Índice de Capítulo

    Em frente aos portões da cidade, pouco tempo depois do recuo dos Carniçais, Theodora e os outros membros do alto escalão do Batalhão Zero estavam organizando as tropas, bem como recolhendo os corpos dos que caíram em batalha, ou ao menos o que havia restado deles.

    “Ainda sem sinal dele?” A Subtenente perguntou, com uma expressão preocupada.

    “Não senhora. Desde que o Tenente saiu do alcance atual das nossas Redes de Mana Móvel, nenhuma das mensagens sequer chegaram a ele.” Um Cabo respondeu.

    Devido à interferência no sinal, apenas a comunicação próxima na área externa estava funcionando corretamente, isto somente por conta das Redes de Mana Móvel. Todavia, estabelecer contato sonoro ou mesmo emitir e captar mensagens de texto a longa distância ainda era difícil.

    “Talvez devêssemos enviar equipes de busca?” Kelly perguntou.

    “Podemos fazer isso, mas lá fora ainda deve haver muitas dessas coisas. E diferente do Tenente, nós não podemos voar.” Gabriel falou, cruzando os braços. Por mais que respeitasse Fernando, não via razão em mandar as tropas se matarem de uma forma tão sem sentido.

    Tu! Tu!

    Quando o enorme portão começou a ser aberto, Theodora franziu a testa. Não apenas ela, mas Thom, Leo, Ugo, Cíntia e muitos outros.

    Zzzz!

    Um leve chiado soou em seus Cubos Comunicadores, indicando que a comunicação normal da cidade parecia estar retornando ao normal. Logo em seguida uma ordem chegou em seus Cubos.

    “Tropas de limpeza, fiquem onde estão. Uma equipe irá escoltá-los de volta a cidade! Essa é uma ordem do QG!”

    Quando essa transmissão foi emitida, todos que estavam irritados, ficaram ainda mais nervosos.

    “Esses caras… Permaneceram escondidos todo esse tempo, mesmo quando estávamos cercados, eles se recusaram a abrir os portões, mas agora querem nos dar ordens sobre o que fazer?!” Lance comentou, furioso.

    Karol, que estava ao lado, tinha um olhar apático, voltado na direção em que Fernando havia partido anteriormente. A preocupação em seu rosto era evidente.

    Se a Oficial pudesse, reuniria suas tropas e partiria para encontrá-lo novamente, porém mesmo que quisesse, sabia que isso estava além de suas capacidades. As baixas que sofreram antes após apenas contornarem a área mostrou que o inimigo não podia ser subestimado.

    De repente uma mão tocou seu ombro.

    “Não se preocupe, minha senhora. O Tenente não é um homem fácil de ser morto.” Anane disse. Essa não era apenas uma afirmação simplória para confortá-la, era apenas a opinião sincera do velho homem.

    “Sim, eu sei. Ele é meu marido, afinal.” A mulher respondeu, forçando um sorriso em seu rosto.

    Logo atrás, ouvindo tudo, estava Lerona, franzindo a testa.

    Eu não deveria ter intervido dessa forma… Cometi um erro no final das contas. pensou, incomodada. Ela havia desviado sua atenção do rapaz por um momento para ajudar a cavalaria, pois acreditava que essa era a melhor forma de cumprir sua missão. Mas jamais imaginou que ele sairia sozinho.

    Quando todos estavam discutindo, um som e estática soou e então uma mensagem chegou no Cubo Comunicador de Theodora.

    “Os Carniçais estão se afastando da cidade, envie a cavalaria para o Sudoeste, eu os encontrarei lá.”

    Assim que a Medusa leu isso, sua expressão mudou, então olhou para Karol.

    “Parece que você tem mais uma missão a cumprir, Oficial Karol.”

    Voando pelo ar noturno, camuflando-se em meio às árvores, uma enorme criatura carregava um Humano cuidadosamente.

    “Mestre, está tudo bem aí?” Brakas perguntou, ao observar o rapaz removendo os diversos fragmentos de madeira em suas mãos, tremendo com a dor ao retirar cada farpa afiada.

    “Não se preocupe comigo, foque nos arredores. Ninguém pode saber sobre sua existência.” Fernando declarou, com uma voz fria, mesmo que estivesse suando frio e tremesse a cada vez que retirava um fragmento, seu rosto parecia indiferente a toda a dor. Pelo contrário, no lugar de pensar na dor, ele estava mais preocupado com a possibilidade de que um membro da Legião os visse.

    Ouvindo isso e sabendo da sua personalidade, o Baiholder não insistiu, fazendo como lhe foi ordenado. Os olhos em seus tentáculos varriam sobre todas as direções, garantindo que nada escapasse de sua percepção. No entanto, a criatura notou algo que fez seu grande olho se estreitar. Então imediatamente foi para baixo, numa alta velocidade.

    Swish!

    Descendo abruptamente, Fernando sentiu seu corpo chacoalhar.

    “O qu-” O rapaz estava prestes a questionar, quando Brakas acenou com um dos tentáculos, para que ele não dissesse nada. Então pousou atrás de uma enorme rocha, puxando os galhos e terra do entorno com seus vários tentáculos em direção a eles e cobrindo seus corpos. Após isso, um de seus tentáculos emanou alguma espécie de mana, que se espalhou lentamente ao redor deles, tão densa como se fosse algo palpável.

