Capítulo 544 - Eu sou Fernando (4)
“E-esse lunát-tico, Ger-rente Dominic, ele tentou me m-matar… Chame a p-polícia, ele precisa ser preso!” O sujeito corpulento esbravejou a partir do chão, seu rosto estava tão inchado que ele mal conseguia abrir os olhos ou se comunicar claramente, virando-se, como se quisesse se levantar, caiu novamente para o lado, sem forças.
Nesse momento, a garota Ana entrou, ficando horrorizada com a situação.
“Garoto, é melhor explicar isso, ou então…” O Gerente disse, sem acreditar que aquele rapaz aparentemente simplório, que mal se atrevia a falar alto, havia feito tudo aquilo.
Fernando não disse nada, então olhou para a garota.
“Eu apenas detive um abusador e impedi um crime de acontecer. Não estou certo, senhorita Ana?” falou, com uma voz calma.
“Isso é u-uma mentira, calúnia! Prendam e-esse assassino maluco!” O sujeito gordo gritou.
A menina, ao ouvir seu nome ser chamada, ficou paralisada.
“E-eu, eu…” disse, sem saber como reagir. Se ela confirmasse a versão do rapaz, teria que prestar depoimento a polícia depois. Além disso, esse era seu primeiro dia! Ela não sabia o que fazer. Ela apenas havia relatado que uma briga tinha começado no sexto andar, mas não teve coragem de contar toda a verdade da situação ao Gerente, temendo as consequências disso.
Ao ver isso, o rapaz pálido franziu a testa. De repente lembrou-se da situação em sua faculdade. Se ele não tomasse a iniciativa, o outro lado teria o controle da narrativa!
“Pense bem no que vai dizer, senhorita Ana. Da próxima vez, ninguém virá socorrê-la. Será apenas você e esse porco.” falou, apontando para Tony, no chão.
Ouvindo aquilo, somado ao que tinha passado antes, com aquele sujeito enorme a agarrando e tentando tirar sua roupa, a menina ficou pálida.
“É… é tudo verdade… Ele tentou abusar de mim aqui.” confirmou.
Ao ouvir aquilo, tanto o Gerente, quando os três seguranças, ficaram perplexos.
Merda, esse desgraçado foi até esse ponto?! Dominic pensou, ao ver Tony.
Devido ao tio dele ser um grande acionista da empresa, ele havia feito vista grossa para suas ações desagradáveis, mas isso era algo que ele não poderia ignorar!
“É-é tudo mentira! Esses dois Aprendizes desgraçados q-querem apenas sujar o meu nome e da nossa empresa. Não acredite neles, senhor Dominic!” Tony exclamou, finalmente conseguindo se ajoelhar. Mesmo sentindo dores, sabia que se não fizesse algo, ele estaria numa situação péssima! Até seu tio não poderia protegê-lo se um escândalo como esse ocorresse.
Vendo a menina delatar o homem, Fernando sorriu levemente, satisfeito. Ele não queria pressioná-la, mas também não poderia lidar sozinho com esse problema.
Após isso, o rapaz começou a caminhar, então abaixou-se ao lado de um armário, pegando uma pasta que estava escondida no fundo da última gaveta.
“Além disso, tem isso.” falou, entregando a pasta ao Gerente.
O velho homem estava confuso com essa ação, mas a aceitou, abrindo-a e varreu seu olhar sobre os documentos, até que sua expressão mudou.
Nos papéis haviam uma série de gastos orçamentários do setor que Tony administrava, todos eles eram extremamente estranhos, pois onde deveria haver gastos com materiais e serviços para o escritório, havia despesas de alimentos, cigarros e até mesmo transferências privadas. Esse era um documento totalmente diferente do que havia sido entregue a gerência!
Nesse momento, o velho sujeito entendeu que Tony estava deliberadamente desviando dinheiro da empresa!
“Você, seu ladrãozinho de uma figa! E pensar que seu tio me pediu para te dar esse cargo e mesmo assim você rouba de nós!”
Ouvindo aquilo, o sujeito gordo se desesperou.
Aqueles papéis… Finalmente se lembrando que havia pedido para rapaz pálido fazer algumas cópias dos documentos alterados antes. Porém, ele havia acabado misturando por engano alguns dos documentos verdadeiros, que ele utilizaria como base de valores para os falsificados e só notou após pegar a pasta, pouco antes de entregar ao Gerente Dominic.
