Índice de Capítulo

    Depois daquela péssima conversa com Dimitri, Fernando retornou à base do Batalhão Zero. No caminho de volta, o jovem se questionou sobre o ultimato do General.

    Que dor de cabeça… O que eu faço? pensou, indeciso.

    Ele havia pedido para revelar seus segredos. No entanto, o jovem Tenente simplesmente tinha muitas coisas sobre as quais não poderia falar, nem mesmo com Dimitri.

    Devido à indecisão de Fernando e também da situação atual que seu Batalhão estava passando, o General havia marcado uma reunião particular com ele no dia seguinte, que era o tempo que ele teria para se decidir.

    O jovem Tenente sabia que se perdesse o apoio de Dimitri, teria um grande empecilho em suas mãos, ainda mais com Herin o visando. Além disso, mesmo que ele conseguisse um novo patrono, não havia garantias de que um novo General fosse tão cooperativo ou lhe desse tanta liberdade quanto ele.

    Suspirando, Fernando balançou a cabeça.

    O que tiver que ser, será. pensou, resoluto.

    “Tenente!”

    Ao passar pela entrada do prédio, as tropas de guarda do Batalhão rapidamente o reconheceram e em pouco tempo os Subtenentes e Oficiais foram informados de seu retorno.

    “Quero todos em minha sala em cinco minutos.” O Tenente enviou uma mensagem antes que seus subordinados sequer pudessem reagir ao seu retorno.

    Em pouco tempo todos os membros mais importantes do Batalhão Zero foram reunidos, incluindo Theodora e Ilgner de Subtenentes, Thom e Damon de Sargentos, o Oficial do Primeiro Pelotão, Noah, o Oficial do Terceiro Pelotão, Gabriel, a Oficial do Quarto Pelotão Karol, a Oficial do Quinto Pelotão, Kelly, bem como os Cabos Lenny, Anane, Ragin, Leo, Emily, Cintia, Ugo, Lance, Magnus, Bianco, Keny, a Tesoureira Lina e alguns outros Cabos menos destacados. Dentre todos, o único que não estava presente na reunião era Ronald, que ainda estava se recuperando dos ferimentos.

    Cada um deles eram membros importantes do Batalhão Zero com grandes contribuições, sendo extremamente respeitados pelas tropas comuns, mesmo assim, ninguém se atreveu a falar nada ou sequer perguntar algo, enquanto o jovem pálido, no assento central, se mantinha em silêncio.

    “Alguns de vocês devem estar se perguntando porque fui preso e porque me soltaram, ou mesmo porque eu os abandonei daquela forma durante a batalha.” Fernando disse, com uma voz calma, mas profunda.

    Nesse ponto, o boato sobre sua possível tentativa de deserção durante a investida do Rei Carniçal estava mais forte do que nunca, graças à acusação e pedido de prisão por parte de Herin, até alguns Soldados leais ao Batalhão estavam se questionando se isso realmente havia acontecido. No entanto, na visão da maioria, o Tenente Fernando era alguém destemido que sempre estava na linha de frente, então ouvir que ele teria fugido era algo simplesmente inconcebível.

    Karol, Noah e alguns outros tentaram explicar o ocorrido, mencionando sobre como resgataram os sobreviventes junto a Fernando, mas mesmo assim as dúvidas pairavam na mente de alguns.

    O jovem Tenente obviamente sabia disso, era comum do ser Humano desconfiar. Assim como Dimitri, que sempre depositou sua fé nele, começou a ter sua confiança nele abalada com o passar do tempo, o mesmo poderia acontecer com seus subordinados próximos. Sendo assim, decidiu que seria transparente com eles o máximo possível.

    “Bem, o que vou contar não pode e não deve sair dessa sala, estejam cientes disso…” Ao dizer até aí, Fernando explicou de forma resumida sobre o que realmente tinha acontecido, incluindo ter atraído os Carniçais para longe da cidade, ter ajudado Oliver a derrotar o Necropto que começou o ataque e sobre o resgate dos sobreviventes depois disso. É claro que ele havia propositalmente escondido alguns detalhes mais sensíveis, como o tipo de sangue que ele havia usado para atraí-los, dando a entender que poderia ter sido o sangue de Ogro que tinha em estoque.

    Mesmo que confiasse em boa parte das pessoas naquela sala, já havia muita gente sabendo sobre o Sangue de Delgnor, se isso continuasse se espalhando seria um grande problema, não só para ele como para o Batalhão Zero como um todo.

    “Espera, então não só defendemos o portão, como o Tenente também tirou todas aquelas coisas de perto da cidade e até matou o responsável por tudo isso, e mesmo assim foi preso? Qual o problema desse General Herin? Esse cara é um lunático, ou algo assim?” Leo reclamou, rangendo os dentes.

