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    Após receber o tratamento, Fernando saiu da tenda. A Unidade de Logística e os feridos, que estavam no entorno, imediatamente olharam na sua direção, com muitos comentando ou cochichando.

    Nesse ponto, todos já sabiam que seu líder havia voltado derrotado após mal sair da área em torno do portão, sendo ferido no processo. Devido a isso, muitos se perguntavam como ele supostamente lideraria uma equipe de resgate para os postos avançados que ficavam a alguns quilômetros da cidade, tendo que passar no meio de um mar de inimigos.

    Na verdade, essa era uma questão que o próprio Fernando estava martelando em sua mente.

    Merda, o que eu deveria fazer? Se sairmos, é questão de tempo até sermos cercados por essas coisas. Além disso, elas são rápidas e quase conseguem acompanhar os Lobos Prateados. Levar a cavalaria a sair nessa situação não é diferente de suicídio… Eu deveria ir sozinho voando e tentar colocar todos no Anel de Aprisionamento? pensou consigo mesmo, mas logo descartou a ideia.

    Por mais que pudesse se locomover voando, ele não conseguiria carregar ninguém com seu nível de controle atual na Magia de Levitação e levar todos no Anel de Aprisionamento era uma péssima ideia. Afinal era um item cuja existência por si só já era perigosa, sem falar em tudo que estava lá dentro. Seja Brakas, os Ciclopes, o Orc Líder e mesmo os filhotes de Lobos Prateados, se qualquer uma dessas coisas vazasse seria um problema, podendo até mesmo levar à sua morte. Esse não era o tipo de risco que poderia correr.

    Boom!

    “Cuidado, eles estão invadindo!” Um grito alarmado soou, quando uma multidão de Carniçais inundou o local ao longe.

    Enquanto o rapaz estava se perguntando sobre o que fazer, uma parte da formação foi finalmente quebrada.

    Merda! Resgatar os outros? Pelo visto vai ser difícil até mesmo manter esse local! pensou, rangendo os dentes, quando rapidamente ativou seus Passos Tirânicos.

    Swish! Swish! Bam!

    No local, Theodora, Thom e vários dos membros centrais se reuniram, lutando contra a onda de Carniçais.

    “Empurrem eles, fechem a formação e protejam os escudeiros!” A Subtenente gritou, quando avançou com sua espada.

    Logo atrás dela, Lenny, Gabriel, Cíntia, Leo e muitos outros lideraram seus homens, se chocando violentamente contra as Criaturas das Trevas.

    Bam! BANG!

    Logo a frente, junto aos escudeiros que estavam fazendo seu melhor para fechar novamente a formação, Ugo, que continuava usando seu enorme martelo, bateu com força na cabeça de um dos Carniçais, esmagando seu crânio. Sua estatura e constituição corporal o destacava entre os outros. 

    Inicialmente ele apenas havia mudado de arma devido à necessidade, mas quanto mais usava o martelo, mais sentia que era adequado ao seu estilo de luta, usando sua vantagem de estatura. Porém, mesmo com sua força, ele e o restante dos escudeiros estavam numa situação terrível, já que algumas das criaturas que entravam se voltavam imediatamente para eles.

    “Ahhh!” Um Soldado gritou, quando um enorme Carniçal o abocanhou. Assim que o fez, a coisa correu na direção oposta, fugindo com ‘seu alimento’, enquanto outros menores o perseguiram, tentando roubá-lo. 

    Vendo um de seus subordinados sendo brutalmente morto, o Cabo franziu a testa, furioso, mas não havia nada que pudesse fazer.

    “Fiquem juntos e ergam seus escudos, logo os outros estarão aqui!” declarou.

    Mais atrás, um mar de Criaturas das Trevas havia se formado entre as tropas recuadas e a formação Parede de Espinhos.

    “Porra, essas coisas não acabam nunca, não importa o quanto matemos!” Leo reclamou, com o rosto encharcado de suor. Mesmo com seu Físico muito acima de tropas normais, estava começando a sentir-se esgotado.

    Theodora, que estava pouco a frente, retirou sua espada da boca de um Carniçal menor que havia acabado de eliminar, então olhou em volta.

    Os membros centrais estavam matando inimigo após inimigo, e até mesmo os Soldados se movimentando de forma coordenada com seus Cabos e Oficiais, eliminando vários dos mais fracos.

    No início ela, assim como os demais, tiveram dificuldades em lidar com as Criaturas das Trevas devido a seus corpos resistentes e por nunca terem lutado contra essas coisas. Mas nesse ponto todos mais ou menos aprenderam a como matá-los de forma mais eficiente, mirando principalmente em sua nuca e boca, ou acertando suas cabeças com ataques de impacto.

    Entretanto, por mais que as tropas tivessem se tornado mais eficientes nesse pouco tempo, seu vigor estava rapidamente se esgotando. Se a situação continuasse assim, era questão de tempo até que erros começassem a acontecer e eles teriam cada vez mais baixas.

