Índice de Capítulo

    “O que diabos é isso?”

    Os dois guardas exclamaram involuntariamente, completamente chocados.

    Eles esperavam encontrar o garoto morto na cela e estavam até mesmo se preparando para o que aconteceria quando o General o visse, mas no lugar disso, Alastor, que deveria matá-lo, estava ajoelhado, completamente espancado e cheio de sangue enquanto o rapaz, apesar de igualmente machucado, parecia vivo e bem!

    “O que exatamente está acontecendo aqui? Quem é essa pessoa?” Dimitri perguntou, franzindo a testa ao olhar para o enorme sujeito.

    “I-isso, bem… Esse é Alastor, senhor, o sobrevivente…”O guarda mais velho explicou, a contragosto.

    “O sobrevivente? Você quer dizer…?” Como um dos Generais, ele sabia bem de quem se tratava, apesar de nunca o ter visto pessoalmente. Ao ver a cela completamente bagunçada e destruída, somado aos ferimentos em Fernando e no outro prisioneiro, estava claro que ambos haviam entrado em uma luta corporal. Dimitri, como alguém que era perspicaz, entendeu imediatamente o que estava acontecendo. “Por que exatamente um maldito assassino foi colocado junto ao meu subordinado?!” exclamou, olhando para os dois homens.

    “E-eu não sei senhor… Nós apenas seguimos os cronogramas de transferências.” O guarda mais velho respondeu, gaguejando. Era, obviamente, uma mentira. Se isso fosse investigado, o General Dimitri rapidamente descobriria. Mas mesmo sabendo disso, o homem não tinha escolha senão insistir, se ele admitisse que manipulou a transferência, sua vida estava acabada naquele momento.

    Bam!

    O General socou o homem, atirando-o em direção à parede. O sujeito sequer viu o que o atingiu, quando caiu, inconsciente.

    “Você realmente acha que um General como eu acreditaria nisso? Está me tomando como um tolo?!” gritou, enfurecido. Então moveu seu pulso, retirando sua alabarda, pronto para pôr fim à vida dos dois guardas ali mesmo.

    Enquanto o mais velho que havia arquitetado o plano estava desmaiado no chão, o mais jovem ficou em choque, travado no lugar ao ver os olhos do General piscando com eletricidade.

    No entanto, antes que Dimitri movesse sua arma, uma voz o interrompeu.

    “General, isso não é necessário.” Fernando disse, de dentro da cela, ainda sentado, com uma voz calma, o que fez o velho homem voltar sua atenção para ele, confuso.

    “Você entende que essas pessoas tentaram te matar, garoto?” O General disse, inconformado com o acontecido. “Vou executar todos os três aqui mesmo, os dois traidores e esse homem.” falou, apontando para o sujeito alto na cela.

    Vendo Dimitri tão ouriçado, o jovem Tenente suspirou.

    Se fosse antigamente, ele concordaria em matar todos que tentaram prejudicá-lo, mas devido a tantos problemas recentemente, Fernando percebeu que nem sempre a força bruta era a solução. Além disso, matar apenas alguns peixes pequenos como esses não seria suficiente para satisfazê-lo.

    “General, entendo o que você quer dizer, mas matar esses caras apenas ajudaria o mandante.” Fernando falou casualmente, levantando-se do banco de pedra. “No lugar disso, tenho uma proposta mais interessante…”

    Dimitri franziu a testa ao ouvir isso.

    “O que quer dizer?”

    O jovem Tenente então olhou para o sujeito gigante ajoelhado.

    “Eu quero ele.” disse, apontando para o sujeito, o que deixou todos no local surpresos, inclusive o próprio Alastor.

    “Do que diabos você está falando, garoto? Esse homem não tentou te matar?”

    “Esse não é o caso, ele não seria capaz de me matar mesmo se quisesse.” Fernando respondeu com um leve sorriso confiante.

    O gigante ajoelhado olhou para o rapaz um pouco irritado, mas não negou suas palavras. Até agora ele não entendia como havia sido derrotado.

    Ouvindo aquilo, Dimitri bufou friamente, sem entender o que se passava na cabeça desse rapaz.

