor e eu preciso ensinar uma lição aquela criança.”

    As pessoas tinham expressões estranhas ao ouvir aquilo, suas vidas eram tão insignificantes frente a um Cavaleiro que eles não passavam de um exemplo?

    Tendo sua resposta e sentindo o pesado mana emanando a sua frente, o sujeito que estava lançando questionamentos se calou. Logo suas pernas falharam, fazendo-o cair de joelhos, sabendo que qualquer resistência era vã frente a sede de sangue desse monstro, então fechou os olhos, aceitando o seu destino.

    Momentos depois, todo o local estava banhado em sangue, com os corpos de todos que antes compunham aquele palácio.

    Apesar de fazer tudo aquilo, Ferman tinha uma expressão de desgosto em seu rosto. Então olhou para a entrada, que havia sido selada, quando um homem com um capuz negro entrou. Era um de seus subordinados leais.

    Embora a sua influência e poder tenham se deteriorado com o passar dos anos, ainda havia muitos que o seguiam.

    “Sir, eles estão próximos.”

    O velho homem assentiu.

    “Entendi, pode ir agora. É melhor não estar aqui quando começar.”

    Com a resposta do velho homem, o sujeito se curvou, levando a mão ao peito, quando recuou, desaparecendo de vista.

    Fwooosh!

    Um som longínquo de ventania começou a soar. Logo todo o local começou a tremer.

    “Hoh… Então realmente era isso.” Ferman disse para si mesmo, como se tivesse confirmado algo.

    BOOM! 

    De repente todo o teto se desfez. Os destroços voaram para cima, como se estivessem sendo sugados, mesmo alguns dos corpos espalhados ao redor não escaparam desse poderoso vácuo.

    Voltando seu olhar para cima, enquanto permanecia firme em meio aquele poderoso vendaval, o Cavaleiro Branco viu um enorme tufão girando nos céus, enquanto dois homens lentamente desciam.

    “Ferman!!” Um deles gritou, quando caiu do alto como um grande meteorito, lançando pedras para todo o lado.

    Era um homem musculoso, usando roupas cinzas, em torno dos cinquenta anos, com um grande bigode e barba negros. Seu corpo emitia uma poderosa pressão, que fazia todo o local ficar pesado. Este era Kalarov, o Cavaleiro Perpétuo, um dos três Cavaleiros da Legião Condor.

    Enquanto isso, no alto, um sujeito baixinho, gordo e careca, com roupas largas, lentamente desceu, todo o ar ao redor parecia tremer sob sua presença. Esse era Erbin, o Grande Mago dos Ventos Azuis, da Legião Condor.

    “Hoho! Assim como eu imaginava, então vocês estavam trabalhando juntos contra esse velho homem.”

    O homem com barba negra, tinha um olhar furioso ao ver os corpos espalhados pelo chão. Estes eram seus leais subordinados de uma unidade especial que ele havia pessoalmente treinado.

    “Ferman, velhote desgraçado, você realmente ficou senil de uma vez?!” Kalarov esbravejou, furioso.

    “Bem, pode ser que sim… Realmente não consigo me lembrar o que comi ontem, isso não parece ser um bom sinal.” O Cavaleiro Branco respondeu, parecendo preocupado.

    “Corte a baboseira Ferman. Vamos direto ao assunto.” O Grande Mago Erbin exigiu. Sua voz extremamente anasalada, causava estranheza a quem não estava acostumado, principalmente devido ao seu pequeno tamanho. “Há anos você havia abandonado os assuntos da Legião, por que está se intrometendo em nosso caminho justamente agora?” Apesar de não parecer, sua voz continha uma entonação sútil de ameaça.

    Aquele não tinha sido o único lugar que o Cavaleiro Branco havia atacado, tendo destruído outras duas bases pertencentes a Kalarov nos últimos dois dias. Suas ações causaram uma grande ebulição dentro de toda a Legião Condor, com muitos temendo que uma guerra civil se iniciasse por meio dos dois Cavaleiros, o que seria catastrófico.

    O Cavaleiro Perpétuo havia ignorado as transgressões cometidas pelo bem das aparências, assumindo uma postura diplomática e buscando diálogo, contudo foi completamente ignorado. 

    A princípio o sujeito estava calmo, pois em sua visão, as duas bases atacadas inicialmente não tinham importância alguma, mas o Palácio da Eternidade, um monumento que ele havia erguido gastando enormes quantidades de recursos e onde o mesmo treinava suas tropas de elite que realizavam missões secretas para ele, havia sido o cúmulo, obrigando-o a agir diretamente.

    “Eu genuinamente não me importo com que tipo de traquinagens vocês fazem entre si, mas as coisas mudam quando tentam me matar. Realmente acreditaram que o pequeno Berton seria capaz disso?”

    A expressão de ambos mudou ao ouvirem isso, em especial Kalarov tinha um rosto escuro, pois o General Berton Tenari era um de seus homens leais.

