Índice de Capítulo

    O Oficial loiro estava prestes a atacar, quando seu corpo congelou no lugar.

    “Você…”

    Um homem velho, com cabelos grisalhos, saiu da escuridão.

    “O que estão fazendo aqui, no meio do nada?” perguntou, com um olhar surpreso. Essa pessoa era o Major Combatente Silvester.

    Noah, Ronald, bem como o Supervisor Keiren, ficaram atônitos com isso.

    “Vocês não deveriam estar aqui. Esta floresta faz parte do território Orc.” O velho homem falou, com uma expressão descontente.

    Ao verem o brilhante brasão dos Leões Dourados na armadura do sujeito, bem como sua insígnia, identificando-o como um Major, todos os trabalhadores quase caíram em lágrimas. Mesmo que não soubessem quem era essa pessoa, apenas por sua patente estava claro que era alguém muito mais confiável que aquele Oficial psicopata!

    “S-senhor, nos salve!” Logo um dos trabalhadores, gritou, chegando em frente ao homem e se jogando aos seus pés.

    Silvester franziu a testa ao ver isso, então olhou para Noah de forma questionadora. Ele estava prestes a discipliná-lo, quando notou o ‘Zero’ em sua braçadeira.

    Batalhão Zero? pensou, surpreso.

    Ignorando o trabalhador ao chão, Noah se aproximou, fazendo uma saudação militar.

    “Major, eu sou o Oficial Noah, do Batalhão Zero. Estamos em uma situação critica, por isso fomos obrigados a entrar na floresta.” explicou, com a voz calma.

    O Major mais ou menos entendeu a situação ao ver um outro indivíduo ferido na maca improvisada.

    “Antes de conversarmos, há um homem caído lá atrás, cuidem dele, ele desmaiou quando me viu… Além disso, se recomponha!” gritou, ao empurrar o sujeito em seus pés para longe.

    Pouco tempo depois, Noah explicou a situação, relatando o ataque dos Carniçais ao posto avançado que estava sendo construído.

    “Eu imaginei que isso aconteceria, mas pensar que todos os Soldados e trabalhadores foram dizimados…” falou com um certo pesar.

    “Você sabia que isso estava acontecendo?! Por que não mandou ajuda então?!” O supervisor Keiren questionou, indignado e furioso.

    Silvester apenas o olhou sem preocupação aparente.

    “Do que está falando? Vocês apenas tiveram o azar de encontrar alguns poucos Carniçais perdidos. Milhares deles devem estar sitiando Garância nesse exato momento, junto a um Rei Carniçal. Como espera que enviemos ajuda se a cidade está em risco?”

    Todos no local ficaram chocados ao saberem disso, principalmente quando foi mencionado sobre um ‘Rei Carniçal’, mesmo que alguns trabalhadores não soubessem do que se tratava, mas apenas pelo nome sentiram arrepio pelas palavras Rei e Carniçal estarem juntas na mesma nomenclatura.

    Noah, por outro lado, parecia já ter deduzido que algo assim estava acontecendo após ter percebido que durante o início do ataque, muitos dos Carniçais estavam seguindo até a cidade, ignorando completamente o posto avançando, por isso ele havia pedido para Fernando e os demais não virem. Pelo contrário, outra coisa chamou a sua atenção na fala do velho Major.

    “Com todo respeito, Major, se a cidade está em perigo, o que o senhor está fazendo aqui?” perguntou. Pela lógica, se Garância estava sendo atacada, alguém de sua patente deveria estar trabalhando na defesa, mas o mesmo se encontrava ali, no meio do nada em território inimigo.

    Silvester somente o olhou em silêncio por um segundo.

    “Isso não é algo que um simples Oficial precise saber.”

    O rapaz loiro não insistiu ao ouvir essa resposta, estava claro que algo a mais estava acontecendo.

    “Bem, eu normalmente só ignoraria todos vocês, mas tenho uma dívida de gratidão com seu Tenente. Me sigam, vou garantir que cheguem a um local seguro.” Após dizer isso, o Mago usuário de Magia de Gelo saiu andando em meio a floresta.

    Noah ficou pensativo. Ele sabia que para um Major como Silvester, voar era muito mais conveniente, mas o sujeito estava abrindo mão dessa vantagem, em meio ao território inimigo, apenas por eles. Conhecendo as pessoas daquele mundo, este não era um ato comum.

    Como exatamente o Fernando fez uma pessoa desse calibre ficar em dívida com ele? refletiu, cheio de dúvidas.

