Índice de Capítulo

    O rapaz se assustou, mas sentiu como se estivesse paralisado, pois seu corpo não respondia aos seus comandos, movendo-se por conta própria. De repente olhou para baixo, apenas para notar que estava flutuando!

    “Todo e qualquer membro do meu Batalhão é importante para mim e jamais irei permitir que sejamos atacados, feridos ou oprimidos sem dar uma resposta à altura!” A boca de Fernando moveu-se por conta própria, era como se ele estivesse discursando para aqueles abaixo, mesmo que não entendesse o que estava dizendo ou o porquê daquilo, sentiu uma onda de adrenalina tomar seu corpo.

    Bam! Bam! Bam!

    Uh-Uh-Unidade!

    Um som estrondoso foi ouvido, quando aquelas centenas de homens e mulheres reagiram, movendo e cantando em uníssono. O jovem pálido sentiu todo seu corpo arrepiar-se, assim que um sentimento estranho, mas familiar, tomou conta dele.

    Momento depois, tudo ao seu redor desapareceu, quando se deu conta novamente, estava num local totalmente diferente. No instante em que olhou para baixo, notou que estava montando algo que parecia um cavalo, mas não era! Quando tentou olhar ao redor, viu uma criatura assustadora, como se tivesse vindo de um filme de terror, saltando em sua direção.

    Não!

    Hah! Hah! Hah!

    Abruptamente, o jovem pálido acordou, levantando-se da cama, completamente encharcado de suor e com sua respiração ofegante.

    Olhando em volta e percebendo que estava seguro em seu quarto, finalmente se acalmou, relaxando. Nesse ponto, viu alguns raios de luzes invadirem fracamente por uma fresta da porta, já estava amanhecendo.

    “Esses sonhos esquisitos de novo…” resmungou, suspirando. Não era a primeira vez que isso acontecia.

    Desde pouco antes de ser expulso da faculdade, o rapaz havia sofrido com uma estranha paralisia do sono que tomou conta de todo seu corpo, ele não tinha certeza sobre o que teria visto ou sentido, mas era algo surreal que durou apenas alguns segundos, apesar disso, sentiu que aquilo tinha sido a coisa mais assustadora que já experienciou em toda sua vida.

    Mesmo agora, ele não sabia explicar o que havia lhe acontecido. Aquelas estranhas luzes que lhe envolveram, assim como a sensação de que algo dentro dele havia mudado. Foi algo que durou apenas alguns segundos, mas desde o ocorrido, ele vinha tendo esses estranhos sonhos e pesadelos de forma recorrente.

    “Pelo visto ainda não superei aquilo…” disse para si mesmo, colocando a mão em sua cabeça, recordando-se do dia em que foi acusado falsamente, deduzindo que tudo isso era uma espécie de estresse e que seu corpo apenas estava reagindo a esse trauma. “Bem… tanto faz, não tenho tempo para perder pensando nisso.”

    Apesar de dizer isso, ainda lembrava claramente da multidão gritando e cantando em uníssono. Por algum motivo aquilo parecia trazer uma sensação de euforia em seu ser.

    Deixando os pensamentos estranhos de lado, levantou-se e começou a preparar algo para comer.

    Ainda que o trabalho atual em que ele estava fosse difícil e tivesse pessoas horríveis por lá, o salário era relativamente melhor que nos últimos sub-empregos que havia tido e conseguia ao menos pagar suas contas e proporcionar mais refeições por dia, o que já o deixava levemente satisfeito.

    Após comer um sanduíche com ovos mexidos, o rapaz saiu para o corredor externo, para pegar seu terno que estava secando ao relento. No entanto, quando saiu, sua expressão mudou.

    “Não… Não, não, não!” Ao olhar do lado de fora, não encontrou seu terno em lugar nenhum, então rapidamente se inclinou para frente, na esperança de que tivesse caído na parte mais baixa do beco. Mas para seu infortúnio não estava lá. Alguém realmente havia o roubado! “Droga… Por quê?!”

    Ninguém nunca vinha para aquela parte, já que teria que passar por mais de três casas e mesmo se viesse, Fernando não entendia porque alguém roubaria um terno velho que ele havia comprado num brechó de roupas usadas.

    Suspirando, o rapaz amoleceu seu corpo, sentando-se no corredor.

    “Acho que subestimei o Brasil…” falou consigo mesmo, ironicamente.

    Sem ter o que fazer além de se conformar, foi até uma pequena comoda velha que mal ficava em pé, então retirou uma camisa branca. Teria que ir ao menos com uma camisa social e torcer para que ninguém pegasse no seu pé.

    Horas depois, Fernando chegou na empresa. Como estava no período de experiência, sempre chegava cedo, muito antes dos outros funcionários, assim que o fez, começou a trabalhar, organizando algumas pastas e documentos espalhados sobre as mesas, bem como papéis jogados por todos os lados pelo chão.

    Cerca de uma hora depois, os demais funcionários chegaram. Muitos passaram por ele, ignorando-o por completo e indo até suas mesas.

    Vendo isso, Fernando não se sentiu insatisfeito, mas aliviado. Como ele não havia vindo com o terno, seria melhor se ninguém o notasse. Assim que ele estava pegando um lote de folhas para abastecer a impressora, a única voz que ele não gostaria de ouvir soou atrás dele.

    “Aprendiz Fernando, por que está sem seu paletó?” Era o sujeito gordo e calvo chamado Tony. Ao ouvir a voz daquela pessoa, o rapaz pálido sabia que estava em apuros.