    “Avancem!” Um grito soou, quando o Capitão Lesmark apareceu liderando suas tropas contra os inimigos pelo lado esquerdo, colidindo e empurrando fortemente os monstros.

    Ao contrário do Batalhão Zero, as tropas deles, mesmo que mais experientes, não tinham tanta convicção ou disposição física e coordenação, mas inspirados pelas ações desse Batalhão Nomeado, eles lutaram com tudo o que tinham. O medo e falta de vontade que havia em seus olhos quando saíram da cidade havia desaparecido.

    Bam! Swish!

    A espada do Capitão foi desferida contra um dos Carniçais, cortando o rosto da criatura ao meio. Essa cena pegou Gabriel, Leo e vários outros que lutavam próximos de surpresa. Mesmo que eles fossem fortes, nenhum deles conseguia matar uma das coisas com ataques cortantes dessa forma, seus corpos simplesmente eram duros demais!

    Por mais que Lesmark fosse um Mago voltado ao suporte e não gostasse de se engajar em lutas corpo-a-corpo, no fim ele ainda era um Capitão, com Atributos físicos elevados, além de magias que reforçam o corpo.

    O homem avançou sem impedimentos, cortando um inimigo após o outro, aproximando-se da área em que os membros do Batalhão Zero estavam cuidando.

    Swish! Plaft!

    “Subtenente Theodora, certo?” Lesmark indagou, caminhando em sua direção, após decapitar um Carniçal pequeno.

    A mulher, que estava se preparando para ir em direção a outro inimigo, parou por um instante. Ela não queria perder tempo com essa pessoa, mas o sujeito tinha duas patentes acima da sua, logo não poderia ofendê-lo, já que isso causaria problemas ao Batalhão. Além disso, eles eram aliados, lutando lado a lado.

    “Isso mesmo, senhor.” respondeu brevemente, olhando-o de forma questionadora e com alguma impaciência.

    Por mais que estivessem lutando juntos, cada tropa tinha seu próprio espaço para lidar e apenas às vezes seus homens se misturavam enquanto lidavam com alguns dos Carniçais que invadiam o espaço interno.

    O Batalhão Zero estava mantendo a formação de escudos, além de lidar principalmente com o centro. Enquanto Lesmark e seus homens lidavam com a esquerda e o Tenente Felipe com a direita.

    “Eu e meus homens vamos lidar com a limpeza dessa área.” O homem disse com firmeza. “Devemos fechar a formação, ou estaremos acabados. Então precisamos de um grupo avançado indo até o local. Acha que pode fazer isso?”

    Ao ouvir a pergunta, a mulher ficou um pouco surpresa, para ela, essas pessoas não eram nada além de incômodos, já que devido aos números maiores de pessoas, eles tiveram que ampliar a formação Parede de Espinhos, o que reduziu grandemente a efetividade dela e simplesmente não havia escudeiros suficientes para se revezarem.

    No entanto, apesar de pensar isso, teve que admitir que a ideia do Capitão era boa. As tropas de Lesmark lidariam com os Carniçais que estavam dentro do acampamento, enquanto o Batalhão Zero focaria apenas em limpar um caminho a frente e fechar novamente a formação.

    Quando Theodora estava prestes a dar uma resposta, rosnados altos foram ouvidos, quando a Cavalaria Dama de Prata apareceu.

    Roar! Bam! Swish!

    Diversos lobos avançaram contra as Criaturas das Trevas, as pequenas foram imediatamente abocanhadas ou rasgadas por suas poderosas mandíbulas e garras.

    Estranhamente, a pessoa que liderava a cavalaria não era sua líder, Karol, mas uma mulher com cabelos ruivos.

    Swish! Swish!

    Com apenas duas varreduras de sua lança, dois Carniçais caíram a sua frente. Ao ver aquela mulher, Theodora sorriu.

    “Contamos com você para manter nossas costas, Capitão Lesmark.” Ao dizer isso, ergueu sua espada, apontando para frente e gritando na comunicação. “Sigam o Pelotão Dama de Prata!”

    Mesmo Lesmark ficou absorto ao ver aquela cena, imediatamente reconhecendo Lerona. Ele havia visto a mulher nas muralhas mais cedo, mas não imaginou que uma pessoa famosa como ela se juntaria a batalha.

    “Ter a Lança Boreal ao nosso lado, é uma honra!” exclamou consigo mesmo, se enchendo de motivação.

    Bam! Bam! Bam!

    Sob o comando da mulher ruiva, os Carniçais no caminho foram tranquilamente varridos pelo Pelotão Dama de Prata, enquanto os retardatários que escapavam eram rapidamente mortos pela infantaria liderada por Theodora e os outros.

    Ugo, que estava cercado junto aos outros escudeiros, ao ver os reforços chegando, teve uma mudança de expressão.

    Uma oportunidade!

    Nesse momento, ele desistiu de toda a defesa, saindo sozinho com seu enorme martelo e escudo.

    Bam!

