Capítulo 576 - Prisão
Assim que a ordem de prisão foi dada, todos os membros do Pelotão Dama de Prata ficaram surpresos.
“O que isso significa?!” Um Soldado da cavalaria gritou, furioso. “Nós lutamos e vencemos e o nosso Tenente é preso? Vocês estão loucos?!”
Tão logo que essas palavras foram ditas, todas às tropas próximas, incluindo o 18º Batalhão, comandada pelo Tenente Felipe Silva, bem como a 5ª Brigada de Infantaria Móvel do Capitão Lesmark e mesmo as tropas do Batalhão Zero que estavam afastados e ainda não haviam notado a volta de Fernando e dos outros, foram alertadas sobre o retorno deles.
Vários dos Soldados ao redor logo começaram a comentar.
“O que está acontecendo?”
“Alguém parece estar sendo preso pelos Majores.”
“Ei, aquele não é o tal Tenente Fernando do Batalhão Zero?”
“Eu soube que ele fugiu durante a batalha, agora os Majores querem prendê-lo!”
Logo uma enorme comoção se iniciou, com membros das três tropas que lutaram juntas na defesa do portão percebendo o burburinho, bem como muitas outras que estavam nas redondezas.
Nesse ponto, o Capitão Lesmark e o Tenente Felipe foram informados do que estava acontecendo, além dos membros mais importantes do Batalhão Zero, que rapidamente se apressaram.
“Rápido, reúnam todos!” Theodora, que estava organizando a área dos feridos, ordenou assim que ouviu sobre o ocorrido. Logo Thom, Emily, Kelly e muitos outros se agruparam.
“Fernando, o que está acontecendo?” Karol, que estava atrás do rapaz, perguntou, preocupada.
O jovem Tenente ficou em silêncio por um momento.
Eu também gostaria de saber o que está havendo! Achei que o senhor Oliver iria cuidar disso. pensou, enquanto olhava para o céu em busca do homem, sem o encontrar em lugar algum, o que imediatamente o deixou ansioso.
Ele já havia entendido o que Herin parecia estar tentando fazer, afinal, ninguém sabia que ele havia atraído os Carniçais para longe, muitos pensariam que ele fugiu e só voltou quando a situação estava sob controle, o que daria motivos mais que suficientes para que o General tivesse uma justificativa plausível para acabar com ele.
“Não tenho certeza, mas não se preocupe, vou resolver.” respondeu, preparando-se para descer do lobo. Todavia, antes de fazê-lo, ele secretamente colocou a mão nas costas.
Karol ficou um pouco incerta a primeiro momento, mas assim que viu uma Pulseira de Armazenamento, bem como o Anel de Aprisionamento em sua palma, ela rapidamente pegou, tentando disfarçar.
Essa ação por parte do rapaz a deixou ainda mais ansiosa, pois se ele estava entregando-lhe essas coisas, significava que nem o próprio Fernando estava totalmente confiante em lidar com isso.
Apesar de acreditar que tudo poderia ser esclarecido, o rapaz resolveu não arriscar, então reuniu todos seus itens importantes e secretos naquela Pulseira. Mesmo se o pior acontecesse e ele fosse realmente preso, ou no mínimo revistado, nada daquilo deveria cair nas mãos de terceiros.
Seja Brakas, o Delgnor gigante, sua Pedra de Mana ou os itens do Necropto, se qualquer um desses segredos fosse revelado acidentalmente para os Leões Dourados ou a qualquer outro, ele provavelmente sofreria um destino pior do que a morte.
Como alguém que já havia passado por uma situação parecida antes em Belai, Fernando não estava nervoso. Deixando suas coisas nas mãos de Karol, ele sabia que tudo estaria seguro.
Gordon Choumen, bem como os outros Majores e Capitães atrás não se moveram ao ver o rapaz descer, ainda apontando suas armas para os membros da Cavalaria Dama de Prata. Em prisões envolvendo pessoas em um alto cargo, era comum que as coisas acabassem fugindo do controle, por isso ele havia trazido vários indivíduos poderosos, para conter qualquer tentativa de rebelião.
O jovem Tenente obviamente sabia que seria loucura confrontá-los. Um único Capitão era suficiente para acabar com ele, mas havia muitos deles e até mesmo Majores estavam presentes. Mesmo se tivesse a força para reagir, o que não era o seu caso, ainda sofreria uma derrota definitiva quando os Generais se envolvessem. Sendo assim, sabia que seria muito mais sensato dialogar.
“Major Gordon, acredito que há um engano. Em momento nenhum desertei, como pode ver, estou bem aqui diante do senhor, em carne e osso.” Fernando afirmou, com a voz elevada e sua fala lenta e calma. “Se eu tivesse realmente feito algo assim, por que voltaria para Garância?”
