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    Bem atrás de Fernando, diversos Carniçais estavam no ar, voando em sua direção em alta velocidade.

    Mas que porra é essa?! Desde quando essas coisas fazem isso?! gritou mentalmente, assustado. Mas não havia tempo para pensar a respeito, várias delas já estavam muito próximas, com suas bocas bem abertas.

    Controlando o fluxo de mana, o jovem Tenente fez com que seu centro de massa pendesse para o lado direito.

    Swish! Swish!

    Duas das Criaturas das Trevas passaram a poucos metros dele, mas mesmo que tivesse feito seu melhor para controlar sua Magia de Levitação e evita-las, ele ainda era muito inexperiente e não tinha total controle, logo percebendo que uma outra com certeza o atingiria!

    Foda-se! Sabendo que não tinha como desviar, moveu seu pulso, guardando o sangue de Delgnor e tirando sua Espada Formek, se preparando para enfrentar aquilo.

    Ziii!

    A lâmina em sua mão, bem como seu braço, começaram a tremer, quando ele ativou sua Habilidade de Vibração. Imediatamente o jovem pálido sentiu sua visão apagar por um instante, como se ele estivesse prestes a cair no sono.

    Se mantenha acordado! gritou em sua mente, ao lutar contra o efeito do cansaço mental, então apertou firmemente a espada, pronto para receber o impacto. Diferente dos outros, o Carniçal que estava vindo ao seu encontro, não tinha sua boca distendida virada para ele, mas estava de costas, se debatendo, como se não tivesse controle sobre si próprio. Isso está mesmo voando? perguntou-se.

    Apesar das dúvidas em sua mente, focou-se em se defender. Sabendo que não lhe restava tempo para recuar ou fugir, Fernando se manteve firme e avançou, cortando com sua espada Formek.

    Ziii! Swish! Bam!

    Tudo aconteceu num instante, a lâmina atravessou a criatura, partindo-a em duas, com o Tenente abrindo um caminho por meio de seu corpo. No entanto, uma parte do braço da coisa o atingiu no rosto em alta velocidade.

    O rapaz girou violentamente no ar como uma pipa caindo, quando perdeu o controle de sua Magia de Levitação. Além disso, o impacto foi tão forte, que ele se sentiu tonto e sua visão ficou turva.

    Shuaaa!

    Rodopiando desgovernadamente pelo ar, sem ter onde se apoiar, enquanto perdia altitude, Fernando lutou para recobrar o controle e se estabilizar, ao mesmo tempo que forçava seus olhos a abrirem.

    Merda, eu não posso cair no chão! Sabendo que o local estava infestado de Carniçais, ele tinha certeza que assim que tocasse o solo, seria atacado por todos os lados pelo mar de monstruosidades. Enquanto seu corpo rodava, ele finalmente conseguiu abrir os olhos e de relance notou que estava próximo à floresta. Preciso chegar até lá.

    Se ele caísse na mata, pelo menos poderia se esconder ou tentar fugir, mas se fosse em campo aberto, não haveria o que fazer, além de aceitar sua morte.

    Contudo, mesmo sabendo disso, sua Magia de Levitação estava completamente fora de controle e ele sentiu que seria impossível retomar seu equilíbrio no ar dessa forma, então, numa ação ousada e desesperada, desistiu de tentar controlá-la, mantendo-a como estava. Guardando sua espada, rapidamente ascendeu uma chama em sua palma.

    Boom!

    Quando a chama explodiu, seu corpo, que rodopiava, foi empurrado em outra direção.

    Deu certo! comemorou, sem acreditar que isto realmente havia funcionado. Num momento de pânico, ele havia inconscientemente pensado nisso, lembrando de propulsores a jato de filmes e imaginou se poderia reproduzir algo semelhante com sua Magia de Fogo. Preciso continuar assim!

    Boom! Boom!

    Usando suas duas mãos para criar várias pequenas explosões, controlou seu voo, reajustando seu centro de gravidade, mas mesmo assim, percebeu que ainda estava caindo. Apesar disso, ele viu que restavam apenas alguns poucos metros até chegar na floresta.

    A maioria dos Carniçais na área estavam totalmente focados em devorar aquele que havia bebido as gotas de sangue de Delgnor, mas alguns poucos notaram as explosões de fogo. Atraídos pelas chamas, logo eles rumaram naquele sentido, acreditando que aquilo poderia ter relação com o cheiro saboroso que permeava o ambiente.

    Notando algumas das coisas movendo-se para onde ele iria cair, Fernando rangeu os dentes. Então focou uma quantidade maior de mana nas palmas, acendeu-as de uma única vez.

    BOOM!

