Capítulo 612 - Autor
Fernando se arrependeu profundamente de ter tentado aprender essa Magia de forma tão despreparada, pensando que deveria ter pesquisado melhor ou lido mais a respeito antes de tentar. Entretanto, sabia que nenhum arrependimento o tiraria dessa situação.
Sabendo disso, rapidamente ativou seu Disparo Neural, para ter mais tempo para pensar.
Logo após abrir seus Canais de Mana, ligando-os às suas Veias, sentiu que a pressão diminuiu levemente, apesar da dor ter aumentado, afinal a eletricidade havia se espalhado por suas Veias Expandidas, que percorriam todo seu corpo.
Espera, o que é isso? O rapaz pensou, ao perceber que diferente dos seus Canais, as Veias pareciam estar contendo a corrente elétrica de forma muito melhor.
De repente, pensou em algo. A pressão que a corrente elétrica estava infligindo em seu corpo era muito semelhante ao do Mana da Pedra quando invadiu seu corpo pela primeira vez e como as suas Veias já haviam se adaptado a explosões energéticas, considerando que elas eram muito mais resistentes que Veias normais devido à Aptidão Absoluta e a resistir as propriedades do mana da Pedra, pareciam ser muito mais capazes de conter a eletricidade. Além disso, Fernando também compreendeu algo.
Se a corrente é igual ao Mana, tudo que eu preciso fazer é liberá-la!
Quando ele estava prestes a perder a consciência devido ao excesso de Mana que invadiu seu corpo pela primeira vez, o que ele fez para não morrer foi usá-lo de forma desesperada, até que tudo se esvaziasse e a lógica para essa situação parecia ser a mesma.
No entanto, para liberar a eletricidade presente em seu corpo era necessário um ponto de escape, podendo ser seus dedos ou mãos, mas com seu corpo fora de controle e tremendo, o jovem Tenente sentiu que isso seria difícil de fazer.
Sua mente estava nadando e seus olhos fecharam e abriram como se estivesse prestes a desmaiar, o que não seria diferente de uma sentença de morte. Uma vez que ele apagasse, toda essa energia, que estava atualmente confinada em seus Canais e Veias de Mana, saltariam para o restante do seu corpo, explodindo-o de dentro para fora.
Para piorar a situação, seus músculos estavam rígidos, tendo espasmos descontrolados e o fato de estar com o Disparo Neural ativo fazia com que toda essa dor pudesse ser sentida lentamente, nos mínimos detalhes. Mas mesmo sentindo essa sensação quase insuportável, Fernando usou toda sua força para erguer seu braço e levantá-lo para o ar, apontando para o teto da sala de treinamento.
Lembrando-se do que leu no livro sobre como usar a Magia de Eletricidade, focou sua mente.
Preciso criar um caminho para a corrente e então concentrar tudo em um único ponto!
Para liberar a eletricidade armazenada dentro do ‘circuito’ era necessário criar uma Corrente de Mana, ou seja, um caminho livre para a eletricidade percorrer. Porém, fazer isso não era fácil, ele precisaria forçar toda a energia elétrica produzida em um único ponto, ao mesmo tempo que bloqueava todos os outros caminhos para que a Corrente fosse liberada de uma vez.
Tendo formulado o plano, Fernando começou a se preparar mentalmente, pois sabia que só teria uma única chance antes de desmaiar.
Ok, agora! gritou em sua mente, quando rangeu os dentes. Seu braço erguido parecia querer recolher-se com a dor e espasmos, mas o rapaz pálido cerrou os dentes, permanecendo apontando para o alto e em seguida forçou toda a energia direto para suas Veias de Mana na região de seu tórax, pois este era o ponto em que elas eram mais largas e tinham ligação direta com seu braço.
Em uma fração de segundo, toda aquela energia estava reunida num único ponto, quando todos os caminhos para os Canais e outros pontos das Veias foram selados. Fernando sentiu seu peito arder e inchar ao ponto de sequer conseguir respirar, como se estivesse prestes a explodir, mas não perdeu o foco.
Libere!
Tzzzz! Swish!
Assim que ele criou um único caminho, que seguia de seu peito até a ponta de seus dedos, um enorme clarão piscou à frente de seus olhos. Mesmo paralisado e com dor, ele observou aquilo atentamente.
BOOM!!
Um som ensurdecedor soou, quando uma enorme descarga elétrica atingiu o teto, espalhando estilhaços e fragmentos de pedra por todos os lados.
Mesmo com seu Disparo Neural ativo, ele mal conseguia entender o quão rápido a eletricidade havia cortado o ar em direção ao topo, o próprio som havia chegado muito depois dela atingir o alvo.
Ao mesmo tempo, Fernando sentiu todo o ardor e espasmos cessarem e assim que isso aconteceu, suas pupilas dilataram-se, quando rolou para o lado.
Bang! Plaft!
Um enorme pedaço do teto, com metade do tamanho de uma pessoa, caiu onde ele estava e fragmentos menores desabaram por todo o local.
Merda… Essa foi por pouco! pensou, suspirando. Mesmo um Usuário de Habilidades como ele não escaparia ileso se aquilo o atingisse dessa altura.
