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    Assim que as tropas viram o General Herin, assim como o tombo do Rei Carniçal, seus rostos cheios de medo mudaram, enchendo-se de felicidade e expectativa.

    “O General Herin está aqui, a vitória é nossa!” Um dos Arqueiros gritou, animado.

    “Ataquem, continuem atacando! Mirem com as Balistas, rápido!” Um Major Combatente esbravejou, erguendo a mão e lançando ataques de fogo em direção à base da muralha. Com o ser colossal afastado, eles tinham finalmente a chance de usar as duas Balistas Explosivas nele.

    Os Operadores de ambos os lados se moveram rapidamente ao ouvir o comando, reposicionando as armas de guerra e mirando na criatura que havia caído.

    O Rei Carniçal, que havia sido acertado no peito por Herin, ainda parecia aturdido. Seu enorme tamanho e peso dificultou que ele se reerguesse. Além disso, os Carniçais menores, ao o verem letárgico, começaram a morder e arranhar seu corpo, arrancando pequenos pedaços de carne.

    Apesar de ser chamado de ‘Rei’, não era como se a criatura comandasse os Carniçais. Pelo contrário, elas apenas viviam em uma relação oscilante de simbiose que funcionava de acordo com a conveniência.

    Devido a ser lento, o Rei Carniçal não conseguia caçar criaturas velozes. Da mesma forma, os Carniçais também não podiam caçar seres muito maiores ou mais poderosos que eles. Era por isso que os menores, que tinham uma alta velocidade e vantagem numérica, geralmente cercavam e incomodavam seus alvos, até que o colosso chegasse até eles. Dessa forma, a enorme criatura poderia abatê-los e ambos os lados aproveitavam para se alimentar e se fortalecer. Mesmo sendo Criaturas das Trevas, seu comportamento era muito mais próximo de animais que caçavam em pequenos bandos.

    Entretanto, essa relação simbiótica apenas funcionava até certo ponto. Afinal, Carniçais se alimentavam de qualquer coisa que parecesse mais fraca que eles e fosse feita de carne, incluindo sua própria raça. Conforme consumiam outros seres, ficariam cada vez maiores e mais fortes.

    Comumente o Rei Carniçal predaria Carniçais menores sempre que tivesse a chance e da mesma forma, caso demonstrasse fraqueza, ele se tornaria o banquete.

    “Mirar, atirar!”

    Boom! Boom!

    Dois gigantescos projéteis de fogo foram disparados ao mesmo tempo, atingindo tanto a enorme criatura que estava tentando se levantar quanto os menores que o rodeavam sorrateiramente. Logo um mar de chamas se formou ao seu redor, com muitos Carniçais fugindo para todos os lados, cobertos de chamas.

    GRROOAHHH!

    O Rei urrou, numa mistura de dor e ódio, enquanto as chamas queimavam seu corpo.

    Herin, que estava no alto do céu, tinha uma expressão altiva, enquanto observava a Criatura das Trevas. Ele sentiu um intenso desejo de continuar atacando, mas conteve-se. 

    Com sua experiência, ele sabia que ainda que parecesse efetivo, esse tipo de ataque não prejudicaria realmente essa monstruosidade. Ao prestar mais atenção, seria possível notar que mesmo que as chamas estivessem o queimando, a criatura não parecia afetada, pois rapidamente se regenerava em alta velocidade. Levando em consideração o poder destrutivo das Balistas, que foi capaz de matar até mesmo um Xamã e um Orc Lorde Intermediário, era possível entender o nível terrível de tenacidade dessa criatura.

    Porém, mesmo com sua resistência absurda, de certa forma, Reis Carniçais, por si só, não eram ameaças a cidades que tinham Matrizes de Defesa. Embora fossem poderosos, eram burros e covardes e só se moviam pelo desejo de se alimentar, mas contanto que se sentissem ameaçados, iriam fugir. Por isso a maioria preferiria optar por espantá-los do que tentar eliminá-los. O real problema é que uma vez que eles sentissem que poderiam se banquetear, seria difícil afugentá-los, como uma mosca que rodeava esterco, eles continuariam rodeando seu alvo incessantemente. Devido a sua resistência e imenso tamanho, era difícil causar danos significativos a criatura a ponto de assustá-la.

