Capítulo 574 - Forças obscuras
Em uma sala escura, iluminada por uma estranha luz vermelha, cinco indivíduos estavam reunidos em volta de uma mesa circular feita de pedra, com olhares fixos no centro dela.
Somente a parte inferior de suas faces era visível, pois usavam mantos negros que cobriam seus corpos.
Acima da mesa, um mapa macro da Zona Divergente estava montado, enquanto peças negras, que pareciam torres, estavam posicionadas sobre ele, tendo cerca de cinquenta delas.
Os estranhos itens pareciam ter vida própria, movendo-se ocasionalmente. Era como se fosse uma espécie de tabuleiro sinistro e as cinco pessoas ao redor, jogadores, observando suas próximas jogadas.
Crack!
De repente, uma das peças se quebrou, desmoronando em minúsculos fragmentos. As cinco figuras imediatamente voltaram sua atenção para ela.
“Oh, perdemos um deles? A quem este pertencia?” Uma voz feminina indagou, pertencente a figura central, que estava no lado oposto aos outros quatro.
Um dos outros sujeitos, encapuzados, abaixou a cabeça, parecendo descontente.
“Esse era o Kepler, um dos meus.”
“Kepler? Não era um dos seus favoritos, Mayzor?” A voz feminina indagou de forma irônica.
O homem não respondeu de imediato, mas lentamente removeu seu capuz negro, revelando um rosto pálido e quase esquelético, enquanto olhava para a peça fragmentada.
Densas olheiras negras se formavam ao entorno de suas órbitas oculares, com riscos ao redor, como se fossem rachaduras negras, se espalhando por toda sua pele, causando uma certa estranheza e profundidade em seu olhar. Também não havia um único fio de cabelo em sua cabeça, seja na área das sobrancelhas, ou do cabelo.
“Eu tinha algumas expectativas em Kepler, achei que ele poderia se tornar um de nós algum dia, mas perdê-lo não é nada de mais. No entanto, ele estava carregando meu Fragmento de Corrupção.”
Quando essas palavras foram ditas, um silêncio arrepiante se desencadeou.
“Você realmente deu seu Fragmento a um mero Necropto?! Quão estúpido você é?!” A figura central voltou a questionar com uma entonação pesada, mesmo que seu rosto não estivesse a mostra, seu par de olhos sombrios emitiu um forte e perverso brilho roxo.
O sujeito, chamado Mayzor, não disse nada, apenas permaneceu encarando-a em silêncio. Seu olhar não era confrontativo, mas também não demonstrava submissão. Isso fez a mulher estreitar os olhos.
“Esta deveria ser uma missão simples, não entendo como alguém com um Fragmento de Corrupção possa ser morto enquanto verificava as defesas de uma cidade, principalmente se levarmos em conta que todas elas pertencem a Legiões mais fracas.” Outro indivíduo comentou, interrompendo o clima estranho. “Para qual região Kepler foi designado?”
Mayzor olhou para baixo, verificando mapa.
“Garância, uma cidade que estava sob controle dos Orcs até pouco tempo atrás, mas ao que parece, foi conquistada pelos Leões Dourados recentemente.”
“Leões Dourados? Uma Legião de Médio porte, faz sentido, então.” A pessoa que indagou antes disse, parecendo ter entendido algo. “Mas ainda é estranho, nós nos preparamos bem, matar um dos nossos não deveria ser tão fácil, e por que eles iriam tão longe? Talvez outra organização tenha interferido? Ou tivemos mais uma falha de informações?”
“Eu avisei que ao concentrar tanto dos nossos recursos nas Dez Grandes Legiões, seria difícil reunir informações concretas das menores, mesmo que sejam pouco relevantes para nós, deveríamos ter nos preocupado mais com a falta de mão de obra capacitada.” Outro declarou.
“Ele provavelmente foi além do pedido. Se ele tinha um Fragmento, talvez tenha se excedido, acreditando que poderia derrubar a cidade por si mesmo.” A última pessoa, que até então estava em silêncio, comentou. “Ou ao menos é o que eu faria se fosse ele.”
Nesse momento, a figura central, com voz feminina, falou alto.
“Não me importo se é uma Legião de Médio ou Pequeno porte, é melhor recuperar seu Fragmento antes que tudo comece. Criar um novo levaria muitos anos e não temos tempo para esperá-lo. O mundo está prestes a mudar e a Mão Violeta precisa ter o que é seu por direito.”