    O jovem Tenente foi jogado violentamente para frente, enquanto deixava um rastro de chamas no ar. Todo seu corpo tremeu com o impacto e sua cabeça estava explodindo de dor, mas felizmente seu ato desesperado funcionou, quando ele chegou até algumas árvores altas.

    Bam! Splaft!

    Batendo violentamente contra vários galhos, Fernando sentiu seu corpo inteiro doer, enquanto vários arranhões surgiam por todos os lados, se não fosse sua Armadura Negra Kinfar protegendo suas áreas vitais, ele sabia que estaria em apuros. Apesar disso, mesmo com toda a dor e cansaço, ele não se deixou cair a deriva, quando usou ambas as mãos para tentar agarrar-se a algo.

    Rasga!

    Suas unhas cravaram nas árvores e galhos no caminho, arrancando pedaços de madeira e deixando um rastro de arranhões enquanto tentava parar sua queda.

    A expressão do rapaz mudou, quando sentiu várias das unhas de suas mãos sendo arrancadas no processo.

    Porra, isso dói! Apesar de acreditar que havia se acostumado à dor, a verdade é que era difícil realmente ignorá-la completamente. Mesmo os melhores Usuários de Habilidades ainda sofreriam quando partes sensíveis de seus corpos fossem feridas.

    Entretanto, mesmo com a dor e agonia, se manteve tentando se segurar em algo.

    Plaft!

    De repente, o rapaz se chocou contra um galho maior e rapidamente cravou suas mãos nele, afundando as pontas de seus dedos na madeira enquanto se agarrava firmemente.

    Respira! Respira!

    Arfando pesadamente, Fernando se viu pendurado a menos de dez metros do chão, numa árvore enorme, todo seu corpo estava encharcado de suor.

    Essa foi por pouco! pensou, suspirando internamente, se ele tivesse dado azar, poderia ter morrido nessa queda.

    Shaahh!

    Ouvindo chiados e ruídos abaixo, viu cerca de quatro Carniçais se aproximando velozmente, o que o fez franzir o cenho, irritado.

    Essas coisas não desistem!

    Apertando as mãos com força, as veias em seu braço estufaram, quando moveu suas pernas para cima, jogando seu corpo para o alto. Logo conseguiu segurar no galho com as pernas, então largou seu aperto, balançando seu corpo, usou suas mãos para agarrar a parte de cima e se puxar para o alto. Logo ele estava em segurança no topo do galho.

    Tendo uma base firme e estável, Fernando não perdeu tempo, colocando-se de pé e tirando novamente sua espada da Pulseira de Armazenamento. Todavia, assim que tentou segurá-la, quase gritou de dor.

    Suas unhas, dedos e palmas estavam completamente cheias de farpas de madeira e ferimentos sangrentos, devido à adrenalina, ele não havia percebido que estavam tão ruins até aquele momento.

    Lembrando-se de quando estava na Terra, uma única e pequena farpa era extremamente incômoda e difícil de remover, então perguntou-se, de forma irônica, o quão complicado seria tirar essas.

    “Hoje definitivamente não é meu dia.” murmurou, suspirando. Seja os ferimentos que obteve antes na luta com os Carniçais, o fato de ter sido cercado com seu Lobo, o cansaço mental e agora isso, muitas coisas estavam dando errado para ele naquela noite.

    Com suas mãos desse jeito, Fernando não se atreveu a usar sua Habilidade de Vibração, mas ao ver que as coisas estavam escalando a árvore em que ele estava, bem como duas outras mais próximas ao entorno, sua expressão ficou escura. Nesse momento, uma voz idosa soou em sua mente.

    Mestre, permita que eu lide com esses insetos. Brakas disse, de dentro do Anel de Aprisionamento.

    Ao ouvir isso, o jovem Tenente hesitou, já que normalmente, mesmo se sua vida estivesse em risco, ele achava muito arriscado libertar o Beholder. Mas agora, tão longe da cidade, percebeu que não deveria haver problemas.

    “Tudo bem. Brakas, cuide disso!”

    “Entendido, Mestre.” Após o rapaz dizer isso, um portal negro apareceu a sua frente, ele havia dado autorização ao mesmo para sair do anel. Logo um enorme olho apareceu de dentro. Era tão grande que estava se espremendo para atravessar. Quando Fernando viu isso, ficou chocado.

    Ele cresceu ainda mais?! pensou, surpreso, perguntando-se se ele realmente estava se alimentando apenas da carne de Delgnor e mana, ou se tinha algo mais em sua alimentação. Esse desgraçado não está desviando toda carne dos Lobos Prateados para ele, está? perguntou-se, com uma carranca.

    Logo parte do corpo de Brakas finalmente saiu e assim que o fez, sua enorme boca sorriu de forma maliciosa, expondo seus vários dentes afiados.