    “Eu… Bem, alguém acabou me roubando, então…” respondeu nervosamente, tentando se explicar.

    “Roubar? Aquele seu pano de chão? Quem você está tentando enganar?!” O sujeito berrou.

    Vendo o homem gordo gritando logo pela manhã, muitos dos funcionários ainda sonolentos olharam para aquilo irritados, mas nenhum deles se atreveu a dizer nada, já que parecia ser uma rotina comum e ninguém queria se meter com o sujeito.

    Após xingar o rapaz por algum tempo, o homem finalmente se acalmou.

    Tsk! Por que estou perdendo meu valioso tempo com um lixo como você? Aqui, pega isso e tire cópia de tudo, quero na minha mesa em quarenta minutos.” ordenou, entregando uma pasta. Quando estava se preparando para sair, viu uma garota, parecendo perdida na entrada do local. 

    “Oh, já tinha me esquecido, parece que temos uma nova Aprendiz começando hoje. Carne fresca, do jeito que eu gosto.” O homem gordo falou, lambendo os lábios.

    Fernando, ao ouvir aquilo, se sentiu enojado com o sujeito. Principalmente porque ele estava em seus quarenta anos, enquanto a garota tinha cerca de dezessete ou dezoito no máximo.

    “Ei, você, garota. Venha cá.” Tony falou, movendo a mão, chamando-a.

    “S-senhor. Bom dia! Meu nome é Ana Beatriz, o RH me pediu para estar aqui nesse horário. O senhor é o Gerente Dominic?” perguntou, com um olhar de expectativa. A garota usava um par de óculos redondos e tinha um rosto juvenil, parecendo muito energética.

    Ao ouvir isso, o sujeito franziu a testa, parecendo não ter gostado da pergunta. Mesmo que ele gostasse de fingir ter alguma autoridade, realmente não passava de um Assistente Administrativo.

    “Meu nome é Tony, ouviu bem? Tony! Se quiser se dar bem aqui dentro, é melhor me respeitar, entendeu?” declarou, com arrogância.

    A garota olhou para o jovem pálido ao lado do homem em dúvida, pois o RH não havia mencionado qualquer Tony, mas o rapaz apenas a observou sem dizer nada.

    Fernando tinha passado por algo parecido quando havia chegado e apesar de estar com pena dela, não existia nada que pudesse fazer a respeito.

    Vendo que não receberia qualquer resposta do jovem, a garota assentiu.

    “Entendi, senhor Tony.” respondeu, educadamente.

    Vendo isso, o homem assentiu, satisfeito.

    “Bom, você aprende rápido, mocinha.” disse, aproximando-se dela, então a puxou pelo ombro, para mais perto de si. Apesar de incomodada com o toque, a garota não resistiu.

    “Esse aqui é o outro Aprendiz, Fernando. O Gerente Dominic só deve chegar daqui a uma hora, então ele vai te ensinar algumas coisas básicas até lá. Se tiver qualquer dúvida, basta me procurar.”

    “O-ok.” respondeu.

    O sujeito gordo sorriu ao ver isso, aproveitando a proximidade para espiar o pouco decote em sua camisa. 

    Após isso, saiu, dizendo que tinha muita coisa a fazer. Entretanto, o jovem pálido sabia que era apenas uma mentira. O homem sempre desaparecia pouco depois do horário de entrada para fumar escondido e só voltava uma hora depois.

    “Err, meu nome é Ana Beatriz, você é…?” apresentou-se, se dirigindo a Fernando e estendendo-lhe a mão. Mesmo que tivesse ouvido seu nome antes, educadamente perguntou novamente, para que pudessem se apresentar corretamente.

    O rapaz foi pego de surpresa, mas apertou apressadamente a mão dela.

    “F-Fernando.” falou, com a voz levemente rouca. “Comecei aqui recentemente também.”

    Desde o tempo que saiu da faculdade, vinha tentando melhorar suas habilidades sociais, mas ainda sentia alguma dificuldade, principalmente perto de garotas.

    A menina deu um leve sorriso simpático em resposta.

    “Pode me mostrar algo sobre o trabalho?” perguntou.

    “Err, claro. Eu…” Assim que Fernando estava prestes a responder, uma voz alta soou da entrada.

    “Ana Beatriz, tem alguma Ana Beatriz aqui?” Era o Gerente Dominic, que havia chegado mais cedo.

    “Eu!” A garota respondeu, levantando a mão rapidamente.

    “Ótimo, chegou cedo. Na minha sala, vamos acertar alguns detalhes antes de você começar.” O velho homem disse, entrando em seu escritório.

    “Eu tenho que ir.” A menina disse em direção a Fernando, que apenas assentiu.

    O rapaz se sentiu levemente derrotado por não conseguir falar corretamente com a novata, mas, ao mesmo tempo, ficou feliz pelo fato do Gerente Dominic não reparar nele e sua falta de terno.

    Então olhou para a pasta que o gordo Tony havia deixado. Ligando a impressora, preparou-se para fazer as cópias. Segurando os documentos, os visualizou rapidamente antes de colocar na máquina e assim que os viu, sua expressão mudou.

    “Isso…”

    Meia hora depois, o sujeito gordo voltou.

    “Está pronto?” indagou, batendo na impressora e assustando Fernando, que estava mexendo em alguns botões da máquina.

    “S-sim, são aqueles.” disse, apontando para duas pastas sobre a mesa.

    “Hm.” Depois de pegar a papelada, o homem saiu, sem olhar para o rapaz.

    Mas por trás, o jovem pálido o olhou de forma estranha, parecendo ter algo em mente.

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