Capítulo 596 - Querido aluno
Logo que a reunião encerrou, com a saída da Capitã Lerona e dos Generais, todos os membros do Batalhão começaram a se dispersar.
“Argos, espere lá fora, temos algo a discutir.” Fernando disse em direção ao homem de longos cabelos negros.
“Entendido.” respondeu com um semblante calmo e receptivo.
Ao redor, os outros membros do Batalhão o olharam de forma duvidosa.
“Cara, por onde você esteve andando? E que tipo de missão é essa que você recebeu?” Leo perguntou, sondando-o.
“Isso é… segredo.” Argos respondeu, com um sorriso. “Se eu te contar, vou ter que te matar.” brincou.
“Tsk, vocês e esses segredos.” O homem falou, parecendo irritado.
“Eu sei o que ele estava fazendo!” Lance comentou, com uma expressão séria, o que fez muitos deles olharem para o sujeito com expectativas, aguardando a resposta. “Fernando mandou Argos para… atrair mais gatinhas para o Batalhão Zero, é um plano realmente engenhoso, com essa cara de porcelana ele deve ter recrutado muitas senhoritas!”
Pa!
Quando Lance disse isso, Kelly, que estava andando ao seu lado, deu um soco em seu ombro.
“Ai! Por quê? Só tô expressando minha teoria!”
“Pare de falar bobagens.” A Oficial retrucou, com a cara fechada.
Muitos ao redor não puderam evitar rir ao ver isso, enquanto outros pareciam atentos a proximidade que Lance e Kelly vinham tendo. Especialmente a pequena ruiva, que olhava para isso de forma desconfiada.
“Ei, Kelly, você e o Lance, por acaso vocês estão…” Emily falou, com naturalidade, pensando em como os dois ficaram mais próximos desde que a garota se tornou Oficial, mas sua boca foi rapidamente tapada por uma mão.
“Não diga nada desnecessário, tampinha.” Karol falou por trás, sussurrando em seu ouvido. O que foi respondido com alguns resmungos abafados da pequena ruiva, que tentava se libertar.
“S-sua gorila, m-me solta! Eu só ia…”
Mesmo que a Cabo Pimenta não tenha terminado de perguntar, Kelly ficou imediatamente vermelha, enquanto Lance tinha uma expressão de desentendido, enquanto olhava para os lados.
Vendo todos saindo, enquanto conversavam e brincavam, Fernando não pôde evitar dar um leve sorriso.
Ele havia acabado de revelar um de seus maiores segredos a todos, algo que poderia mudar suas vidas completamente, mas eles estavam agindo normalmente e sem causar alarde, o que o tranquilizou.
Logo todos deixaram a sala, então o rapaz voltou sua atenção para Wedsnagauer e Alfie que eram os únicos restantes além dele próprio.
“Então, como prometido professor, podemos começar a construção das suas Veias agora.” disse, com uma voz calma.
No entanto, o que aguardava sua resposta não era o homem contente e feliz de antes, mas alguém com uma face séria e pouco convidativa. Ver o Mestre de Runas o encarando assim, imediatamente fez Fernando ficar confuso, pensando se havia feito algo de errado.
Será que ele não gostou que eu tenha indicado o senhor Alfie para ministrar aulas de Runas? pensou, preocupado.
Obviamente, o rapaz havia feito isso sem consultar nem o Mestre de Runas ou seu Assistente, então era natural que eles pudessem ficar descontentes.
“Professor?” falou, aguardando uma resposta, mas o que ouviu a seguir o deixou perplexo.
“Preciso que me responda com sinceridade Fernando e por favor, não minta, ou eu…” Assim que o homem disse isso, moveu rapidamente os dedos da mão direita, pincelando o ar e assim que o fez, cordas de Mana envolveram Fernando. A Matriz de supressão que ele havia pedido para conter Zado, agora estava sendo usada contra ele!
Inicialmente a expressão do jovem Tenente era de surpresa e pânico, mas isso durou apenas um instante, quando respirou fundo, olhando para o par de homens com uma expressão fria.
“O que está acontecendo?” indagou, com calma. Claramente isso não tinha relação com as aulas de Runas.
Nem Alfie e nem Wedsnagauer responderam diretamente sua pergunta, mas fizeram outra no lugar disso.
“Você é quem deveria dizer isso, não é, Tenente?” O sujeito de barba negra disse, enquanto ajustava seus óculos com calma.
A expressão de Fernando se manteve a mesma, tentando entender do que se tratava.
“Inicialmente eu não notei a existência desse item, afinal você nunca o utilizou na minha frente… Realmente achou que eu não perceberia?” Quando o velho homem falou isso, Fernando engoliu em seco.
Eles notaram a Pedra de Mana? Pode ser que eles queiram… roubá-la? pensou, sem querer acreditar que sequer estava cogitando isso, afinal confiava muito nos dois homens
“Isso no seu dedo é um Anel de Aprisionamento dos Anões?” Wedsnagauer indagou, com um olhar severo em seu rosto.
A pergunta pegou o rapaz de surpresa.
Não é sobre a Pedra de Mana? pensou, com um certo alívio, mas, ao mesmo tempo, também ficou preocupado. Mesmo que o Anel de Aprisionamento não fosse tão importante quanto a Pedra e a Espada Formek, ainda era um de seus maiores segredos atualmente.
Logo o jovem pálido assentiu, com calma.
Vendo que ele não negou, Alfie que estava ao lado continuou.
“Além de nós Humanos e dos Elfos, apenas uma raça consegue elaborar Contratos de Vassalos, sendo uma de suas marcas registradas. Além disso, você realmente achou que não notaríamos a estranheza naquelas Matrizes mal feitas?”