    Nesse momento, os quatro Carniçais finalmente chegaram até ele, saltando de direções diferentes.

    Swish! Perfura! Swish! Perfura!

    Quatro dos tentáculos do Baiholder afundaram-se no corpo das Criaturas das Trevas, empalando-as no ar com facilidade e atravessando-as de um lado ao outro.

    Shaaa!

    As coisas guincharam, se debatendo, mas os tentáculos cruelmente se moveram, se enrolando em torno de suas cabeças e as esmagando como se fossem melancias.

    Vendo os quatro corpos pendurados, que sequer conseguiram lutar minimamente, Fernando ficou impressionado.

    Brakas era um Beholder, uma criatura misteriosa que dependia principalmente de suas magias, mas ele havia matado os Carniçais apenas com seu corpo, sem usar qualquer truque ou mana. Isso era algo que mesmo o próprio Tenente não conseguia fazer, apenas podendo ferir seriamente essas coisas caso usasse magias ou sua Habilidade de Vibração.

    Vendo uma rara expressão surpresa no rosto de Fernando, Brakas sorriu com orgulho.

    “O que quer que eu faça com os corpos, senhor?”

    Ouvindo a pergunta, o jovem pálido franziu o cenho.

    “Apenas os largue por aí.” disse, sem se importar muito, mas logo pensou em algo “Por acaso você não tá pensando em comer isso, está?”

    Olhando para os corpos nojentos daquelas coisas, Fernando se perguntou se algo realmente conseguiria comer isso.

    O grande olho do Beholder se fechou, quando seu sorriso diminuiu.

    “Que tipo de visão o senhor tem de mim, Mestre? Por que eu comeria esse tipo de lixo imundo?” falou, sentindo-se ofendido. “Não tenho interessem em comer Humanos vivos, por que eu comeria esses sujos e corrompidos?”

    Quando o jovem Tenente ouviu isso, sua expressão mudou.

    “O que você quer dizer com Humanos?”

    Os tentáculos do Baiholder se moveram, soltando os corpos, mas na ponta de cada um havia um Cristal, que a criatura habilmente recolheu.

    “Bem, você sabe. Essas coisas se espalham pela corrupção. Vocês Humanos chamam isso de Carniçais, mas meu povo conhece eles como… Deixe-me ver, em linguagem Humana isso seria algo como ‘Praga Podre’. Eles se alimentam principalmente de corpos mortos, mas às vezes eles deixam alguns corpos intactos, para espalhar sua doença suja. Existe algo em seu sangue, que entra nos corpos e os transformam, dando-lhes a vida que não é vida.”

    Quando Fernando ouviu isso, seu semblante mudou ao se lembrar de algo que Anastasia havia falado, sobre um tal parasita.

    Aquilo transforma cadáveres em Carniçais? Quando refletiu até aí, Fernando finalmente notou algo. O motivo para haver tantas dessas coisas nessa região era por uma única razão. Os Carniçais haviam se proliferado usando os corpos das vítimas dos Orcs, transformando-as nessas monstruosidades! Ele finalmente entendeu porque o Alto Comando foi tão insistente em queimar cada cadáver. Também finalmente compreendeu porque essas coisas se pareciam tanto com Humanos em sua anatomia e o motivo que causava um certo desconforto ao matá-las. Merda!

    Lembrando-se vividamente de como as cortou e até mesmo se banhou em seu sangue durante a batalha, o deixou ainda mais enojado.

    “Não só Humanos, o Verme Predador usa qualquer ser inteligente para se espalhar. Mas na cadeia alimentar, eles não são nada, existem muitas outras coisas piores e mais aterrorizantes por aí.” comentou, com uma voz incomodada.

    Saber disso fez o jovem Tenente se sentir um pouco assustado. Lembrando-se do Obscuro que encontrou no Norte e da Mandazia que quase o enganou e o assassinou durante seu período nas Tropas de Exploração, o fez ficar cada vez mais cauteloso.

    Preciso descobrir mais sobre Criaturas das Trevas! pensou, percebendo que não entendia tanto sobre essas coisas. Na maioria dos livros que havia lido até ali, apenas as mencionava brevemente, sem entrar em detalhes sobre suas existências. De repente, percebeu que Brakas poderia ser uma fonte de informações mais confiável do que depender de livros. Tenho que perguntar algumas coisas a ele quando sair dessa…

    Bam! Bam! Bam!

    Sons fortes de colisão soaram próximo, quando Fernando e Brakas viram vários Carniçais atingindo as árvores próximas.

