Índice de Capítulo

    Ao verem Fernando se voluntariando, sendo um mero Tenente, muitos dos Capitães acharam que ele estava louco. Mesmo eles não estavam confiantes em lidar com uma missão como essa.

    Apesar do jovem Tenente do Batalhão Zero ser relativamente famoso no momento, devido a sua atuação na última batalha, sendo chamado de ‘herói da Quinta Divisão’, muitos acreditavam que isso era apenas boatos. Para alguns, essa era a sua primeira vez o vendo pessoalmente, mas suas opiniões sobre ele rapidamente caíram ao ver como o mesmo era precipitado.

    Até Herin ficou surpreso com essa ação do rapaz, mas secretamente se sentiu feliz ao vê-lo se oferecer por conta própria.

    Esse desgraçado maluco… Eu ia dar um jeito de mandá-lo de qualquer forma, mesmo que Dimitri e Zado tentem me culpar, seria possível alegar que o enviei devido à necessidade da situação. Mas já que ele próprio se ofereceu, não preciso mais me preocupar em me explicar. Isso é perfeito! pensou, satisfeito.

    Alonso Allen, que estava não muito longe, tinha uma expressão estranha no rosto.

    Fernando, do Batalhão Zero. O que você está planejando? Desde antes do ataque a Garância, quando o conheceu enquanto tentava recrutar Heitor para sua Brigada, o jovem pálido havia despertado seu interesse. Mas somente quando viu a sua atuação e de seu Batalhão, é que realmente reconheceu que ele era um talento extremamente incomum.

    Devido a isso, Alonso estava planejando absorver todo o Batalhão Zero em sua Brigada Salazar. Todavia, ao ver como o Tenente era arisco, recusando a se encontrar com Capitães e até mesmo com os Generais que requisitavam sua presença, percebeu que ele seria difícil de obter. Devido a isso, havia esperado pacientemente que uma oportunidade surgisse. Se o sujeito pudesse obter tanto Heitor, O Pequeno Leão, quanto Fernando, sua Brigada se tornaria muito mais poderosa.

    Contudo, o homem nunca imaginaria que o jovem Tenente colocaria seus planos a perder ao levar seu Batalhão para a morte dessa forma.

    Isso talvez não seja de todo mal… Se ele sofrer algumas perdas, mas sobreviver, seu Batalhão Nomeado vai estar acabado. Então tudo que eu preciso fazer é pegar para mim o que sobrar. refletiu, enquanto o observava como se fosse um predador vendo um pequeno coelho que não conhecia seus limites.

    Lerona, que apesar de não ser uma Comandante, devido ao seu prestígio, foi permitida a ficar próxima, ouvindo tudo aquilo, ficou completamente assustada. Não imaginando que o alvo de sua proteção fosse tão louco a ponto de se oferecer para isso. Ela imaginou que Herin tentaria enviá-lo assim que ouviu o seu plano, devido ao incidente anterior. Mas se isso ocorresse, ela planejava interferir, em nome de Dimitri. No entanto, com o próprio Tenente se oferecendo, simplesmente não havia o que ser feito!

    Que merda! O que há de errado com essa criança?! A Capitã pensou, suando frio.

    “Muito bem, temos um, preciso de mais dois!” Herin disse.

    Os outros Capitães e Tenentes ficaram em silêncio, se entreolhando, como se esperassem que houvesse mais malucos como o último.

    Vendo que mais ninguém se voluntariava, a expressão do General ficou irritada.

    “Certo, se querem assim, eu mesmo escolho. Você e você!” falou, apontando o dedo para dois homens.

    Um deles era um Capitão, enquanto o outro era o Tenente que havia seguido o Batalhão Zero anteriormente até as muralhas.

    M-merda, se eu não tivesse chegado tão rápido… O homem pensou, se arrependendo de seguir Fernando.

    Ambos os homens tinham rostos pálidos, enquanto todos os outros líderes de tropas tinham expressões aliviadas.

    Nesse momento, Fernando levantou a mão.

    “General, não me importo em assumir essa tarefa. Mas gostaria de fazer um pedido.” declarou.

    Todos voltaram sua atenção para o jovem Tenente, surpresos com suas palavras. Herin era um General conhecido por não ser muito amigável. Fazer algum tipo de exigência ou pedir compensações para ele era algo sem sentido, já que era um homem muito mesquinho para tal.

    “O quê? Que tipo de pedido? Se está esperando algum tipo de prêmio, apenas esqueça, garoto. Lutar pela Legião é a sua recompensa.” O sujeito com a barba negra falou, com uma clara má vontade em sua voz.