    Vendo isso, o jovem pálido, apesar de confuso, se manteve calado. Ambos ficaram num completo silêncio em meio a mata escura. Tudo que era possível ouvir era o som suave do vento noturno balançando as folhas das árvores, assim como insetos e pequenos animais.

    Contudo, de repente, mesmo os insetos e animais se calaram, como se estivessem evitando chamar atenção.

    O que é isso? Fernando perguntou-se, chocado, sentindo uma sensação levemente opressiva no ar. Isso é semelhante à época que encontrei o Obscuro no Norte, ou quando vi o Rei Carniçal, mas de alguma forma, sinto que é diferente.

    Enquanto pensava a respeito, seu corpo congelou por um momento, quando notou que bem ao lado deles, uma figura negra estava de pé.

    Quando isso chegou aqui?! exclamou mentalmente, mas não ousando agir, até mesmo prendendo sua respiração, enquanto observava aquilo, que estava simplesmente parado ali. 

    Mesmo com sua Visão Escura e com aquilo tão próximo, não conseguia ver um rosto ou sequer observar qualquer detalhe daquilo, apenas conseguindo identificar vagamente sua silhueta sombria. Era como se a fraca luz do ambiente não refletisse em seus corpos, mas fosse completamente absorvida por ela, era como se aquilo fosse a própria escuridão. O que é essa coisa?

    Embora parecesse uma silhueta humana, era diferente, com membros longos e compridos. Sua cabeça moveu-se de um lado ao outro, como se estivesse procurando algo.

    Inesperadamente, o jovem Tenente viu algo que o assustou ainda mais. A partir da mata mais duas, três e finalmente quatro figuras surgiram, sem fazer qualquer ruído.

    Mesmo que ele tivesse aprendido no Vale de Flaviore, com os guias da missão, técnicas para se mover mais silenciosamente na floresta, isso era completamente diferente. Não era como se estivessem se movendo com cuidado, simplesmente não havia um único ruído sequer!

    Enquanto olhava para aquelas coisas, o rapaz pálido sentiu o tentáculo que o envolvia tremer levemente, o que o surpreendeu.

    Sem ousar mover um músculo, com receio de causar algum barulho, usou sua visão lateral para tentar observar Brakas e percebeu algo que o deixou atônito.

    Ele está com medo? pensou consigo mesmo, ao ver a pupila de seu enorme olho tão pequena quanto uma bolinha de gude.

    O jovem nunca havia o visto exibir uma expressão tão assustada quanto naquele momento. Mesmo quando ele o derrotou e firmou o contrato, o Beholder nunca havia demonstrado tal nível de pavor.

    Além disso, a criatura havia recentemente avançado para o nível de um Baiholder, um Beholder Ancião, sendo capaz de até mesmo capturar um Orc Líder como se fosse uma criança e exterminar todo um grupo de Ciclopes como se fossem insetos. Sendo assim, o que seria capaz de causar medo em um ser como ele?

    Apesar dessas dúvidas pairando em sua mente, Fernando continuou prendendo sua respiração. Até mesmo o som de seu coração batendo, que estava alto, o incomodou, fazendo o possível para se acalmar e diminuir a taxa de seus batimentos cardíacos.

    As cinco ‘criaturas negras’ continuaram perambulando no entorno, sem emitir qualquer som. Era quase como se não estivessem ali, como se fossem um simples sonho, ou melhor, um pesadelo.

    Uma delas se aproximou, chegando a centímetros de Fernando e Brakas, mas parecia não os enxergar, como se os dois estivessem invisíveis a ela.

    “Uqfi ltxayu rxk. Jizzi zxsday i zuriy si uy.” (Algo cheira bem. Posso sentir o sabor no ar.) A coisa disse, num estranho idioma sibilante, que causava arrepios a qualquer um que o ouvisse.

    As outras coisas ficaram em silêncio, mas uma delas, a mais distante, respondeu.

    “Bukiz.” (Vamos.) sibilou, voltando seu rosto negro para outra direção. “Tá ltxayi wx jyxzuz jiy diwiz iz quwiz.” (Há cheiro de presas por todos os lados.)

    As outras coisas não responderam, mas começaram a andar, se afastando. Mesmo aquela que estava próximo à dupla, afastou-se. Entretanto, a última, que havia ‘falado’, não foi embora. Na verdade, se manteve na mesma posição.

    O que aquilo está fazendo? Por que não vai embora também? Fernando perguntou-se, apreensivo. Embora não soubesse o que eram esses seres, sabia que eram extremamente perigosos, seus instintos lhe gritavam isso. Enquanto pensava nisso, continuou olhando aquilo, mas por mais que tentasse enxergar, não via nada além daquelas sombras. De repente, pensou em algo. Não consigo ver o rosto daquilo, mas é quase como… se estivesse olhando diretamente para mim.

    Quando o jovem Tenente pensou isso, viu algo que o deixou completamente aterrorizado.

    O rosto, que antes parecia apenas uma massa de sombras, brilhou com algo branco, quando sua boca abriu-se, revelando dentes afiados que formavam um sorriso sinistro.

    Apoie o Projeto Knight of Chaos

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (17 votos)

    Nota