Índice de Capítulo

    Fernando abaixou a cabeça, um pouco hesitante.

    A verdade é que ele nunca teve a intenção de ir até aquele lugar ou de encontrar o inimigo que Oliver estava enfrentando, tudo havia acontecido por coincidência. Na realidade, ele estava torcendo para não encontrar aquilo que havia conseguido fugir do homem. No entanto, jamais imaginou que o perigo que estava tentando evitar, viria diretamente até ele.

    Já que tudo isso havia acontecido assim, sentiu que era mais lógico mentir e dizer que havia vindo com uma intenção diferente. Se ele apenas dissesse que estava ali pelas suas tropas, seja Oliver ou o Alto Comando, ambos poderiam puni-lo por não relatar o incidente.

    “Quando eu soube que o tal rato estava indo de encontro a onde estavam meus homens… Bem, acho que não pensei direito e acabei me precipitando.” disse, fingindo que cometeu um erro. Na verdade, ele somente havia ido primeiro até aquele posto avançado, pois tinha mudado sua rota após o encontro com os Nômades Sombrios, mas ele obviamente não iria admitir isso. “Além disso, o responsável pelas muralhas é o General Herin…”

    O rapaz não precisou explicar muito, já que depois do episódio na muralha, já era de conhecimento comum que o homem não gostava dele.

    Após um pequeno período de silêncio, o Major fechou o frasco, devolvendo-o de volta ao jovem Tenente.

    “Guarde isso. Vou acreditar nas suas palavras por enquanto.” disse, encarando-o “Mas tenha em mente que vou precisar confirmar a veracidade dessa história com o General Zado.”

    Fernando, que ainda mantinha um rosto inexpressivo, concordou.

    “Por mim tudo bem, senhor.”

    Mesmo que estivesse incerto se Zado o encobriria ou não, acreditava que tinha algumas cartas na mão para barganhar, afinal o velho homem havia aceitado seu suborno. Se esse assunto vazasse, seria um enorme golpe em sua credibilidade e poderia gerar algumas investigações, o que não seria benéfico ao General.

    Vendo a confiança inabalável do Tenente, Oliver ficou ainda mais convencido de suas palavras. Se ele estivesse mentindo, certamente ficaria nervoso sobre confirmar a história com Zado.

    Olhando para o rapaz e pensando sobre como ele havia sido engenhoso o suficiente para montar esse plano de improviso e corajoso o bastante para tentar atrasar um inimigo que mesmo alguém como ele, não conseguiu lidar. Oliver ficou impressionado e até admirado, ainda que tivesse cometido o erro de não retornar para relatar o incidente, não era o suficiente para afetar seus feitos.

    Se tudo que esse garoto disse for verdade, ele é realmente alguém incrível e merece ser recompensado por suas ações hoje. pensou. Vendo os diversos ferimentos em seu corpo se curando lentamente, principalmente os que estavam em seu peito, estava claro que ele havia passado por muita coisa.

    Após confirmar que Fernando estava dizendo a verdade, o sujeito voltou sua atenção para os cadáveres no chão. Então caminhou até o Necropto. Ao ver a estranha esfera que ele havia usado na batalha no chão, com sua mão decepada ainda a segurando, o homem franziu a testa.

    Segundo Fernando, ele estava espreitando o embate entre o Orc Líder e o Mago das Trevas, mantendo uma longa distância, se intrometendo brevemente próximo do final da batalha, com sua intervenção dividindo a atenção do Necropto, o forçando a lidar com dois inimigos distintos. Isso criou uma distração que permitiu que o Dobat cortasse sua mão e o matasse.

    Talvez o Necropto se excedeu quando usou aquilo contra mim e estava enfraquecido, então foi interceptado num ataque surpresa quando se distraiu enquanto fugia de mim? Também pode ser que esse Dobat estava perto de ascender a Lorde e por isso causou tanto trabalho a ele. Essas são as únicas explicações possíveis que consigo pensar. Mesmo que aparentemente improváveis, é possível de acontecer. Como aquele que havia enfrentado o Mago das Trevas antes, Oliver sabia que o sujeito era escorregadio e relativamente forte. Obviamente, se não fosse pelo fato de ter de capturá-lo vivo, teria conseguido se livrar dele facilmente no primeiro contato que tiveram, mas ainda era surpreendente que o mesmo tivesse caído contra um Orc desse nível. Mas algo está estranho aqui…

    Observando os rastros da batalha, o sujeito viu que tudo estava uma bagunça, havia indícios de explosões em um lado, rochas e troncos de árvores no outro, mas o que mais chamou sua atenção, foi quando notou que as pegadas do Dobat haviam surgido repentinamente. Não havia indícios de onde ele teria vindo.