O Major franziu a testa ao ouvir isso, suspirando internamente. Estava claro que o rapaz estava falando a verdade. Embora não soubesse por qual motivo o Tenente havia partido naquele momento, não achava que alguém que havia se jogado sozinho em meio a tantos Carniçais para ganhar tempo para suas tropas, iria ser um desertor. Além disso, ele havia retornado com tantos sobreviventes que estavam fora da cidade no início do ataque, então imaginou que haveria alguma boa justificativa para sua saída repentina naquele momento.
No entanto, mesmo que acreditasse nisso, ele não poderia desobedecer Herin.
“Se o que diz é verdade, você poderá esclarecer a situação ao ser interrogado pelo Alto Comando e tudo será resolvido. Por enquanto, não resista, apenas estou cumprindo as ordens diretas do General.”
Nesse instante, um enorme grupo de pessoas chegou, liderados por Theodora.
“Os membros do Batalhão Zero chegaram!” Um Soldado do 18º Batalhão comentou, assustado.
Rapidamente muitas pessoas abriram caminho para eles, com alguns preocupados com o que aconteceria a seguir, enquanto outros, principalmente aqueles que tinham inveja da atenção e ganhos que o Batalhão Zero vinha recebendo, pareciam interessados no desfecho.
“Alto lá!” Um dos Capitães alertou, ao ver Theodora e os outros membros se aproximando.
A mulher não deu atenção, quando o encarou com um olhar incomumente sério por um momento e continuou a andar em direção a Fernando.
“Eu mandei pararem!” O sujeito gritou, quando deu um passo a frente com sua espada.
Nesse ponto, Emily e Kelly sacaram sua besta e arco apontando diretamente para o homem, enquanto Gabriel, Ugo, Leo, Lance e muitos outros sacaram suas armas.
“Ninguém encostará um dedo no nosso líder!” Theodora declarou, com um olhar frio.
“Mexer com um membro do Batalhão Zero, é o mesmo que mexer com todos!” Emily disse, imbuindo chamas em sua flecha e tensionando seu arco.
Lembrando-se de como nenhum dos outros vacilou ao desafiarem um poder estabelecido em Belai para salvá-la, ela sabia que era seu dever fazer o mesmo agora!
Ao verem isso, os membros do Pelotão Dama de Prata imediatamente fizeram o mesmo.
“É isso aí, ninguém vai tocar no nosso Tenente!”
“Foda-se, nós nos matamos para defender a cidade e é isso que ganhamos?!” Um dos Cabos da cavalaria gritou, furioso.
“O Cabo Ragin está certo!” Os Soldados concordaram, com os ânimos levantados.
Vários dos Lobos Prateados, ao sentirem a tensão de seus cavaleiros, imediatamente começaram a rosnar, prontos para lutar.
Mesmo Ilgner não hesitou, quando desceu dos lobos, retirando seus machados e ficando ao lado de Fernando.
“Parece que essa noite ainda vai ser agitada.” O bárbaro loiro falou, com uma leve risada abafada, mas seu olhar estava incrivelmente sério. Ele sabia das consequências de desafiar a autoridade de um Major.
Karol e Anane não eram diferentes, pegando suas lanças. A Oficial, em especial, estava pálida e confusa, mas não se acovardou, para proteger seu marido ela não hesitaria, mesmo que tivesse que enfrentar a legião!
Gordon e os outros Majores e Capitães tinham expressões escuras ao verem a atitude impetuosa deste Batalhão.
“Vocês ousam apontar suas armas para seus superiores?!” Um dos Capitães Combatentes disse com uma voz estrondosa.
Embora ele fosse um Combatente e, na prática, tivesse uma posição menor que a de um Tenente Comandante, já que detinha menos poder dentro da legião, em tese, ele ainda tinha uma autoridade superior.
Os trabalhadores resgatados pelo Pelotão Dama de Prata, que estavam montados nos lobos, ficaram confusos e assustados com toda essa situação, perguntando-se se haviam caído no meio de algum tipo de conflito interno.
Gordon franziu a testa, então olhou para Fernando, com um olhar sério.
“Tenente Fernando, é isso mesmo que você quer? Imagino que saiba quais são as consequências de se rebelar contra ordens superiores.”
O jovem pálido não respondeu de imediato, mas olhou para seu pessoal com uma expressão complicada.
O rapaz havia imaginado que muitos deles realmente acreditariam que ele havia desertado, afinal ele apenas partiu quando o Rei Carniçal chegou, então era lógico imaginar que ele teria fugido por sua vida. Mas mesmo assim, essas pessoas acreditaram nele e estavam erguendo suas armas, mesmo sabendo que poderiam perder sua liberdade ou até suas vidas.