    Mesmo se usasse tudo que tinha, Herin sabia que não conseguiria matar esse monte de carne podre ambulante. E ele também não sabia que tipo de truque o Necropto havia usado para instigar tantas Criaturas das Trevas, mas elas pareciam mais determinadas que o normal.

    Sem poder matá-lo ou afugentá-lo sozinho, o General lentamente desceu em direção as muralhas. Seu objetivo era apenas ganhar tempo até que os outros capturassem o Mago Negro. Obviamente, se os outros Generais viessem, poderiam unir suas forças e neutralizar essa aberração, mas se o fizessem, isso com certeza assustaria o inimigo.

    Além disso, embora já estivesse recuperado dos ferimentos advindos da magia que eliminou o Lorde Glutão e destruiu o acampamento Dobat, o homem não queria se exceder demais, pois o cessar-fogo com os Orcs poderia acabar a qualquer momento e ele deveria estar em seu auge caso isso ocorresse. Por isso ele só iria incomodar o Rei Carniçal, garantindo que ele não chegasse até a Matriz de Defesa.

    “General!” Um dos Majores Combatentes que estava posicionado na muralha aproximou-se. Ao vê-lo, o sujeito deu um suspiro de alívio.

    O General de barba e cabelos negros sequer deu uma olhada no homem, como era um dos Majores que acompanhavam Pagliuca, que logo deixaria a cidade, ele não sentiu que tinha motivos para prestar qualquer atenção ao sujeito.

    “Reúna os Comandantes aqui.” ordenou, com altivez.

    O Major percebeu sua atitude esnobe, mas não parecia ofendido, estando acostumado a ser tratado dessa forma. Aos seus olhos, em relação a alguns Generais da Cidade Dourado, Herin parecia muito menos pior.

    “Sim senhor!”

    Enquanto o homem havia saído para buscar as pessoas, Herin observou o Rei Carniçal. Graças ao seu ataque e as Balistas, a criatura estava tendo dificuldades, mas logo se regeneraria por completo.

    Olhando para os inúmeros Carniçais menores, que continuavam surgindo sem parar, franziu a testa.

    Em poucos instantes, o Major retornou, após passar pelas fileiras de arqueiros. Logo atrás estavam os vários líderes das tropas, que incluíam Capitães e Tenentes.

    “Senhor, esses são todos que chegaram até o momento.” O Major disse.

    Vendo apenas cerca de vinte homens e mulheres, a expressão do General ficou escura. Isso significava que a maioria dos Comandantes da área próxima ao Sul eram tão incompetentes que sequer conseguiram conduzir suas forças até as muralhas mesmo após todo esse tempo.

    Preciso conversar com o General Comandante sobre uma sanção disciplinar quando isso acabar! pensou, irritado. Se ele não tivesse vindo defender as muralhas, a situação poderia realmente ter ficado péssima. De repente, enquanto analisava as ‘pessoas competentes’ que haviam chegado primeiro, viu Alonso Allen, o Capitão da Brigada Salazar. Esse era um membro de destaque das forças da facção deles e alguém que provavelmente se tornaria um General no futuro.

    “Capitão Alonso. Você não estava estacionado na região Oeste? Como chegou aqui tão rápido?” perguntou, surpreso. Se mesmo as tropas que estavam mais ao Sul da cidade não tinham se organizado, era estranho que alguém que estava mais afastado tivesse chegado tão cedo.

    O sujeito com as manoplas deu um passo a frente ao ouvir a pergunta.

    “Estávamos realizando um treinamento noturno, quando ouvimos as ondas de choque. Então dirigi as tropas que eu tinha disponível para cá, o restante dos meus homens devem demorar algum tempo ainda.” declarou, com uma voz calma, mas não subserviente, demonstrando que mesmo sendo apenas um Capitão e estando em frente a um General, tinha algum orgulho.

    Como esperado, essa pessoa sempre cumpre as minhas expectativas. É uma pena que ele serve a Wayne… Se eu conseguir, preciso trazer a Brigada Salazar para as minhas fileiras. Isso vai aumentar e muito meu prestígio. pensou, imaginando quanto teria que gastar para conseguir convencer Alonso a se tornar seu subordinado. Ter uma Brigada Nomeada sob seu comando era o desejo de qualquer General. Enquanto divagava a respeito, percebeu outro rosto de destaque. Aquela pessoa!