    É como se ele apenas tivesse surgido aqui. Olhando para as árvores próximas, imaginou que talvez o Orc as tivesse usado para se locomover e fazer um ataque surpresa, apesar de achar estranho e também não ver indícios disso. Além disso, as pegadas de Fernando estavam próximas ao corpo do Necropto, o que o fez ficar um pouco desconfiado.

    Logo Oliver se abaixou ao lado do corpo, pegando algumas coisas.

    “Tenente Fernando, você mexeu nos pertences desse cara?” perguntou, abaixado ao lado do corpo, segurando a estranha esfera negra em sua palma, assim como sua Pulseira de Armazenamento. Ao verificar o conteúdo e ver apenas um monte de corpos de animais, achou isso estranho.

    “Não senhor.” Fernando respondeu com calma. “Estava fazendo meu melhor para me manter vivo…”

    O homem loiro olhou para o rapaz com uma expressão séria e confusa, enquanto apertava a Pulseira em sua mão.

    O jovem Tenente, obviamente, sabia porque o mesmo estava agindo assim, afinal ele havia deixado apenas uma Pulseira cheia de corpos de animais e criaturas dentro.

    Apesar de achar um pouco estranho as pegadas do rapaz próximas ao cadáver, não achou que ele teria motivos para mentir, então deduziu que poderiam ter sido feitas enquanto ele fugia.

    No entanto, ao confirmar que o Necropto estava morto e que não havia nada em sua Pulseira, um grande problema surgiu.

    Merda, realmente não tem nada que indique seus objetivos aqui? Oliver pensou, um pouco inconformado. O fato dele ter falhado em pegar o sujeito vivo o deixou frustrado. Essa havia sido sua primeira missão após sua indicação a General e ele simplesmente havia falhado parcialmente. Ah, porra! Tanto faz, é melhor que tenha sido morto do que conseguido escapar.

    Enquanto o homem analisava o Necropto, o rapaz olhou para o corpo do Orc, suspirando internamente.

    Mesmo que ele fosse um inimigo antes, ainda me sinto um pouco mal por descartá-lo assim. pensou, ao vê-lo morto, ainda com uma expressão vazia em seu rosto. Se não fosse pela criatura, ele sabia que estaria acabado, mas seu agradecimento por salvar sua vida havia sido usá-lo como bode expiatório e permitir que Oliver o matasse para livrar as suspeitas sobre ele. É uma pena, mas não tive escolha.

    Apesar de estar com uma pontada de culpa por um instante, esse sentimento logo se esvaiu ao lembrar-se de tudo que ele havia feito aos seus aliados durante a missão para encontrar o Acampamento Dobat, quanto mais pensava nisso, menos culpado se sentia.

    Após verificar que não havia nada mais de relevante no local, Oliver guardou o corpo do Necropto, bem como a estranha esfera em sua Pulseira de Armazenamento.

    Ao ver o homem fazer isso, enquanto ignorava o corpo do Dobat, Fernando ficou um pouco curioso.

    “Senhor e quanto este corpo? Não vai recolher seu cristal? Se quiser eu posso…” O jovem Tenente disse, aproximando-se do seu cadáver.

    “Eu não faria isso se fosse você.” Oliver alertou, fazendo com que o rapaz parasse onde estava. “O corpo desse Dobat está cheio de Magia de Corrupção, tocar nisso sem o devido preparo pode ser perigoso para alguém do seu nível. Além disso, aqui já pode ser considerado território Orc e estamos em pleno cessar-fogo, eles podem acabar notando que esse cara sumiu e isso seria bem problemático. Será melhor que encontrem o corpo dele cheio de Corrupção, isso irá tirar sua atenção de nós.”

    Mesmo que estivessem próximos da área de controle de Garância, poucos metros adentro da floresta, ainda poderia ser considerado como uma quebra do Armistício. Se isso vazasse e gerasse um desdobramento amplo, geraria muitos problemas aos Leões Dourados frente ao Conselho Superior.