Mesmo sendo documentos sensíveis para ele, o homem nunca imaginou que um Aprendiz simplório, que ele intimidava, perceberia a importância disso ou que sequer teria coragem de fazer cópias extras!
“S-seu desgraçado!” exclamou, levantando-se, mesmo sem enxergar direito devido aos olhos inchados, correu na direção do rapaz.
Mas Fernando apenas se manteve no lugar, sorrindo para o sujeito, quando os seguranças o impediram.
Mesmo não sendo alguém muito versado na área, o rapaz entendeu imediatamente o que o sujeito gordo estava fazendo quando viu os papéis. Então, apesar de achar arriscado, havia feito cópia para si mesmo, escondendo-a nos arquivos, onde quase ninguém ia. Apesar de achar que nunca precisaria usar ou sequer teria a coragem de fazê-lo, havia feito por segurança.
Algum tempo depois, Tony saiu para o hospital devido ao nariz quebrado e hematomas, acompanhado da polícia.
Para evitar que um escândalo ainda maior ocorresse, o Gerente escondeu a tentativa de abuso, apenas dizendo que Tony havia sigo pego roubando e foi detido por Fernando e alguns seguranças, que foram liberados após prestar alguns esclarecimentos.
“Apesar de eu ser grato por você pegar aquele sujeito, você sabe que fez uma enorme bagunça em nossa empresa. Você entende, Aprendiz Fernando? Isso não é algo que pode ser ignorado.”
Parado numa das poltronas do escritório requintado, agora com uma camisa nova, que Dominic havia lhe dado, Fernando o olhou em silêncio.
“É claro que não, Gerente Dominic.” respondeu, com um rosto calmo.
“Então você sabe que eu vou ter que te demit-”
“Eu quero uma promoção.” O rapaz falou, cortando a fala do homem.
“O quê?!” O homem exclamou, surpreso.
“Você disse que isso é algo que não pode ser ignorado e está certo. Então eu quero uma promoção.” Fernando declarou novamente.
“Está louco?”
“Estou?” O jovem pálido perguntou, inclinando-se para o lado na poltrona, então colocou o cotovelo no braço dela, apoiando sua bochecha, com um rosto inexpressivo. “Não só te ajudei a pegar um desgraçado que roubava da empresa, como impedi um abuso que estava prestes a ocorrer.”
“E o que isso tem a ver?” Dominic perguntou, irritado.
“Ele tava muito tranquilo fazendo aquilo, não deve ter sido a primeira vez, me pergunto se entre as garotas aprendizes que passaram por aqui antes, houve mais casos semelhantes… Por ‘coincidência’ tenho uma lista com seus nomes e números que memorizei. O que será que vai acontecer se eu fizer algumas ligações?” Fernando perguntou, encarando-o.
Bam!
“Está me ameaçando, rapaz?!” O Gerente indagou, batendo o punho na mesa, enquanto elevava sua voz.
O coração do jovem pálido bateu fortemente ao ver isso, com algum receio, mas sua hesitação só durou por um instante.
“E se eu estiver?” perguntou, com uma expressão fria. “Aquele verme agia assim porque você permitiu. Você!”
Ouvindo aquilo, Dominic estremeceu. Só o que havia ocorrido naquele dia era algo que seria difícil encobrir. Se mais casos surgissem, sua carreira estaria acabada e mesmo o nome da empresa seria implicado!
Depois de pensar um pouco, olhou para o rapaz seriamente.
“Por ‘coincidência’, uma vaga de Assistente Administrativo acabou de surgir… Você não é qualificado para ela, mas posso mexer alguns pauzinhos.” afirmou, extremamente incomodado.
Ao ouvir isso, Fernando sorriu levemente.
“Será um prazer trabalhar com o senhor, Gerente Dominic.” disse, levantando-se. Então foi em direção à porta, mas logo parou. “Ah, e estarei tirando uma semana de folga, para visitar minha família. Acredito que você não se importa, certo?”
Ouvindo aquelas palavras ousadas, o velho homem ficou vermelho de raiva, estava prestes a gritar e xingá-lo, mas conteve-se.