O sujeito sem o capuz, chamado Mayzor, assentiu.
“Não se preocupe, eu cuidarei disso pessoalmente, vou rastrear o Fragmento.” garantiu, seus olhos piscando com um mana roxo-negro. “Mesmo se eu tiver que destruir os Leões Dourados, tomarei de volta o que me pertence.”
…
Bam!
Um punho acertou com força um enorme Carniçal, aniquilando-o com facilidade.
“Tem mais deles nessa área do que imaginei.” Oliver comentou, com indiferença, ao puxar seu braço, cheio de sangue negro. Ao redor, outras cinco Criaturas das Trevas estavam mortas, com seus corpos espalhados pelo chão.
Detrás do sujeito, Fernando, Noah e os demais trabalhadores estavam caminhando, enquanto Silvester estava recuado, cuidando da retaguarda.
Com os dois Majores cuidando das ameaças, o grupo não estava mais preocupado em ser emboscado por Carniçais, frente aos Majores, eles não eram diferentes de insetos que poderiam ser esmagados com um único tapa.
No meio dos sobreviventes, Fernando estava ajudando Noah a carregar Ronald, mesmo que ele próprio estivesse ferido, com seu Físico atual e sua Habilidade de Auto Regeneração atuando há algum tempo, isso já não era um grande problema
Zzzzt!
De repente, após um curto som de estática, um pedido de comunicação soou no Cubo de Comunicação do jovem Tenente. Ao ver quem era a pessoa, o rapaz rapidamente aceitou.
“Fernando? Onde você está? Você está bem?” A voz de Karol soou, ansiosa, assim que a ligação conectou.
Ao ser bombardeado por perguntas, o jovem pálido ficou um pouco atordoado.
“Calma, estou bem. Estamos a quatro quilômetros ao Noroeste do posto avançado que Noah estava responsável. Vocês devem estar próximos, já que ainda estamos fora do alcance da cidade.” respondeu, com uma voz calma. Como alguns dos membros importantes do Batalhão Zero possuíam Redes de Mana Móvel, incluindo ele mesmo, Noah e Karol, significa que a Cavalaria de Lobos Prateados estava nas redondezas.
“Entendi, estamos a caminho!” Sua esposa disse, encerrando a ligação.
“Major, um momento.” Fernando falou algo em direção a Oliver, que andava a frente do grupo a passos largos.
“O quê? O que aconteceu?” O homem questionou, parando e olhando para trás.
“Podemos fazer uma pausa?” perguntou.
Ao ouvir isso, o sujeito franziu o cenho.
“Por que deveríamos?”
Foi então que o Tenente apontou para os trabalhadores.
“Eles já estão no limite.”
Quando o Major olhou para os homens, percebeu que ao contrário dele, Fernando, Noah e Silvester, os trabalhadores estavam encharcados de suor, como se tivessem corrido uma maratona, com alguns deles puxando bocados de ar para recuperar o fôlego. Mesmo Keiren, que era um Mago e tinha atributos um pouco maiores, não estava muito melhor.
“Isso não é problema meu, quanto antes chegarmos a cidade, menos ataques vamos sofrer.” respondeu, com desinteresse. Ele era um Major, mas estava caminhando com eles, o que era incômodo por si só, se não andassem rápido, só chegariam a Garância após o amanhecer.
Ouvindo isso, Fernando tinha uma expressão complicada no rosto. Mesmo que Oliver fosse um pouco melhor que os Generais do círculo de Wayne, ele, assim como os demais, tinham um sério problema em levar em consideração a situação daqueles abaixo deles.
A maior parte dos trabalhadores eram pessoas comuns, com muitos deles sendo simples avalonianos, não havia como conseguirem acompanhar a marcha rápida deles, que tinham Atributos sobre-humanos, ademais, sem a Magia de Visão Escura, seria difícil prosseguir naquele breu, o rapaz sabia bem disso, pois com sua mente exausta, estava com dificuldade para mantê-la ativa.
Atualmente eles estavam subindo e descendo encostas levemente ingrimes, apesar de não estarem numa região montanhosa, o terreno era muito acidentado, com muitas inclinações acentuadas, lama, pedras soltas e escorregadias e raízes expostas, para um Soldado experiente, era simples enfrentar esse tipo de terreno a noite, mas para pessoas comuns isso já era um desafio por si só.