    Há algum tempo, Ferman havia retornado da Zona Divergente com menos de um terço das tropas, após defender uma das cidades dos Leões Dourados. Ele havia relatado que muitos dos outros morreram na batalha e que sofreram uma emboscada de Orcs próximo a Meridai. Mas isso era uma clara mentira, mesmo que Berton não fosse tão poderoso, dificilmente morreria nas mãos de Orcs comuns e não havia relatos de qualquer Clã poderoso chegando tão próximo ao Portão Sul.

    Não só isso, quando as patrulhas de Meridai chegaram ao local, não havia qualquer indício de inimigos, o que indicava que algo a mais havia acontecido.

    Apesar da divergência de informações, o Conselho de Condor não investigou o assunto, por respeito a ele, mas como a morte de um General era uma questão importante, muitos haviam insistido que isso fosse esclarecido.

    Assim como havia vozes dissonantes se movendo para pressionar Ferman, ele havia finalmente agido, atacando seu próprio povo.

    “Não sei do que está falando.” O Cavaleiro Perpétuo negou, franzindo o cenho.

    “Realmente não?” Ferman perguntou, rindo. “Pequeno Kalarov, sabe que não pode me vencer nesse tipo de brincadeira.” Ao dizer isso, os olhos do velho homem, que pareciam bondosos e alegres, ficaram frios.

    “Realmente quer fazer isso, Ferman?” O homem de barba negra perguntou, erguendo a mão esquerda para frente, como se fosse uma garra, enquanto a direita estava recuada. “Se for isso que quer, não me importo de mandá-lo para a cova de uma vez.”

    “Hoho! Esse velho gostaria de ver isso acontecer.” Assim que disse isso, todo o local começou a tremer, quando seus olhos começaram a emitir uma fraca luz branca. Um denso mana espalhou-se, fazendo todo o palácio tremer.

    “O-o quê?!” Ambos, tanto o Cavaleiro Perpétuo quanto o Grande Mago dos Ventos Azuis tinham expressões chocadas. Esse tipo de poder e força, não deveria pertencer a alguém que estava aposentado, doente e prestes a morrer de velhice!

    Ao sentir o denso mana espalhando-se, Kalarov começou a suar frio. Mesmo que ambos fossem Cavaleiros, Ferman havia sido um dos mais poderosos da humanidade e tinha uma longa história com inúmeros feitos. Se ele ainda tinha alguma força restante, não seria tão fácil matá-lo.

    O homem careca e baixinho estreitou os olhos ao ver essa demonstração de poder. Se ele e o Cavaleiro Perpétuo se unissem, acreditava que poderiam acabar com o velho homem em pouco tempo, mas se eles lutassem, a Cidadela de Condor seria extremamente danificada ou até destruída! Isso traria uma série de problemas para os dois.

    Assim como ambos os lados estavam prestes a se mover, uma gigantesca pressão caiu sobre os três.

    Nos céus, um homem velho e quase esquelético, com pele extremamente enrugada, estava flutuando, do lado esquerdo dele, um sujeito com manto verde e do direito outro com roupas negras estavam posicionados. Logo atrás dos três, centenas de figuras voavam em formações militares aéreas, prontos para agir.

    “Isso é suficiente.” A figura esquelética declarou. Mesmo falando baixo e de forma calma, sua voz espalhou-se por todo o local como um eco no vazio. Este era Astárlo, o grande Líder Legionário de Condor.

    As centenas de figuras em sua retaguarda eram suas tropas de elite que atuavam diretamente sob o seu comando, conhecidas como Decreto de Condor. Eram tão poderosas que mesmo um Cavaleiro ou Grande Mago se sentiria ameaçado em sua presença.

    Já a figura de manto verde era Makro, o Grande Mago do Verde, enquanto a de roupas negras era Teceu, o Cavaleiro Sereno.

    Ao verem o homem esquelético acompanhado do Decreto de Condor e dos outros dois membros da cúpula, Kalarov e Erbin ficaram chocados. O homem baixinho e careca que antes flutuava de forma arrogante, rapidamente desceu ao chão, ajoelhando-se, seguido pelo Cavaleiro Perpétuo. Mesmo que fossem pessoas poderosas, representando a maior altura para a humanidade, ainda precisavam respeitar a autoridade do Líder Legionário.

    Do outro lado, Ferman não parecia surpreso, sorrindo levemente, então fez o mesmo, prostrando-se e levando a mão ao peito.

    Naquele momento, os indivíduos mais poderosos e proeminentes de toda a Condor estavam reunidos em um único local. Estes eram aqueles que governavam milhões, figuras reverenciadas por toda a humanidade, temidas e, ao mesmo tempo, respeitadas mesmo por outras Legiões.