Esses idiotas! pensou, com um sorriso irônico, lembrando-se sobre como eles haviam feito algo semelhante em Belai. Mas acho que eu sou o maior idiota, já que causo tantos problemas aos meus subordinados…
“Abaixem suas armas!” ordenou, com um rosto impassível.
Ao ouvirem isso, todos olharam para ele sem entender.
“Fernando, o que você…” Karol disse, atônita, enquanto o olhava fixamente.
Emily, Ugo, Cíntia, Lenny e os outros também o olharam confusos, mas se recusaram a guardar suas armas.
“Mesmo que seja uma ordem sua, não vamos permitir que você seja injustiçado novamente, Chefe!” Thom contestou, quando duas enormes Bolas de Fogo surgiram, uma em cada palma de suas mãos.
Muitos deles ainda tinham ferimentos superficiais e mal haviam recuperado seu mana, mas estavam decididos a impedir que Fernando fosse levado.
O jovem Tenente suspirou ao ver isso.
Por que esses caras são tão problemáticos às vezes? pensou, sem entender porque eram tão indisciplinados.
Nesse momento, o Capitão Lesmark, bem como o Tenente Felipe, chegaram ao local e ficaram estarrecidos ao verem aquela cena. Os membros do Batalhão Zero apontando suas armas para Majores e Capitães.
“O-o que exatamente tá rolando aqui…?” O Tenente Felipe indagou, quase gaguejando.
Lesmark não respondeu, mesmo ele não conseguia entender. Ele havia ouvido que uma ordem de prisão havia sido decretada a Fernando, mas não imaginou que as coisas escalariam a esse ponto.
“Eu disse para baixarem as armas, não gosto de ter que dar a mesma ordem mais de uma vez.” O rapaz pálido falou, com uma expressão fria, enquanto varria seu olhar sobre todos os membros do Batalhão Zero.
Mesmo que tivesse dito apenas poucas palavras, seu olhar gelado era como uma enorme montanha, pressionando contra eles.
Kelly, Thom, Ugo e os outros ficaram hesitantes ao verem isso, Theodora em particular, parecia não disposta a ouvi-lo.
“É realmente isso que você quer, Tenente?” Ilgner questionou, sem o olhar nos olhos. “Em Belai você foi ajudado pelo bondoso Cavaleiro Branco, mas ser preso pela legião tendo um antecedente como esse não é algo simples. Dessa vez você pode não ter tanta sorte. É possível que fique preso por anos. Então eu lhe pergunto, quais são suas ordens?”
O jovem Tenente ficou em silêncio. Ele sabia o que Ilgner queria dizer com isso. O bárbaro estava basicamente dizendo que ele já havia se metido em grandes problemas uma vez em Belai, então não receberia mais nenhuma colher de chá dos Leões Dourados se algo semelhante ocorresse de novo, podendo ficar, no melhor dos casos, encarcerado por muitos anos caso fosse declarado culpado. Sendo assim, se fosse necessário, eles lutariam com tudo que tinham, mesmo que não tivessem nenhuma chance.
“Abaixem suas armas e aguardem.” Fernando declarou com firmeza.
O rapaz estava confiante de que poderia resolver essa situação com a ajuda de Oliver. Além disso, ainda que tivesse que ficar preso ou até mesmo fosse executado, ele jamais permitiria que as pessoas importantes para ele morressem de uma forma tão sem sentido.
A acusação de deserção feita por Herin poderia ser contornada quando ele fizesse um relatório ao Alto Comando. Contudo, no caso de insubordinação e rebelião era diferente, não era algo que poderia ser levado de forma leviana, estes eram crimes muito mais graves, uma vez que eles desafiassem a legião, não haveria mais saída.
Ilgner o olhou de relance, então moveu os punhos, guardando seus machados.
“Se é o que quer.”
Todos os membros do Batalhão Zero olharam para essa cena hesitantes, mas logo, um a um, começaram a baixar suas armas. Mesmo Theodora e Karol, que pareciam relutantes, no fim, fizeram o mesmo.
Gordon Choumen fechou os olhos por um instante, suspirando aliviado. Ele achava o Batalhão Zero uma tropa incrível e sentiu que seria uma pena se eles fossem destruídos devido às ações imprudentes de seus membros.
“Eu entendo que todos vocês são leais a seu Tenente e isso é realmente comovente, por isso não irei levar suas ações de hoje adiante, mas saibam seu lugar!” Gordon declarou, com um olhar sério e opressivo. “Nenhum Tenente, Capitão ou mesmo um General está acima da autoridade da Legião, é melhor que saibam disso!”
Nesse momento, algumas pessoas desceram do céu. Eram Oliver, Silvester e Lerona.
“O que está acontecendo aqui?” O sujeito gigante perguntou.
Ao ver o Major que poderia inocentá-lo, Fernando acalmou-se.