    Ao ver Fernando ali, a expressão de Herin escureceu. Ele ainda não havia esquecido a afronta do rapaz de antes. Seja sua ofensa na questão com as Balistas, ou quando o mesmo ameaçou o QG durante a batalha, qualquer um dos motivos era mais do que suficiente para mandá-lo para a prisão. No entanto, o jovem era extensamente protegido por Dimitri e por algum motivo, até mesmo Zado, Oliver e alguns Majores pareciam ter alguma ligação com essa pessoa.

    Mesmo sentindo vontade de esmagar esse pequeno Tenente, ao lembrar-se de como foi insultado na frente de todos, Herin se conteve. Não seria bom para ele agir de forma imprudente, tanto devido à situação quanto pelas pessoas por trás do garoto.

    “Escutem bem todos vocês. Não irei dar muitos detalhes, mas precisamos manter a Matriz a qualquer custo. Se o inimigo derrubar nossa defesa, teremos uma guerrilha na cidade. Isso iria acabar com nossa reputação, isso absolutamente não pode acontecer!” Herin declarou.

    Atualmente muitas forças haviam se mudado para Garância por acreditarem no potencial da cidade, assim como para usá-la como base provisória. Por ser uma das cidades avançadas que não pertencia as Dez Grandes Legiões, os impostos cobrados eram simplesmente muito baixos.

    Com tantas pessoas e organizações diversas se reunindo ali, mesmo que os Leões Dourados não obtivessem tanto lucro sobre impostos, ainda poderiam obter muito sobre a vendas e alugueis de casas, isso também os ajudava na questão de mão de obra, recurso e logística sem gastar praticamente nada. Isso era um ótimo negócio para ambos os lados, tanto para eles quanto para os comerciantes e civis. 

    Todavia, tudo mudaria caso houvesse uma invasão à cidade em tão pouco tempo após a retomada. Isto faria com que muitos sentissem que os Leões Dourados não eram capazes de fornecer segurança suficiente, então migrariam para outras cidades, o que seria uma grande perda para a legião e muito mais para a facção deles.

    “Se vocês entenderam, já devem saber o que isso significa. Depender apenas dos poucos Magos e Arqueiros que temos aqui não vai ser suficiente para combater as Criaturas das Trevas. Então abriremos os Portões e lançaremos uma investida para limpar a base das muralhas.”

    Quando o General declarou isso, muitos dos líderes no local ficaram pálidos. Sair da cidade nesse momento seria praticamente suicídio! Não só havia inúmeros Carniçais, como um Rei Carniçal os esperando do lado de fora!

    Herin, obviamente, percebeu a indisposição da maioria, essa era uma tarefa de alto risco e com grande chances de baixas. Contudo, ele não se importava, era muito melhor perder um punhado de Soldados do que permitir que a Matriz caísse e as Criaturas das Trevas infringissem baixas nos civis.

    “Preciso de voluntários, caso não tenha pessoas suficientes, eu mesmo irei escolher.” falou, com um rosto autoritário. “Se estão preocupados com o Rei Carniçal, eu mesmo irei lidar com ele. Só precisam cuidar dos Carniçais.”

    Um estranho silêncio permeou o local. Ninguém estava disposto a virar isca para monstros.

    Nesse momento, Alonso Allen deu um passo à frente.

    “A Brigada Salazar se oferece para a missão.” O Capitão disse.

    Todos os líderes no local ficaram espantados com a coragem do homem.

    Digno de um Capitão de uma Brigada Nomeada! Muitos pensaram em uníssono.

    Vendo isso, Herin franziu o cenho.

    “Não posso aceitar isso, Capitão Alonso. Preciso dos seus Magos na muralha.”

    Ouvindo a resposta, o sujeito suspirou.

    “Entendo, se é assim, não há o que ser feito.” Alonso respondeu, como se estivesse decepcionado. A verdade, é claro, isso era meramente um teatro.

    Sendo uma Brigada Nomeada, o homem sabia que jamais seria enviado como bucha de canhão, ele também não estava interessado em arriscar suas tropas de elite numa missão sem sentido como essa. Ele só havia se oferecido por mera cortesia, para que a reputação de sua Brigada ficasse ainda melhor na frente dos outros.

    Com a recusa da Brigada Salazar, as outras tropas ficaram temerosas, sabendo que algumas delas teriam que assumir a missão.

    De repente, uma pessoa deu um passo a frente. Era um jovem pálido, com um rosto inexpressivo.

    “Eu irei.” O Tenente do Batalhão Zero declarou.

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