    Com um golpe, lançou duas Criaturas para longe, abrindo um pouco de espaço a frente.

    “Reúnam-se, vamos fechar o buraco na formação, rápido!” Após expulsar alguns dos inimigos, rapidamente ergueu novamente seu escudo, com seus companheiros cobrindo-o pelos lados, pouco antes de serem engolfados por mais Carniçais novamente.

    Havia um vão de cerca de dez metros na formação de escudos, por onde os inimigos estavam entrando sem parar. Devido à quantidade de Criaturas das Trevas invadindo, eles não conseguiam fechar a entrada.

    De ambos os lados da linha defensiva, os escudeiros, que haviam se fechado em meio aos escudos após a formação ser quebrada, para se protegerem dos Carniçais em suas costas, se prepararam, levantando suas defesas e avançando.

    “Uh! Uh!”

    Bam! Bam! Bam!

    Swish! Swish! Swish!

    Os lanceiros empurraram com suas lanças, furando todos os inimigos no caminho.

    Dezenas de Carniçais entravam a todo instante, mas os homens começaram a empurrá-los com vigor, barrando-os. As Criaturas das Trevas arranharam e bateram, tentando encontrar aberturas.

    Ugo, que estava na ponta da formação, usou seu enorme corpo e escudo para receber grande parte do peso das cargas inimigas, diminuindo a pressão sobre seus companheiros. No entanto, mesmo ele estava suando frio ao sentir os baques, se eles cometessem qualquer erro, seriam dizimados em instantes.

    Falta pouco! gritou em sua mente, ao ver os escudeiros do outro lado se aproximando. Contanto que eles se unissem novamente, poderiam reformar a linha defensiva.

    Bam! Ting!

    Os gritos tenebrosos dos monstros e os barulhos de garras eram extremamente assustadores. Todos os homens por trás dos escudos tinham expressões complexas, numa mistura de medo, mas com um fio de determinação para cumprir sua missão.

    “Senhor, não conseguimos avançar mais, essas coisas estão amontoadas a frente!” Um dos Soldados disse, com uma voz cansada, ao tentar empurrar e não conseguir mover mais nem um único centímetro. Sejam os escudeiros ou os lanceiros, todos estavam exaustos de manterem a formação, resistindo às forças inimigas.

    Vendo isso, o Cabo ficou em silêncio, pensando se deveriam aguardar a cavalaria, mantendo sua posição. Porém, ao ver as expressões pálidas de seus homens, ficou em dúvida se sequer conseguiriam aguentar por mais tempo.

    BOOM! BOOM!

    De repente, duas fortes explosões atingiram os Carniçais no entorno dos escudeiros. O ataque havia vindo de cima, queimando as criaturas até a morte.

    Ugo ficou surpreso com isso, então olhou para o alto, vendo um rapaz pálido levitando acima.

    “Tenente Fernando!” Os escudeiros exclamaram.

    O jovem apenas observou a situação abaixo com um olhar calmo, então ergueu a mão, reunindo mana em sua palma. Logo uma nova Lança de Fogo foi formada, ainda maior que a anterior.

    O rapaz sentiu seu corpo tremer, suor frio escorrer de sua testa e sua cabeça pinicar, enquanto se sentia sonolento. Era como se ele estivesse sem dormir há dias. Esse era o resultado de usar múltiplas Magias e Habilidades anteriormente, o levando a ficar mentalmente esgotado.

    Fernando já havia lido sobre isso algumas vezes nos livros, mas era a primeira vez que aconteceu com ele.

    Eu exagerei muito no controle naquela vez… pensou, ao lembrar das dezenas de Flechas de Fogo que ele havia controlado a uma enorme distância. Mesmo ele não tinha acreditado que tinha conseguido fazer aquilo. Entretanto, embora fosse impressionante, havia um preço a ser pago. Ainda que ele já tivesse chegado ao limite várias vezes devido a ferimentos no passado, nunca se sentiu tão exausto como naquele momento.

    Apesar disso, não deixou a sonolência o pegar, mordendo uma parte da língua com força a dor o atingiu. Sentindo um gosto levemente metálico em sua boca, seus sentidos voltaram um pouco ao normal, ficando alerta.

    “Membros do Batalhão Zero, ouçam minhas ordens.”

    Nesse momento, uma voz soou na comunicação de todos os membros do Batalhão. Era a voz de seu Tenente, Fernando!

    As tropas ficaram surpresas com isso. Por que seu líder estava entrando em contato nesse momento? A situação estava tão grave que eles iriam recuar? Ou algo pior havia acontecido?

    Muitas dúvidas estavam em suas mentes, porém, suas próximas palavras foram completamente fora de suas expectativas.

    “Todos, consumam suas Sopas Revitalizantes, agora mesmo!”

    Quando todos ouviram aquilo, não puderam deixar de ficar completamente confusos. O que ele queria dizer com consumir a Sopa Revitalizante? Por que deveriam comer enquanto estavam numa batalha de vida ou morte?!

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