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    Na área central do Salão de Recepção de Garância, na parte mais profunda e bem protegida, uma gigantesca sala cheia de Matrizes estava brilhando fortemente. No centro dela, havia cinco homens, de costas uns para os outros, cada um parecia estar mexendo em um painel luminescente, movendo suas mãos freneticamente. Em suas cabeças havia algo como um capacete que cobria desde seus olhos até a parte de trás de suas nucas.

    “A reserva de energia caiu para menos de 70%. Enviando uma solicitação à equipe de abastecimento para dobrarem os esforços.” Um dos homens disse.

    “Picos de dano na Matriz Defensiva do portão Sul, estou tentando controlar a velocidade de reparo.” Outro relatou. “O consumo de energia está aumentando rapidamente, se continuar assim teremos uma quebra em breve.” O homem mais a esquerda informou.

    “Solicitando ao General Comandante autorização para desviar o abastecimento das áreas comerciais, residenciais e locais não essenciais para a Matriz Defensiva.” Aquele mais ao centro falou.

    “Autorização concedida.” Uma voz envelhecida soou. Um homem, parado não muito longe, estava olhando para um mural luminoso com uma expressão séria. Era uma espécie de Matriz de Informações, que reunia os relatórios que chegavam das várias tropas e da cadeia de comando. Esse não era outro senão Wayne.

    • Central de Inteligência: As comunicações continuam interrompidas, estamos trabalhando para retomá-las, mas há uma forte interferência externa.
    • Major Gustav: Estamos tentando controlar o número de Carniçais, mas a quantidade deles continua aumentando. Solicito orientação do QG.
    • Portão Leste: Carniçais se aproximam das muralhas. Parecem ser grupos dispersos e desorientados, situação sob controle.
    • Portão Oeste: Sem avistamentos, perímetro seguro.

    Vendo os inúmeros relatórios que apareciam sem parar, o velho homem suspirou.

    De todos os momentos, por que isso tinha que acontecer agora? pensou, desamparado.

    Atualmente a facção que ele reuniu estava se saindo relativamente bem e até conseguiram uma conquista que sua contra-parte, liderada por Dimas, não conseguiu. Se eles continuassem assim, poderiam acabar mudando a opinião de outros membros do Conselho Dourado, assim como Moura Pagliuca.

    De repente, em torno de toda Garância, as luzes das várias edificações civis e militares apagaram-se. Uma escuridão quase que completa tomou conta de toda cidade, sendo possível apenas ver alguns focos de disparos mágicos vindos do Sul e luzes de Magos e Soldados se movimentando pelas ruas.

    Uma sensação pesada tomou conta de todos os cidadãos e residentes, com muitos deles se arrependendo de vir para um lugar tão perigoso.

    Era de conhecimento comum que quando o fornecimento de energia para as residências da cidade era cortado, significava que a Matriz de Defesa estava numa situação crítica ou de real chance de cair. O que ocorreria em seguida seria a queda dos portões e a invasão.

    “Desvio concluído, focando na alimentação da Matriz de Defesa.” O homem com o estranho capacete declarou.

    Aquele local era o Centro de Controle das Matrizes da Cidade, que englobava não somente o controle da Matriz de Defesa, como de todo o sistema conectado, incluindo detecção, defesa, comunicação, abastecimento de energia, água e todas as funções vitais para a sobrevivência de Garância. De certo modo, aquele era o local mais importante de toda a cidade.

    No centro dele, os cinco Operadores de Matriz estavam trabalhando diligentemente para controlar a crise, sendo homens que haviam sido trazidos até ali pelo próprio Wayne. 

    Normalmente era necessário pelo menos um Especialista Avançado em Matrizes para controlar todo o Centro de Controle de uma Cidade por conta própria, mas como eram difíceis de contratar e manter, eram normalmente usados de três a sete Especialistas Intermediários. Era um trabalho difícil, já que uma vez que assumissem a tarefa, dificilmente poderiam deixar o Centro de Controle por vários meses, apenas podendo sair quando fossem rendidos por uma nova equipe.

    Enquanto analisava as informações recebidas, Wayne olhou para o lado. Não muito longe, todos os outros Generais presentes em Garância estavam reunidos. Incluindo Ramon, Herin, Zado, Dimitri e o aspirante a General, Oliver. Mas nenhum deles era o foco da atenção, mas sim um homem negro, com olhos fechados. Esse era o General da Sede do Poder dos Leões Dourados, Moura Pagliuca. O homem estava segurando uma espécie de caixa estranha, que brilhava ocasionalmente, como se uma espécie de sinal estivesse sendo emitido, assemelhando-se em muito a um dispositivo eletrônico, porém qualquer um proficiente em magia notaria o mana exalado por aquele estranho objeto.

    “Isso vai mesmo dar certo? Temos um maldito Rei Carniçal e um exército de Carniçais nos nossos portões. Se não agirmos logo…” Oliver declarou, com os braços cruzados e algum ceticismo. Como alguém que sempre teve desavenças com a Cidade Dourada, obviamente desconfiava das intenções de Pagliuca.