Bam!
Enquanto Fernando estava respirando pesadamente, as portas da sala de treinamento foram subitamente abertas, quando os dois Soldados do lado de fora entraram, com espadas em punho.
“O que foi isso?!” Um dos homens gritou, seu olhar varrendo todo o local em busca de inimigos, presumindo que se tratava de um ataque.
No entanto, ao olhar para o enorme buraco no teto, bem como o jovem Tenente deitado no chão, completamente largado, uma expressão de desespero tomou conta de seu rosto.
“M-merda, mataram o Tenente e fugiram por ali!” O homem exclamou, gaguejando, claramente tendo um ataque de pânico.
“Eu estou vivo!” Fernando resmungou, ainda deitado no chão, um pouco irritado pelo sujeito estar o considerando morto tão facilmente dessa forma.
“Errr… Você está vivo?!” O homem gritou, ao correr em direção ao rapaz. O outro Soldado fez o mesmo, quando ambos se aproximaram dele, ajudando-o a se levantar. “O que aconteceu, Tenente? Por que tem um buraco no teto?!”
“Esqueça isso, foi apenas um acidente.” O jovem pálido disse, envergonhado. Mesmo ele não imaginava que seu erro descuidado iria quase matá-lo e danificar a estrutura da sala de treinamento dessa forma.
Deve-se saber que aquele prédio era de uma antiga Guilda que residia em Garância e todo o local era reforçado por Matrizes, sendo assim, para danificá-lo seria necessária uma força tremenda. Mesmo assim, o teto havia sido destruído tão facilmente, como se fosse feito de isopor.
Essa magia é perigosa, mas é muito forte! pensou, impressionado. Ele já havia acidentalmente acertado uma das paredes com uma Flecha de Fogo e tudo que havia acontecido era causar um pequeno dano irrelevante.
Sendo assim, a única outra magia que ele tinha que poderia danificar a estrutura do prédio a esse ponto seria sua maior carta na manga e a Magia de Fogo de maior poder destrutivo que ele possuía, a Lança de Fogo. E, mesmo assim, em sua primeira vez usando essa nova magia, ela havia causado um estrago tão terrível!
Preciso entender melhor como funciona a Magia de Eletricidade, se eu dominar isso, posso ficar muito mais forte! pensou, de forma decidida, mas rapidamente seu olhar voltou-se para a entrada da sala, quando vários guardas chegaram. Mas primeiro preciso lidar com isso…
Meia hora depois, após resolver tudo e se recuperar, além de enviar um pedido para que reparassem o teto danificado, Fernando foi para outra sala de treinamento. Esta sala, obviamente, era muito menor, já que a que ele usará comumente era uma das melhores em todo o prédio.
Parado em pé, em silêncio, Fernando mais uma vez tirou o livro de sua Pulseira, pensando se deveria tentar novamente, mas rapidamente desistiu da ideia. Ao lembrar da sensação sufocante e de quase ter se implodido por dentro, sentiu que não gostaria de arriscar sua vida dessa forma novamente.
Eu deveria falar com o General Dimitri? pensou, em dúvidas. Esse tinha sido seu primeiro pensamento quando soube da sua Disposição Perfeita em Eletricidade. Mesmo não sendo tão talentoso, o velho homem era alguém que ascendeu a patente de General usando Magia Elétrica e certamente tinha um domínio apurado no elemento. No entanto, da mesma forma que ele próprio era alguém ocupado, sabia que Dimitri também não tinha muito tempo disponível.
Além disso, o rapaz não queria depender ainda mais do General. Dimitri já havia o ajudado por diversas vezes e Fernando sabia que não poderia ser tão dependente de outras pessoas dessa forma.
Será que eu deveria… pensou, em dúvidas, enquanto olhava para o Anel de Aprisionamento em seu dedo.
Além de Dimitri, Fernando conhecia mais uma pessoa que era um Mago Elétrico e esta pessoa, coincidentemente, era a mesma que havia escrito o livro em sua mão e este era o Lincon, que atualmente estava preso dentro do Anel de Aprisionamento.
Em tese, quem poderia ser melhor para lhe explicar os conceitos no livro do que a própria pessoa que o escreveu?
Porém, havia um problema, o sujeito o odiava profundamente e, na verdade, o próprio Fernando carregava algum ressentimento contra o homem. O motivo pelo qual havia permitido que ele vivesse era, em parte, na esperança de obter algumas informações a respeito da Família Lopes, que o visava, mas também havia um segundo motivo e isso era para fazê-lo pagar.
Lincon e a equipe de assassinato enviada para emboscá-lo, haviam matado dois de seus homens e isso ainda causava arrependimento no rapaz.
Diferente das mortes no campo de batalha, onde eles não tinham escolha senão lutar, ele sabia que aqueles homens haviam morrido exclusivamente por causa dele.
Acho que não tenho escolha. pensou, depois de deliberar por um tempo, então logo focou parte de sua mente no Anel e moveu um dedo, fazendo um portal negro aparecer a sua frente.
“Brakas!” chamou pelo Beholder.