    “Se quiser que eu mate esse homem, eu posso fazer isso, mas pedir para libertar um assassino, é algo totalmente diferente. Esse prisioneiro ainda não foi julgado, mas é quase certo que ele será executado no próximo mês.”

    Fernando não se intimidou com a resposta, quando insistiu em seu pedido. Ele havia visto algum potencial em Alastor e sentiu que seria uma pena se alguém assim morresse numa prisão de forma tão inútil.

    “Se o senhor está aqui, então significa que minhas palavras foram confirmadas pelo Major Oliver e pelo General Zado e eu fui inocentado. Nesse caso, sofri uma acusação injusta, então acredito que a concessão deste pedido não é nada de mais. Além disso, se ele vai ser morto de qualquer forma, gostaria que sua vida fosse entregue nas minhas mãos, a legião não irá perder nada com isso.”

    A expressão do velho homem afundou com o pedido absurdo, mas, ao mesmo tempo, começou a considerar seriamente, pois percebeu que deveria haver algo para o rapaz dizer isso. Após conhecer Fernando por tanto tempo, Dimitri sabia que ele não agia sem motivo.

    “Eu soube das suas contribuições nessa batalha rapaz, realmente foram impressionantes. Não entendo quais são suas intenções, mas tentarei conceder seu pedido.” O velho General falou, então, seu olhar voltou-se para o jovem guarda ao lado. “Inclusive não matar esses dois cretinos.”

    O homem, que estava paralisado e com medo, caiu de joelhos em alívio ao saber que não seria morto.

    Pouco tempo depois, após o chamado de Dimitri, o Chefe da Guarda chegou junto a outros guardas, prendendo os dois homens e libertando Fernando.

    “Eu sou inocente, eu não fiz nada, eu jamais trairia os Leões Dourados, eu juro!” O guarda mais velho, após acordar algemado, esperneou, enquanto era arrastado, já o mais jovem havia entendido que mentir nesse ponto não adiantaria de nada e se manteve em silêncio.

    Quando o jovem Tenente saiu da cela, Alastor, que ainda estava dentro, levantou-se.

    “Não sei o que você quer de mim, mas mesmo que consiga me libertar, nunca disse que te serviria.”

    Ouvindo as palavras do gigante, Fernando deu um leve sorriso.

    “Isso é o que vamos ver.” Após dizer isso, o rapaz virou-se, partindo, deixando o sujeito gigante com um olhar confuso com a atitude complacente dele.

    Antes de sair, Dimitri olhou para o prisioneiro, sem entender o que o garoto queria com essa pessoa. Mesmo que a história dele fosse incrível, por sobreviver aos Orcs, de nada importava se ele fosse um lunático. No entanto, ao pensar até aí, percebeu que o próprio Fernando não batia bem da cabeça, então começou a ver algum sentido em suas ações.

    Um desgraçado maluco querendo recrutar outro… realmente o costume da maldita Décima Terceira perdura até hoje. pensou, suspirando. Se o rapaz não fosse sua galinha dos ovos de ouro, sempre o ajudando, realmente não iria querer o mantê-lo como subordinado, já que ele sempre se envolvia em problemas.

    Na saída da prisão de Oficiais, o próprio Chefe da Guarda, Edgar, estava esperando por Fernando.

    “Eu garanto que isso será definitivamente investigado, General Dimitri e Tenente Fernando. Ainda não acredito que algo assim tenha acontecido sob meu nariz… Essa é uma falha minha! Me perdoem!” O homem falou, de forma dramática e emocional.

    Fernando manteve um leve sorriso cordial, mas internamente não estava nada convencido com seu ato. Se algo assim estava acontecendo em sua prisão, com certeza haveria pessoas de alto nível envolvidas, incluindo ele próprio.

    “Não se preocupe, Chefe da Guarda Edgar, tenho certeza que fará um bom trabalho na investigação.” respondeu, ainda mantendo um sorriso forçado em seu rosto. Então sua expressão ficou levemente fria. “O General Dimitri estará acompanhando o caso de perto para lhe auxiliar, deixo isso em suas mãos.”

    “É claro, é claro, não tenha dúvidas!” O homem respondeu, gesticulando e inclinando-se para frente, como uma forma de demonstrar sinceridade, enquanto secretamente observava a reação do General ao lado, que parecia descontente. Então voltou sua atenção de volta para o rapaz, sua última frase soava como uma ameaça velada.

