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    Momento antes do início da reunião noturna, Fernando, Wedsnagauer e Alfie Caiman estavam na sala de aula de Runas.

    “Você tem certeza disso, rapaz?” O velho homem perguntou, aparentemente hesitante.

    “Não se preocupe, professor. Tenho tudo sob controle.” Fernando respondeu, com confiança.

    Ouvindo isso, tanto Alfie, quanto o velho homem se entreolharam, preocupados, então deram um olhar significativo para o jovem Tenente. Mesmo que o rapaz não tivesse explicado para que usaria esse tipo de Matriz, era evidente que seria para algo perigoso.

    “Muito bem então… Caiman, faça.”

    Tendo recebido a ordem, mesmo com dúvidas a respeito dessa ideia, o sujeito de óculos assentiu, quando se abaixou, tocando o chão de pedra. Assim que o fez, toda a sala iluminou-se, rastros de inscrições surgiram por todo o lugar. Havia círculos e mais círculos de Runas no chão, montando uma complexa e detalhada Matriz em boa parte do local.

    “Assim como você pediu, todas as Matrizes dessa sala foram reformatadas para conter até mesmo um General. Uma vez que alguém entre nesse lugar, todo seu Mana será suprimido e se necessário, posso imobilizá-lo por um tempo.” Wedsnagauer afirmou, então olhou para o rapaz, com um olhar questionador. “Mas o que exatamente você planeja com isso?”

    “Você logo entenderá, professor.” O jovem Tenente respondeu, de forma misteriosa, o que deixou os dois homens ainda mais desconfiados.

    Apesar disso, Wedsnagauer não insistiu ou fez mais perguntas, o que deixou Fernando um pouco surpreso.

    Anteriormente, ele havia prometido aos dois que mostraria como melhorar a Compatibilidade de alguém num momento mais apropriado, sem dizer quando ou onde, e mesmo assim precisaria da construção da Matriz naquela noite. Mesmo com condições tão vagas, o velho Doutor e seu Assistente simplesmente haviam aceitado isso.

    Eles realmente confiam em mim tanto assim? O rapaz pálido perguntou-se, sem entender porque o professor e seu assistente tinham esse nível de confiança e apreço por ele, mesmo que se conhecessem por tão pouco tempo.

    Na verdade, o caso de Alfie Caiman era o mais surpreendente. Anteriormente, o sujeito parecia ter algum tipo de aversão, um pouco de inveja e até mesmo desconfiança em relação a ele. No entanto, desde que as aulas de Runas haviam começado, sua atitude havia mudado completamente. Mesmo seus olhares, que antes carregavam desconfiança, agora pareciam muito mais gentis.

    Apesar de não entender o porquê dessa mudança, Fernando pensou que isso, ao menos, era algo positivo.

    Pelo menos não preciso mais me preocupar com um especialista em Runas tentando me matar pelas sombras… pensou consigo mesmo, aliviado.

    “Bem, já está quase na hora.” O rapaz pálido disse, ao checar o horário em sua Pulseira de Armazenamento.

    “Alguém está aqui.” Alfie disse, logo após a fala de Fernando, indo em direção à porta, o que surpreendeu o rapaz.

    Como eles sempre sabem quando alguém está aqui?

    Apesar da dúvida em sua mente, logo focou-se no que estava prestes a acontecer.

    Clack! Whoosh!

    Assim que a porta foi aberta, várias pessoas começaram a adentrar no local.

    “Hm? Que tipo de lugar é esse? Não sabia que tínhamos algo assim.” Leo comentou casualmente ao ver as várias Runas piscando suavemente nas paredes, enquanto analisava o local, sem entender do que se tratava.

    Não era apenas ele, todos os membros do Batalhão Zero que haviam sido previamente selecionados estavam ali. Lance, Emily, Karol, Noah, Lenny, Gabriel, Kelly, Leo, Ugo, Anane, Bianco, Cintia, Magnus, Lina, Thom, Damon, Ilgner, Theodora e o agora consciente Ronald, que estava usando uma prótese no lugar de seu pé perdido para os Carniçais.

    Fernando observou o sujeito sem um dos pés, substituído por um membro metálico e suspirou.

    Ronald pareceu notar o olhar do jovem Tenente e ergueu a cabeça, sorrindo, com confiança, como se dissesse para ele não se preocupar com aquilo. Ao lado dele, Emily parecia cabisbaixa, enquanto se recusava a deixar seu lado, como se estivesse temerosa de perdê-lo a qualquer momento. Fernando, obviamente, conhecia bem essa sensação e entendia pelo que a pequena ruiva estava passando.

