Capítulo 569 - Derrota dupla
Kepler ficou chocado, ele havia ficado tão aturdido devido a repentina traição do Baiholder que tinha brevemente se esquecido do servo da criatura.
Desgraçados! Acham que vão me matar assim tão fácil com um truque barato desses? gritou mentalmente, irritado com a clara tentativa de dividir sua atenção e enfraquecê-lo, quando apertou a esfera em sua mão.
O Mago das Trevas só havia o deixado chegar tão perto porque estava distraído, apesar disso, decidiu que seria melhor se concentrar em usar a maior parte de seu foco e poder para se defender do Beholder. Após ter cometido o erro de lhe dar tempo suficiente para conjurar Magias poderosas, sabia que mesmo ele estaria em perigo se o negligenciasse.
Bzzzt! Ssss! Swish!
Ao mesmo tempo em que o Tenente lhe desferia um ataque pela retaguarda, uma enxurrada de diversos tipos de Magias, incluindo Fogo, Terra, Eletricidade e outras não elementais, estavam vindo rapidamente ao seu encontro. Como teria que lidar com ataques de duas direções, o sujeito não teve escolha senão, com sua mão esquerda, erguer um enorme e poderoso Escudo de Mana na direção de Brakas, que era muito mais ameaçador, enquanto lidaria com o jovem Tenente usando somente uma pequena fração de sua força total.
O Necropto não sentiu que ele era uma ameaça tão grande, contanto que se defendesse deste ataque inicial, poderia matá-lo facilmente em seguida. Logo uma palma negra um pouco maior que uma mão de uma pessoa surgiu a sua frente, protegendo seu pescoço.
No entanto, assim isso aconteceu, o jovem pálido sorriu fracamente, mudando levemente seu balanço, alterando a trajetória da lâmina e indo além de seu limite, ativando sua Habilidade Fúria ao máximo, aumentando seus Atributos de Físico e Agilidade em três pontos cada, seus braços se encheram de veias e mesmo em sua testa era possível ver algumas veias saltadas.
O quê? Ele não estava mirando no meu pescoço? O que essa pessoa… Quando a espada mudou subitamente de direção, o Mago Negro ficou completamente chocado, não devido à abrupta mudança na velocidade do ataque, mas pelo rapaz se focar em outra coisa que não tirar sua vida. Ele está mirando minha mão direita? Mas como ele sabe?!
A esfera em sua palma era um item secreto que poucas pessoas deveriam saber a respeito dela. Ele não entendia como esse Humano fraco havia percebido que a maior parte de sua força vinha de lá. Será que aquele maldito Beholder a reconheceu? Então é por isso que ele está me atacando. Maldito traiçoeiro, estava planejando tê-la desde o início? Diversos pensamentos paranóicos invadiram sua mente, quando chegou a uma conclusão ao se lembrar que o Baiholder mencionou que tinha um Mestre antes de atacá-lo. Esse desgraçado, ele é servo do Necromante de antes?!
Quanto mais pensava nisso, mais convencido estava de que este era o caso. Não havia motivos para um Beholder e um Mago das Trevas se enfrentarem, exceto se houvesse um conflito de interesses envolvendo facções.
Apesar de estar atônito, o sujeito não perdeu tempo, jogando-se para trás, enquanto a palma negra estática a sua frente desapareceu de onde estava, rapidamente reaparecendo em outro local, acompanhando o movimento irregular do balanço da espada.
Vendo o quão rápido aquilo era, a expressão de Fernando mudou, mas não desistiu, não disposto a perder contra a pessoa que havia feito seus subordinados morrerem. Ele não sabia o porquê, mas Brakas havia dado a entender que a única chance de vitória que tinham era tirar aquele item estranho do homem, se não conseguissem aquilo, estariam mortos.
Sabendo disso, o jovem Tenente entendeu que teria que dar tudo de si, então não parou seu ataque ou recuou, mas ativou sua Habilidade de Vibração.
Ziiii!
Ao fazer isso, as dores em suas mãos, ainda não plenamente recuperadas dos ferimentos das farpas, se tornaram mais intensas, mas o pior era que sua dor de cabeça persistente aumentou, quando sentiu sua visão escurecer por um momento. Porém, apesar disso, seus olhos se mantiveram fixos no inimigo a sua frente, pois sabia que não podia vacilar!