    Ao ouvir a análise do homem e sua projeção de ações e consequências, Fernando ficou impressionado. Mesmo sendo um gigante de mais de dois metros de altura, Oliver não era apenas músculos, mas também cérebro.

    Saber disso o deixou admirado, mas também preocupado. Qualquer erro de sua parte poderia colocá-lo em perigo, já que o sujeito era muito perspicaz. Mas logo jogou suas preocupações para o fundo de sua mente.

    O que tiver que ser, será. Não adianta pensar muito sobre isso. Tenho algo mais importante para lidar agora.

    “Major, eu tenho um pedido a fazer.” O rapaz pálido exclamou, com uma expressão séria no rosto.

    “Um pedido?” Oliver indagou, levantando a sobrancelha, achando isso um pouco repentino.

    “Sim, minhas tropas, elas…”

    Logo Fernando explicou a situação, de que quando foi informado sobre o recuo dos Carniçais, aproveitou para ordenar a seus homens que resgatassem os sobreviventes que estavam em missões externas.

    “Estamos próximos de um dos locais, então antes de encontrar o inimigo, verifiquei esse lugar, mas…” O jovem Tenente explicou, ao apontar para fora da floresta. “Não havia sobreviventes.” falou, com uma expressão séria, mas que continha um certo pesar.

    O homem o observou em silêncio por um segundo.

    Deve ser difícil para um Tenente tão jovem lidar com a perda de seus homens. refletiu, ao lembrar-se de que passou por algo semelhante em sua juventude. Todavia, com o passar do tempo, esse sentimento de perda foi diminuindo batalha após batalha, até que ficou completamente anestesiado com as mortes. Ver a expressão preocupada de Fernando o fez lembrar-se vagamente desse sentimento.

    “Entendo, então você quer minha ajuda para ir até esses locais.” Oliver falou, olhando na direção apontada, lembrando que realmente deveria haver um posto avançado sendo construído ali, já que fazia parte do projeto de expansão de defesa de Garância.

    “Sim, senhor, ter um Major ao nosso lado tornaria tudo isso mais seguro.” Fernando respondeu sinceramente.

    Mesmo que a Cavalaria Dama de Prata estivesse a caminho, os Carniçais ainda eram criaturas difíceis de lidar.

    Além disso, após ter se deparado com os Nômades Sombrios anteriormente, ainda havia um medo persistente em seu peito.

    Eu deveria relatar sobre aquelas coisas? ponderou, preocupado. Se fossem tão perigosas quanto Brakas afirmava, ele sentiu que o alto comando precisava saber. Entretanto, após pensar cuidadosamente a respeito, logo descartou essa ideia. Apesar de eu querer relatar isso, seria simplesmente muito difícil explicar como encontrei algo assim e ainda estou vivo… Mesmo que sejam um perigo a cidade, preciso pensar em mim mesmo primeiro.

    “Normalmente eu recusaria, já que tenho uma missão em mãos. Mas se o que você disse sobre o Rei Carniçal ter ido embora for verdade, então acho que não preciso me apressar tanto.” Oliver afirmou, com um leve sorriso. “Vou acompanhá-lo até lá.”

    Ouvindo isso, Fernando sentiu-se aliviado.

    “Além disso, você é a única testemunha da morte do Mago Negro, você precisa ficar vivo até lá para testemunhar a meu favor. Com certeza alguns desgraçados vão querer minha pele. Hahaha!”

    Ouvindo isso, o jovem Tenente coçou o queixo, forçando um sorriso.

    “Vamos indo.” ordenou, levantando voo.

    Contudo, mesmo após dizer isso, o rapaz continuou o olhando do chão, parecendo constrangido.

    “Senhor… Eu meio que não consigo voar no momento.” admitiu, com alguma vergonha. Ele havia usado tudo que tinha na luta contra o Necropto, então estava fazendo seu melhor apenas para ficar de pé.

    “Hoh, então é isso…” Oliver disse, ao ver o enorme ferimento no peito do rapaz e suas mãos, estava claro que ele deveria ter usado todo seu mana. “Já que é assim, eu cuido disso.”

    Sem aviso prévio, o homem explodiu em velocidade, dando um rasante baixo, enquanto agarrava o rapaz pelos ombros, como se fosse uma águia capturando sua presa.

    Vendo o chão afastando-se rapidamente, Fernando sentiu-se enjoado, enquanto sentia um certo déjà vu.

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