    Ilgner, Theodora e alguns outros ainda analisavam o ambiente. Poucos deles sabiam sobre Wedsnagauer e Alfie, enquanto a maioria apenas sabia que o velho e seu Assistente eram “Consultor” e “Guarda” de Fernando, o que, claramente, eram posições de fachada, para evitar suspeitas da Legião.

    “O que é tudo isso, afinal? Parecem Matrizes ou algo do tipo.” Noah falou, atordoado e até um pouco deslumbrado.

    “Não só parecem, são Matrizes, e pela quantidade de Runas presente nelas, devem ser muito poderosas.” Gabriel afirmou. Mesmo que ele soubesse tanto quanto os demais sobre esse campo de estudos, ainda poderia reconhecer o que eram.

    Vindo de trás, Ilgner passou pelos outros, enquanto observava o rapaz pálido, que estava parado no centro da sala.

    “E então Fernando, que tal explicar do porquê de nos reunir aqui e colocar tantos Soldados em patrulha em torno da sede do Batalhão?”

    Fernando observou o bárbaro loiro com um olhar calmo.

    “Ainda não, estou esperando mais alguns convidados.”

    Assim que o rapaz disse isso, duas batidas soaram na porta.

    Alfie, que estava próximo, rapidamente a abriu e assim que fez isso, um homem de capuz entrou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

    Todos ao redor, olharam para o sujeito com uma sensação estranha, se perguntando quem era aquela pessoa.

    “Que lugar mais peculiar.” A pessoa encapuzada disse, com um meio sorriso.

    Assim que ouviu a voz, Bianco imediatamente a reconheceu.

    “Líder?”

    Alguns se voltaram para o Cabo com olhares estranhos. A Oficial responsável por ele era Kelly, então por que o sujeito estava chamando essa figura de ‘líder’?

    Antes que pudessem pensar mais a respeito, a pessoa em questão removeu seu capuz, revelando-se. Seus longos cabelos negros, olhos perfurantes, rosto levemente afeminado e beleza estonteante imediatamente o denunciaram.

    “Sargento Argos?” Alguns dos presentes na sala exclamaram, surpresos.

    “Ele não estava em algum tipo de missão secreta? Não o vejo desde que deixamos Belai.” Magnus comentou.

    Com exceção de Theodora, Ilgner, Fernando e Bianco, mais ninguém sabia que o sujeito estava em Garância há algum tempo.

    “Como estão, caros companheiros?” O sujeito disse, com elegância.

    “O senhor já completou sua missão?” Bianco indagou com a voz baixa, mesmo que ele soubesse do conteúdo da missão e que o mesmo estava na cidade, não entendia o porquê dele aparecer naquele lugar.

    “Digamos que sim…” Argos respondeu, com um sorriso, então olhou para Fernando, com um olhar questionador. Mesmo ele não entendia o motivo de ter sido convocado de volta para o Batalhão Zero, já que a Guilda de Informações que ele havia secretamente montado ainda não estava pronta para operar de forma independente.

    A segurança estava tão rígida, que ele só havia conseguido adentrar no local sem ninguém perguntar sobre sua identidade, devido a alguns de seus subordinados no Batalhão Zero secretamente o escoltarem até ali, sob as ordens do próprio Tenente.

    “Então era ele quem você estava esperando Fernando?” Noah perguntou.

    “A vinda do Sargento hoje é fundamental, mas ele não é o único que espero.” O jovem Tenente respondeu, de forma casual. Logo seu Cubo Comunicador tocou, quando uma mensagem chegou. Assim que a viu, um leve sorriso se abriu em seu rosto. “Parece que nossos convidados de fora chegaram. Vou recebê-los pessoalmente.”

    Ao dizer isso, Fernando, que estava sentado, levantou-se, atravessando a multidão e indo em direção à porta.

    Do lado de fora no corredor que levava a sala, alguns Soldados estavam a postos, olhando ansiosamente de canto de olho para as figuras atrás deles, as quais eles haviam escoltado até ali.

    “Por que essas pessoas estão aqui? O que está acontecendo?” Um deles comentou, sussurrando.

    “Quem sabe? Talvez o Tenente esteja dando uma festa, ou algo assim?”

    Repentinamente a porta foi aberta, quando um jovem pálido saiu.

    Os Soldados e aqueles que estavam sendo escoltados, foram pegos de surpresa. Um dos membros que estava de guarda não pôde evitar bisbilhotar o interior da sala, mas tudo que viu foi uma luz branca, que impedia que qualquer um do lado de fora enxergasse o que havia dentro.

    “Hm? Uma Matriz?” Uma voz envelhecida soou.

    Vendo a pessoa a sua frente, Fernando tinha uma expressão séria.

    “Bem-vindo General Dimitri.” O rapaz falou com educação e cordialidade, mas internamente seu coração estava acelerado. Não devido à presença de Dimitri, mas pelas duas pessoas atrás dele.