Swish!
A espada Formek e a palma negra de Kepler se chocaram.
Bang! Ziii!
De repente, a mão negra, que parecia ser feita de pura escuridão, agarrou o fio da lâmina, impedindo-a de avançar.
Não atravessou?! O rapaz pensou, chocado. Sua Habilidade de Vibração nunca havia falhado contra um inimigo antes! Seus braços e sua espada vibrando não estavam avançando um único centímetro.
Não apenas isso, mas nesse momento, as magias do Beholder acertaram violentamente o escudo feito de mana escuro, fazendo todo o chão tremer. Resquícios de fogo, terra e diversas outras Magias voaram para todos os lados. Na barreira, rachaduras surgiram em várias partes, mas apesar disso, não era o suficiente para ela cair. Cada vez que uma nova magia a atingia, o Mago Negro inseria mais mana, a reforçando e a regenerando de volta ao estado original.
Brakas ficou sem palavras ao ver isso. Ele sabia que o homem era perigoso, mas não pensou que conseguiria se defender completamente dessa forma. Os ataques de ambos os lados, seu e de Fernando, haviam sido completamente bloqueados!
Enquanto isso, o Necropto sorriu com desdém, olhando tudo isso de forma altiva, como se já esperasse por esse resultado.
“Vocês realmente acharam que podiam me matar? Seus vermes imundos!” falou, com os olhos arregalados e seus dentes podres a mostra.
Ao dizer isso, uma segunda palma semelhante à primeira surgiu próxima ao jovem Tenente, dobrando-se como uma garra, avançando diretamente ao seu tórax, onde deveria estar seu coração. Os dedos penetraram a armadura Kinfar que se quebrou em fragmentos, quando aquilo o atingiu como um martelo, cravando-se em sua carne.
Fernando arregalou os olhos, quando sentiu um baque forte em seu peito, enviando-o cerca de três metros para trás.
Eu falhei? pensou, engolindo em seco e sentindo um gosto metálico na boca. Não havia muito mais que pudesse fazer, com sua mente sobrecarregada e aquilo o perfurando, sentiu-se fraco.
Ainda que pudesse manter sua Habilidade Fúria ativa por mais tempo, devido à falta de concentração ela acabou sendo desativada. Não apenas isto, como sua mente estava tão nublada que sentiu que seria difícil usar até mesmo uma Magia simples.
Eu vou morrer? pensou, sentindo uma extrema falta de vontade ao ver que as coisas acabariam assim.
“Mestre!” Brakas gritou, desesperado.
Mestre? Kepler, que estava prestes a rasgar o Humano, pensou, arregalando os olhos. Não é possível… Isso e mais uma artimanha dessa criatura ardilosa?
Merda! O jovem pálido rangeu os dentes de dor, cravando sua espada no chão e caindo de joelhos, quando os dedos fincados em seu peito afundaram lentamente ainda mais para dentro, as unhas da palma, feita de escuridão, cortavam e apertavam. Ele rapidamente tentou usar sua mão livre para remover aquilo, mas era como se fosse feita de metal, não se movendo minimamente. Ele não vai me matar?
Vendo a expressão do sujeito a sua frente, que parecia a de um lunático, estava claro que a palma não o matou na hora por puro capricho do Mago das Trevas. Mas se ele assim quisesse, aquilo iria despedaçar seu peito.
Depois de ter lançado todas as magias que haviam sido preparadas antecipadamente e falhar, o Baiholder mudou de tática e logo começou a avançar, seus tentáculos se moveram agilmente pegando rochas e troncos de árvores mortas dos arredores. Pronto para lutar fisicamente. Mesmo que sua especialidade fosse Magia, seu poderoso corpo não poderia ser subestimado.
“Não se aproxime mais, ou eu arrancarei o coração desse Humano!” Kepler gritou, ao vê-lo chegando cada vez mais perto. Ele não tinha medo da criatura, mas também não queria gastar suas forças lidando com isso, tanto o General quanto o suposto Necromante poderiam chegar ali a qualquer instante.