    “Agora darei a chance de explicarem essa situação, por qual motivo ergueram suas armas na Cidadela. Caso contrário, irei considerar isso como uma revolta.” O homem esquelético advertiu, seu olhar profundo e pesado.

    Erbin e Kalarov se entreolharam, com olhares determinados. Se eles não poderiam matar Ferman abertamente, poderiam tentar fazê-lo ser morto pelo Líder da Legião.

    “Meu Lorde, sei o quanto preza pelo Cavaleiro Branco, mas apenas estávamos defendendo nosso povo. Sir Ferman claramente não está em pleno juízo, atacando nossas próprias bases. Por favor, imploro por uma punição imediata a ele.” Kalarov suplicou.

    Astárlo ouviu aquilo em silêncio. O Conselho de Condor já havia sido informado sobre o conflito iniciado. Dependendo da resolução, um dos lados poderia ter que ser eliminado. Pois uma vez que um Cavaleiro ou Grande Mago se tornasse hostil a legião, era extremamente perigoso permiti-lo continuar vivendo. Independente de qual fosse, seria uma grande perda para Condor.

    “O que diz a respeito da acusação do Cavaleiro Perpétuo, Cavaleiro Branco?” perguntou.

    Ouvindo aquilo, Ferman fechou os olhos por um momento. Então ergueu a cabeça.

    “Apenas exerci meu direito de autodefesa, meu Lorde. Em Belai sofri uma tentativa de assassinato orquestrada pelo General Berton Tenari. Mantive isso em segredo para investigar mais a fundo e finalmente descobri que ele fez isso a mando do Sir Kalarov, em conluio com o Sábio Erbin.”

    “Calúnia! Isso é absurdo!” Kalarov esbravejou, levantando-se. O Grande Mago dos Ventos Azuis fez o mesmo, olhando para o velho de roupas brancas com desdém.

    “Como Sir Kalarov disse, não há sentido nas palavras de Sir Ferman. Para o bem da segurança de Condor, devemos agir, meu Lorde.” O Grande Mago careca e baixinho afirmou, não escondendo suas intenções de se livrar do velho homem.

    O Grande Mago do Verde e o Cavaleiro Sereno se entreolharam. Nenhum dos dois sabia qual dos lados estava dizendo a verdade, mas independente do que houvesse, o desfecho seria ruim. 

    Se acreditassem em Kalarov e Erbin, teriam que matar Ferman, aquele que outrora foi a espinha dorsal de Condor. Por outro lado, se acreditassem no Cavaleiro Branco, teriam que matar os outros dois, que eram pilares da legião.

    Do ponto de vista dos dois, mesmo que Ferman estivesse dizendo a verdade, parecia muito mais benéfico descartá-lo, já que não passava de um velho doente e fraco. Por outro lado, se tivessem que lidar com um Grande Mago e Cavaleiro jovens, seria uma grande dor de cabeça e muito provavelmente haveria baixas de seu lado. 

    Não importa como se visse isso, essa era a escolha lógica. A reputação poderia ser reerguida no futuro, mas a perda de força não.

    Um silêncio ensurdecedor se seguiu após isso, Astárlo parecia estar em um dilema, não importa o que ele decidisse, haveria implicações.

    “Como é minha palavra contra a deles, deixemos que a força decida quem está certo. Meu Lorde, eu solicito um duelo com Sir Kalarov e o Sábio Erbin.”

    Quando essas palavras foram ditas, todos no local tiveram uma mudança de expressão. Como um velho doente, que mal poderia se comparar a um General, iria duelar com duas grandes potências?

    O velho homem esquelético olhou para Ferman, como se estivesse tentando entender seus pensamentos. 

    Por outro lado, os dois homens tinham expressões contentes ao ouvir seu apelo.

    Realmente, esse velho não está mais batendo bem da cabeça. Kalarov pensou.

    “Se for permitido, nós aceitaremos, meu Lorde.” Erbin declarou, confiante.

    O Grande Mago, Makro, interviu nesse momento.

    “Acredito que é a melhor forma de resolver isso, meu senhor.”

    Se ambos os lados duelassem, não teriam que subjugar ninguém por si mesmos. Isso faria com que Condor mantivesse o respeito e reputação e, ao mesmo tempo, não sofreriam mais baixas do que o necessário.

    Além disso, uma vez que um conflito entre Grandes Magos e Cavaleiros ocorria, dificilmente isso poderia ser resolvido sem que rios de sangue fossem derramados. Pois cada lado tinha tropas leais e seguidores, o que provavelmente acarretaria uma grande guerra civil que poderia abalar as fundações de toda a legião. Sendo assim, permitir que eles lutassem entre si, sem envolver as castas mais baixas, parecia a forma mais limpa e direta de resolver o assunto.

    Estreitando os olhos, Astárlo apontou para o Norte.

    “As montanhas Gêmeas, lá deve ser o confronto. Vocês têm uma hora.” sentenciou.

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