    “Que incomum esse convite, Tenente, principalmente depois do seu último ‘favor’. É melhor isso ser importante, não tenho paciência com quem me faz perder tempo e principalmente quem usa meu nome em seus assuntos pessoais.” Uma voz irritada e ranzinza falou sem se conter.

    A pessoa em questão não era outra senão o General Zado, que encarava o rapaz com seus habituais olhos arregalados, que transmitiam uma sensação de fúria em direção ao jovem Tenente.

    O rapaz pálido forçou um sorriso em seu rosto.

    “Posso garantir que isso é importante senhor. Caso o General considere isso uma perda de tempo, vou garantir de recompensá-lo devidamente.”

    Ouvindo aquilo, a expressão de Zado mudou levemente, pois sabia exatamente de que tipo de ‘recompensa’ ele estava falando.

    Esse pivete, ele realmente tinha mais carne de Delgnor? pensou, atordoado.

    Após ter encoberto o rapaz na última reunião, alegando que o Sangue de Delgnor pertencia originalmente a ele, o pensamento sobre o que mais o garoto tinha em suas mãos não pode evitar perambular em sua cabeça. Isso havia sido um dos motivos pelos quais ele aceitou o estranho convite do garoto.

    Ouvindo aquilo, a expressão de Dimitri mudou. Mesmo que não fosse dito diretamente, estava claro sobre o que estavam falando.

    Se não foi o Zado quem deu o Sangue de Delgnor para o Fernando, então quem foi? O velho General se questionou, olhando com ainda mais curiosidade para o rapaz, se perguntando quantos mais segredos ele guardava, o que só o deixava mais ansioso.

    Além dos dois Generais, Fernando viu mais alguém, o que o surpreendeu, pois era uma pessoa que não havia sido convidada.

    Por que a Capitã Lerona está aqui? O rapaz se perguntou, em dúvidas. Ele havia sido bem específico ao convidar Dimitri e Zado, solicitando que não trouxessem outras pessoas, por se tratar de um assunto sensível.

    Notando o olhar confuso do rapaz, Dimitri logo entendeu.

    “Ela está comigo. Isso não vai ser um problema, vai?”

    Apesar de ser uma nova Capitã sob sua asa, o velho homem reconheceu que a mulher não só era extremamente capaz, mas também leal e não o trairia tão facilmente. Sendo assim, rapidamente a tornou um membro de alta confiança entre suas tropas.

    A mulher ruiva olhou para o jovem Tenente com um olhar fixo, como se aguardasse o que ele ia dizer.

    Fernando ficou em silêncio por um momento, essa não era uma simples reunião e só aqueles que ele convidou deveriam fazer parte dela, mas após pensar com cuidado, lembrou-se que foi graças a Capitã Lerona que o Batalhão Zero havia se saído tão bem na defesa do portão, com ele próprio tendo sido salvo por ela, com isso em mente o jovem Tenente se decidiu.

    “De forma alguma General, a Capitã Lerona também é bem-vinda.” Fernando respondeu, com um sorriso. Então apontou para a porta. “Por favor, entrem.”

    Olhando para a luz de Matrizes que vinha do outro lado, Zado, que tinha conhecimento sobre a existência do Mestre de Runas, não pôde deixar de franzir o cenho.

    “Você implementou uma segurança bem estranha essa noite. Além disso, quer que entremos nessa sala suspeita.” O homem disse quando deu alguns passos em direção a Fernando, seus olhos arregalados, ficando frente a frente com o rapaz. “Por acaso isso não é algum tipo de armadilha, é?”

    Quando o homem disse isso, Dimitri, Lerona e mesmo os Soldados ao redor olharam para o sujeito em choque. Não só isso, como todos sentiram um clima pesado se instaurando, assim como um denso Mana se espalhando ao redor, pressionando todos os presentes na área.

    Mesmo com a pergunta inesperada e sentindo a pressão ameaçadora do sujeito, Fernando não se abalou.

    “Se eu quisesse, de alguma forma, prejudicar os Generais, por que me daria o trabalho de montar uma armadilha? Bastaria ter abandonado minha posição durante a retomada da cidade. Sem meu suporte com as Balistas Explosivas modificadas pelo meu subordinado, alguém aqui ainda estaria respirando?” indagou, com uma voz calma e firme.

    “Fernando, o que você…” Ouvindo a resposta atrevida a provocadora do rapaz, Dimitri ficou estarrecido, não imaginando que ele falaria assim com Zado, dentre todas as pessoas do alto comando de Garância. Mesmo ele e os outros Generais não se atreviam a fazer isso!

