Capítulo 563 - Nômades
Tanto Fernando, quanto Brakas, ficaram paralisados no local. O jovem Tenente não sabia que tipo de magia o Baiholder teria usado, mas havia, de alguma forma, impedido que as outras coisas os notassem. Porém, aquilo parecia não funcionar naquela, pois a mesma estava claramente os observando.
O rapaz pálido estava prestes a mover seu pulso e retirar sua espada, quando um tentáculo do Beholder interviu, prendendo seu braço, como se dissesse ‘não se mova’.
O que ele está fazendo? Aquilo já nos viu, precisamos atacar primeiro! pensou, franzindo a testa. Mas mesmo que pensasse assim, não retirou sua espada. Ele sabia que por mais que Brakas fosse excêntrico, não era alguém que agia sem motivos.
A coisa permaneceu os encarando, com apenas o seu sorriso bizarro a mostra, cheio de dentes brancos visíveis. Apesar disso, ela não se moveu, era como se estivesse zombando deles.
Então, depois de alguns segundos, o sorriso daquilo diminuiu, voltando a ficar com seu rosto completamente negro. O ser misterioso permaneceu os encarando por mais um instante, mas como se tivesse perdido o interesse, se virou, seguindo na direção que os demais haviam desaparecido.
Mesmo após sua partida, Brakas não se moveu minimamente e Fernando seguiu seu exemplo, permanecendo quieto.
Ambos ficaram nesse estado por cerca de cinco minutos. Somente quando o Baiholder sentiu que haviam realmente ido embora, é que a criatura moveu todos seus tentáculos ao mesmo tempo.
Swish! Bam!
Jogando toda a terra e galhos que os cobriam para os lados e desfazendo sua magia, Brakas disparou em alta velocidade na direção oposta à que aqueles seres se foram, sem sequer se atrever a parar por um momento.
Fernando, que estava sendo carregado, ficou surpreso, principalmente ao ver o olhar bizarramente assustado da criatura.
“O que está acontecendo?” perguntou com uma certa urgência, quando estavam relativamente longe.
Ouvindo a pergunta, o Beholder finalmente parecia ter voltado a si mesmo.
“D-desculpe mestre. Não tive tempo de explicar, se eu tivesse sido um pouco mais lento, poderíamos estar mortos agora…” explicou apressadamente, com sua voz envelhecida, enquanto se mantinha focado em sua fuga.
O jovem Tenente não ficou surpreso com essa resposta, apenas pela reação dele diante daquela situação, já havia compreendido isso.
“O que exatamente eram aquelas coisas? São Criaturas das Trevas também?” indagou. Após ver tanta bizarrice, ele já não conseguia mais ficar surpreso.
“Isso… Eu não tenho certeza. Na verdade, ninguém tem.”
Ao ouvir a resposta de Brakas, o rapaz ficou confuso.
“Como assim? São Criaturas das Trevas ou não são?” Mesmo que ele próprio não entendesse muito sobre esse tema, pelo pouco que havia lido sobre, as Criaturas das Trevas eram seres que viviam entre a vida e a morte. Não poderiam ser consideradas seres vivos, mas também não estavam mortas, sendo, de certa forma, aberrações que iam contra a lei natural.
“O que vimos antes, são conhecidos como Nômades Sombrios. Seres que permeiam em Avalon desde seus primórdios, muito antes da existência dos Elfos, Anões, Orcs, Beholders e muitas outras raças antigas. Eu disse que é incerto se são Criaturas das Trevas, porque apesar de terem características semelhantes a elas, também são diferentes. Eles são muito mais inteligentes, se movem em grupos e até mesmo possuem sua própria linguagem, cultura e hábitos, então é difícil classificá-los inteiramente como Criaturas das Trevas ou uma raça.” esclareceu. “Normalmente essas coisas não deveriam estar aqui… São seres que nunca ficam muito tempo em um local, sempre se movendo, normalmente estão além de Gash Karn e raramente cruzam o deserto ou vão além da Zona Divergente.”
Fernando ficou surpreso ao saber disso tudo.
“E o quão fortes eles são? Você conseguiria enfrentá-los?”
Mesmo que nunca tivesse visto sua força pessoalmente, pelos relatos da Medusa, Fernando acreditava que atualmente Brakas era tão forte que duvidava que mesmo se ele, Theodora e Ilgner unissem suas forças, seriam incapazes de durar mais que alguns segundos numa luta direta. Entretanto, apesar de ser tão poderoso, o Baiholder não hesitou em fugir e ficou com tanto medo que não se atreveu a reagir minimamente diante daquelas coisas.