O portal negro estava estático e nenhum som vinha de dentro, havia apenas um breu completo.
“M-mestre? Você precisa de algo?” Após um curto tempo, a voz envelhecida da criatura soou, um pouco surpresa com a convocação repentina.
“Traga aquele cara para fora, quero falar com ele.” ordenou.
Um silêncio estranho seguiu-se após o pedido, fazendo o jovem Tenente franziu a testa, mas logo a voz de Brakas soou novamente:
“Você… realmente precisa dele agora, Mestre? Nós estávamos no meio de…”
“Eu não quero saber!” Fernando gritou, o interrompendo, temendo ouvir mais do que o necessário. “Apenas o traga para fora.”
“E-entendido, Mestre. Só preciso de um minuto.”
Ouvindo isso, o rapaz ficou um pouco descontente, mas também não apressou a criatura, não estando interessado no motivo por trás disso.
Em pouco tempo, o enorme corpo do Baiholder começou a se espremer pelo portal, começou por seus tentáculos, depois seus olhos, e então o restante, mas a parte de seu torso parecia tão apertada que não passaria.
Vendo isso, Fernando percebeu que a criatura estava, novamente, um pouco maior. Isso o deixou um pouco preocupado, imaginando se chegaria o dia em que o Beholder sequer conseguiria cruzar o portal do Anel de Aprisionamento.
Quando o torso de Brakas finalmente saiu, ele viu o último tentáculo da criatura arrastando alguém. Era o corpo de Lincon, com roupas esfarrapadas e vários hematomas pelo corpo, a face do homem, que parecia de um garoto, era pálida e doentia e havia um olhar sem vida em seu rosto.
Vendo isso, Fernando franziu o cenho.
“O que é isso? O que você fez com ele?” perguntou, ao se aproximar, olhando para o sujeito, que permanecia imóvel.
“Bem… você disse que eu poderia fazer qualquer coisa com ele, contanto que não o matasse…” Brakas respondeu, com um sorriso bizarro, evidenciando seus dentes serrilhados.
Vendo o estado de Lincon, o jovem Tenente não ficou contente. Ajoelhando-se ao lado do sujeito, passou a mão em frente aos seus olhos, mas o homem sequer piscava. Isso o fez pensar que tipo de torturas ele havia passado, ao ponto de ficar assim.
Isso o fez ter um pouco de remorso, mas durou apenas um instante. Lincon queria matá-lo e havia assassinado seus homens, não havia porque ter piedade de alguém assim. Além disso, a Família Lopes que ele fazia parte era uma organização extremamente cruel e maligna.
“Eu disse para você não o matar porque eu precisava de informações, mas ele está praticamente morto.” Fernando reclamou. Lembrando-se do Orc que Brakas havia transformado em uma espécie de fantoche sem vida, ficou ainda mais irritado, acreditando que esse era o caso do sujeito. Se a mente do assassino tivesse sido destruída, que serventia ele ainda teria?
Brakas ficou em silêncio, então seu grande olhou voltou-se para o corpo no chão, que continuava imóvel.
“É melhor parar de fingir… Ou você sabe o que acontece.” A criatura declarou, lambendo os lábios.
A sobrancelha do jovem Tenente ergueu-se em dúvida e assim que olhou de volta para Lincon, viu o sujeito encarando-o.
“Eu… vou te matar!” gritou, quando, com sua única mão, disparou em direção ao pescoço de Fernando.
O rapaz pálido teve uma leve mudança de expressão, mas não reagiu, antes que o homem encostasse nele, foi subitamente puxado para trás pelos tentáculos de Brakas.
“Ah! Eu vou te matar, Fernando, eu vou…” Lincon gritou, se debatendo, mas conforme era puxado para mais perto do Baiholder, seu olhar, cheio de raiva, começou a se encher de medo e logo seus gritos de fúria se transformaram em lágrimas e lamúrias. “Não… espera, para! E-eu não faço de novo, por favor!”
O olhar de Brakas se manteve calmo, o observando com uma pitada de humor.
Vendo isso, Lincon pareceu ficar ainda mais assustado, quando se voltou para Fernando.
“Por favor, me mata! Eu imploro, me mata! Eu não aguento mais nenhum minuto naquele lugar, com… essa monstruosidade!”
“Hahahah!” Em meio ao desespero do homem, a risada de Brakas soou, como se estivesse achando tudo aquilo engraçado.
Vendo essa cena, Fernando sentiu um certo embrulho no estômago.
Droga… De alguma forma, por que parece que eu sou o vilão aqui? perguntou-se, ao ver a criatura rindo, enquanto arrastava Lincon, que implorava em sua direção. O fato de sua aparência e voz serem semelhantes a de um jovem garoto, tornava tudo ainda mais sombrio.
Se ele não soubesse que o homem, com aparência de criança, era um assassino sanguinário, mesmo ele teria ficado com pena, mas como ele já havia visto sua verdadeira face, seu coração estava endurecido.
Suspirando consigo mesmo, Fernando olhou para o sujeito, com um olhar frio.
“Podemos discutir sobre isso, mas vai depender de você.”
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