    Ilgner, que estava ao lado, franziu a testa ao ouvir isso.

    “Tenha mais cuidado com suas palavras Cabo, mesmo que estejamos em um ambiente seguro, não se deve falar mal de um General tão abertamente, as consequências não serão simples se alguém de fora escutar.”

    Como alguém que sempre odiou Legiões no passado, o bárbaro loiro sabia muito bem dos riscos envolvidos ao se dirigir a alguém com tanta autoridade.

    Apesar de não gostar das palavras do homem, Leo sabia que ele não estava defendendo o General, mas apenas o orientando para ele ser cuidadoso e não dizer mais nada que possa prejudicá-lo.

    “A questão é, se o General Herin mandou prender o Tenente, isso pode ter sido um engano, ou foi um erro proposital?” Noah indagou, com os braços cruzados.

    Muitos tiveram uma mudança de expressão ao ouvir isso, enquanto voltavam sua atenção para Fernando.

    O jovem Tenente se manteve em silêncio por um momento.

    “O General Herin de fato, não gosta de mim. Pode-se dizer que temos algumas divergências pessoais…” falou, lembrando-se que o atrito com o sujeito não se tratava apenas da discussão que tiveram na muralha, mas também pelo fato dele ter o contrariado e até o ameaçado na batalha da retomada por Garância. Algo que ele não teve escolha, já que Herin planejava deixar a Quinta Divisão ser exterminada. “Então, por enquanto, quero que todos mantenham um perfil baixo. Não provoquem confusão ou qualquer problema que possa ser usado por ele contra o Batalhão Zero.”

    As palavras de Fernando causaram algumas mudanças de expressão, com muitos preocupados. Mesmo que seu Tenente fosse alguém que pudesse ser considerado ‘problemático’, isso era apenas se tratando da esfera de Capitães e abaixo o que poderia ser resolvido. Mas ter um General como inimigo era um assunto totalmente diferente.

    Inicialmente, o rapaz pálido não queria trazer esse assunto aos seus subordinados, considerando isso um problema pessoal seu. Mas mesmo que tivesse agido com leveza em frente a Dimitri sobre a tentativa de assassinato que sofreu na prisão, ele estava verdadeiramente preocupado.

    Se você me quer morto Herin, então não me culpe por querer o mesmo de você. Fernando pensou, com uma expressão fria. Como as coisas já haviam chegado a esse ponto, ele sabia que não tinha mais volta.

    Se o homem havia agido tão abertamente contra ele, significava que não se tratava mais de uma simples inimizade, mas uma hostilidade aberta. Sendo assim, trataria o General como um verdadeiro inimigo.

    Ouvindo a ordem do Tenente, todos assentiram. Assim como ele havia dito, se eles estavam sob o escrutínio de um General, a melhor coisa que o Batalhão Zero poderia fazer era esperar a poeira baixar e torcer para que o homem não tentasse causar problemas a eles.

    “Felizmente o Tenente tem o apoio do General Dimitri, então não vai ser tão simples mexer conosco.” Gabriel comentou, confiante. Muitos assentiram, convictos nas palavras do Oficial.

    A expressão de Fernando mudou ao ouvir isso, mas não revelou a eles sobre o ultimato do velho homem, afinal, muitos Cabos ali ainda não eram de sua total confiança.

    “Mas é realmente incrível que o Tenente tenha conseguido levar os Carniçais para longe. Quando aquela coisa veio em nossa direção, achei que realmente era o nosso fim.” Cintia disse, suspirando. Ela ainda se lembrava de suas pernas trêmulas ao ver aquele colosso abandonando a investida contra a muralha e indo em direção ao portão.

    Muitos concordaram com ela, o terror que sentiram ainda estava gravado em suas memórias, então olharam para Fernando com olhares de admiração.

    Para ele, sozinho, ter atraído aqueles monstros para longe, não era algo que um covarde se atreveria a fazer. Muitos dos que duvidaram do Tenente, começaram a se sentir culpados. Obviamente, não havia como ele estar mentindo, afinal se ele tivesse realmente tentado desertar o Alto Comando jamais teria o libertado.

    “Bem, com isso esclarecido. Vamos ao próximo assunto, quanto a nossas perdas…”

    Quando Fernando disse isso, um clima tenso se instalou na sala.

    Não apenas eles sofreram casualidades durante a defesa do portão, como também perderam muitas tropas que estavam em missões externas.

    Lina, que estava em pé, próxima à porta, deu um passo à frente quando recebeu o olhar do seu líder. Além de Tesoureira, ela também estava servindo como secretária dele.

