Capítulo 588 - Fúria do Mestre

Uma estranha atmosfera tomou conta do local, quando todos se entreolharam, com muitos membros do Batalhão Zero olhando com algum temor em direção aos Generais, já que era a primeira vez que estavam tão próximos de pessoas tão importantes assim.

Zado e Dimitri se acalmaram um pouco ao notarem as expressões confusas dos membros do Batalhão, que também pareciam não saber do que se tratava isso tudo.

Afinal, o que esse garoto quer com tudo isso? Convidar dois Generais dessa forma… Dimitri pensou, preocupado. Enquanto ponderava sobre isso, finalmente notou um rosto peculiar dentre os demais. Aquele homem…  é o Argos?

Mesmo que o sujeito fosse alguém de pouco valor em relação a sua posição atual, ele ainda se lembrava muito bem de Argos Kouris, afinal, o homem havia comandado um dos Esquadrões mais destacados da Décima Terceira. Tendo cumprido muitas missões destacadas ao longo de seu tempo em Vento Amarelo.

Então, quando o sujeito foi repentinamente incorporado às tropas de Fernando, ele achou estranho o Capitão Raul abrir mão de alguém tão competente, mas fingiu não notar a estranheza da situação. No entanto, quando o jovem Tenente informou que Argos teria partido em uma missão particular, isso havia lhe causado alguma impressão e leve suspeita de sua parte. Vê-lo ali naquela noite, quando sequer sabia que o sujeito estava na cidade, era algo definitivamente estranho!

Logo atrás de Fernando, Alfie e Wedsnagauer, que haviam se posicionado próximos às bancadas, também tinham expressões estranhas em seus rostos. Afinal, o rapaz havia convidado não um, mas dois Generais. Isso era algo que estava completamente fora de suas expectativas.

“O que acha Doutor, a Matriz aguenta?” Alfie Caiman perguntou, de forma ambígua, usando algum tipo de Runas estranha que impedia a propagação do som.

Ele não sabia porque o jovem Tenente havia pedido a construção de uma Matriz tão poderosa de supressão, mas se um conflito se iniciasse, eles tinham que estar prontos.

Apesar de ter ajudado Wedsnagauer na construção, o sujeito sabia que não era capaz de analisar a eficiência de uma Matriz desse nível.

“Com os materiais que usamos? Mesmo se houvessem três deles, o resultado ainda seria o mesmo.” O velho homem respondeu, enquanto passava sua mão em sua barba. No entanto, apesar de ter dado essa garantia, sua ansiedade ao pensar sobre o pior que poderia acontecer depois dessa reunião era evidente.

Logo o jovem Tenente deu início a sua fala:

“Serei franco. Todas as pessoas nesta sala são, de alguma forma, dignas do meu respeito ou da minha consideração e confiança, e é por isso que decidi compartilhar algo com vocês. No entanto, por mais que eu acredite na integridade de cada um dos presentes aqui, há coisas que não podem depender apenas disso.” Fernando disse, com um rosto inexpressivo, então moveu levemente seu dedo, cujo qual havia um anel vermelho. Logo um estranho e misterioso portal negro surgiu no ar a sua frente, surpreendendo a todos. “E é por isso que preciso que assinem isso.”

Quando o rapaz terminou de falar, vários estranhos cristais vermelhos foram atirados de dentro do portal, um em direção a cada pessoa na sala. Todos reflexivamente pegaram os itens e assim que o fizeram, os mesmos tremeram por um instante, quando inúmeras projeções surgiram a frente de cada pessoa na sala.

“O que é isso?” Alguns se perguntaram, sem entender o que estava acontecendo.

A única exceção eram alguns poucos, como Dimitri, Lerona e Zado, que olharam para aquilo com rostos escuros.

“Isso é algum tipo de piada? Está nos oferecendo um maldito Contrato de Vassalo? Acha que eu, Zado, irei me submeter a um Tenente insignificante?!” O sujeito falou, cheio de fúria, com a voz alta e seus olhos arregalados, focando-se no rapaz pálido.

Obviamente, pessoas de alta patente como ele que viviam há muito tempo nesse mundo conheciam bem uma Matriz de Contrato de Vassalo, já que era algo extremamente problemático para a sociedade como um todo, ao ponto que seu uso havia sido banido pelo Conselho Superior depois de vários incidentes ao longo dos anos.

Ao contrário de uma Magia de Controle ou de Lavagem, que deixava rastros evidentes, pessoas ligadas por contratos como esse não demonstravam qualquer indício de estarem submissos a outros, já que em tese, o contrato havia sido assinado com seu consentimento e a mesma tinha plena autonomia de suas ações.

Mesmo sem dizer nada, Dimitri também estava igualmente furioso. Ele sabia que Fernando era ousado e indisciplinado, mas ele jamais imaginou que o rapaz seria tão descarado ao ponto de tentar enganá-los dessa forma.

Com exceção de Argos e Bianco, que já haviam assinado isso há muito tempo e ficaram indiferentes quanto a tudo isso, já que foram os únicos que não receberam os cristais, os demais ficaram perplexos.

“Contrato de Vassalo?” Ilgner perguntou, franzindo a testa. “Está questionando nossa lealdade, Fernando?”

Mesmo que seguisse o rapaz e tivesse grandes perspectivas de estar ao lado dele, o bárbaro loiro se sentiu extremamente ofendido em ter que assinar algo assim depois de todo esse tempo.

Ao lado, Theodora olhou para o Contrato a sua frente com um olhar calmo, ela não parecia afetada por isso. Ela olhou para Fernando com olhos calmos, então voltou seu olhar para Ilgner.