Ouvindo a pergunta, Brakas tremeu.
“Me perdoe por minha covardia, Mestre, mas eu nunca me atreveria! Isso não é algo que eu ouse enfrentar. Você sabe porque os Nômades Sombrios não atravessam o deserto? Mesmo que as condições de vida sejam péssimas na região em que eles vivem, cheia de monstros e criaturas perigosas?” perguntou, de forma retórica. “Não é porque não querem, ou porque foram obrigados, como os Orcs e algumas outras raças inferiores, mas porque lá é abundante em seres poderosos e naquele ambiente voraz e cruel, eles são os caçadores.”
A expressão do jovem Tenente mudou ao ouvir isso, então seus olhos se estreitaram, finalmente entendendo a gravidade da situação. Se aquilo era realmente tão perigoso quanto Brakas estava afirmando, tentar lutar contra eles seria como uma mariposa correndo em direção as chamas.
“Em comparação com um General, quão forte é aquilo?” perguntou, com alguma curiosidade.
Brakas balançou sua enorme cabeça, como se nem quisesse pensar a respeito.
“Generais não passam de aperitivos para eles. Mesmo um Cavaleiro, um Grande Mago ou um Campeão Élfico podem acabar se tornando sua presa. Felizmente aqueles que vimos ainda não são tão poderosos e não viram através da minha magia.”
“Não viram? Tenho certeza que aquele último podia nos ver.” Fernando contestou, ao lembrar-se daquele sorriso maléfico que a criatura deu enquanto os encarava. Aquilo havia realmente feito seu sangue gelar.
O Baiholder engoliu em seco quando o rapaz disse isso.
“Aquilo… provavelmente não nos considerou dignos de sermos caçados, mas se tivéssemos fugido ou tentado atacar, os outros teriam nos notado e seríamos mortos em um instante. De certa forma, aquele Nômade Sombrio nos ajudou por puro capricho.”
Sabendo de tudo isso, o rapaz ficou imediatamente preocupado e apavorado. Se aquelas coisas fossem monstros tão perigosos, o que aconteceria se atacassem Garância? Havia alguém que poderia sequer pará-los? Além disso, ficou transtornado ao saber que só estava vivo agora por ter sido ‘poupado’.
Como se visse através de seus pensamentos, o Beholder o acalmou.
“Não precisa se preocupar tanto, Mestre. Nômades Sombrios não tem interesse em cidades, sejam Humanas, Élficas, Orcs ou de qualquer outra raça. Nunca ouvi falar deles atacarem uma única. Eles não são adeptos a guerra ou matança, apenas caçam o que precisam ou querem comer. É por causa desse comportamento singular que é difícil dizer se realmente são Criaturas das Trevas ou não.” informou, o tranquilizando. “O fato de termos encontrado eles e sobrevivermos, é uma grande vitória por si só.”
Apesar das palavras da criatura, Fernando não conseguiu se acalmar. Eles mal haviam fugido de uma catástrofe e quase deram de cara com outra.
Quão perigoso esse mundo realmente é? Parece que alguma maldita coisa pode se arrastar de qualquer buraco aleatório e nos matar a qualquer momento! pensou, assustado. Dessa vez eles haviam recebido a misericórdia do inimigo, mas o mesmo ocorreria na próxima vez? O rapaz duvidava que isso aconteceria. Eu preciso ficar mais forte! Ainda sou muito fraco…
Sempre que achava que estava se tornando forte, a realidade cruelmente lhe esbofeteava na cara. Estava claro que ser um Tenente, em Avalon, não significava nada de mais. Se ele fosse a qualquer área fora do controle da Humanidade, estaria no fundo da cadeia alimentar.
“Vamos! Não podemos perder tempo, não quero continuar andando por aí depois de trombar com aquelas coisas.” declarou, com um rosto frio.
…
Hah! Hah! Hah!
Em um outro local, alguém estava arfando pesadamente, enquanto arrastava outra pessoa em meio a mata.
“Sério… Por que você está perdendo tempo com isso? Está tudo acabado para mim. Você tem que ir embora, enquanto pode.” A pessoa que estava sendo arrastada disse casualmente, mesmo com o enorme corte em seu peito e a falta do seu pé esquerdo, onde agora só restava uma bandagem feita as pressas para estancar a mutilação.
“Vai se foder! E vê se cala a boca!” O homem, arrastando o outro, com dificuldade, exclamou, aparentemente irritado. Essa pessoa não era outra senão Noah e aquele que estava sendo arrastado era o Cabo Ronald.
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