    “Depois de fazermos um censo de baixas, foi aferido que tivemos um total de 82 mortes nessa última noite, com 13 delas na missão de defesa do portão e as outras 69 nas missões de escolta das Guildas Construtoras, com o Primeiro Pelotão do Oficial Noah e o Segundo Pelotão, do… falecido Oficial Trayan, tendo sido os mais afetados. Além disso, tivemos um alto número de feridos, com alguns podendo estar incapacitados para combates futuros. Ainda estamos esperando um parecer da senhorita Anastasia a respeito.”

    Quando Lina terminou seu relatório, o clima na sala ficou pesado. Especialmente Lenny, quando o nome de Trayan foi mencionado, o jovem parecia extremamente emotivo. Ambos eram grandes amigos e parceiros, tendo lutado junto por muito tempo, desde a Guilda Valorosos. Ugo, que estava ao lado do rapaz, colocou a mão em seu ombro, tentando consolá-lo.

    A expressão de Fernando também não era boa, ele já tinha uma noção aproximada das baixas, mas não imaginou que seria tão grave.

    Antes da última noite, o Batalhão Zero contava com 382 combatentes, incluindo Soldados, Cabos e Oficiais, mais 54 membros da Unidade de Logística. Eles já estavam incrivelmente desfalcados em seus números, mal tendo o suficiente para compor quatro Pelotões, mas agora com essas perdas, só restavam 300 combatentes, sem contar os incapacitados que possam surgir dentre os feridos. Muito menos quatro, agora eles mal tinham tropas suficientes para compor três Pelotões, com isso, estavam em falta de Soldados para mais dois Pelotões completos e isso era um enorme problema!

    Deve-se saber que se uma tropa não tivesse reposição de números constantes e se permitisse ser diminuída, seu poder e influência gerais diminuiriam drasticamente, podendo até mesmo ser desmanchada no futuro. Mesmo que o Batalhão Zero fosse um Batalhão Nomeado e com conquistas em seu nome, eles não estavam imunes ao desmantelamento.

    “O General Dimitri havia prometido a transferência de algumas tropas para nós, mas até o momento, não houve mais respostas a respeito. Acredito que ele também possa estar com dificuldades quanto a isso.” Lina explicou.

    “Talvez devêssemos abrir o recrutamento em Garância, assim como fizemos em Belai.” Lance sugeriu.

    “Isso não vai dar certo…” Gabriel negou a sugestão.

    “Por que não?” O sujeito perguntou, confuso. Grande parte das tropas atuais haviam sido recrutadas ainda em Belai, mesmo que tivessem alguns novatos entre eles, poderiam treiná-los com o tempo.

    O Oficial experiente balançou a cabeça, com a ingenuidade e falta de conhecimento da situação da cidade por parte do homem.

    “A maioria dos migrantes de Garância são compostos por comerciantes e civis comuns em busca de moradia, não há muitos homens e mulheres dentre esses que estão dispostos a servir as legiões. Além disso, os poucos mercenários solitários e outros que chegaram com o objetivo de lutar, na maioria já foram absorvidos pelas outras tropas. Afinal não somos os únicos com falta de mão de obra. Em, resumo, não há quem recrutar em Garância, se quisermos repor nossas tropas, precisaremos abrir um pedido de recrutamento em outra cidade.”

    Quando isso foi mencionado, muitos tiveram expressões feias. Um pedido de recrutamento em uma cidade onde eles não estavam estacionados era algo problemático logisticamente falando.

    Primeiramente, teriam que enviar um representante, além disso, teriam que dispor de tropas e recursos para fazer a seleção e para piorar a situação, isso ainda poderia levar dias ou até semanas para o recrutamento terminar. Se o Batalhão Zero estivesse com mais tropas, isso não seria um problema, mas com tanto desfalque seria um grande inconveniente enviar um grande grupo para longe.

    Outra solução, seria fazer o pedido direto aos Leões Dourados e deixar que eles próprios façam a seleção e enviem pessoas. Porém, isso era arriscado, principalmente com a briga entre as duas facções acontecendo. A chance de espiões se infiltrarem em suas tropas seriam altas. Também havia a possibilidade das tropas enviadas serem péssimas, o que diminuiria e muito a qualidade do Batalhão Zero, que já tinha suas dificuldades sendo uma tropa recém montada.

    Enquanto alguns discutiam sobre qual das duas opções deveriam aderir, Fernando interrompeu o raciocínio de todos.

    “Não precisamos abrir um pedido de recrutamento em outra cidade e nem fazer um pedido a Legião, as tropas que precisamos estão aqui mesmo, em Garância.”

    Apoie o Projeto Knight of Chaos

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (18 votos)

    Nota