    Mas, apesar de não entender como isso aconteceu, estava aliviado, principalmente ao voltar seu olhar para seu amigo que não poderia mais lutar. Se eles fossem emboscados novamente, provavelmente seria incapaz de protegê-lo.

    “Vocês ouviram o Major, comecem a se mover. E você, carregue esse idiota!” Noah gritou, em direção aos trabalhadores e Keiren, indicando que um deles levasse aquele que havia desmaiado.

    Em outro local, um pequeno forte, com paredes densas de terra, estava parcialmente destruído, com buracos e fissuras por todos os lados. Ao entorno, dezenas de Carniçais estavam agitados, andando ao redor da edificação, enquanto alguns poucos atacavam furiosamente a porta, bem como escalavam as paredes da construção, procurando formas de chegar até a parte interna.

    Lá dentro, cerca de vinte e cinco pessoas, incluindo dez civis e quinze Soldados, estavam espremidos, fazendo seu melhor para evitar que o inimigo entrasse.

    O pequeno posto avançado, cujo qual eles deveriam defender até a conclusão da obra, havia acabado se tornando o único refúgio daqueles que sobreviveram a onda inicial de Criaturas das Trevas.

    Os  Soldados lutavam desesperadamente, usando placas de madeira e metal e até mesmo escudos para obstruir e tapar os buracos, tentando impedir que as Criaturas das Trevas entrassem.

    “Ah!” Um Soldado gritou, quando um Carniçal menor conseguiu se espremer por uma pequena abertura não protegida, colocando sua cabeça e uma de suas garras para dentro. “Merda, um deles tá entrando!”

    “Sem pânico, é só um deles.” Um sujeito com cabelos loiros compridos e um pouco bagunçados disse, com um sorriso. Então calmamente aproximou-se da coisa, olhando-a de perto. “Olha só, mas que coisinha mais nojenta e feia.”

    Shaaa!” O Carniçal gritou, quando esticou o braço, tentando alcançá-lo.

    “Oh, acho que gostou de mim. Haha!”

    “Subtenente Ilgner, isso não é momento para brincadeiras! Eles vão acabar entrando!” Um Cabo do Primeiro Pelotão, chamado Keny, gritou alarmado, enquanto segurava a porta, que estava quase despedaçada, empurrando algumas placas de metal contra ela. “Estamos mortos, não tem como aguentarmos até a ajuda chegar…”

    “Não seja tão dramático. Se você sabe que vai morrer, por que está tão preocupado então?” Ilgner perguntou, com uma leve risada irônica.

    Os trabalhadores, que faziam o seu melhor para se esconderem longe dos buracos feitos na parede e não atrapalharem os Soldados, estavam completamente aterrorizados, e ouvir isso da boca daquele que estava no comando só os deixou ainda mais apavorados.

    Ao contrário dos civis, alguns dos Soldados balançaram a cabeça, suspirando, já tendo se acostumado com o sujeito.

    Por que tínhamos que ter sido escolhidos para acompanhar esse maluco? O Cabo pensou, aborrecido. Mesmo que Ilgner, no geral, não fosse um Subtenente tão intimidador quanto Theodora e até parecesse um pouco melhor que o Oficial Noah, sua personalidade relaxada numa situação como essa era extremamente incômoda.

    Ao olhar para os civis, o bárbaro loiro notou seus rostos cheios de medo, mas não se importou muito.

    “Não precisam se preocupar tanto, afinal… Ilgner, o Bravo, está aqui!” Após dizer isso, o sujeito ergueu sua perna esquerda de forma despreocupada, seus olhos ficaram vermelhos, quando ela desceu como um martelo.

    Crack! Splash!

    A cabeça do Carniçal estourou como se fosse uma melancia, espirrando sangue negro para todos os lados.

    “Ah!” Uma mulher trabalhadora gritou, quando parte do sangue esguichou em seu rosto e corpo, a mulher passou a mão em sua face e ao ver aquele líquido escuro e pútrido em sua palma, assim como aquele cheiro terrível invadindo seu olfato, entrou em choque, desmaiando.

    O sujeito loiro com seu enorme nariz não se importou com o cheiro quando sorriu, apertando seu pé com força, esmagando ainda mais o crânio da coisa, seu olhar demonstrava um ar de violência. Mas isso só durou um instante, logo seus olhos vermelhos voltaram ao normal e seu sorriso diminuiu.

    Swish!

    O cadáver da criatura foi subitamente puxado para fora e sons de mastigação e ossos quebrando soaram do outro lado.

    “Heh, eles realmente não desperdiçam nada.” O Subtenente disse, de forma brincalhona.

    Bam! Bam!