Brakas, que estava prestes a mover seus tentáculos, parou no ar. Seu enorme olho estava fixo no sujeito.
Ao notar a enorme criatura parando onde estava, O Mago Negro deu um sorriso bizarro ao confirmar a veracidade da estranha relação entre o Humano e o Beholder.
“Eu não quero acreditar, mas essa coisinha é realmente o tal Mestre que você mencionou?” perguntou com calma, ao finalmente ganhar o controle da situação. Foi apenas porque ouviu a criatura gritando por seu ‘Mestre’, que ele não matou o rapaz na hora. “Um nobre Beholder Ancião servindo a um Tenente Humano? Isso é algum tipo de piada? Hahahaha!”
O enorme olho de Brakas apertou-se com raiva. Inicialmente nem mesmo ele entendia como conseguiu acabar servindo um Humano, acreditando que isso era sua má sorte. Contudo, após conhecer os talentos de Fernando e até mesmo aumentar tanto sua força graças a ele, passou a não o ver o encontro dos dois como um infortúnio, mas como sua grande sorte.
Beholders e Humanos tinham uma grande rixa histórica, afinal quando a raça Humana era indefesa, foi escravizada pelo império de Kevir Eroinai. Entretanto, graças ao esforço coletivo das Legiões, eles foram derrotados. Sendo assim, era lógico imaginar que um Baiholder jamais se submeteria a um jovem Humano.
“Um mero Necropto como você não tem a capacidade de entender a grandiosidade do meu Mestre.” Brakas afirmou com convicção.
Ao ouvir novamente a criatura o insultando sobre ele ser um ‘mero Necropto’, Kepler ficou furioso.
“Eu ignorei sua língua afiada antes devido ao pacto, mas isso não vai mais acontecer, Beholder imundo!”
Ouvindo isso, a enorme boca de Brakas abriu-se, exibindo seus dentes em um sorriso de escárnio, como se estivesse zombando dele.
“Você disse que não tinha muito tempo. Liberte meu Mestre e vá embora e não iremos persegui-lo.”
“Hahaha! Ir embora?” Kepler disse, rindo. “Isso não vai acontecer. Você virá comigo, se não quiser que eu mate seu ‘Mestre’.” falou, ao mover a mão, a palma negra cravada em Fernando apertou-se ainda mais, fazendo-o gemer em dor.
“É mesmo?” Ao dizer até aí, o enorme olho de Brakas brilhou, seu sorriso diminuiu, quando uma onda de energia correu em direção ao Necropto.
Zuuuh!
A estranha energia invisível atingiu o Mago Negro, fazendo-o congelar por um instante, mas logo balançou a cabeça.
“Magia Mental contra mim, um Mago das Trevas? Vocês Beholders realmente não passam de animais ignorantes. Isso jamais iria me afetar.”
“Ela não precisava te afetar, apenas chamar sua atenção é o suficiente.” O jovem Humano disse, com uma voz fria e alguma dificuldade.
Olhando para o jovem pálido, que o observava com um rosto gelado, Kepler sentiu-se enojado por um inseto como esse se atrever a dirigir-se a ele.
“O que um Humano como vo-” Todavia, antes que pudesse terminar de falar, sentiu um arrepio em suas costas.
Virando-se, viu um enorme machado vindo em sua direção e reagiu imediatamente.
Ele apressadamente usou sua primeira palma negra que havia o defendido da espada do Tenente Humano, movendo-a para frente do machado para deter a lâmina. Quando ambas colidiram, a magia partiu-se, sendo cortada em duas e a arma afiada avançou sem impedimentos.
Swish! Ploft!
A mão direita segurando a esfera caiu no chão e um momento silencioso se seguiu.
O quê? O que está acontecendo? Kepler pensou consigo mesmo, sem acreditar. Olhando para seu braço direito sem a mão, nenhuma gota de sangue saia devido à natureza corrompida de seu corpo. Então ele se virou para ver melhor o que havia o atacado e ficou surpreso.
Logo atrás dele, um enorme Orc, com uma tatuagem vermelha em seu rosto, estava parado silenciosamente, segurando o machado.
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