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    Tanto Wedsnagauer, quanto Alfie, tinham expressões escuras ao verem a ousadia da criatura.

    “Coisa maldita!” O Mestre de Runas exclamou, enquanto movia os dedos, fazendo com que fios de Mana saíssem da Matriz de contenção no chão, correndo em direção ao Baiholder.

    No entanto, Brakas rapidamente levantou voo, subindo ao topo da sala, que era como um grande depósito, obtendo uma visão ampla dos arredores. Mas mesmo chegando ao teto, as linhas continuaram a persegui-lo, como se estivessem vivas. Sem hesitar, a criatura lançou Bolas de Fogo, Lâminas de Vento e Feixes de Luz pelos vários olhos em seus tentáculos.

    Swish! Tzzz!

    Diferentes magias, voaram para todos os lados, empurrando as linhas para longe.

    “Não vai escapar!” O velho homem falou, com confiança.

    A grande íris do olho de Brakas afinou-se de medo, quando as linhas pareciam ter sido reforçadas, atravessando suas Magias com facilidade e enrolando-se em volta de seus tentáculos e corpo, puxando-o bruscamente para baixo.

    Bam!

    O enorme corpo do Beholder atingiu o chão com violência.

    “Humano maldito!” A coisa exclamou, com sua voz envelhecida, cheia de raiva, mas sem diminuir sua entonação cheia de prepotência.

    Logo Alfie enrolou sua mão em chamas, formando algo como uma lâmina quase invisível feita de fogo elemental, caminhando em direção a Brakas.

    “O que está fazendo?!” O rapaz exclamou, quando rapidamente tentou ativar Fúria e Vibração para se libertar, mas antes que sequer pudesse tentar fazer algo, Alfie, que estava a sua frente, apareceu nas suas costas como uma sombra, derrubando-o e fazendo-o cair de joelhos.

    “Apenas fazendo o que preciso fazer, Tenente.” O homem respondeu, com um olhar calmo.

    Vendo isso, Fernando, que agora tinha as cordas de Mana mais apertadas em torno de seus braços, entrou em choque, pois sabia exatamente suas intenções.

    “Brakas, pare de lutar e professor, pare com isso!” exclamou. “Eu já disse, ele é meu servo! Vocês não podem matá-lo!”

    O Assistente parou seus passos, olhando para o velho homem em dúvidas, mas o velho suspirou.

    “Você não entende o que está falando criança. Essas coisas mexem com sua cabeça e às vezes até com suas memórias. Você nem deve estar ciente de quem é o mestre e quem é o servo entre vocês dois. Na grande guerra contra essas coisas, tivemos muitos casos de infiltrados que causaram grandes estragos a Humanidade, sem saber que estavam sendo controlados, como você, então, não posso permitir que isso se repita. Além disso, um Beholder nunca se curva a um Humano.” O Mestre de Runas disse, com um olhar firme. “Preciso eliminá-lo!”

    Alfie, que estava observando o homem, hesitou por um momento.

    “Tem certeza, Doutor? Se fizermos isso, o Tenente…”

    Em um contrato de Vassalo, era normal que o lado mais fraco estivesse ligado a vida do mais forte. Sendo assim, se o mestre da relação fosse morto, o servo naturalmente morreria também.

    Sabendo disso, o Assistente tinha certeza de que se o Mestre de Runas estivesse certo, isso significava que Fernando e seu talento monstruoso, seriam eliminados junto à coisa.

    Ouvindo isso, Wedsnagauer ficou em silêncio, com alguma reminiscência em seu olhar, enquanto olhava para Fernando, que o encarava com um olhar gelado.

    “Eu…” O Mestre de Runas estava prestes a ordenar a execução do Baiholder, mas no fim, não conseguiu, suspirando. “Vamos dar uma olhada na Matriz do Contrato, talvez haja uma brecha para libertá-lo.” decidiu.

    Alfie Caiman olhou para o homem de forma questionadora. Ele como um praticante de Runas, sabia que isso era quase impossível.

    Mesmo que os Beholders não tivessem tanto conhecimento em Matrizes e Runas como os Humanos e fizessem um trabalho muito pior que o deles, ainda eram Matrizes complexas e difíceis de serem desfeitas.

    Era como se fosse um emaranhado de fios de cabelo enrolados e o menor puxão desencadearia um rompimento de algum deles. Então, mesmo que soubessem como desenrolar, não necessariamente conseguiriam.

    Apesar disso, Alfie concordou. Mesmo que fosse uma aparente perda de tempo, sentiu que precisavam tentar. Afinal, talentos como o de Fernando, não surgiam facilmente. Logo o homem desfez as chamas em sua palma, caminhando em direção a Fernando.

    Isso fez o rapaz suspirar por um momento de alívio. Se houvesse uma forma de provar que ele estava falando a verdade, poderia salvar a vida de Brakas.

    Inicialmente, ele não pensava na criatura como nada além de uma ferramenta que parecia útil, mas acabou o vendo verdadeiramente como seu subordinado com o passar do tempo. Em sua atual perspectiva, a vida do Beholder não era menos importante do que qualquer um dos outros membros do Batalhão Zero.

    Logo o Assistente chegou até as costas de Fernando, que estava ajoelhado, então tirou uma faca de sua pulseira, rasgando a parte de trás de sua camisa com cuidado.

    “Essa era minha favorita…” O rapaz disse, com um semblante sério, mas o homem apenas ignorou. Então o jovem Tenente voltou-se para Wedsnagauer. “Espero que fique satisfeito com a resposta, professor.”