Além disso, antes mesmo dos ataques, os trabalhadores já estavam fazendo turnos seguidos para concluir a construção dos postos avançados, então a maioria deles estava em seu limite físico e mental.
A razão para estarem trilhando este caminho, ao invés de uma rota mais curta e simples, era para evitar encontros com mais Carniçais, que geralmente preferiam caçar em terrenos de fácil deslocamento.
“Major, já temos alguém incapacitado, se mais alguém desmaiar por cansaço ou cair e se ferir, teríamos mais gente para carregar, o que dificultaria nossa locomoção.” Fernando insistiu. “Além disso, a cavalaria do Batalhão Zero está por perto, se pudermos esperar um pouco em um local fixo eles nos encontrarão mais rapidamente e poderemos transportar todos mais facilmente.”
Oliver ficou um pouco surpreso, lembrando que o rapaz tinha comentado que havia enviado algumas tropas para resgate.
Logo atrás, Silvester concordou.
“Acho que essa seria a melhor opção.”
Ouvindo isso, o sujeito ficou em silêncio, mesmo que achasse incômodo, sentiu que fazia sentido.
“Tudo bem, vamos aguardar por dez minutos, se não chegarem até lá, seguiremos em frente.” aceitou, concordando.
Os trabalhadores, que estavam logo atrás, suspiraram aliviados. Alguns deles olharam para o jovem Tenente com um misto de sentimentos. Mesmo que achassem ele estranho e louco devido ao que ocorreu antes, o rapaz parecia muito mais prestativo.
Em pouco tempo alguns sentaram-se no chão. Como estavam em uma área relativamente plana, não havia onde se abrigar do vento frio da noite. Alguns rapidamente removeram suas botas, verificando as bolhas em seus pés e reclamando das dores.
O Tenente observou a cena com calma. Mesmo que atualmente seu corpo fosse muito mais forte e resistente que o de uma pessoa normal, ele ainda lembrava das dificuldades que tinha na Terra sempre que precisava andar quilômetros a fio em estradas de terra para ajudar seus pais, ou ir para a escola. Ter experimentado isso por si mesmo o fazia entender as dificuldades de quem não tinha Atributos altos.
Assim como na Terra, ser fraco em Avalon era como um pecado, aqueles que estavam no topo não se importariam com sua vida, e nos dois mundos aqueles que estavam abaixo estavam tão preocupados em sobreviver que não tinham tempo para ter compaixão ou empatia pelo próximo, pois isso era um direito dado apenas aos fortes e poderosos.
Era por isso que mesmo que tivesse ficado irritado com as palavras dos trabalhadores antes, não levou o assunto adiante. Porque no fim, eram apenas um bando de homens desesperados.
Tum! Tum! Tum!
Som de patas soaram ao longe, Oliver, Fernando e Silvester, que tinham as melhores audições, notaram instantaneamente, voltando sua atenção na direção.
Inicialmente os Majores estavam em guarda, pela possibilidade de ser um grupo maior de Carniçais, mas quando viram que se tratava de enormes Lobos Prateados, todos baixaram sua guarda.
“Parece que suas tropas realmente vieram, Tenente.” Oliver disse, com um meio sorriso.
Swish!
De repente, um som de algo cortando o ar soou, quando alguém avançou a partir da cavalaria voando.
Bam!
Uma mulher de longos cabelos vermelhos pousou pesadamente no chão logo a frente do grupo, fazendo todos ficarem surpresos.
“Capitã Lerona, vo-” Fernando estava prestes a dizer algo, quando ela sacou sua lança, empurrando-a em direção a garganta do rapaz. A ponta afiada pressionou-se contra seu pomo do adão, ameaçando perfurar sua pele.
“Ei o que está fazendo?!” Noah gritou ao lado, mas foi impedido de falar mais alguma coisa pelo rapaz, que levantou a mão.
Até mesmo Oliver e Silvester foram pegos de surpresa com essa cena repentina.
Olhando diretamente para a mulher, com um rosto impassível, Fernando finalmente falou algo.
“Capitã Lerona, poderia explicar o que está fazendo?” disse, com uma voz fria.
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