“É claro.” respondeu, a contra-gosto.
Após receber a afirmativa, o rapaz assentiu, então virou-se, saindo do local.
Sendo deixado sozinho na sala, Dominic suspirou, parecendo levemente chateado, mas, ao mesmo tempo, surpreso.
“Até que esse moleque leva jeito para o ramo.” elogiou.
Do lado de fora, a garota chamada Ana estava próxima da porta. Ela parecia incomodada e nervosa.
Vendo isso, o rapaz não disse nada, passando direto sem dizer nada. Ele havia a ameaçado antes, para sair daquela situação, então não estava admirado que agora a mesma tivesse uma péssima impressão a seu respeito.
“O-obrigada!”
Uma voz suave soou atrás dele. O jovem pálido parou por um instante, mas logo continuou em seu caminho.
…
Andando pelas ruas com as duas mãos nos bolsos, Fernando estava pensativo, se recordando sobre as maluquices que haviam acontecido naquele dia. Nem mesmo ele conseguia explicar aquilo!
Eu realmente fiz isso? perguntou-se, sem acreditar, achando que aquilo poderia ser mais um de seus sonhos loucos. Desde o último revés em sua vida, ele nunca mais tinha tido coragem de revidar, mas agora havia feito isso!
Tirando uma de suas mãos do bolso, olhou para ela. Vendo os hematomas em seus punhos, assim como sentindo a dor, sabia que definitivamente não estava sonhando.
Depois de pegar o transporte, dirigiu-se para um pequeno restaurante familiar onde ele fazia trabalhos de meio período a cada dois dias.
“Oh, Fernando, chegou cedo hoje. O que aconteceu?” Um velho homem perguntou, ao ver o rapaz entrando.
Ele havia ganho a vaga de Assistente Administrativo e receberia mais de cinco vezes o salário de um mero Aprendiz. Então, de certa forma, não precisava mais fazer esse tipo de serviço, mas mesmo assim havia ido até ali.
Embora fosse um trabalho ruim e que não pagasse quase nada, as sobras de alimentos que o dono do local sempre lhe dava havia sido de grande ajuda no passado e ele se sentia agradecido e em dívida por isso. Além disso, o velho homem não precisava, mas ainda havia lhe dado uma oportunidade.
“Boa noite, senhor Paulo. Nada de mais, o Gerente me liberou mais cedo. Como eu não tinha nada melhor para fazer, resolvi vir direto para cá.”
“Entendo, isso é ótimo. Se puder cuidar da limpeza das mesas do fundo, eu agradeceria.”
Assentindo, Fernando foi até a parte de trás, se trocando. Então pegou os materiais, começando a trabalhar. O local estava pouco movimentado, então era uma noite tranquila.
Olhando pela janela do restaurante e vendo as ruas vazias, sentiu uma estranha sensação dominando seu peito, então se questionou novamente sobre quem era aquela pessoa dos seus sonhos, aquele era realmente ele? Talvez outra pessoa? Ou era apenas um fruto de seu subconsciente?
O jovem pálido não tinha certeza de nada daquilo, mas sabia de uma única coisa. Se ele queria viver uma vida tranquila e dar conforto a sua família, precisava reagir, mesmo que para isso precisasse se tornar mais parecido com aquele ‘eu’ desconhecido.

Nota do Autor: Gostaria de deixar meus sinceros agradecimentos ao Alonso. Um dos apoiadores mais antigos da novel, autor de Guerra, Legado no Sangue e o patrocinador dessa incrível arte encomendada com o Wolf, o mesmo artista que foi responsável pela atual capa da novel. Segundo ele, essa arte foi um presente pelo meu aniversário no começo do mês de janeiro, mas acabou por também ser um presente para toda a comunidade da obra.
Inicialmente o Fernando da Terra demoraria algum tempo ainda a aparecer, mas devido à arte feita, senti a necessidade de adiantar um pouco os planos, pois encaixava perfeitamente nessa cena final. Peço desculpas pela nota feita em um capítulo e pela divisão em partes, não é algo que normalmente faço, mas é um trecho especial, acabou sendo necessário. Agradeço a todos que tem contribuído com Knight of Chaos por todo esse tempo e espero que possamos continuar juntos por muito mais tempo!
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