    Sem se importar com suas palavras, o rapaz pálido continuou.

    “Atualmente temos vários grupos de Guildas Construtoras, assim como Soldados em missões externas a cidade. O que eu gostaria é de pedir autorização para enviar um pequeno grupo de resgate. Se permitimos que todas essas pessoas morram, isso vai ser um grande problema para nossa reputação.”

    Ao terminar de dizer isso, todos, incluindo Herin, Alonso e o Major Combatente, ficaram completamente chocados. Não só o rapaz havia se voluntariado para uma missão praticamente suicida, como agora estava querendo enviar grupos de resgate para fora da cidade!

    Esse pivete… Ele tem algum tipo de tendência suicida? O General perguntou-se, sem acreditar no que havia ouvido. 

    De certa forma havia sentido em sua fala, se os membros das Guildas Construtoras fossem mortos, seria uma grande dor de cabeça conseguir novos contratos com outras Guildas dispostas a assumir tarefas perigosas, porém, esse era um prejuízo que poderiam lidar. Arriscar tropas para um caso perdido como esse era idiotice.

    Lembrando-se do relatório que havia lido, sobre ele ter causado uma confusão em Belai e ser punido fazendo parte das Tropas de Exploração, além de ter desafiado as ordens do QG anteriormente e até mesmo o confrontado em público, o homem começou a entender que essa pessoa definitivamente não batia bem da cabeça.

    “Serão apenas algumas pessoas lideradas por mim, mas a maioria do meu Batalhão ainda ficará a encargo de proteger os portões, então a missão principal não deve ser afetada.” Fernando complementou.

    “Você… Que tipo de maluquice está dizendo? Todos fora da cidade já devem estar mortos.” O Capitão escolhido para lançar a ofensiva nos portões disse, olhando-o como se fosse um idiota. Sua tarefa já era complicada o suficiente, mas esse louco ainda pretendia complicar ainda mais a situação. “Quer arriscar suas tropas por um bando de cadáveres?”

    “Tenho certeza que não são cadáveres. Recebi a poucos momentos um comunicado de membros do meu Batalhão Zero que estavam realizando uma missão de escolta. Eles continuam vivos. Então meu objetivo não é apenas resgatar as Guildas Construtoras, mas também meu pessoal.” explicou.

    “E daí se estão vivos? É apenas questão de tempo até morrerem. Eu jamais faria algo assim por um punhado de Soldados rasos.” O sujeito contestou, de forma arrogante.

    Ouvindo isso, Fernando lhe lançou um olhar gelado.

    “O dever de um Comandante é cuidar de suas tropas, se não tem coragem para fazer o seu trabalho, que porcaria está fazendo aqui? Além disso, eu nunca abandono os meus, nunca!” disse, com uma expressão fria.

    “O que você disse?!” O Capitão exclamou, tirando sua espada.

    Os outros ao redor tinham um misto de emoções. Alguns achavam que esse ‘garoto’ era idiota demais, tanto por seus pensamentos, quanto por sua língua afiada. Enquanto outros ficaram impressionados com suas palavras, principalmente a parte de ‘nunca abandono os meus’. A maioria dos Comandantes só pensava em si próprios, poucos estavam dispostos a se arriscarem por suas tropas.

    Alonso, em especial, tinha um olhar estranho em seu rosto, achando o rapaz interessante. Mas o julgou muito precipitado.

    É uma pena que ele vai morrer. refletiu, suspirando. Ninguém com esse tipo de mentalidade ‘inocente’ sobreviveria em Avalon, por melhor que fosse seu talento.

    Não muito atrás, Lerona, que escutou aquilo, sentiu um leve arrepio se espalhando por todo seu corpo. De certa forma, essas palavras a lembravam um pouco do Major Rayzor, o homem que ela considerava quase como um pai. Lembrando-se que ele sempre dizia que ‘um Comandante que tem medo de morrer por seus homens, jamais deveria ser um Comandante’.

    Ele me lembra dele… Tenho certeza que o Major gostaria de ter conhecido essa criança. pensou, de forma reminiscente. Apesar disso, a mulher ainda achava que as ações do rapaz eram muito imprudentes.

    Herin estava pronto para esbravejar e questionar se o garoto tinha algum problema em seu cérebro, quando parou.

    Espera, essa não é a oportunidade perfeita para me livrar dele?