    No entanto, mesmo que todos ali soubessem que o rapaz havia sido petulante, a verdade é que ele não estava mentindo.

    Sem o suporte das Balistas Explosivas melhoradas, seja Dimitri, Zado ou mesmo Lerona, provavelmente nenhum deles teria sobrevivido aquela batalha. De certa forma, foi graças a Fernando que a Quinta Divisão havia sobrevivido, o que influenciou diretamente na obtenção da vitória.

    Ouvindo aquilo, a expressão de Zado não mudou, mantendo-se encarando o rapaz em silêncio.

    “Humph. Não é à toa que Herin quer tanto sua cabeça, Tenente.” disse, com uma voz descontente.

    Ao ouvir isso, Dimitri e Lerona ficaram pálidos.

    Droga, o que há de errado com esse garoto! Já não bastava ter feito Herin como inimigo, agora está provocando Zado! Nem aquele maldito do Viktor Yujin era louco a esse ponto! O General de cabelos espetados exclamou mentalmente, preocupado com o que o homem faria com o Tenente.

    No entanto, ao contrário do que estavam esperando, Zado não ficou furioso ou atacou Fernando, mas realmente deu alguns passos a frente, desviando do rapaz e atravessando diretamente a porta luminosa, sem qualquer hesitação.

    Essa ação repentina surpreendeu tanto Lerona, quanto Dimitri.

    Vendo isso, o rapaz pálido ficou em silêncio, mesmo ele não esperava por isso. Mas logo se recompôs, voltando-se para os dois Soldados que aguardavam ao lado.

    “Vocês podem sair. Garantam que ninguém desça até o subsolo.” ordenou.

    “Sim, senhor!” Os dois homens rapidamente assentiram, apressando-se para sair dali o mais rápido possível, principalmente após terem visto seu Tenente provocando um General bem em sua frente, seus corações batiam tão rápido que parecia que iriam sair por suas gargantas.

    “Capitã, General.” Fernando, disse, indicando que entrassem.

    O sujeito de cabelos espetados olhou para o rapaz por um momento, com uma série de pensamentos se passando por sua mente. Mas não disse nada.

    Vamos ver o que exatamente você pretende, garoto.

    Dimitri havia dado um ultimato a Fernando, exigindo que o rapaz fosse franco com ele sobre seus segredos. Essa era a única forma que o homem conseguiria confiar nele depois de esconder tantas coisas e agir tantas vezes por suas costas.

    Inicialmente o General ficou contente quando o jovem Tenente concordou em lhe contar tudo e marcou um horário para conversarem mais cedo do que ele planejava, mas ficou estarrecido ao chegar no local e encontrar Zado. Ele simplesmente não conseguia entender as intenções do rapaz ao convidar aquela pessoa.

    Logo Dimitri caminhou em direção à porta e Lerona, que estava parada logo atrás, deu um olhar em direção a Fernando por um momento e seguiu atrás do homem.

    Vendo ambos entrarem, o rapaz pálido sorriu, então entrou também, fechando a porta atrás dele.

    Assim que adentrou, o Fernando viu Zado e Dimitri parados próximos à porta, seus olhares imediatamente voltaram-se em direção a ele, contendo um ar pesado.

    “O que significa isso, Tenente?” Zado exclamou, ao sentir algo. Mesmo que fosse uma sensação leve e superficial, ele conseguia sentir claramente que algo estava interferindo em seu Mana, impedindo-o de usá-lo. Além disso, não conseguia sentir qualquer conexão com o mundo exterior, era como se todos os presentes nessa sala estivessem num espaço a parte. Não só isso, como notou um rosto familiar entre os presentes, aquele Mestre de Runas!

    O sujeito sabia que se aquela pessoa se envolvesse, mesmo ele teria dificuldades em lutar de volta. Era de conhecimento comum que se um Mestre de Runas tivesse tempo e recursos suficientes para se preparar, mesmo meia duzia de Generais não teriam chance e vendo como todo o local parecia imerso em uma atmosfera estranha, estava claro que ali era sua base!

    Apesar de não ter conhecimento a respeito de Wedsnagauer, Dimitri também estava surpreso. Ao olhar para os entornos e ver quase todos os oficiais do Batalhão Zero reunidos ali, suas sobrancelhas se estreitaram.

    Não importa como se visse isso, realmente parecia uma armadilha!

    Porém, Fernando apenas ignorou os olhares inquisitivos dos Generais e da Capitã, além dos rostos surpresos e de pânico de Wedsnagauer, Alfie e dos membros do Batalhão Zero, passando por todos eles, enquanto emitia uma sensação calma, se dirigindo ao centro da sala e sentando-se numa cadeira.

    “Eu agradeço a presença de todos aqui essa noite, então vamos começar.”

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