    O Mestre de Runas não reagiu à provocação, mantendo-se focado, era como se ele realmente quisesse estar errado.

    Isso fez Fernando o olhar com uma expressão complicada. Ao mesmo tempo, em que estava furioso, também sentia-se um pouco ambíguo a respeito da preocupação do homem.

    Logo Alfie começou a inserir Mana na ponta de seus dedos, quando tocou nas costas de Fernando.

    Tsss!

    O rapaz pálido sentiu sua pele queimar, era como se os dedos tocando sua pele fossem feitos de ferro fundido. Mas, apesar da dor, não emitiu um único ruído, aguentando tudo.

    Logo o homem puxou algo do corpo de Fernando, eram inúmeras Linhas de Mana, envolvidas umas as outras. Junto a elas, surgiram algumas Runas.

    Fernando, que estava ajoelhado, de costas, não conseguiu ver bem, mas teve um leve vislumbre da Matriz de Vassalo.

    Isso está dentro do meu corpo? pensou, não imaginando que a Matriz realmente estava dentro dele dessa forma e muito menos que poderia ser acessada por terceiros. 

    Nesse momento, ele entendeu porque os Generais estavam hesitantes sobre assinar o contrato. Já que isso deixava resíduos para trás, podendo servir como provas caso alguém habilidoso os investigasse.

    Assim que Alfie puxou as Linhas e Runas, rapidamente começou a lê-las, na intenção de encontrar um ponto fraco na Matriz. No entanto, ele não demorou muito analisando-as, quando percebeu algo estranho, que o fez abrir bem os olhos.

    “Doutor, algo… não está certo.” exclamou.

    “O que quer dizer?” O Mestre de Runas indagou.

    “É melhor você ver por si mesmo.”

    Ouvindo isso, o velho homem franziu a testa. Com o nível de Alfie e seu conhecimento, ele tinha plena capacidade para fazer a análise inicial. Mas apesar de suas dúvidas, apressou-se, ficando ao seu lado.

    “O que exatamente…” Wedsnagauer estava prestes a perguntar o que havia de errado, quando seus olhos se arregalaram. “Isso… O fluxo do Mana… Não pode ser!”

    “Hahahaha!”

    Nesse momento, uma voz envelhecida soou, chamando a atenção dos dois homens. Era o Beholder, que mesmo largado no chão, envolvido por inúmeros fios, estava os observando, com um sorriso zombeteiro.

    “E pensar que Mestres de Runas, que eram tão temidos pela minha raça, na verdade, não eram nada de mais. Você sequer consegue dizer se seu próprio aluno está mentindo ou não. Que visão patética!”

    As palavras da criatura fizeram a expressão de Wedsnagauer mudar, dando-lhe algum gatilho de raiva, mas o homem conteve-se. Ao voltar seu olhar para o fluxo de Mana, tornou a ficar incrédulo.

    Um Contrato de Vassalo era uma Matriz que era dividida em duas partes. Uma era responsável por emitir fluxos de Mana, sendo a parte superior e dominante, pertencente ao mestre. Enquanto a outra era a receptora, do servo, que recebia as ordens.

    Sendo assim, era muito fácil de identificar qual lado era do mestre e qual era do vassalo. E bem na sua frente, o velho homem observou um fluxo dominante nas Linhas de Mana da Matriz de Fernando, o que deixou tanto ele, quando Alfie, sem palavras.

    “Ele estava dizendo a verdade, Doutor.” O Assistente disse, surpreso.

    “É impossível, um maldito Beholder e principalmente um Baiholder nunca…” Apesar de não conseguir acreditar em si mesmo, a prova era irrefutável e não teve escolha senão admitir que era real.

    Um Beholder realmente havia se submetido a um Humano e não apenas um simples Beholder, mas, um Ancião!

    Momentos depois, Fernando havia sido liberto, enquanto encarava friamente o velho homem e seu Assistente.

    “Fernando, eu…”

    Antes que o sujeito prosseguisse, o jovem Tenente o interrompeu.

    “Preciso considerar se ainda podemos manter nossa relação de aluno e professor.” disse, com uma voz fria e um olhar gelado, sem esconder seu ressentimento.

    Wedsnagauer tinha um semblante confuso e realmente arrependido.

    “Tenente Fernando, por favor entenda. O Doutor tem seus motivos para isso. Se não fosse por eles…” Alfie estava prestes a dizer algo, mas foi parado pelo velho homem.

    O Mestre de Runas voltou seu olhar para o rapaz, que agora não mais o olhava com admiração e respeito, mas desconfiança e desconforto.

    Vendo isso, o homem suspirou internamente.

    Eu arruinei tudo… Desde o início, Wedsnagauer vinha tentando cultivar a confiança de Fernando, fazendo-o pouco a pouco se abrir, mas sabia que graças ao seu erro, tudo havia sido descartado.

    Não só o rapaz não estava sendo controlado pelo Baiholder, como agora sentia-se ameaçado pelos dois.

    Ele sabia que o garoto já era naturalmente desconfiado em relação a tudo e todos e naturalmente nunca mais depositaria sua confiança nele novamente.

    Sabendo disso, Wedsnagauer não hesitou, quando se jogou de joelhos no chão. 

    “Por favor, eu imploro, não deixe de ser meu aluno!” exclamou, quando prostrou sua cabeça ao chão, como se estivesse clamando a um rei.

    Essa ação repentina do velho homem não surpreendeu apenas Fernando, mas mesmo Alfie e até Brakas, que ainda estava amarrado, ficaram atordoados.

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