    Mesmo que enviasse ele e os outros para defender os portões por fora, ainda havia uma grande chance dele sobreviver. Mas se ele partisse para fora da cidade numa ‘missão de resgate’, sua morte era mais que garantida. Pensando até aí, o sujeito se alegrou internamente, mal conseguindo conter sua satisfação.

    “Muito bem, eu permito.” declarou.

    Ele concordou realmente com essa loucura?! Os Capitães e Tenentes se perguntaram, sem acreditar.

    Por outro lado, Lerona colocou uma mão em seu rosto, balançando a cabeça, já sabendo das motivações por trás da decisão do General.

    Quando Herin disse isso, todos ao redor ficaram incrédulos. Mesmo o Capitão, que estava apontando a espada para Fernando, abaixo-a, sem palavras. Então olhou para o rapaz como se estivesse olhando para um cadáver ambulante.

    “UOHHH!” De repente, um enorme grunhido foi ouvido ao longe. O Rei Carniçal havia se recuperado nesse pouco tempo, mesmo com seu corpo parcialmente em chamas, estava novamente a caminho da muralha.

    Tsk! Não temos mais tempo, vocês três se preparem, quero que limpem o máximo de Carniçais enquanto estiverem lá fora!” Após dizer isso, Herin levantou voo, preparando um novo ataque para afastar o Rei Carniçal novamente.

    Sem perder tempo, Fernando foi em direção a Kelly e os outros. Enquanto o outro Tenente e Capitão escolhidos andaram lentamente, como se estivessem perdidos.

    Muitos dos Comandantes das várias tropas olharam para o jovem Tenente do Batalhão Zero com uma série de pensamentos, alguns o elogiaram mentalmente por nem mesmo vacilar numa situação como essa, mas rapidamente viraram suas costas, voltando para suas posições nas muralhas, sentindo que essa seria a última vez que veriam o ‘herói da Quinta Divisão’.

    Enquanto o jovem pálido caminhava, Lerona o segurou pelo ombro.

    “Você está louco? Sabe o que acabou de fazer?” A Capitã indagou, pela primeira vez, verdadeiramente furiosa com as ações do Tenente.

    Fernando a olhou com uma expressão calma, parecendo já esperar alguma reação similar dessas por parte da mulher.

    “Agradeço pelos seus serviços, mas não precisa me acompanhar nessa missão, Capitã Lerona. Tenho certeza que o General Dimitri vai compreender a situação quando você a explicar.”

    Ouvindo aquilo, a mulher ruiva ficou ainda mais irritada.

    “O que você ganha com esse tipo de ação? Arriscar a vida de muitos dos seus homens por alguns poucos? Qual o sentido nisso?” perguntou, com a voz alta. De certa forma, era como se ela estivesse vendo uma imagem de si própria na última batalha em Fernando e ela não queria vê-lo cometer os mesmos erros que ela havia cometido.

    A discussão chamou imediatamente a atenção de Kelly e dos Magos e Arqueiros do Batalhão Zero que não estavam muito longe.

    O que está havendo? A Oficial perguntou-se.

    Erguendo seu olhar em direção aos olhos da mulher, Fernando a encarou com um rosto impassível.

    “Capitã Lerona, entendo seu raciocínio e de certa forma faz sentido. Entretanto, eu dei minha palavra para aqueles homens, que eu lutaria por eles e eles por mim. Nenhum membro do meu Batalhão Zero fica para trás!” falou, com uma voz firme.

    Quando a mulher ruiva ouviu isso, assim como viu aqueles olhos profundos e determinados, soltou involuntariamente a mão que segurava o ombro do rapaz.

    Vendo isso, Fernando virou-se, sem dizer mais nada, indo em direção a Kelly.

    “Reúna todos, estamos indo até os portões.” ordenou.

    “S-sim, senhor!” A Oficial disse, nervosamente. Tanto ela quanto os outros haviam ouvido toda a discussão. Apesar de não entenderem totalmente a situação, ela e os Arqueiros e Magos tinham olhares fixos nas costas do rapaz. Quando ouviram que ‘nenhum membros do Batalhão Zero ficava para trás’, lembraram-se do discurso de Fernando antes do ataque a Guilda Fúria, sentindo o sangue em suas veias ferver.

    Na época, muitos disseram que o Tenente só havia feito aquilo porque Emily era ‘sua mulher’, mas isso foi rapidamente desmentido com o tempo.

    Sem dizer nada, todos o seguiram com olhares firmes em seus rostos. Mesmo sem saber exatamente o que estava acontecendo, perceberam que algo grande estava por vir.

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