Fernando engoliu em seco ao ouvir isso e finalmente entender onde eles queriam chegar.
Eles sabem sobre o Brakas! concluiu. Seu coração batia de forma acelerada, mas não deixou transparecer, no lugar disso, pensou sobre como eles haviam notado o Beholder. Foi naquele momento?
Anteriormente, quando abriu o portal do Anel de Aprisionamento, notou Alfie o olhando de forma estranha, então rapidamente o fechou. Ele não imaginou que aquele único deslize faria com que chegassem nessa situação atual.
Apesar de se lamentar pelo erro, sabia que não havia como voltar atrás. Logo ergueu seu rosto, encarando os dois homens. Seus olhos se focaram brevemente nas cordas de Mana, mas não tentou escapar. Ele, melhor do que ninguém, sabia que seria impossível ir contra seu professor e Alfie.
“Você está bem calmo para alguém que foi pego… Tire-o do Anel. Tire o maldito Beholder!” O Assistente ordenou com um olhar assustador em seu rosto.
O jovem pálido se manteve encarando-o, mas não fez como mandaram.
“Acredito que você está entendendo algo errado, senhor Alfie.”
“Eu disse, tire-o!” repetiu.
Vendo isso, Fernando franziu a testa. Estava claro que eles pretendiam matar Brakas assim que ele o fizesse e ele poderia ser o próximo. Voltando seu olhar para Wedsnagauer, logo começou a falar:
“Eu lhes dei materiais de primeira linha como Sangue de Delgnor, Sopa de Delgnor e até revelei meus maiores segredos a vocês. O que eu recebo em troca é isso?” perguntou, enquanto forçava seus punhos a erguerem-se, evidenciando as cordas de Mana que o prendiam. “Eu esperava um pouco mais de confiança de vocês. Ao menos a mesma quantidade de fé que tive em você, professor.”
Ouvindo as palavras do rapaz, a expressão severa no rosto de Wedsnagauer afrouxou-se, parecendo conter alguma reminiscência, então fechou os olhos, parecendo triste.
“Você é o Aprendiz com maior potencial que já tive Fernando e independente do que aconteça hoje, é meu querido aluno. Quanto aos segredos que me mostrou, eles são justamente o motivo pelo qual preciso fazer isso.” O homem disse de forma lenta, então abriu novamente os olhos, tendo uma clareza excepcional em seu olhar, sem nenhum traço da ocasional confusão. “Preciso saber se você é ou não, uma ameaça a Humanidade. Não posso tolerar um dos meus Aprendizes sendo uma marionete de outras raças e principalmente dos malditos que tentaram escravizar toda a Humanidade!”
O rosto do jovem Tenente ficou escuro ao ouvir isso, num misto de sentimentos, mas respirou fundo, tentando manter a calma.
“Eu vou soltá-lo, mas não devem matá-lo, ele é meu subordinado.” afirmou, com um olhar sério.
Essas palavras fizeram tanto o Mestre de Runas, quanto seu Assistente, ficarem confusos. Ambos se entreolharam, como se buscassem uma explicação um do outro.
Fernando percebeu isso, então continuou.
“O que aconteceu foi…”
Logo o rapaz explicou sobre o encontro com o Beholder em uma missão em Vento Amarelo e sobre como a criatura inicialmente tentou enganá-lo na época para ser seu vassalo, mas acabou presa dentro de seu próprio contrato.
Wedsnagauer e Alfie pareciam céticos quanto a história.
“Um Beholder escraviza os outros, nunca ouvi falar de um deles escravizado.” O Assistente comentou. “Você pode apenas estar falando o que a coisa manda.”
“Vocês podem tirar suas próprias conclusões. Se mesmo assim não acreditarem em mim, então façam o que tem que fazer.” Fernando afirmou, com um olhar sério e confiante, que deixou Alfie hesitante.
O rapaz pálido ergueu a sobrancelha, quando moveu o dedo. Logo um portal negro apareceu ao lado.
“Brakas, saia.” ordenou.
Apesar de suas palavras, um longo silêncio se seguiu, quando do portal negro, nada saia ou podia ser ouvido, o que fez o rapaz franzir o cenho.
O Mestre de Runas e seu Assistente pareciam preparados para lutar ao ver a falta de reação da coisa lá dentro. Não podiam ver o interior, mas podiam sentir seu olhar cair sobre eles.
“Eu disse, saia!” Fernando repetiu, com uma voz mais firme. Ele sabia que se a criatura dificultasse as coisas, a vida dos dois estaria acabada.
“Sim… Mestre.” Uma voz envelhecida soou de dentro, quando enormes tentáculos se prenderam ao portal, puxando-se para fora.
Os dois homens ficaram perplexos ao verem o tamanho dos tentáculos, mas somente quando viram um enorme e monstruoso olho, saindo da escuridão, os observando diretamente, é que puderam ter uma noção de seu real tamanho.
Logo Brakas se espremeu ainda mais, finalmente saindo completamente de dentro do Anel de Aprisionamento.
O ser gigantesco era do tamanho de vários homens e possuia uma cor amarelada. A coisa os encarou, tanto com seu grande olho, quanto com os olhos na ponta de alguns de seus tentáculos, então mostrou seus dentes, como se estivesse os afrontando.
“B-baiholder…” Wedsnagauer falou, surpreso ao notar a cor da pele da coisa. “Mas ele é muito maior que um normal. O que é essa coisa?!”
Indiferente a surpresa dos dois homens, a enorme criatura os encarou com altivez.
“Que assuntos tem a tratar comigo e meu Mestre, Humanos?” A voz envelhecida de Brakas soou, com arrogância.
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