    Aqueles idiotas, eles só tinham que fazer uma coisa… Como não conseguiram lidar com um mero Tenente como esse usando algemas?!

    “Tenente Fernando, se me permite, irei remover suas algemas Ardot agora mesmo.” disse, enquanto se aproximava, com uma espécie de chave nas mãos.

    “Isso não é necessário.” Fernando respondeu, impedindo o homem. “Vou levá-las como recordação.”

    A resposta do rapaz deixou tanto o Chefe da Guarda, quanto Dimitri, confusos.

    “E-entendo… Se é assim, aqui estão as chaves, é o mínimo que posso fazer por você.” O homem respondeu, apesar de achar isso estranho.

    O jovem Tenente aceitou cordialmente as chaves. A verdade é que ele não queria que essas pessoas soubessem das rachaduras em suas algemas, isso sem dúvidas levantaria mais suspeitas a seu respeito.

    Logo depois ele recebeu seus pertences, incluindo sua Pulseira de Armazenamento. No caso, a falsa Pulseira, que continha apenas algumas poucas moedas de prata e itens aleatórios, enquanto a que ele realmente usava em seu dia-a-dia e que continha todos os seus bens, havia ficado com Karol.

    Ao checar o interior do item, percebeu que estavam faltando algumas moedas de prata, então olhou para o Chefe da Guarda, que notou seu olhar e sorriu com humildade.

    Esses picaretas… Se eu tivesse vindo com minha Pulseira real, duvido que devolveriam metade dos meus bens.

    Apesar de levemente irritado por estar faltando algum dinheiro, como era um valor irrisório para ele, Fernando deu de ombros. Atualmente ele já estava no radar de boa parte dos Generais, causar problemas agora por algo desnecessário era o que ele menos queria.

    Após saírem do Salão de Garância, Dimitri parou em frente à enorme porta, então olhou para Fernando com uma expressão séria.

    “Garoto, por sua causa, hoje eu fiz um grande inimigo.” disse, olhando-o fixamente.

    Fernando, obviamente sabia do que ele estava falando. A única pessoa que poderia fazer Dimitri parecer preocupado seria alguém de igual patente e esse indivíduo só poderia ser Herin.

    “Eu entendo, General, peço desculpas por sempre lhe causar problemas.” O jovem Tenente falou, com sinceridade. Ele sabia que se não fosse pelo apoio de Dimitri, teria dificuldade em lidar com a maioria dos problemas que estava encontrando desde que se tornou um Tenente.

    “Pelo menos você reconhece isso. Porém, eu tenho feito muito pelo seu bem-estar, mas sinto que não está sendo sincero comigo.” O sujeito disse, ainda o encarando. “Você sabe onde quero chegar, não sabe? É claro que sabe, afinal você é um garoto inteligente.”

    Ao ouvir essas palavras, Fernando sentiu um certo calafrio em suas costas, não entendendo onde o sujeito queria chegar.

    “Quando você foi envenenado naquela emboscada, ouvi algumas coisas interessantes da sua avaliação médica de antes, mas suprimi todas as informações e garanti que não fossem divulgadas, também não te pressionei sobre como você achou ou contratou o Especialista de Runas e nem mesmo informei a legião sobre a questão do General dos Lobos de Batalha, a serviço do Presa Voraz, estar te investigando. No entanto, recentemente soube que você estranhamente recebeu novos Lobos Prateados e, agora, fiquei sabendo que você até mesmo ganhou Sangue de Delgnor de presente do General Zado.” Dimitri falou, apontando várias coisas suspeitas sobre o rapaz. “Eu tenho entregado minha total confiança em você por acreditar em seu potencial e por termos objetivos em comum e garanto que serei seu escudo contra quaisquer desgraçados como Herin, mas se você continuar agindo pelas minhas costas, isso não vai funcionar.”

    Quando o jovem Tenente começou a ouvir Dimitri falar, sentiu que o homem estaria descontente com algumas coisas, mas não imaginou que seria a esse ponto.

    “Então você tem que tomar sua decisão Tenente, ou você está comigo e age com sinceridade, ou acredito que será melhor você servir a outro General.”

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