    “Que merda está acontecendo?!” O rapaz perguntou, ao vê-los colidindo fortemente com as árvores, com alguns deles sendo empalados nos galhos no processo. “Essas coisas realmente estão aprendendo a voar?”

    “Isso é impossível, Mestre. Essas coisas têm um intelecto medíocre, muito menos voar, elas sequer conseguem usar os fundamentos básicos da magia.” A enorme criatura respondeu, com assertividade.

    “Preciso subir.” Fernando disse, se preparando para voar, mas logo sua cabeça começou a doer fortemente, fazendo-o parar e cair de costas no tronco da árvore, colocando uma mão na cabeça.

    “Hm. É melhor não exagerar Mestre, deixa que eu te levo.” Brakas falou, quando enrolou um tentáculo em torno de Fernando, puxando-o e começando a voar para o alto.

    Ao ver uma daquelas coisas se enroscando em seu entorno, a expressão do rapaz mudou. Principalmente ao lembrar-se que aquilo não eram apenas os braços e pernas do Baiholder, mas também serviam para outras coisas que ele nem queria pensar sobre.

    “Foda-se, quem disse para me pegar?” gritou, furioso.

    “Relaxa Mestre, eu cuido disso.” Brakas respondeu, com sua voz envelhecida e um leve sorriso em sua enorme boca, claramente sabendo o porquê do rapaz estar tão incomodado.

    Apesar de irritado, o Tenente se deixou ser levado, já que ele realmente não estava na melhor das situações, mas isso não o fez se sentir bem, principalmente ao ver os tentáculos pulsando.

    Carregando Fernando, o Baiholder rapidamente subiu ao topo. Seus outros tentáculos habilmente abriram caminho entre os galhos das árvores e em instantes os dois chegaram acima da floresta.

    Assim que alcançaram o topo, Fernando teve uma visão perturbadora. No local onde estava o Carniçal maior, cujo qual ele despejou o sangue de Delgnor, agora só havia restos mortais, com centenas de outros Carniçais enxameando ao seu redor, devorando cada pequeno pedaço seu. Sequer era possível afirmar que aquilo já fora uma poderosa Criatura das Trevas.

    Mas isso não foi o que mais o assustou e sim quando viu ao longe, o Rei Carniçal se aproximando a passos rápidos. O gigante colossal desacelerou por um momento, ao ver um bando de Carniçais menores correndo perto de seus pés, então abaixou-se, pegando um punhado deles e depois os atirou na direção em que Fernando e Brakas estavam, ou mais precisamente, na direção em que o rapaz despejou o sangue de Delgnor.

    “Esse desgraçado!” O jovem Tenente xingou, ao finalmente entender como essas coisas estavam ‘voando’. O Rei Carniçal claramente estava os usando para perseguir o que quer que estivesse emitindo o ‘cheiro’ que ele tanto desejava.

    Algumas das criaturas atiradas estavam vindo na direção de Fernando e do Beholder, o rapaz estava prestes a dizer algo, quando Brakas moveu seus tentáculos com olhos.

    “Não se preocupe, isso não é nada senhor.” garantiu, quando a partir dos olhos, diversas magias foram lançadas.

    Boom! Boom! Boom!

    Os corpos das Criaturas das Trevas atiradas explodiram no ar, antes mesmo de se aproximarem.

    “Mestre, aquilo parece estar vindo até aqui, mesmo eu não consigo matar algo assim. O que planeja fazer?” perguntou, com sua voz envelhecida.

    “Eu…” Fernando estava pensativo sobre o que fazer. Ele deveria continuar o atraindo para mais longe? Ou deveria apenas recuar?

    Enquanto estava pensando a respeito, uma série de ruídos soaram em seu Cubo Comunicador, fazendo sua cabeça doer.

    “Ouçam, o inimigo recuou, eu repito, o inimigo recuou!”

    “Não podemos relaxar, tragam mais Magos até a muralha Sul, precisamos garantir a integridade da Matriz de Defesa!”

    “O que diabos o QG está fazendo, aqueles desgraçados realmente não se mostraram mesmo agora? Ué… A comunicação voltou?!”

    “Ei, quem foi o maldito que falou isso?! Tá querendo morrer?!”

    Uma série de comunicações foram recebidas uma após a outra, fazendo com que Fernando ficasse perdido.

    “A conexão foi restabelecida?” questionou-se, perplexo.

    Como ele havia deixado seu Cubo Comunicador totalmente livre para recebê-las, acabou captando uma enxurrada de transmissões locais vindas da cidade.

    Enquanto tentava desligar essa função do seu Cubo, ouviu algo que chamou sua atenção.

    “QG, vocês me ouvem? Aqui é o Oliver, eu falhei em capturar o rato. Ele está se movendo para o Sudoeste!”

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