“Há muito tempo eu jurei lealdade ao Líder. Se ele quer que eu assine isso, não tenho problemas com isso. Se você realmente é leal, sequer se sentiria ofendido com algo assim. Ou talvez te falte lealdade, Subtenente?” A mulher disse, o encarando com um olhar frio.

Em resposta a isso, o bárbaro loiro franziu as sobrancelhas, desagradado com a insinuação da mulher.

“Eu concordei em servir ao Tenente pelos meus próprios motivos e prometi segui-lo, mas eu, Ilgner, não sou um escravo!” exclamou.

Vendo a confusão causada e os olhares de julgamento, onde até mesmo Karol o olhava espantada, Fernando suspirou.

“Vocês entenderam algo errado.” O jovem Tenente falou, dando de ombros para a comoção. “Obviamente isso é um Contrato de Vassalo, mas, ao mesmo tempo, não é um Contrato de Vassalo.”

As palavras estranhas e ambíguas do rapaz deixaram todos ainda mais confusos.

Zado, em particular, parecia estar perdendo a paciência, quando deu um passo a frente.

Treme! Treme!

O chão vibrou e o ar pareceu ondular sob a pressão de sua magia. Mesmo com a restrição no local, seus olhos se arregalaram, quando um poderoso Mana explodiu de seu corpo, afetando todos. Até Fernando, que estava relativamente distante, sentiu o poder da Magia Gravitacional o afetando, puxando-o contra o chão.

No entanto, isso durou apenas um segundo e a força de atração simplesmente era muito fraca, não conseguindo derrubá-lo. O mesmo aconteceu com os demais, que olharam para aquilo sem entender.

Kelly, Emilly, Cíntia e Lina imediatamente tiraram seus arcos de suas Pulseiras de Armazenamento, empunhando-os e mirando no velho General, enquanto Theodora e alguns outros sacaram suas armas.

Zado não parecia intimidado, quando forçou novamente seu Mana.

Treme! Treme!

Dessa vez, o Mana foi muito mais poderoso, quando alguns rapidamente foram afetados, caindo de joelhos, enquanto sentiam seus corpos pesados.

Mesmo Fernando, sentiu como se seu corpo pesasse centenas de quilos.

Crack!

A cadeira em que ele estava rachou, quebrando-se em pedaços, fazendo-o cair no chão.

Que incômodo… Esse cara é muito esquentado, nem me deixou explicar. O jovem Tenente pensou, suspirando. Mas esse controle de Gravidade… Como ele consegue expandir tanto?

Mesmo sob a supressão da Matriz de Wedsnagauer e Alfie, o homem ainda parecia conseguir usar um pouco de sua Magia, o que era impressionante. Mas, apesar de estar admirado com sua Magia de Gravidade, cujos fundamentos ele mal havia conseguido dominar, rapidamente focou-se.

“Professor.” Fernando exclamou apressadamente.

Wedsnagauer parecia distraído, encarando o portal negro com uma expressão profunda, mas quando ouviu a voz de seu aluno, moveu rapidamente a mão, como se estivesse torcendo algo no ar.

Tam! Tam!

Uma série de Runas começaram a se ativar, quando todo o lugar se iluminou.

Zado, que estava emanando uma poderosa onda gravitacional, imediatamente sentiu algo, quando uma pressão enorme abateu-se sobre ele. A Matriz cravada em toda a sala começou a emitir uma energia intensa, quando algo como correntes ilusórias surgiram do chão e o envolveram.

“Maldição, o que diabos é isso?” O sujeito gritou, em meio à perplexidade e fúria, seu Mana estava tão bagunçado que ele sequer conseguia voar.

Rapidamente, o velho General tentou tirar sua arma, apenas para perceber que nem mesmo conseguia acessar sua Pulseira de Armazenamento. As correntes formadas de energia, rapidamente se enrolaram em torno dele, como se fossem serpentes vivas e quanto mais o faziam, menos sentia seu próprio Mana e até mesmo a força de seu corpo estava sendo suprimida. Até que ele caiu de joelhos, enquanto o chão abaixo rachava-se.

Seus olhos arregalados rapidamente se voltaram para o velho homem de barba levemente desgrenhada do outro lado da sala.

“Você realmente quer começar uma guerra, Mestre de Runas? Você sabe que isso não vai terminar bem para você!” ameaçou, com uma voz furiosa.

Dimitri e Lerona, que estavam ao lado, ficaram completamente sem palavras ao verem isso.

Zado, o General mais poderoso da facção de Wayne, aquele que causava medo e calafrios em Majores e Generais comuns, havia realmente sido colocado de joelhos!

Todos imediatamente voltaram-se na direção que o sujeito estava gritando, quando viram o aparentemente frágil e inocente velho homem, que parecia estar agarrando algo no ar, parecendo calmo, mesmo sob a ameaça de Zado.

“Uma guerra?” Wedsnagauer balbuciou, como se confuso. Mas seu olhar calmo e nublado logo se firmou, encarando o homem com as sobrancelhas franzidas. “Eu já lutei muitas guerras e derramei muito sangue para que cretinos como você pudessem viver nesse mundo e vocês só me pagaram com traições. Ainda, sim, ousa me ameaçar?!” Ao falar até aí, o Mestre de Runas torceu ainda mais a mão, quando as correntes transparentes que pareciam prender Zado, se apertaram, causando estalos no corpo do homem.

No entanto, mesmo com isso, o General se manteve o encarando, com um olhar sanguinário, como se quisesse quebrar aquela Matriz e despedaçá-lo.

Vendo que as coisas estavam saindo do controle, Fernando rapidamente interviu.

“Professor! Acalme-se!” exclamou, assustado.

Seu objetivo não era matar Zado, muito menos causar um conflito com os Leões Dourados, mas conversar. Caso o sujeito morresse ali, sua vida na Legião estaria acabada!