    De repente, todo o local começou a tremer, com poeira e terra caindo do teto.

    “S-subtenente! Algo grande está lá fora! Vai derrubar a por-” O Soldado mal teve tempo de concluir, quando a entrada foi explodida e ele, bem como o Cabo Keny e outros ao redor, foram jogados longe. Logo uma enorme garra invadiu o lugar, tateando o chão.

    “Ahhhh!” Um trabalhador que estava encolhido, encostado numa parede divisória, gritou, quando a garra agarrou uma de suas pernas e assim que o fez, começou a arrastá-lo para fora.

    Vendo isso, Ilgner suspirou.

    Porra, acho que não tem jeito, vamos brincar então! Sem hesitar, o bárbaro loiro correu, então com ambos os braços, ‘abraçou’ o antebraço da coisa, impedindo-a de puxar o sujeito.

    “Shaaaa!” Do lado de fora, o enorme Carniçal, com três metros de altura, emitiu um chiado, furioso, tentando puxar seu braço para fora.

    No entanto, dentro, Ilgner firmou seus pés, quando ativou uma Habilidade de Incremento, prendendo firmemente a gigantesca Criatura das Trevas no lugar.

    “Uma visita indesejada, não pode sair sem tomar uma xícara de café primeiro!” gritou, rindo.

    Alguns dos trabalhadores seguraram o homem, com a coisa ainda segurando firmemente sua perna. Alguns usaram ferramentas e pedaços de madeira para acertar o braço, mas a coisa insistentemente permaneceu segurando-o. Mesmo Ilgner não tinha nada que pudesse fazer a respeito.

    “Minha perna, vai quebrar minha perna!” O homem gritou, chorando.

    Bam! Bam!

    Sem conseguir puxar sua presa para fora, usando sua outra enorme garra, a coisa começou a bater contra o pequeno forte, balançando todo o lugar.

    Crack! Crack!

    Rachaduras se espalharam pelas paredes e pelo teto. Um dos civis, ao ver isso, ficou desesperado. Como um dos responsáveis pela construção, ele sabia bem quando uma estrutura estava prestes a desabar.

    “Esse lugar não vai aguentar, vai desmoronar!”

    Ouvindo isso, Ilgner franziu a testa, se ele soltasse essa coisa que estava bloqueando a entrada, as outras Criaturas das Trevas entrariam, mas se ele não soltasse, todos seriam soterrados.

    “Cabo Keny, levanta a bunda dai e se prepara.” Ilgner disse em direção ao homem que estava caído em meio aos escombros da porta com os outros Soldados. “Eu vou levar esse grandão lá para fora. Assim que eu sair, você vai ter alguns segundos para selar a porta. Entendeu?”

    Ao ouvir isso, o sujeito levantou-se, apressadamente.

    “Está louco Subtenente, se você sair lá fora…”

    “Porra, eu perguntei se entendeu! Você consegue, ou não?!”

    Bam! Bam! Bam!

    A gigantesca criatura estava se batendo contra a construção, fazendo tudo tremer ainda mais.

    Vendo isso, o Cabo ficou paralisado, sentindo-se impotente, mas assentiu.

    “Sim, senhor, eu consigo.” garantiu de forma firme, mas seus olhos demonstraram alguma hesitação. Estava claro que se o Subtenente saísse, ele estaria morto.

    “Bom… Então vamos lá.” Assim que Ilgner disse isso, seus olhos se tornaram vermelhos e as veias e músculos de todo seu corpo se contorceram, quando ele empurrou para frente, ainda segurando o antebraço da enorme coisa. Seu aperto foi tão forte que o braço do ser involuntariamente largou a perna do homem que estava sendo arrastado anteriormente.

    Sha! Bam!

    Em apenas um instante o sujeito com longos cabelos loiros bagunçados avançou para fora, como se fosse um foguete, derrubando o imenso Carniçal.

    “Rápido, lacrem a entrada!” O Cabo gritou, pegando uma chapa de metal e empurrando contra a abertura. Os Soldados ao redor fizeram o mesmo e até alguns dos trabalhadores ajudaram.

    Todos dentro só puderam ver de relance, quando o homem loiro caiu sobre o peito do monstro, de pé. Inúmeros rosnados e sons de passos soaram, quando uma multidão de Carniçais menores avançou em direção a ele de todos os lados. Mesmo naquele último momento, o sujeito virou seu rosto para trás, mostrando um sorriso confiante em direção a seus subordinados.

    Nos perdoe, Subtenente! Nos perdoe por sermos tão fracos! Keny exclamou mentalmente, antes que a entrada fosse completamente selada.

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