“Segundo eles, o General Herin deu a ordem de me prender por deserção.” O rapaz explicou, com um rosto calmo.
Oliver já estava ciente de que ele havia atraído os Carniçais usando o Sangue de Delgnor. Porém, isso não era algo que Fernando poderia falar em público, então somente ele poderia tirá-lo dessa situação.
“Oh, isso é verdade?” Oliver perguntou, olhando para Gordon e os demais.
“Sim senhor.” O Major Combatente confirmou, com respeito. Todos ali sabiam que apesar de não ter sido oficialmente promovido ainda, ele já detinha a autoridade de um General. Se o sujeito dissesse para não prenderem o rapaz, eles seriam obrigados a obedecê-lo.
“Entendo. Se o General Herin ordenou, então podem levá-lo.”
Quando Fernando ouviu isso, sua expressão afundou, ficando completamente surpreso.
O que esse cara tá tentando fazer?
Ouvindo isso, os Capitães Combatentes não hesitaram, quando avançaram.
“Levante suas mãos.” Um deles falou, olhando para o jovem Tenente, enquanto segurava um par de algemas vermelhas.
Ao lado, as tropas do Batalhão Zero olharam a situação com olhares afrontosos.
O jovem Tenente tinha uma expressão calma. Ainda que não entendesse quais eram as intenções de Oliver, não resistiu, erguendo ambos os braços.
No momento em que o homem as encaixou em seus punhos, Fernando sentiu todo seu corpo enfraquecer e uma sensação de mal-estar, como se estivesse doente, começou a invadi-lo.
O que é isso? pensou, olhando para o par de algemas vermelhas. Só então percebeu que não eram simples Algemas Evral, mas Ardot, uma versão melhorada das mesmas, destinada a prender pessoas poderosas.
Ao lado de Oliver, que olhava toda a situação com aparente despreocupação, Lerona e Silvester tinham expressões complicadas, mesmo que quisessem intervir, ambos sabiam que não tinham esse tipo de autoridade. O único ali que poderia fazer algo era o próprio Major.
“Senhores, um momento.” Nesse instante, Lesmark, que estava observando tudo, falou. “Eu sou Lesmark, Capitão da 5ª Brigada de Infantaria Móvel do General Ramon. Acredito que há algum mal-entendido acontecendo. O Tenente Fernando e o Batalhão Zero lutaram ao nosso lado na defesa do portão. Eu estava presente a todo momento durante a batalha e não acredito que ele tenha tentado desertar ou evadir de suas funções.”
Inicialmente o Capitão hesitou em se envolver, já que poderia acabar implicado, mas após ver quão valentes, destemidos e unidos eram os membros do Batalhão Zero, acabou tomando coragem.
Ao lado dele, o Tenente Felipe Silva não tinha a mesma determinação, quando deu um passo para o lado, assustado.
Esse covarde, ele não tem um pingo de determinação? Lesmark pensou, ao ver o Tenente o olhando com desaprovação e medo.
“Quem tem que decidir isso não é você, mas os Generais.” Gordon Choumen falou, então voltou sua atenção para Fernando. “Podem levá-lo.”
“Mas eu…” O Capitão queria dizer mais alguma coisa, mas o Major Combatente lançou-lhe um olhar fulminante, como se estivesse o avisando para não se intrometer além desse ponto, o que o fez engolir suas próximas palavras.
No fim, sob a supervisão de dois Capitães e o olhar atento de Theodora, Kelly, Karol e os demais, foi decidido que Fernando seria encaminhado para a prisão de oficiais do Salão da Recepção de Garância.
Theodora tinha uma expressão descontente em seu rosto, apertando seus punhos com força ao observar seu líder sendo preso.
Enquanto o rapaz era conduzido por meio das pessoas, os membros do Batalhão Zero ergueram seus punhos, em sinal de respeito. Logo um leve murmuro de ‘Unidade’ soou entre as tropas.
O jovem Tenente observou aquela cena com um rosto calmo, então abaixou a cabeça, respirando fundo, sentindo seu coração bater com força.
Mesmo Lerona, Oliver, Silvester, o Major Choumen e todos os observadores ficaram impressionados com a lealdade do Batalhão Zero para com seu Tenente.
Naquela noite, muitos rumores se espalharam por toda a cidade. Alguns acreditando que o Tenente do Batalhão Zero havia sido sabotado por alguém poderoso, enquanto outros afirmavam que o viram com seus próprios olhos fugindo quando o Rei Carniçal foi em direção ao portão.
Entretanto, apesar do assunto sobre o Batalhão Zero ser um tema quente, muitas pessoas logo esqueceram o assunto quando tropas foram enviadas para entender a profundidade dos estragos causados pelos Carniçais naquela noite.
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