    “Não temos escolha, precisamos ter certeza… Se o que estivermos lidando for mesmo um Lich… A única coisa que podemos fazer é evacuar as pessoas de maior autoridade e abandonar Garância…” Ramon disse, com uma expressão extremamente séria. Mesmo parecendo algo brutal e antiético, nenhum dos outros Generais questionou suas palavras, até Dimitri, que estava outrora disposto a se sacrificar por suas tropas, não ousou fazer um comentário leviano.

    Contra um Orc Lorde, o homem estava propenso a arriscar sua vida para ganhar tempo, mas contra um Lich não havia sequer o que discutir. Não sendo tolo o bastante para acreditar que conseguiria ganhar um segundo sequer contra tal monstruosidade.

    Lichs eram como catástrofes ambulantes, quando um surgia se você não fosse um Grande Mago ou Cavaleiro, não havia nem o que ser discutido, todos bateriam em retirada, abandonando tudo para trás e fugindo por suas vidas. Não só era um ser extremamente poderoso, comparável a um Grande Mago, como comandava outras Criaturas das Trevas igualmente poderosas, sendo necessária uma grande campanha envolvendo muitas das Grandes Legiões para combatê-lo.

    Nos anais da história dos Humanos Errantes de Avalon, havia apenas três registros de Lichs que atravessaram o Deserto de Gash Karn e em todas às vezes, uma enorme cicatriz foi deixada nos corações das pessoas. 

    O Rei da Escuridão, o Rei da Eternidade e o Rei Makaroth, estes foram os três Lichs que a humanidade havia tido o pavor de enfrentar. Todos eles se autodenominavam ‘Reis’ e ‘Governantes’. 

    O Rei da Escuridão havia sido o primeiro que os Humanos Errantes tinham presenciado, na época em que grande parte das pessoas mal tinham um lugar seguro para viver, fugindo por suas vidas dia e noite. As poucas cidades humanas que existiam na época, haviam sofrido em suas mãos, aterrorizadas por hordas de mortos e outros seres tenebrosos. Contudo, ao mesmo tempo, em que foi um grande terror e calamidade, a criatura também foi a grande responsável pela ascensão dos Humanos. As outras raças, que eram as dominantes, sofreram grandes perdas ao confrontá-lo e isso foi o fator decisivo que permitiu que a humanidade ‘respirasse’ e pudesse lentamente se erguer nesse mundo.

    O segundo Lich a surgir foi pouco depois da derrota do Tirano de Kevir Eronai, o Rei da Eternidade. Com a queda do Império Beholder e o nascimentos das Dez Grandes Legiões e a formação do Conselho Superior. Felizmente, novamente a coisa havia surgido no território dos Altos Elfos e Anões, sendo então parte de seu problema. 

    Apesar de não o enfrentarem diretamente, as Dez Grandes Legiões recém-formadas sofreram nas mãos do Rei da Eternidade e seus exércitos, erguendo um pacto de não-agressão com os Altos Elfos e Anões, pois sabiam que se estes caíssem, eles seriam os próximos. Devido a essa guerra, que durou por muitos anos, o território Humano teve tempo suficiente para erguer as Grandes Muralhas e construir as Cidades Portões.

    O último deles havia aparecido cerca de vinte anos antes, sendo o Rei Makaroth, um dos responsáveis pelo extermínio de muitas Legiões e a quase queda e perda de poder de algumas das Grandes Legiões. Porém, ao contrário das duas primeiras vezes, a Humanidade estava muito mais preparada e com o sangue e sacrifício de muitos conseguiu eliminar a criatura por si mesmo. Após a queda do Tirano de Kevir Eronai e da Serpente dos Céus, esta foi uma das maiores conquistas dos Humanos, que haviam se provado dignos de serem governantes de seu próprio território, enviando uma mensagem direta a todas as outras raças: ‘Nós estamos aqui e viemos para ficar’.

    De certa forma, a relação da Humanidade com os Lichs era ambígua, ao mesmo tempo em que tinham um profundo medo, também deviam grande parte de seu sucesso e sobrevivência geral como raça a eles.

    Desde o Rei Makaroth nenhum outro Lich foi realmente avistado além do Deserto de Gash Karn. Apenas perambulando pelas Terras Negras. Boatos ocasionalmente surgiam a respeito da aparição de Lichs, mas quase sempre acabavam por ser histórias sem fundamento. Mesmo assim, as pessoas costumavam levar a sério cada vez que ouviam a respeito.

    No entanto, desta vez, com a intervenção dos Altos Elfos e Anões na guerra contra os Orcs, algo que não os beneficiava de forma alguma, assim como seu ‘amigável’ aviso, todas as Legiões sentiram um presságio de que algo ruim estava por vir. Somando isso ao relato de Criaturas das Trevas se tornando muito mais ativas, fez com que todos estivessem atentos aos sinais.

    Enquanto toda a sala estava num silêncio estranho, Moura Pagliuca de repente abriu os olhos.

    “Finalmente te encontrei.”

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